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Artigo adicionado em 26/01/2006, às 12:12

Crítica: MUNIQUE
Little people, can’t we all just get along? Steven Spielberg é legal. Steven Spielberg é legal. Steven Spielberg é legal. Não que eu queira convencê-lo disso. Munique vai fazer isso por mim. Depois dessa frase impactante e genial (?) que já vai render vários comentários na Voz dos Nerds por si só, vamos começar pelo […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Steven Spielberg é legal. Steven Spielberg é legal. Steven Spielberg é legal. Não que eu queira convencê-lo disso. Munique vai fazer isso por mim. Depois dessa frase impactante e genial (?) que já vai render vários comentários na Voz dos Nerds por si só, vamos começar pelo começo. Você já está careca de saber quem é Steven Spielberg, e já sabe que, aqui n’A ARCA, o Zarko odeia seus últimos trabalhos com todas as forças de seu coração – ou o que resta dele – e que, também aqui n’A ARCA, eu e o Emílio Elfo somos os que mais depositam algumas esperanças nele. Ainda. E a despeito do que ele fez ou deixou de fazer em Guerra dos Mundos. Ih, pronto. Cheguei onde queria chegar. Aaaah, o controverso Guerra dos Mundos. Uns odiaram, outros detestaram, e os que não odiaram nem detestaram também não chegaram a adorá-lo, né não? O fato é que Spielberg precisava se redimir do estrago feito por “Guerra dos Mundos” de alguma forma. E precisava fazer isso usando um dos seus alter-egos: ou o diretor das fitas mágicas que assistíamos quando éramos crianças e atendiam pelo nome de Os Goonies, Jurassic Park (só o primeiro, pelamordedeus) ou E.T. O Extraterrestre; ou o diretor dos bons – embora cansativos – filmes-cabeça; ou o diretor do resto, que não se decide por canto algum. Pra esse filme, felizmente E infelizmente o diretor usou um pouco de cada coisa. Se ele conseguiu se redimir? Ele conseguiu, aquele velho maldito conseguiu. :o)

Nas Olimpíadas de 1972, que aconteceram em Munique (Alemanha), onze atletas israelenses foram mortos depois de ficarem algum tempo reféns de um grupo terrorista palestino. O evento chocou o mundo e foi um dos primeiros atentados terroristas largamente divulgados pela mídia internacional e em tempo real. Mas, ao contrário do que provavelmente passou pela sua cabeça, o filme “Munique” não é sobre esse fatídico evento propriamente dito, e sim sobre o que aconteceu depois dele: após a tragédia, cinco judeus foram reunidos por ordem da primeira ministra de Israel com a incumbência de dar cabo dos onze cabeças que estavam por trás das mortes em Munique. O que aconteceu nas Olimpíadas é real. Já o que é contado no filme é INSPIRADO em fatos reais – mais precisamente no livro Vengeance: The True Story of an Israeli Counter-Terrorist Team, de George Jonas.

Avner (Eric Bana, de Tróia), ex-guarda costas da primeira-ministra de Israel, assiste às milhares de notícias sobre o atentado ao lado de sua esposa (Ayelet Zorer), que está esperando seu primeiro filho. Pouco depois, a ministra Golda Meir (Lynn Cohen) entra em contato com ele e lhe oferece a missão de liderar um grupo de israelenses, cujo objetivo é exterminar um a um os palestinos mandantes da missão de Munique – como eu acabei de dizer no parágrafo aqui em cima. Assim, o protagonista se vê obrigado a deixar sua esposa e filha e entrar de cabeça nessa missão secreta, ao lado de Steve (Daniel Craig, o futuro James Bond), Carl (Ciarán Hinds, de O Fantasma da Ópera), Robert (Mathieu Kassovitz, ninguém menos que o perfeito Nino Quincampoix de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) e Hans (Hanns Zischler, de O Retorno do Talentoso Ripley). Cada um desses caras tem sua vida e seus valores, e nem todos eles são matadores profissionais ou agentes secretos oficiais. E é isso que começa a pesar cada vez mais conforme o passar dos minutos da película. Os cinco viajam por diversos países e preparam estratégias e armadilhas para matarem todos os representantes palestinos que fazem parte da fatídica lista de nomes recebida por eles pelo governo. E cada morte serve como teste para que cada membro da missão reavalie o que significa para si coisas como a vingança, a guerra, o terrorismo, a pena de morte, e, principalmente o contra-ataque ao terrorismo.

Essa é a mensagem de “Munique”. Não é um filme totalmente de ação ou guerra – embora tenha lá suas partes de tiros e balas – mas é principalmente um drama com uma mensagem muito útil para os dias de hoje. Para passar devidamente sua mensagem, Spielberg escolheu retratar judeus e palestinos (e todos os envolvidos na história) em seus vários lados e facetas. O terrorista palestino não é somente o cara malvado que sai matando tudo e todos em nome de Alá, e o judeu não é o pobre bonzinho que vive em campos de concentração e nunca revida coisa alguma. Tanto palestinos quanto judeus ou membros de quantas ordens terroristas ou ordens secretas que há não são do bem, nem do mal. São simplesmente seres humanos. E o roteiro não cai no comum erro de perdoar as ações de todos e justificá-las por causa disso. Ele tenta deixar claro que todos esses seres humanos agem como podem e querem de acordo com as circunstâncias, e que, se não pararem para pensar nas suas ações, correm o sério risco de virarem tão terroristas e obcecados quanto pensam que seu próprio inimigo é.

Não existe maniqueísmo nesse filme, o que é uma coisa realmente supimpa. E aí entra o motivo pelo qual “Munique” tem causado uma certa polêmica lá pelas paragens bushianas. Para os bons entendedores, já deu pra sacar que essa história serve como uma bela de uma metáfora para o que aconteceu – e acontece – recentemente na história dos Estados Unidos pós 11 de setembro. Pode parecer bizarríssimo, mas muitos estadunidenses ainda acreditam que a “guerra contra o terror” é uma coisa super sensata. E foram muitos desses tios que criticaram duramente o filme lá fora, o culpando de falar mal dessa guerra, mas não apontar uma solução. Ora viva, apontar uma solução não seria o trabalho de um diretor de cinema que não é diplomata, nem pacifista renomado internacionalmente. O que esse filme faz é apontar o problema. A solução, cada um encontre por si só. Pra mim, bons filmes que tratam sobre assuntos polêmicos têm que terminar assim, sem oferecer uma solução prontinha, mas fazendo com que nossas células cinzentas se mexam. E o pior é que tanto judeus quanto palestinos se sentiram ofendidos com a história toda: uns dizem que ela humanizou e justificou demais as atitudes do outro, quando na verdade o que Spielberg fez foi simplesmente mostrar os dois lados da moeda, sem enfeitar ou enfeiar nenhum deles.

Bem, para muita gente consciente essa mensagem de “somos todos iguais, braços dados ou não” é válida, mas não é nova. Por isso, pode até parecer vez por outra que “Munique” cai em clichês e passa uma idéia que todos nós já estamos cansados de saber. Mas nunca é demais ver uma boa história, com uma boa mensagem, e contada do jeito certo – é o Spielberg, se tem uma coisa que ele sabe fazer, quando não resolve estragar os finais de seus filmes colocando potes de mel no fim do arco íris (o que ele não faz aqui, felizmente :D) é contar histórias. Nunca é demais mesmo, maaaas… vai daí que, mesmo assim, é por esse caminho que poderemos começar a enumerar os defeitinhos da película.

Se Spielberg não colocou potes de mel e não melou o fim do filme dessa vez, como costumou fazer em seus últimos projetos, ele não deixa de seguir uma certa apostilinha pronta na construção de roteiros e personagens. Por melhores e mais redondos que eles sejam, e muito bem interpretados – afinal, não há um pingo do que reclamar da atuação de cada um dos atores dessa fita -, não existe muito mistério sobre o fim de cada um. A gente consegue prever, em determinados pontos da trama, o que vai acontecer com cada personagem. Da mesma forma acontece com alguns momentos do filme. Por exemplo, quando um moço conta o causo de um homem que ficou paranóico e nunca mais dormiu em sua própria cama, você já desconfia que, em determinado momento da projeção, essa história vai acontecer com um dos personagens. E acontece. E olha que esse não é um caso isolado, não. São vários desses momentinhos constrangedores e com um quezinho de clichê, que, se não estragam o filme, também não ajudam em nada. Outro porém da produção é sua duração. “Munique” é bastante longo, e podia passar muito bem sem uma meia hora.

Mas tudo isso é o de menos. O pior – e quase um de seus únicos maiores defeitos – é o seguinte: existe uma mensagem, certo? Aquela que eu falei acima, de todas as pessoas serem iguais e humanas, sem maniqueísmo. Pois é. A gente entende que a intenção do filme é propagar essa mensagem quase logo de início. O problema é que nas três horas de projeção são muitas as vezes que ela é repetida: seja através de imagens simbólicas, seja através de conflitos psicológicos dos personagens, ou através de falas que mais parecem discursos. Até que, no fim, dá pra cansar e ter aquela vontade de gritar “ok, seo Spielberg, você me convenceu, eu já entendi, não preciso de outro discurso pra que eu entenda perfeitamente seu ponto de vista :o)!”. Porque é essa impressão que dá: preocupado com a repercussão desse assunto delicado que envolve mostrar a humanidade de todas as pessoas (com suas bênçãos e seus podres), Spielberg quis deixar muito clara a sua intenção e seu ponto de vista. E pra isso o repetiu até a exaustão, deixando até mesmo alguns diálogos um tantinho forçados e “discursados” demais. Às vezes uma boa cena com poucas palavras trocadas entre dois personagens vale muito mais que dezenas de cenas que querem dizer a mesma coisa ou um diálogo imenso que só falta terminar com um “vocês entenderam minha opinião, né? Se quiserem eu posso repetir de novo e desenhar pra vocês” dirigido à platéia.

Por último, um aviso, que pode ser defeito para uns e qualidade para outros (pra mim agiu neutramente, mas sabe como são as pessoas, teimam em ser diferentes ^_^): “Munique” sofre de múltipla personalidade. Enquanto é um thriller, que tem momentos nervosos a cada vez que o grupo principal precisa se organizar para matar o próximo da lista fornecida pelos chefões, tem seus lapsos de estilo de filme antigo de espionagem, quando surgem as misteriosas (e de certa forma hilárias) figuras de Louis (Mathieu Amalric), o fornecedor de armas da equipe, e seu pai com pinta de chefão da Máfia (Michael Lonsdale). Mas, antes de mais nada, é um drama. E dos bons. Daqueles que se não te fazem se debulhar em lágrimas durante a exibição, pelo menos fazem com que a platéia saia do cinema bastante pensativa. Pensativa e um pouco atordoada depois de várias explosões com um som excelente. Prepare-se para dar alguns pulos de susto na poltrona por causa disso.

Quanto ao terrorismo internacional, ao fanatismo religioso, ao fanatismo patriótico e qualquer tipo de exagero cego eu concordo em gênero, número e grau com a mensagem da produção, como você deve ter captado pelo que eu disse nessa crítica, e se eu falar mais ela vai ficar tão repetitiva quanto a película ^_^. Agora quanto ao Spielberg, eu só queria ver se um dia ele ainda consegue fazer novamente alguma produção infanto-juvenil com a mesma magia das que fazia na década de 80. Aí a gente conversa. Se não… bem, pelo menos meu respeito ele continuará tendo, depois desse “Munique”.

PS: Ah, e repare na semelhança de uma cena com um momento de A Vida de Brian. Quem souber de que parte estou falando ganha um doce.

Munique (Título original: Munich) / Ano: 2005 / Direção: Steven Spielberg / Roteiro: Tony Kushner e Eric Roth / Inspirado no livro Vengeance: The True Story of an Israeli Counter-Terrorist Team, de George Jonas / Elenco: Eric Bana, Daniel Craig, Ciarán Hinds, Mathieu Kassovitz, Hanns Zichler e Geoffrey Rush / Duração: 164 minutos.


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