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Artigo adicionado em 16/01/2006, às 10:51

A LULA E A BALEIA: um belo exorcismo de juventude
Um grande filme! Mas se você é um filisteu, esquece… :: Trailer: em QuickTime :: Visite o site oficial O dicionário Aurélio define o termo filisteu como uma forma de se referir a “indivíduos de espírito vulgar”. Para o escritor fracassado e agora professor de literatura Bernard Berkman, filisteu é aquele ser desafortunado que não […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


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O dicionário Aurélio define o termo filisteu como uma forma de se referir a “indivíduos de espírito vulgar”. Para o escritor fracassado e agora professor de literatura Bernard Berkman, filisteu é aquele ser desafortunado que não se interessa por livros e muito menos por filmes, conforme explica para seu filho Frank. Bernard acredita que o mundo é dividido por filisteus e não-filisteus, e seria bom se os representantes da segunda categoria evitassem se envolver com os integrantes da primeira, seres desmerecedores de crédito e inferiores por natureza – linha de raciocínio bem pejorativa, por sinal. Mesmo sendo apenas um mero pré-adolescente, Frank percebe a irracionalidade e a prepotência do pensamento de Bernard e não tarda a rebater: se ser um não-filisteu implica em seguir os ideais do pai, ele prefere ser um filisteu.

A meu ver, gostar ou não gostar de A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale, 2005), drama autobiográfico escrito e dirigido por Noah Baumbach – mais conhecido como o co-roteirista de A Vida Marinha com Steve Zissou, de Wes Anderson -, envolve um pouco deste lance de ser ou não um “filisteu”. Como sabemos, grande parte do público que freqüenta os cinemas não é muito chegado em produções-cabeça, preferindo fitas mais comerciais e de melhor digestão. Este público certamente ODIARÁ “A Lula e a Baleia” com todas as forças. Não que importe muito, já que é visível que Noah Baumbach não fez este filme para agradar a todo mundo ou a platéias específicas. Na verdade, Baumbach criou “A Lula e a Baleia” apenas para uma pessoa: ele mesmo. 🙂

O que acontece é o seguinte: as características de “A Lula e a Baleia”, que narra um período complicado da adolescência do próprio diretor, são bem peculiares. Seu fantástico roteiro, assim como o desenrolar das situações vividas pelos personagens, é quase totalmente linear, sem grandes tragédias ou mudanças muito bruscas de comportamento; os protagonistas não carregam nenhum atrativo especial – são pessoas comuns, tão comuns que beiram o banal; e a produção não preocupa-se, em momento algum, em situar o espectador ou contar uma trama com começo, meio e fim. É como se alguém ligasse uma câmera de vídeo numa casa de uma família qualquer, e desligasse depois de algumas horas, sem apresentar ninguém, sem explicar nada. Apenas captando imagens e deixando que elas falem por si só.

A família retratada aqui, no caso, vive no Brooklyn de 1986 e é formada por quatro pessoas: Bernard (Jeff Daniels, As Horas), o pai; Joan (Laura Linney, Kinsey), a mãe; Walt (Jesse Eisenberg, Amaldiçoados), o primogênito; e Frank (Owen Kline), o caçula. Bernard tenta voltar a escrever, mas não consegue impedir a chegada de um indesejado bloqueio criativo. Joan, que foi dona-de-casa por toda sua vida, decide também ingressar na literatura e, logo de cara, revela um talento nato que rende frutos muito bem-sucedidos, algo que Bernard jamais conseguiu. Walt gostaria de seguir os passos do pai – e para mostrar que tem “potencial”, interpreta para quem quiser ouvir um dos maiores clássicos do Pink Floyd, Hey You, como se fosse de sua autoria. Frank, de espírito rebelde, rejeita o lado “cult” da família e prefere tentar investir em sua futura carreira de tenista profissional.

Nos primeiros 15 minutos de projeção, o casal Berkman anuncia aos filhos que irá separar-se. A notícia cai como uma bomba nos garotos. Walt toma partido do pai ao descobrir que a mãe foi infiel, e Frank defende Joan, consciente de que jamais será o modelo de filho que Bernard espera (e é de certa forma rejeitado por conta disto). Walt e Frank não fazem idéia de como lidarão com sua nova rotina, já que morarão três dias e meio com o pai e três dias e meio com a mãe a cada semana…

Surgem problemas: o mais velho, mesmo namorando com uma amiga de escola, apaixona-se pela nova namorada do pai, a sensual Lili (Anna Paquin, nossa gloriosa Vampira), que por sinal é aluna dele; já o mais novo apega-se ao namorado da mãe, o professor de tênis Ivan (William Baldwin), enfia-se na bebida (?) e torna-se obcecado com suas recentes descobertas sexuais, masturbando-se por todos os cantos da escola e espalhando o “resultado do ato” nos livros da biblioteca e nos armários dos alunos (!?!?).

Claro que Walt e Frank amadurecerão rapidamente, sofrerão uma série de golpes e aprenderão algumas coisas sobre a vida… 🙂

E por qual razão um longa tão simples como este não agradaria ao público médio, mesmo com um ótimo roteiro e atores tão bons? O caso é que “A Lula e a Baleia” não é tão fácil assim de digerir. A fita é recheadíssima de metáforas e piadas sutis nas entrelinhas, e as zilhões de referências a ícones da cultura pop, que vão de personalidades literárias como John Updike e J. D. Salinger até cineastas como François Truffaut, certamente passarão despercebidas. Sua narrativa é simplista, direta, parada, quase teatral, focada apenas no delicado e impetuoso desempenho de seus atores. Não há um mínimo de “ação” no sentido literal da palavra, nem mesmo na construção dos personagens. Ou seja: elementos de sobra para espantar muita gente. 😀

Por outro lado, nada disto importa. Ser um “filme-padrão” não é nem de longe a proposta de “A Lula e a Baleia” – e este é o grande charme da película. “A Lula e a Baleia” nada mais é do que a forma que Noah Baumbach encontrou para revisitar sua juventude e exorcizar seus fantasmas. Como conseqüência, entregou um grande trabalho, muito bem dirigido, magnificamente interpretado – o elenco é um show à parte, com destaque para Jeff Daniels, perfeito, e para o brilhante estreante Owen Kline – e com uma deliciosa cara de anos 70, tanto na montagem, como no enquadramento de cenas e também na trilha sonora.

Então, “A Lula e a Baleia” é mesmo BOM? Bem, é uma rua de duas mãos. Você pode adorar ou odiar (e pra mim, particularmente, já é presença certa na futura listinha dos 10 melhores do ano), mas isto está diretamente ligado ao seu, digamos, “posicionamento” com relação ao lance pregado pelo patriarca do clã Berkman. Preferências à parte, é uma produção que, assim como o sublime Hora de Voltar, tem como principal trunfo ser absolutamente SINCERO. E este pequeno detalhe certamente quebrará as pernas de qualquer um. Seja você filisteu ou não. 🙂

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– O roteiro de “A Lula e a Baleia” está pronto desde 1999. Laura Linney recebeu uma cópia das mãos de Eric Stoltz em 2000, durante as filmagens de A Essência da Paixão. Ela concordou em atuar no futuro longa imediatamente.

– Um dos pontos mais altos da película corresponde ao excelente Owen Kline, intérprete de Frank. O garoto, de 15 anos, é filho de Kevin Kline e Phoebe Cates (a mocinha de Gremlins). Owen também escreve e desenha graphic novels, e possui um talento que eu queria ter a todo custo: ele tira de ouvido toda a discografia de Bob Dylan no ukelele. Uau! Eu quero este moleque como meu irmão mais novo. 😀

– “A Lula e a Baleia” foi rodado em 23 dias.

– A trilha sonora do longa (desde já, obrigatória na prateleira de qualquer fã de folk) ressuscitou dois grandes nomes da música sessentista: Bert Jansch e Loudon Wainwright III. Este último encerra o longa com a bela The Swimming Song, que toca depois da desconcertante Street Hassle, de Lou Reed.

– Sim, há um significado para o título do filme. Aliás, dois: um sentido físico e outro totalmente metafórico. Mas é óbvio que não entregarei o jogo aqui, né? 😉

A Lula e a Baleia (Título original: The Squid and the Whale) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos / Direção: Noah Baumbach / Roteiro: Noah Baumbach / Elenco: Jeff Daniels, Laura Linney, Owen Kline, Jesse Eisenberg, Halley Feiffer, Anna Paquin e William Baldwin / Duração: 81 minutos.


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