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“O ruim de tudo isto é que o próximo dezembro será muito triste”.
– Zarko, na saída de “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, em 25/12/2003.
Desde a primeira notícia sobre King Kong, declarei a quem quisesse ouvir que ninguém além de mim neste glorioso website poderia assumir a invejada tarefa de assistir antes de todo mundo (hehehe) e assinar a resenha da esperadíssima versão de Peter Jackson para a clássica e trágica história do gorilão gigante. Tenho meus motivos para tal desespero: sou fanzaço dos filmes de Jackson, dos trabalhos da minha amada noivinha Naomi Watts, protagonista do filme (se ela fizer filme com a Xuxa, eu assisto sem reclamar), e sobretudo da história do lendário Kong – cuja produção original, aquela de 1933, é uma das minhas fitas prediletas. Envelhecida, mas ainda marcante.
Ainda assim, confesso que tinha certas preocupações. Embora confie bastante no potencial de Jackson, estamos falando de um remake, e todos sabem que tenho certa aversão por remakes (principalmente quando sou fã devoto da versão original). Pra ser bem sincero, nem me fixei tanto neste aspecto, já que defendo que o “King Kong” de 1933, com seus dinossauros e tal, é uma das poucas produções que mereciam uma nova roupagem, com direito a todos os maneirismos visuais que o cinemão hollywoodiano de hoje permite. O que pegou mesmo foi o estigma O Senhor dos Anéis: até então, sabemos que boa parte do elenco da graciosa trilogia conseguiu exorcizar seus personagens e partir para outros campos sem ficar marcados numa boa; restava saber se Peter Jackson poderia fazer isto.
E o neozelandês conseguiu? Sim, conseguiu. Aliás, não diria somente isto. Peter Jackson sabe que uma boa fita de aventura não depende somente de seqüências impactantes e o roteiro que se exploda – pensamento este que parece reger os últimos filmes de Steven Spielberg, principalmente o patético Guerra dos Mundos (não, não me canso de descer a lenha!). Assim, Jackson soube extrair o que “O Senhor dos Anéis” tinha de melhor: a junção de entretenimento de qualidade, efeitos visuais impecáveis, atuações dedicadas e roteiro inteligente. Com esta ideologia na cabeça, o cineasta nos fez esperar ansiosos a cada final de ano depois de A Sociedade do Anel e nos deixou com uma dolorosa sensação de orfandade quando entregou o derradeiro O Retorno do Rei.
Esta sensação de abandono, garanto, não existirá em 2005: “King Kong” é simplesmente embasbacante. Com uma nova ótica e nem um pouco parecida com as milhares de refilmagens e releituras do original, a estrutura do trabalho de Jackson transformou a triste história do macacão numa película grandiosa, depressiva e absolutamente perturbadora. Exageros e faniquitos de fã à parte, não é exagero ou injusto dizer que “King Kong” é anos-luz superior a TUDO, eu digo TUDO o que surgiu nos cinemas neste ano (e incluo neste meio até Batman Begins e Sin City, dois excelentes e indiscutíveis trabalhos). Quando você sai da sala de projeção, o turbilhão de sentimentos é tão intenso que adjetivos como “sensacional”, “espetacular” ou “impressionante” soam pequenos, muito pequenos, para definir o longa.
Para resumir numa única frase, “King Kong” é disparado a melhor experiência cinematográfica do ano, um verdadeiro idílio à arte de fazer cinema. E nem venham me xingar sem argumentos: assistam antes de qualquer coisa. É… Peter Jackson sabia o que estava fazendo.
O que torna “King Kong” uma película tão única, afinal de contas? Duas coisas. A primeira é realizar a façanha de despertar o interesse em um enredo já meio batido e que todo mundo conhece. Sim, todos sabem como esta história termina, e ainda assim a produção prende a atenção e nos comove, nos faz rir, sentir ódio e chorar (prá cacete!) praticamente o tempo todo. O espectador não consegue desgrudar os olhos da tela e descolar o fiofó da poltrona em nenhum momento das suas três horas e dez de projeção. Pois é, três horas e dez, mas que passam como meia hora. E no final, ainda dá aquela sensação de “puxa, queria mais”. Eu mesmo poderia rever o longa mais de uma vez e em seguida… Mais Naomi Watts! Hehehe.
O outro fator: ao contrário de todas as outras fitas protagonizadas pelo simpático gorila, Peter Jackson nunca nos deixa esquecer a real natureza da trama. “King Kong”, como ele mostra a cada fotograma, nada mais é do que uma singela e tocante história de amor. Ui, ui, ui. 🙂
Então, vamos falar da história: como todos sabem, o poderoso roteiro desenvolvido por Jackson, Fran Walsh e Phillipa Boyens esquece toda e qualquer variação do enredo (incluindo aí o frustrante longa-metragem de 1976, estrelado por Jessica Lange e Jeff Bridges, que cometeu a cagadinha de atualizar o contexto da obra para os dias atuais) e concentra-se no plot do original, com algumas mudanças. Assim, conhecemos a aspirante a atriz Ann Darrow (Watts), que luta para conseguir vencer na vida em Manhattan, no auge da Depressão dos anos 30. Ann não tem dinheiro nem mesmo para comer, e sabe que a única saída para ganhar alguns trocados é tornar-se dançarina de cabaré, mas evita o negócio a todo custo.
Certo dia, Ann cruza o caminho do picareta cineasta Carl Denham (Jack Black, num papel inacreditavelmente sério), cujo contrato com um grande estúdio acabou de ser cancelado depois que os executivos não endossaram seu último projeto. Denham fugiu, levando consigo os rolos do filme inacabado, equipamentos e seu assistente Parker (Colin Hanks, filho daquele-que-não-podemos-dizer-o-nome). O plano: concluir seu projeto em Singapura. Mas para isto, precisa de uma atriz para interpretar a protagonista. Mesmo com um pé atrás, Ann concorda ao saber que o roteirista da tal produção é ninguém menos que o renomado dramaturgo Jack Driscoll (Adrien Brody), seu maior ídolo.
A coisa começa a complicar quando a tripulação do S. S. Venture, já no meio do oceano, descobre que Singapura não é bem o destino de Carl Denham. Na verdade, o diretor está de posse de um mapa que indica a posição da sugestiva Ilha da Caveira, uma suposta ilhota inabitada e não explorada. É lá que Denham quer terminar seu filme. E é lá que a tripulação do cargueiro será atacada por nativos enloquecidos, e Ann, seqüestrada para ser oferecida em sacrifício ao deus-macaco Kong, o último sobrevivente de uma linhagem de gorilas gigantes, que até pensa em devorá-la mas termina caidinho pela moça… Perfeitamente justificável que ele se apaixone. É a Naomi Watts. Ok, tá bom, eu paro de babar. ;-D
Quanto ao resto da história… bem, nem preciso comentar muita coisa, todos sabem o que acontece a partir daí e como o lance todo acaba (mal). Mas a estrutura linear do script, embora seja a mais simples possível, é bastante cuidadosa. Na primeira hora, totalmente utilizada para a apresentação dos personagens, aprendemos que um dos grandes méritos de Peter Jackson é saber escolher seus atores; não há um que não entregue uma interpretação no mínimo muito boa – com destaque para o alemão Thomas Kretschmann como o destemido Capitão Englehorn, com uma pronúncia da língua inglesa totalmente enxuta; Andy Serkis, o Gollum, em papel duplo (e um deles é o próprio Kong, num processo de captação de imagens idêntico ao utilizado com o ardiloso ex-hobbit); e principalmente Kyle Chandler, do finado seriado “Early Edition”, intérprete do impagável galã metido a besta Bruce Baxter.
Duas observações: nesta primeira hora, os cinéfilos se deliciarão com as zilhões de referências à meca do cinema da época (incluindo aí uma piadinha bem bacaninha com o elenco do “Kong” original). A outra observação: quando assume seu outro personagem, o cozinheiro Lumpy, Andy Serkis fica igualzinho ao Popeye, é inacreditável! 😀
Apresentados os personagens, a habilidade em deixar o espectador nervoso toma conta do titio Jackson. E pra valer! Já adianto que “King Kong” possui pelo menos cinco grandes e eletrizantes seqüências, daquelas que farão qualquer espectador querer rever o filme e até comprar o DVD:
1. O S. S. Venture chega à Ilha da Caveira
O “pega-pra-capá” dá a partida aqui, e de uma maneira beeem nervosa, pode acreditar. Mas o que poderia haver de tão tenso na simples chegada de um navio à uma ilha? Nada… só o fato de a Ilha da Caveira surgir do nada, encoberto pela névoa, a pouquíssimos metros de distância na frente do Venture, que está em alta velocidade! E aos detratores de plantão: não, o design do paredão da ilha NÃO LEMBRA o Abismo de Helm em As Duas Torres, como o trailer deu a entender.
2. O estouro da manada de braquiossauros
O que dizer de uma seqüência que mostra os pobres coitados dos humanos, liderados por Driscoll, tentando fugir de um enlouquecido bando de braquiossauros? E o que dizer quando descobrimos que, além dos enormes herbívoros em disparada, os caras ainda precisam se preocupar com um grupo de… velociraptores assassinos tentando abocanhá-los? Eu digo: UAU! Neste momento, percebemos que Peter Jackson não está para brincadeiras. Afinal, ele não hesita em matar seus personagens, e das maneiras mais grotescas! O momento mais legal de toda esta cena envolve o marinheiro Jimmy (Jamie Bell) e vááários braquiossauros despencando de um precipício…
3. Kong vs. Tiranossauro Rex
No longa original, Kong enfrentava um amigo Tio Roy no mano-a-mano, não sem antes largar sua amada Ann Darrow no topo da árvore mais alta que encontra. Aqui, não há tempo para este ato de inteligência: Kong sai no braço com nada menos que três Tiranossauros AO MESMO TEMPO, e apenas com um braço! Enquanto isto, Ann voa de um lado a outro, passando de mão em mão… Esta seqüência é um ótimo exemplo da perfeição dos efeitos visuais de King Kong, dos dinossauros e da própria Naomi Watts. E a “cena dos cipós” é de fazer roer as unhas das mãos, dos pés e de quem estiver sentado ao seu lado. 🙂
4. Kong à solta em Nova York
Uma palavra é o suficiente: CAOS! Afinal, aqui estamos nos anos 30, e esta é a graça do lance todo! Como lidar com uma “ameaça” tão inconcebível naquela época? Chega a ser engraçadíssimo ver Kong, à procura de Ann, agarrando todas as loiras gritantes que vê pela frente e arremessando-as longe quando percebe que nenhuma delas é a garota…
5. Kong vs. biplanos no alto do Empire States
E como não poderia deixar de ser, Peter Jackson guarda os momentos mais aflitivos de “King Kong” para o seu clímax. A seqüência do macacão no topo do Empire States Building, protegendo sua amada ferozmente dos ataques dos biplanos que tentam derrubá-lo, já entrou para o rol dos momentos mais belos do cinema. E quem tem PAVOR de altura, como eu, deve se preparar. Todo mundo levando um cházinho ou um suco de maracujá para o cinema, por favor. Eu não levei, e quase “chamei o Hugo”. 😛
O centro de “King Kong”, contudo, não é a pancadaria rolando solta. O que move a fita é justamente o que ela tem de melhor: o relacionamento entre Kong e Ann Darrow. É difícil conter a emoção e não se comover quando vemos Darrow conquistando a simpatia do gorilão com números do teatro vaudeville, ou quando ela tenta, em vão, impedir que Kong sofra a crueldade dos humanos. A ligação emocional entre Ann e o animal move praticamente toda a ação, que ainda aproveita para evidenciar a prepotência dos seres humanos tidos como “racionais” perante às raças tidas como “inferiores”. Se o negócio já é dolorido antes dos chocantes momentos finais, prepare-se para sair do cinema em frangalhos – e a visceral atuação de Naomi Watts é fundamental para que isto funcione.
Depois de tantos elogios tecidos a “King Kong”, é de se perguntar: “Será que não há um momento ruim sequer nesta fita?”. Eu digo: há um. Um único momento. É o momento em que as luzes da sala de projeção acendem-se, os créditos finais rolam pela tela e você se vê, mais uma vez, de volta à realidade. E então, você finalmente percebe que aquela horrível sensação de abandono e despedida tida com o final da saga de “O Senhor dos Anéis” será sanada temporariamente pelo amável gorila. É cinema em estado bruto, finalmente provando o real significado da expressão “a magia da sétima arte” e o motivo de tantos referirem-se à indústria cinematográfica como Carl Denham refere-se a Kong: “a oitava maravilha do mundo”.
Que presentão de Natal. Obrigado, Peter Jackson.
King Kong (Título original: Idem) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos, Nova Zelândia / Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh e Phillipa Bowens / Baseado no roteiro do longa-metragem “King Kong” (1933), escrito por Merian C. Cooper e Edgar Wallace / Elenco: Naomi Watts, Andy Serkis, Jack Black, Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Jamie Bell, Colin Hanks, Kyle Chandler, Evan Parke / Duração: 189 minutos.
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