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Artigo adicionado em 16/11/2005, às 12:24

Crítica: QUEM SOMOS NÓS?
De onde viemos? Para onde vamos? Por que o Rob Liefeld continua desenhando? Êta filmezinho complicado de comentar. Sucesso nos meios acadêmicos norte-americanos, Quem Somos Nós? (“What The Bleep Do We Know?”, 2004) é uma produção independente de orçamento reduzido e que, num passe de mágica, já coleciona cerca de 8 milhões de dólares de […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim


Êta filmezinho complicado de comentar. Sucesso nos meios acadêmicos norte-americanos, Quem Somos Nós? (“What The Bleep Do We Know?”, 2004) é uma produção independente de orçamento reduzido e que, num passe de mágica, já coleciona cerca de 8 milhões de dólares de bilheteria só nos Estados Unidos e Canadá. E pensar que tudo começou com uma única cópia, exibida exaustivamente em terras ianques, cujo boca-a-boca cresceu de maneira incontrolável e surpreendente, tornando-se a principal razão de seu sucesso. No entanto, a obra não é unanimidade, dividindo críticos e mesmo público, ficando no abismo entre adjetivos como “genial” e “pueril”. Vamos ver onde diabos você se encaixa.

Mistura de documentário e ficção, “Quem Somos Nós?” usa a história de Amanda (Marlee Matlin, vencedora do Oscar de melhor atriz em 86 por “Filhos do Silêncio”), uma mulher em crise depressiva sem saber direito para onde deve caminhar sua vida, como exemplo das teorias explanadas durante a trama por uma série de biologistas moleculares, neurologistas, anestesiologistas, filósofos e místicos. Basicamente, a película dirigida pelo trio William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente recorre a conceitos da física quântica e teorias avançadas do cérebro humano para tentar questionar o que nós achamos que é realidade – e como nós podemos afetá-la, inclusive mudando nossas vidas e até modificando nossos próprios corpos no processo. Pode parecer complicado, mas até que é bem divertido.

Er… quer dizer… TALVEZ seja bem divertido. Ou talvez não. Bem, eu disse que era complicado.

“Quem Somos Nós?” tem lá seu lado de humor, com animações de nossas células reagindo a situações como a fome e a excitação, tentando explicar biologicamente coisas como o amor e o desejo sexual e revelando que podemos ficar viciados em todo tipo de sensação – incluindo a baixa auto-estima que nos faz acordar achando que somos a mosca do cocô do cavalo do bandido. Mas o bicho pega porque, no fundo, ao contrário do que prega o material de divulgação, o filme é bem menos científico e muito mais espiritual e filosófico. E todos sabemos muito bem o que pode acontecer quando as crenças pessoais de cada um entram em cheque no meio de questões polêmicas como “de onde viemos?”, “para onde vamos?”, “qual é o nosso papel no mundo?” e por aí vai. Acho que, até este momento, a maior parte de vocês já deva estar cheia de comentários na ponta dos dedos para espalhar pela “Voz dos Nerds”. Esperem mais um pouco.

Com um quêzinho de “auto-ajuda” e pequenas doses da filosofia new age, “Quem Somos Nós?” é uma experiência que depende da palavra “acreditar”. Pode parecer meio duro de engolir em alguns momentos, um tanto melodramático e brega em outros e, definitivamente, tem sérios problemas de timing antes da última meia-hora… mas é preciso “acreditar”. Entrar de cabeça nas teorias apresentadas no filme, seja para concordar ou discordar delas. E temos aí um problemão. Certos católicos, evangélicos e outros tipos de religiosos mais ortodoxos vão passar longe, sem nem sequer dar aos cineastas a chance de mostrar seu ponto de vista. Os mais céticos e ateus vão achar tudo uma baboseira sem tamanho, que tenta se apoiar na ciência avançada para explicar a existência de alguma coisa próxima a Deus.

Ops. Pois é. Deus. E é aí que a discussão pega fogo.

De acordo com “Quem Somos Nós?”, Deus não existe do jeito que o conhecemos, como uma figura terrível e punitiva que espalha o medo nas páginas da Bíblia. Na verdade, todos nós seríamos Deus. Cada um de nós seria uma parte desta energia muito maior. E, exatamente por isso, cada um de nós teria o poder de modificar a sua própria realidade com o poder da mente. Cada um de nós seria o senhor de seu próprio microcosmo pessoal. Já está confuso o suficiente? Então vamos ao que diz o próprio filme:

“Por que continuamos recriando as mesmas coisas? Por que continuamos tendo os mesmos relacionamentos? Por que continuamos tendo os mesmos empregos repetidamente? Nesse mar infinito de possibilidades que existem à nossa volta, por que continuamos recriando as mesmas realidades? É possível estarmos tão condicionados à nossa rotina, tão condicionados à forma como criam nossas vidas, que compramos a idéia de que não temos controle algum? Fomos condicionados a crer que o mundo externo é mais real que o interno. Na ciência moderna é justamente o contrário. Ela diz que o que acontece dentro de nós é que vai criar o que acontece fora. Existe uma realidade física que é absolutamente sólida, mas só começa a existir quando colide com outro pedaço de realidade”

Mais “Matrix” do que os próprios “Reloaded” e “Revolutions”, não? 🙂

No fim das contas, a comparação que faço a respeito de “Quem Somos Nós?” é com o filme do Hulk dirigido pelo chinês Ang Lee. Eu, particularmente, gostei MUITO. Mas consigo enxergar claramente os motivos pelos quais muita gente não vai gostar – aliás, muita gente vai DETESTAR, para falar bem a verdade.

Bom, EU acreditei. Na verdade, eu já acreditava muito antes de sequer assistir ao documentário. Resta agora saber se VOCÊ também acredita. Isso vai definir a sua escolha por este ou por outro filme na fila do cinema, Pense bem. Para não vir aqui e me xingar depois. 😛

PS: Ok, admito que o texto tenha ficado um tanto estranho em comparação ao habitualmente publicado aqui n’A ARCA. Mas este é aquele tipo de crítica na qual o limite entre expôr a sua opinião pessoal e impôr a sua opinião pessoal é muito tênue. Comentar uma produção que questiona crenças religiosas é um terreno bem periogoso. Que nunca tive medo de cruzar, leia-se bem. Mas que sempre tive a decência de respeitar.

Curiosidade:
— O interesse romântico de Amanda que aparece no final do filme é vivido por ninguém menos que Casper Van Dien, conhecido ator de filmes B e produções para a TV. Você deve se lembrar dele em filmes como Tropas Estelares e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Basta perguntar ao Benício.

Quem Somos Nós? (Título original: What The Bleep Do We Know?) / Ano: 2004 / Produção: Estados Unidos / Direção: William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente / Roteiro: William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente / Elenco: Marlee Matlin, Elaine Hendrix, Barry Newman, Robert Bailey Jr., John Ross Bowie / Entrevistados: David Albert, Amit Goswami, John Hagelin, Ramtha, Candace Perth, Jeffrey Satinover, William Tiller, Fred Alan Wolf / Duração: 109 minutos.


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