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Artigo adicionado em 18/11/2005, às 06:38

Crítica: O MUNDO DE JACK E ROSE
A comida tá boa, mas falta um pouquinho só de tempero… :: Trailer oficial: em QuickTime :: Visite o site oficial Histórias bizarras quase sempre rendem filmes bastante interessantes (Spike Jonze que o diga :-D). É ainda melhor quando o enredo em questão traz uma polêmica qualquer de leve. E mais legal ainda quando é […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


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Histórias bizarras quase sempre rendem filmes bastante interessantes (Spike Jonze que o diga :-D). É ainda melhor quando o enredo em questão traz uma polêmica qualquer de leve. E mais legal ainda quando é fruto de estúdios independentes que, sem as amarras das grandes distribuidoras, fazem o que querem e não estão nem aí. Melhor para nós!

O que despertou minha curiosidade com relação ao drama O Mundo de Jack e Rose (The Ballad of Jack and Rose, 2005) foi justamente a junção destes três requisitos listados acima. Pra completar o caldo, a produção representa a suposta última oportunidade de conferir nas telonas o sempre fantástico desempenho do excelentíssimo senhor Daniel Day-Lewis, astro do genial Em Nome do Pai, que anunciou que não voltará a filmar – o que é uma bela de uma SACANAGEM, diga-se de passagem. Como podemos notar, “O Mundo de Jack e Rose” traz elementos de sobra para torná-lo obrigatório para qualquer fã de cinema indie. Como eu, por exemplo. ;-D

O resultado final desta empreitada, entretanto, é bem mais estranho que seu enredo, e isto definitivamente não é um elogio. Não, não: “O Mundo de Jack e Rose” não é um filme ruim. Bem longe disso: é sensível, delicado, cruel e absurdamente poético. O problema é que esta magia toda dura somente até certo ponto e, a partir daí, parece que algo se perdeu. A sopa esfria. Então, a fita termina e dá uma sensação de que algo está meio fora do lugar… O curioso é que, mesmo com esta sensação, não dá pra negar que esta era a única maneira de contar esta história sem avacalhar todo o meio-de-campo. Mas… hein? Esta última linha ficou confusa? Pois é, até eu achei. 🙂

Logo, vamos às explicações. Antes de qualquer coisa, porém, o tradicional resumão do enredo: Jack Slavin (Day-Lewis) vive numa ilha inabitada na costa leste dos Estados Unidos, no que sobrou de uma antiga comunidade hippie. O ano é 1986, e do numeroso grupo de pessoas interessadas em “reciclar o mundo” construindo uma nova sociedade baseada na ausência de TV e na convivência harmoniosa com a natureza, sobrou apenas Jack e sua filha Rose (Camilla Belle, de “O Mundo Perdido: Jurassic Park”). Instalados na ilhota, Jack acredita que Rose crescerá uma pessoa melhor se mantê-la à distância de qualquer um – à exceção do simplório floricultor Gray (o mais-que-bacana Jason Lee, num papel pequeno e muito comedido), que de vez em quando leva algumas mudas à menina.

Não que este isolamento revolte Rose. Ao contrário: a jovem adora o pai e acredita fielmente nos ideais que Jack prega. Aquele mundinho é o universo dela e ponto final.

A idiossincrasia de Jack sofre uma leve mudança quando percebe que Rose, então com dezesseis anos, está prestes a entrar na fase adulta. Jack, que tem uma doença fatal e pouquíssimo tempo de vida, fica preocupado com os rumos de Rose depois de sua iminente partida. Assim, decide convidar Kathleen (a ótima Catherine Keener, de A Intérprete), com quem “fornica” de vez em quando (!), a ir morar com ele para ajudar na criação de Rose. Kathleen, que vive numa cidadezinha próxima, aceita o convite, já que nutre certo sentimento por Jack e precisa de dinheiro (o cara é rico).

A situação foge ao controle quando Kathleen ancora no lugar na companhia de seus dois filhos adolescentes, o irônico Rodney (Ryan McDonald, da série “Night Visions”) e o revoltado Thaddius (Paul Dano, “Show de Vizinha”). O mundinho de Rose desaba. Ameaçada, enciumada e incomodada com a presença de tanta gente estranha, a jovem decide que não permitirá que ninguém, mas ninguém, a separe de seu amado pai. Tem início, assim, o caos.

Bem, o enredo é este. Simples, mas que abre uma caixa de possibilidades. E a direção de Rebecca Miller (do excelente e pouco visto “O Tempo de Cada Um”) é mais do que credenciada, já que a cineasta imprime uma boa dose de delicadeza e sutileza num roteiro que poderia facilmente cair no óbvio – Rose enlouquecendo em fúria sanguinária (!) – ou no vulgar – alguém aí pensou numa relação incestuosa entre Jack e Rose? E por falar nisso, os mais puritanos devem ficar em casa e evitar “O Mundo de Jack e Rose”, visto que este lance de rolar algo entre pai e filha está presente o tempo todo – e uma cena em particular explicita o troço numa paulada só. Mas a cena é tão cuidadosa que torna-se impossível não se comover. A ligação entre Jack e Rose, o filme quer nos mostrar, vai muito além disto.

Mas então… o que aconteceu? Por que o resultado geral de “O Mundo de Jack e Rose” é tão mais ou menos? Não se sabe. O longa começa muito bem, com um clima totalmente mágico e nostálgico, maravilhosas canções de Bob Dylan (“Shooting Star” é simplesmente fo-de-do-na!) e atuações bacaníssimas de grande parte do elenco, com destaque para a graciosa Jena Malone, como a maluquinha Red Berry (que torna-se amiga de Rose), e para o fantástico desempenho de Ryan McDonald, dono de um personagem ultra-complexo – um adolescente com complexo de obesidade que acabou de se descobrir homossexual. Demonstrando uma maturidade fora do comum em cena, McDonald não deixa seu Rodney cair no estereótipo um segundo sequer.

O problema é que o script, também desenvolvido por Rebecca Miller, dá uma caída legal em seu segundo ato. Na ânsia de evitar as armadilhas e as soluções fáceis na qual um plot desta natureza pode cair, Miller deixa sua história leve demais, em certos momentos até irreal. Mas como disse antes, não tinha como fugir. Se a direção injetasse um mínimo de malícia em “O Mundo de Jack e Rose”, correria o sério risco de fazer o espectador criar antipatia com seus personagens. Só que esta “leveza” prejudica bastante o andamento da película. E no final, o que poderia render um filme marcante, rende apenas um filme bom e nada mais, daqueles que você assiste uma vez, sai do cinema, esquece e não cogita a idéia de ver novamente. Até mesmo porque ninguém é louco de agüentar mais de duas horas de uma fita estrelada pela Camilla Belle. Meu, que menina ruim! Até o poste da esquina da minha casa tem mais expressão que ela, com aquele risco de caneta Pilot que é a sobrancelha da coitada. 😛

Ainda assim, “O Mundo de Jack e Rose” vale o dinheiro do ingresso tranqüilamente. Uma ótima pedida para quem quer fugir dos blockbusters, mais exatamente de um certo bruxo inglês, e curtir um cineminha mais intimista e sossegado. Só tente não criar muita expectativa, para não quebrar a cara no final. E tem o Jason Lee no elenco, caceta! A presença do cara paga qualquer valor! É o Banky! É o Brodie Bruce! É o Síndrome! Ai Jisuis, eu sou nerd. 🙂

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– Daniel Day-Lewis declarou que não mais faria filmes depois de seu trabalho em Gangues de Nova York, de Martin Scorsese, mas voltou atrás em O Mundo de Jack e Rose por conta de um único detalhe: Day-Lewis é casado com Rebecca Miller, a diretora do longa. Os dois se conheceram nas filmagens de As Bruxas de Salem, na qual Day-Lewis atuou e Miller serviu de consultora (o filme foi baseado na peça de autoria do seu pai, o dramaturgo Arthur Miller).

– Mesmo sendo a primeira escolha para o papel de Jack, Daniel Day-Lewis recusou a princípio. Dizem as más línguas que o ator só aceitou fazer quando ficou enciumado com a lista de atores que Miller preparou para substituí-lo.

– “O Mundo de Jack e Rose” foi rodado em seqüência contínua, o que é muito raro hoje em dia – geralmente as cenas são captadas numa ordem totalmente diferente da apresentada no resultado final. A fita foi rodada em Super-16mm, e não em 35mm, como são filmadas quase 100% das películas hoje em dia.

– O primeiro título do filme era Rose and the Snake (Rose e a Cobra), uma referência a uma cena do longa. Cá entre nós, acho The Ballad of Jack and Rose muito mais significativo e poético. 🙂

– A seqüência de abertura de “O Mundo de Jack e Rose” rola ao som da classicona I Put a Spell on You, do Creedence Clearwater Revival, música que eu já tinha escolhido para abrir um dos milhares de filmes que tenho na minha cabeça e que pretendo rodar daqui a 38 anos. Maldita Rebecca Miller! 😀

O Mundo de Jack e Rose (Título original: The Ballad of Jack and Rose) / Ano: 2005 / Produção: Estados Unidos / Direção e Roteiro: Rebecca Miller / Elenco: Daniel Day-Lewis, Camilla Belle, Catherine Keener, Ryan McDonald, Paul Dano, Jena Malone, Beau Bridges e Jason Lee / Duração: 112 minutos.


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