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Artigo adicionado em 17/10/2005, às 04:03

AULA DE ROTEIRO 7: ESPECIAL QUADRINHOS II
Ok, ok, tentarei ser mais assíduo… Olá pessoal! Estou aqui mais uma vez com a aulinha especial de roteiro, com o tema voltado para histórias em quadrinhos. Como prometido, agora vou falar de: “Elenco de apoio” “Ação” “Humor” “Crie seu estilo” Bom, antes de continuar, aqui estão os links para as aulas anteriores, caso alguém […]

Por
Emílio "Elfo" Baraçal


Olá pessoal! Estou aqui mais uma vez com a aulinha especial de roteiro, com o tema voltado para histórias em quadrinhos. Como prometido, agora vou falar de:

“Elenco de apoio”
“Ação”
“Humor”
“Crie seu estilo”

Bom, antes de continuar, aqui estão os links para as aulas anteriores, caso alguém as tenha perdido.

:: Aula 1 – Os Três Lados da Mesma História
:: Aula 2 – Análise do filme THE MATRIX
:: Aula 3 – Construção de Personagens Parte 1
:: Aula 4 – Construção de Personagens Parte 2
:: Aula 5 – Estruturando o Ato I
:: Aula 6 – Especial Quadrinhos I

Elenco de apoio – Ninguém é perfeito, nem em uma história em quadrinhos. Todo bom personagem principal, do Superman ao Demolidor, de Batman ao Homem-Aranha, possui defeitos, fraquezas e buracos em sua existência. É aí que entraM os personagens coadjuvantes, ou “elenco de apoio”.

“Eles agem nos buracos”, afirma o escritor Ron Marz (que por um bom tempo roteirizou Lanterna Verde). “Os personagens coadjuvantes devem agir de acordo com as necessidades do personagem principal…o que esse personagem principal pode precisar em termos de veia cômica, interesse romântico ou orientação de um personagem mais experiente”.

Um grande exemplo é o Homem-Aranha. Para as questões da vida, Peter têm a Tia May. Para assuntos profissionais, têm Robbie Robertson. Para lhe suprir em questõEs de dinheiro, têm J.Jonah Jameson e seu Clarim Diário. Para assuntos científicos, a ajuda de Curt Connors está sempre ali. Já no caso de interesse romântico, Mary Jane está ao redor também. Depois de criado o personagem principal (ou se o personagem não é seu, procure conhecê-lo tão bem quanto A você mesmo), analise seus defeitos e qualidades e procure ver que tipo de pessoa pode fazer o papel em cada aspecto da vida dele.

Ainda assim, tente encontrar sempre coisas novas nos personagens coadjuvantes sem mudar as características principais deles. Outra coisa é que certos acontecimentos da vida real podem não afetar o personagem principal, mas sim os personagens coadjuvantes (o que, indiretamente, afetaria o personagem principal, revelando coisas novas sobre ele). “Você pode matar J. Jonah Jameson, mas você não pode matar o Homem-Aranha”; diz Marz. E ele completa: “Você pode aleijar John Stewart, mas com o Lanterna principal, Kyle Rayner, as coisas são bem diferentes”.

Outra coisa é manter o controle do elenco de apoio. Personagens demais podem lhe dar um trabalhão enorme e confundir o leitor, deixando uma história muito chata. “O legal é sempre fazer com que alguns personagens saiam de cena por um tempo, não muito, para trabalhar com outros. Quando se cansar ou precisar deles, eles estão lá, guardadinhos e os que estão na ativa podem sair, mantendo uma rotatividade. Isso os manterá sempre em desenvolvimento”, acrescenta o escritor.

Do outro lado, vilões também são elenco de apoio… até certo ponto. Eles compartilham as mesmas características que um personagem coadjuvante, mas eles tÊm uma diferença crucial em relação ao vizinho amigo ou do companheiro de trabalho competitivo. “Os vilões são antagonistas, são pessoas que o seu personagem principal está encarando”; diz Marz.

E o Marz ainda aprofunda: “Mas assim como o resto dos personagens coadjuvantes, eles ajudam a definir o que seu personagem principal é. Vou dar alguns exemplos: Superman personifica a esperança, a bondade. Luthor é a corrupção e a maldade. Já no caso do Parasita, é um personagem que se torna extremamente poderoso quando os outros à sua volta estão fracos, exatamente o que o Superman é quando está rodeado de humanos. Quando o Superman está enfraquecido e enfrentando um Parasita super-poderoso, fica intimidado, pois não está acostumado a lidar com essa situação. Os bandidos comuns têm a mesma situação quando estão diante do Superman. Outro exemplo é o Capitão América. Ele é o defensor da liberdade, daquilo que é certo, lutando por um mundo mais equilibrado para todos. Já o Caveira Vermelha, que representa a opressão nazista, que lutava pela seleção natural de etnias, onde algumas ‘raças’ nem tinham direitos. É exatamente o contrário do que prega o Capitão. Mas o Capitão tem outros detalhes: é fruto da ciência. Uma ciência que vizava o bem. Só que Mecanus, mais um de seus inimigos, é fruto da ciência também, mas voltou-se para o mal. Até que ponto o Capitão é alguém para julgar o que é ciência utilizada para o mal ou não? A questão verdadeira das células-tronco está aí. Como o Capitão lidaria com essa polêmica? E se em alguma história as células-tronco, que podem beneficiar milhares de pessoas paralíticas, fosse usada de alguma forma, para o mal? Vê como todos os vilões de algum personagem são alguma forma de oposição a alguma característica deles?”

Resumo:
– O elenco de apoio têm que agir nos buracos da existência do personagem principal. Construa-os em relação às necessidades do personagem principal.
– Pessoas comuns e super-vilões devem definir sobre o que seu herói é.
– Mantenha-os na sua mão. Personagens demais podem chatear um leitor e lhe dar trabalho desnecessário.
– Tenha diferentes personagens coadjuvantes que aparecem em momentos diferentes. Isso os manterá em rotatividade e, portanto, “frescos”.
– Deixe suas frustações nos personagens coadjuvantes. Você não pode matar o Super-Homem, mas pode matar Jimmy Olsen.

Ação – Lutas com facas, tiros de metralhadora e brigas sanguinolentas – claro, tudo isso é legal, mas nada disso vai dizer nada se o leitor não puder sentir cada soco, cada tiro que é mostrado. Ao menos, é o que diz o escritor Greg Rucka. De acordo com o homem por trás das histórias de Batman, uma luta ou cena de ação é inútil se não acrescentar nada para a sua história. “Uma sequência de luta pode encher os olhos, mas pra torná-la clássica e especial, tem que significar algo”.

Assim como tudo na vida, uma cena de ação tem que ter um bom motivo para estar acontecendo. Duas pessoas, que nem se conhecem não podem,simplesmente sair na porrada porquê uma não foi com a cara da outra. Ache um bom significado para a luta estar acontecendo e não desculpas esfarrapadas para querer colocar ação sem sentido na sua história.

“Estude as grandes lutas dos quadrinhos”; diz Greg. “Todos falam sobre Superman vs. Batman no final de O Cavaleiro das Trevas. O que faz essa luta legal é o diálogo interno de Batman. Essa é uma luta que havia sido esperada e construída por anos e naquele momento, finalmente dois grandes ícones iam se encarar”.

Enquanto as lutas em “O Cavaleiro das Trevas” podem empolgar os fãs, Rucka diz que em alguns casos, a ação se perde porquê tudo fica fácil demais para o personagem principal. “Alguns escritores têm a tendência de deixar tudo muito fácil para o herói. É fácil fazer o Batman invadir um armazém, espancar cinco caras mas não vai ser nada heróico se ele não tiver um desafio, algo que mostre que ele pode perder. Se isso acontecer, não vai danificar a história”.

Outra coisa é que as lutas devem parecer realistas, mesmo que sejam entre personagens super-poderosos. Rucka, que por incrível que pareça, trabalhou com coordenação de lutas e como técnico de emergência médica (que bizarro e contraditório!!!), diz que fãs gostam de lutas realistas, mesmo que os personagens vistam cuecas por cima da calça ou sejam ficcionais demais. “Detalhes, como um estilo particular de luta ou pontos de pressão dá aos leitores uma sensação de credibilidade à história. Outros detalhes como uma arma em particular, que possa existir no mundo real, fazem a diferença”.

Resumo:
– Não deixe as coisas fáceis para o herói. Dê um desafio a ele, ou a ação se perde.
– Pergunte-se o que está em jogo numa luta. Se não há nada a perder ou significar, a luta não terá sentido algum.
– Mostre a ação de forma realista através de pesquisa. Você não precisa ser um expert em kung fu, mas conhecer termos técnicos pode soar autêntico.

Humor – Um personagem como Reed Richards estica qualquer parte de seu corpo. Wolverine usa uma roupa colante amarela. Superman tem um pega-rapaz. Vamos lá, como não fazer piadas com essas coisas? Cada vez mais nos melhores quadrinhos de hoje, os roteiristas buscam criar situações engraçadas com os personagens, sejam heróis, vilões, coadjuvantes, não importa. De acordo com Christopher Priest, que escreveu por um tempo a revista do Pantera Negra, usar o humor é o meio de manter o leitor ligado na sua história, sem tudo ficar cansativo. “Você sempre tem que trazer algo novo. Não adianta, cada um tem seu estilo e copiar o humor dos outros é meio forçado, fora que situações hilárias nos quadrinhos, todo mundo lembra, então, se você pegou algo de algum lugar, alguém vai perceber. Se você, em discussões com seus amigos, acha a cueca por cima da calça do Superman e de outros personagens, ridícula, naturalmente, na discussão, sairá algum comentário engraçado. Use esse tipo de coisa”, diz o cara.

E o cara ainda emenda que tem que saber quando parar: “Pra mim, o humor é um instrumento de auto-defesa. Procurando algo novo, que os fãs nunca viram em termos de humor é legal e pode ser usado várias e várias vezes, mas chega uma hora que isso satura, perde o fôlego”.

Priest aponta o Homem-Aranha como o perfeito personagem com veia humorística. Ele também aponta para Ben Grimm, o Coisa, como sendo outro que possui enormes possibilidades, ainda mais levando em consideração que o personagem acha ridículo enfrentar alguém cujo nome é “Dr. Destino”.

Por falar em personagens, sérios, é legal pegar alguns desses personagens e brincar com eles, pois é algo que nunca esperam. Já se imaginou fazendo piadas com Magneto, que é um personagem com uma alta carga dramática e não humorística? Isso é legal, desde que não ridicularize o personagem ou destrua suas características. O maior exemplo disso é o Batman, pois ele nunca ri. Porém, na séria Já Fomos A Liga da Justiça, escrita por Keith Giffen e J.M. DeMatteis, ele é a melhor coisa da história. E ambos os roteiristas foram os únicos a conseguirem fazer o Batman ficar engraçado sem ficar forçado ou deixá-lo ridículo.

“É difícil não escrever pensando nas piadas. Evite ir escrever já pensando em piadas. Vão soar forçadas”, diz Priest. Ele aconselha: “Apenas escreva a história do modo tradicional, com suas situações básicas, com os plots que você criou. Na hora de fazer a interação dos personagens, seus diálogos, a piada acaba vindo naturalmente. Ninguém conhece melhor os detalhes dos problemas que os personagens irão passar do que o próprio roteiristas. E levando em consideração que o roteirista tenta pensar em tudo relativo a uma determinada situação, é difícil as piadas não surgirem. Resumindo, seja natural”.

Resumo:
– Não fique assustado em fazer piadas com qualquer personagem.
– Deixe seus personagens verem o mundo conforme você o vê.
– Não fique com medo de reescrever algumas piadas ou situações engraçadas.
– Lembre-se de que tipo de público lê suas histórias e pense nas piadas levando isso em consideração.
– Pense em que aspectos de cada personagem podem soar engraçado.
– Saiba quando parar com uma piada.

Crie seu estilo – Fazer os leitores chorarem, rirem, maravilhados, surpresos, chocados, tudo isso até importa, mas o mais importante de tudo para um roteirista iniciante é: faça com que o editor se importe. Impressione ele. Brian Azzarello, que reinventou os quadrinhos policiais com a revista 100 Balas, diz que é importantíssimo deixar suas idéias claras sobre uma história para um editor. Tem que ser curto, grosso, direto ao ponto e sem falhas. Você tem que demonstrar segurança no que faz. Se você é inseguro, não sabe se alguma idéia vai funcionar ou não, como você espera que o editor retorne essa confiança?

“O tempo de um editor é valioso. Ou, em último caso, hehe… ele pensa que é. Você tem que criar seu meio de deixar tudo claro pra ele em pouco tempo. E é nessa apresentação que ele tem que se impressionar com suas idéias”, diz o roteirista.

Ainda assim, Azzarello confessa que nem sempre é possível passar toda a idéia sobre uma história de forma rápida e concisa, mas revela um macete pra driblar isso: “Eu sempre tento deixar o editor pedindo por mais. Isso não significa deixar certos aspectos da história incompletos, meio enevoados e sim captar a sua atenção, apresentar o que der da forma mais clara e deixá-lo intrigado com o que pode sair da sua cabeça em relação à história. Se eu não consegui fazer com que o editor tenha perguntas sobre minhas idéias ou queira mais, já sei que não fiz uma boa apresentação”.

Azzarello diz que uma boa apresentação é formada com duas coisas: uma é o resumo da história, com seu começo, meio e fim bem claro e sem rodeios. Nada de citar falas de personagens ou coisas do gênero. Faça como se fosse uma sinopse de filme que você lê na contra-capa de um DVD. A segunda é um breve resumo de quem é o personagem principal, escrito da mesma forma resumida. Geralmente, Azzarello escreve três parágrafos para cada parte da história (três para o começo, três para o meio e três para o fim), apresenta o personagem em mais três parágrafos, senta e espera pelas perguntas.

Apresentações sempre devem ser feitas com duplo-espaço, ou seja, para cada separação de linha, você deve pular duas e não uma, para facilitar a leitura. Além disso, deve constar sempre, no final, seu nome completo, seus telefones (fixo e/ou celular, nada de “fones para recados”), e-mail e endereço. O editor tem que saber como achar você. Detalhes como erros de gramática e pontuação podem matar uma apresentação. Tenha certeza de ter verificado tudo antes de colocar o seu texto debaixo do braço e entrar na sala de um editor.

Um conselho final é mandar suas apresentações para vários editores por Sedex (no caso dos americanos, é “Fed-ex”) ao invés de correio normal. Com o Sedex, sua apresentação chegará direto na mesa do editor e não entrará na empresa misturada às centenas de cartas que chegam todos os dias e podem ser extraviadas. Isso garante que ele vai abrir o Sedex e que vai ler sua apresentação.

Resumo:
– Ganhe a atenção dos editores e deixe-os pedindo por mais.
– Mantenha sua apresentação em apenas uma página, por isso tome cuidado com o tamanho da letra que irá usar.
– Tenha certeza de que o editor pode achar você.
– Use Sedex, para não correr o risco de ter sua carta perdida no meio do correio comum.
– Seja simples, direto e objetivo.

Muitos me perguntam por e-mail: “Ok, Emílio, suas aulas são bacanas, legais, esclarecem muito, mas… e na prática? Como faço para escrever? Como divido páginas? Como divido quadros?” – ok, Padawan, fique calmo. Chegou a hora.

Não existe um método universal para colocar tudo o que já expliquei a vocês, na prática. Em primeiro lugar, você tem que se sentir confortável escrevendo, seja o estilo que você usar na hora de dividir as informações para o desenhista. Se você for o desenhista, fica mais fácil, mas mesmo assim, você tem que escrever, não pode ficar relaxado.

Obviamente, existe um método segundo o qual eu, particularmente, gosto de escrever. E é o primeiro que irei apresentar aqui. Estou disponibilizando para download as cinco primeiras páginas de uma história que escrevi que ainda não foi colocada em prática (ou seja, desenhada). É uma história que mistura suspense, ação e fantasia. Abaixo, segue a explicação de cada tópico existente nas páginas.

Apresentação – eu sempre coloco, em ordem, as seguintes descrições:
Título: (aqui vai o nome da revista e seu número, por exemplo, “Homem-Aranha nº34”)
História: (aqui vai o título da história, por exemplo, “O Caso dos Tomates Assassinos”)
Roteiro: (coloque seu nome aqui)

Em seguida, coloco a descrição das páginas. Por exemplo, “PÁGINA #01”. Com tudo em maiúsculo, ajuda a separar página por página, pois coloco a separação dos quadros apenas com a primeira letra maiúscula e depois a descrição do quadro. Por exemplo:

PÁGINA #04
Quadro 1 – blá blábláblá blábláblá blá bláblá.
Quadro 2 – bláblábláblá blá blábláblá blá.

E assim por diante. Porém, em cada quadro, além da descrição, coloco falas e outros balões. Sendo assim, aí vai uma explicação básica.

Cartela ou Caixa: esse é o espaço onde vai a informação que o roteirista quer passar para o leitor, sendo a fala de um personagem ou não. Quer um exemplo? Veja abaixo.

Fala ou Diálogo: é o espaço onde vai as falas dos personagens, onde segue o diálogo ou monólogo daqueles que aparecem na sua história. Na fala, o personagem pode estar literalmente falando ou pensando (sim, com aqueles balões clássicos de pensamento em forma de nuvens). Como diferenciar os dois. Eu sempre coloco, depois do nome do personagem e antes de dois pontos, o seguinte símbolo gráfico “(p)”. Sempre aviso quem vai trabalhar comigo, seja um editor ou um desenhista, o que cada aspecto do meu estilo significa. Assim, quando alguém ler, já sabe se o personagem está falando ou pensando.

Voz “em off”: sim, há momentos em que existirão balões de personagens que estão fora de determinado quadro. E é isso que você deve colocar no mesmo lugar do (p) quando isso ocorrer.

Resumindo, uma descrição então pode ficar assim:

PÁGINA #17
Quadro 1 – Cena de Peter na fila do banco, mas não dentro dele. O banco está tão lotado que a fila está do lado de fora. Várias pessoas de todos os tipos estão na fila, na frente e atrás dele. Peter parece preoupado.Cartela: Queens, NY, 15:43hs.
Peter (p): Meu Deus, será que essa fila não acaba nunca? Eu demoro e depois a tia May e MJ vão ficar preocupadas, pensando que estou me atracando com o supervilão da semana ou algo assim…
Quadro 2 – Peter olhando no relógio.
Peter (p): Só vou ficar mais uns quinze minutos, se ao menos não conseguir entrar no banco, caio fora. Paciência, outro dia pago esta maldita conta e…
Quadro 3 – Cena de Peter desviando a sua atenção. Ele não está mais olhando para o relógio e sim para a entrada do banco. Todo mundo ao redor está surpreso. Na entrada, três ladrões estão saindo do banco. Dois deles estão com armas em punho e carregando sacos de dinheiro. O terceiro está abrindo a traseira de um furgão.
Peter: … o quê?
Ladrão 1: Hahahahaha!
Ladrão 2: Rápido, sem brincadeira!
Ladrão 3: Ei, que graça tem se não tiver diversão?
Quadro 4 – Cena de Peter olhando para o céu, com cara de quem não acredita.
Peter (p): Diz aí… você aí em cima gosta de mim, né?
Quadro 5 – Cena de Peter correndo para algum lugar enquanto, de fundo, vemos o furgão indo embora velozmente, ao mesmo tempo em que as pessoas estão paralisadas, atônitas com o roubo. Peter está com uma expressão de quem está procurando algo.
Peter (p): Beco? Cabine telefônica? Não, muito demodê. Vamos lá, Peter, ache algum lugar discreto!

PÁGINA #18
Quadro 1 – blá blábláblá blábláblá …

E assim vai. Vendo atentamente as páginas que disponibilizei pra donwload, você terá um entendimento melhor, mesmo que não conheça os personagens. Aliás, devo ressaltar que nem é necessário conhecer os personagens. O que você deve analisar mesmo é a estrutura de como é feita uma página.

Bom, como eu expliquei, existem vários métodos e este é o que mais gosto. Já Peter David, conhecidíssimo roteirista de quadrinhos, gosta de descrever uma página inteira, sem dividir os quadros, já com as falas, como se fosse uma página de livro. Esse método possui suas vantagens e desvantagens. A vantagem mais óbvia é que o desenhista terá liberdade para decidir quantos quadros usar em cada página e como estruturá-la, ou seja, que informação vai em cada quadro e assim por diante. A desvantagem maior é que o roteirista tem que tomar cuidado pra não colocar informação demais em cada página. Quadros podem ficar lotados de descrição, dificultando e muito o trabalho do desenhista, isso sem falar que o roteirista tem que pensar que deve ter espaços no desenho para colocar os balões. Certas informações visuais, às vezes, não podem ser omitidas para colocar um balão em cima. E em outros momentos, um quadro não pode ficar sem balão. Se tiver muita descrição, fica o caos pra organizar tudo.

Há outros roteiristas que preferem dividir uma página em duas, usando uma linha vertical, onde a descrição do quadro fica do lado esquerdo e as falas que ficam no respectivo quadro ficam do lado direito. Eu não gosto muito desse método, mas vai que funciona melhor pra você, não?

Busque, pesquise, vá atrás dos trabalhos de outros roteiristas. Às vezes, pode calhar de alguma forma que um certo roteirista usa ser a perfeita para você. Eu mesmo nunca tinha visto como Frank Miller, um dos meus roteiristas preferidos, escrevia. E claro, tive essa oportunidade quando a Panini lançou a “versão definitiva” de Batman Ano Um, onde nos extras, há páginas do roteiro escrito por ele. E eis que fiquei extremamente surpreso quando vi que a forma que ele usa é muito semelhante à forma que uso, hehe…

Bom, se você não gostou de nenhum apresentado aqui e acha algo do tipo “Quem esse elfo pensa que é?”, reservei uma surpresa. Tempos atrás, a Marvel chegou a editar uma série de revistas chamadas “Rough Cut”, onde escolhiam uma determinada edição para relançá-la em seu formato original, ou seja, só no lápis do desenhista, sem balões, cores, arte-final e contendo o roteiro completo no final. Feita pelo aclamado Mark Waid e por Ron Garney, desenhista que aprecio muito, não pude deixar de comprar a edição “Rough Cut” do Capitão América.

Estou disponilizando também para download algumas das páginas escritas por Mark Waid. Mantive o original em inglês, optando por não traduzir. Escolhi dessa forma para ficar o mais fiel possível ao original, sem afetar o texto de Waid. Note como depois da apresentação e antes das páginas, ele explica para os envolvidos (editor, desenhista, etc.) como desenvolveu a história, por quê e como isso poderá repercurtir futuramente, entre outras observações. Note também que é só descrição, ele não costuma colocar falas. Waid se sente mais à vontade para escrever diálogos depois que ver as páginas prontas, assim pode controlar o “timing” do que os personagens estão falando. O roteiro está nas imagens abaixo:


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