Então você e seu grupo de amigos esquisitos estão lá, conversando sobre os desenhos, filmes e brincadeiras que fizeram parte da doce aurora de sua vida. Discursam sobre Thundercats, Caverna do Dragão, Os Goonies, Lango Lango, Moranguinho… Aí sempre tem um pra soltar a frase “Aaah, as crianças de hoje não são felizes!”. Que feio. Alguém aí se lembra daquele e-mail que circula na Internet que diz, revoltado, “do que as crianças de hoje vão lembrar? Da Tiazinha?”. Que mais feio ainda! É, então faço minhas as palavras do El Cid: “como assim, cara pálida”?! Então quer dizer que, quando você era criança, tudo o que passava na televisão era maravilhoso, os filmes no cinema eram todos perfeitos e nada chamado Chacrinha ou Bolinha assombrou suas tardes de sábado? Portanto, o que quero dizer é: sim, tem muita coisa ruim hoje. Mas muita mesmo. Tanto pra adultos quanto pras crianças. Na tevê, no cinema, nas livrarias, nas bancas. Só que, assim como nas décadas anteriores, também tem coisa boa perdida por aí.

Por isso, antes de sair por aí falando que as gerações de 90 em diante são perdidas e só consomem lixo na mídia, lembre-se das coisas que esses sortudos têm e que você, apesar de todo o Atari, o Guerra nas Estrelas clássico e o Comandos em Ação, não usufruiu quando criança. Ah, não botou fé? Então dá só uma sacada:

:: NA TEVÊ

Muita coisa que fez parte da nossa infância ainda passa hoje na tv, como é o caso de Chaves, “Caverna do Dragão”, e até Cavalo de Fogo (se duvida, é só ligar na Globo aos sábados de manhã). Se hoje Rá Tim Bum, Glub Glub e Castelo Rá Tim Bum não são mais novidades, não quer dizer que não existam mais. Eles ainda passam na televisão, e qualquer criança que quiser ver, pode ligar na TV Cultura e assistir o Nino, os Glubs e o Euclides perfeito diariamente. Os pais que têm tevê a cabo e querem deixar os gurizinhos familiarizados com os desenhos antigos, é só colocá-los diante do canal Boomerang.

Mas não é a volta ao passado o assunto hoje, então falemos do que não existia há anos atrás: apesar da Xuxa realmente não estar melhor do que antes, ainda é assistível, e os desenhos que passam por lá não são piores do que os clássicos. Bob Esponja é um bom exemplo! Os queridos Timão e Pumba são outro, e também passam todas as manhãs, junto a Padrinhos Mágicos e outras coisinhas divertidas. Até Três Espiãs Demais é simpatiquinho. Além de alguns animes praqueles que gostam. O que dizer então do retorno do Sítio do Pica Pau Amarelo? Quando vi o Supla e a (aaaaaaargh) Wanessa Camargo cantando para a Dona Benta e seus netos, fiquei com a pulga atrás da orelha. Mas, pensando bem, é até legal aproximar o clássico da literatura infantil a coisas mais modernosas. Senão, não tem apelo mesmo.

E Florisbella… gasp… é uma coisa realmente tosca, mas não é pior do que Chiquititas, que metade das meninas que nasceram de 86 até 90 assistiram e gostaram. Se o parâmetro é qualidade realmente falta um pouco aqui, mas nada que já não tenha acontecido antes. Só é melhor não dizer nada daqueles dois do Bom Dia e Cia., que aí já é avacalhar.

Achas que a coisa na tv aberta não está muito promissora? Então dê graças aos céus porque a turma hoje tem televisão a cabo, coisa que era estranha há uns 20 anos atrás. E o Cartoon Network com seus desenhos será o mais lembrado em listas nostálgicas do futuro.

Ok, eles não terão O Mundo de Beakman. Quanto a isso, só podemos lamentar.

:: NOS LIVROS

Se a televisão, principalmente a tevê aberta, não está assim tão melhor do que antigamente, tem uma coisa que com certeza mudou: o jeito de encarar uma livraria. Porque a criançada de hoje se beneficiou da chegada de um sucesso chamado Harry Potter. E, pegando carona com ele, muitos outros títulos de fantasia começaram a pipocar e a lançar séries e mais séries que não são nada ruins. Não basta eles lerem Harry Potter sem ter vergonha dos amigos xaropes que dizem que isso é livro de criança, podem vasculhar nas estantes das livrarias e comprar Desventuras em Série, a trilogia Artemis Fowl, O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados e muitos outros que surgem na onda das obras de fantasia. Que lindo, eles não podem brincar na rua, mas podem passar tardes nerds trancafiados no apartamento, e lendo bons livros. Já é alguma coisa, não? Pra falar a verdade, nada muito diferente da minha infância. O_o Apenas com maior quantidade de livros infanto-juvenis legais.

:: NO CINEMA

Oh céus, a Disney não é mais quem ela foi…! O que é isso, Nem Que a Vaca Tussa, Irmão Urso? Onde estão os números musicais supimpas que a gente decorava quando era pequeno, e que alguns doentes sabem de cor e cantam até hoje? (Não, não estou falando de mim e do Fanboy, imagine…). Grande coisa. Imagina que mágico ser criança e poder ir ao cinema ver essas novas perfeições da Pixar, ainda acompanhados dos incríveis primos mais velhos, que riem tanto quanto você? Imagine você que quando era criança não tinham tantos desenhos estreando quanto hoje.

E, apesar de A História Sem Fim, “Os Goonies” e De Volta para o Futuro serem sensacionais e terem surgido nos cinemas na sua época, eles se equiparam a Senhor dos Anéis, “Harry Potter”, Fantástica Fábrica… até mesmo Guia do Mochileiro das Galáxias e certamente o vindouro Crônicas de Nárnia, que me parece uma versão atualizada de “História Sem Fim”. É como já disse: claro que tem coisa ruim, como Shark Boy e Lava Girl, mas tudo é compensado por esses novos grandes clássicos. Sem esquecer dessas maravilhosas adaptações de quadrinhos como Batman e Homem-Aranha… Se acha que só você gosta de Batman Begins, vai falar isso pros meus priminhos de 9 e 10 anos pra ouvir o que eles te respondem. Eu acho é que quando eles crescerem, vão dar ainda mais valor que nós pra esses filmões, e “Senhor dos Anéis” corre muito risco de se tornar tão aclamado quanto “Star Wars” o é pelos mais velhos.

:: NO RESTO

Lamento que os adventures da LucasArts não existam mais, e a Turma da Mônica esteja longe de ser quem ela foi. E sinceramente, prefiro não arriscar citando quadrinhos e videogames porque não são o meu forte. ^_^ Então vamos mudar de assunto sutilmente: a quantas convenções nerds você foi quando pequeno? Não, partidas de xadrez entre os amigos do seu pai não contam. Porque de uns anos pra cá é cada vez mais comum encontrar encontros de animes, de RPG e afins. E, lógico, bebês não vão lá, mas que é uma oportunidade única para crianças e os assim chamados “pré-adolescentes”, ah isso é. E se eles não ganharam Detetive ou War no aniversário de dez anos, pelo menos jogam card games, o que abre caminho para outros jogos que tratam de criaturas fantásticas, como RPG.

Então sorria, meu caro, e não venha com essa história de “oh, a minha foi a última geração feliz”! Tem uma feliz geração de nerdinhos se formando por aí.