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Se alguém me pedisse para definir o cinema norte-americano atual, eu diria numa boa que Hollywood anda dividida em duas partes: os remakes, que correspondem a pelo menos 70% de sua safra (!), e o resto. O negócio está feio! Não sei se é proposital ou falta de criatividade mesmo, mas o fato é que hoje em dia o que dá lucro é roupagem nova. O que nem sempre é bom: são raros os casos em que um longa-metragem atualizado dá um gás benéfico à série – e podemos citar aí o excelente O Fugitivo de Harrison Ford. De vez em quando, aparece alguma produção divertidinha, como Os Gatões: Uma Nova Balada (veja bem, eu disse divertidinha!). Mas em sua maioria, o que vemos mesmo são filmecos como o novo A Feiticeira, que chega às telonas brazucas nesta sexta-feira, 30/09. Nada contra o seriado, que é mesmo bem engraçado – embora seja apenas um “trabalho de uma piada só”, ninguém pode negar -, mas a nova fita não chega nem aos pés, isto é uma verdade. 😛
Ao contrário de “Os Gatões”, baseado numa série de ação, A Feiticeira, estrelado por Nicole Kidman e Will Ferrell, veio de um seriado cômico. A série, desenvolvida por Sol Saks e produzida por William Asher, surgiu nas telinhas em 1964 e foi criada única e exclusivamente para que a esposinha de Asher, a gracinha Elizabeth Montgomery, pudesse se tornar uma estrela. A idéia de retratar o cotidiano de um homem comum casado com uma feiticeira, entretanto, surgiu da cabeça do produtor William DozierL (o mesmo que levou o Batman pancinha para a TV), então executivo da Columbia Television. Dozier não curtiu muito a proposta inicial – um frentista pobretão casado com uma socialite – e decidiu mesclar a luta de classes sugerida na idéia de Asher a uma outra sugestão, lançada pelo produtor Harry Ackerman. “A Feiticeira” manteve-se no ar de 1964 até 1972.
E já que “A Feiticeira” versão 2005 está aí para quem quiser ver (ou se auto-flagelar, dependendo da maneira com que você queira interpretar), nós, os caríssimos caras bacanas aqui d’A ARCA, damos continuidade à visita às series que já ganharam as telonas! Já conhece os seriados de pancadaria que foram adaptados para o cinema? Não? Então clica neste link. E se já conhece, agora é hora de conhecer as comédias! Vai fundo e boa leitura. 🙂
:: UM JOGADOR DE BASEBALL QUER MATAR A RAINHA DA INGLATERRA!
Poucos sabem disto, mas uma das comédias mais legais dos anos 80 surgiu de uma série de TV. Ou quase. Em 1982, um bizarro seriado chamado Esquadrão de Polícia (Police Squad), criado por David Zucker, Jerry Zucker e Jim Abrahams (“Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu”), virou de ponta-cabeça todos os conceitos do cinema policial. O seriado, que narrou o cotidiano do infame detetive Frank Drebin (Leslie Nielsen, no papel de sua vida), teve somente seis episódios; a ABC cancelou “Esquadrão de Polícia” depois de uma seqüência na qual Drebin encurrala e troca tiros com um bandido num matadouro, e os tiros logo são substituídos por… vômito. Com gags hilárias que mais tarde tornariam-se marca registrada dos diretores em fitas como “Top Secret” e “Top Gang”, “Esquadrão de Polícia” conquistou um considerável número de fãs e, mais tarde, rendeu o clássico Corra que a Polícia Vem Aí! (The Naked Gun) que, além de ótimo, foi também um grande sucesso de bilheteria – mais de US$ 140 milhões arrecadados só nos EUA – e serviu para consolidar a carreira cômica de Leslie Nielsen, um veterano ator dramático que nunca mais fez algo de bom. “Corra que a Polícia vem Aí” e suas duas continuações estão disponíveis em DVD. Já o seriado… :'(
:: CLÃ MACABRO, FILME DIVERTIDÍSSIMO!
Outra grande produção que construiu uma sólida carreira nos cinemas é o excelente A Família Addams (The Addams Family, 1991), criado por Charles Addams em 1937 e dirigido por Barry Sonnenfeld (“Homens de Preto”). Sua fonte de matéria-prima é a hilária série de mesmo nome, cujos 64 episódios foram exibidos na TV gringa entre 1964 e 1966. Praticamente não há diferenças entre o filme e o seriado: a família Addams, encabeçada pelo apaixonado casal Gomez (no filme, o saudoso Raul Julia; na série, John Astin) e Morticia (no cinema, Anjelica Huston; na TV, Carolyn Jones), não possui nenhuma diferença com relação à tantos outros clãs. O problema é que os Addams têm gostos bastante, digamos assim, peculiares… “A Família Addams”, o filme, engordou o cofrinho da Orion Pictures – sem conotações maliciosas, por favor! – com nada menos que US$ 115 milhões. Além disso, gerou uma continuação igualmente divertida, A Família Addams 2 (The Addams Family Values, 1993), e revelou ao mundo o talento já lapidado de uma certa atriz-mirim chamada Christina Ricci, que cansou de provar que é uma pusta de uma senhora atriz e hoje em dia é um mulherão que não sabe escolher seus projetos…
:: E TUDO O QUE SOBE…
Outro clã bem conhecido da TV que ganhou mais tarde sua versão cinematográfica é a famigerada Família Buscapé (The Beverly Hillbilles). Este seriado, criado em 1962 por Paul Henning, contava uma única piada que funcionava à perfeição: a família capiria Clampett, liderada por Jed (Buddy Epsen), vive tranqüila em sua pequena fazenda. Até que Jed descobre petróleo em suas terras e torna-se, automaticamente, o mais novo milionário do pedaço. Assim, toda a trupe muda-se para Beverly Hills! O contraste entre o “simples” e o “glamouroso” rendeu situações antológicas e uma audiência bastante satisfatória (quase 60 milhões de telespectadores acompanhavam a série). Em 1993, a cineasta Penelope Spheeris (“Quanto Mais Idiota Melhor”) dirigiu uma versão para as telonas com o mesmo título e contando com atores bacanas como o saudoso Jim Varney (o maluco Ernest), Cloris Leachman (eterna coadjuvante dos filmes de Mel Brooks), Lea Thompson (a mãe do Marty McFly franguinho) e Diedrich Bader, antes de virar o deprimente coadjuvante pagador-de-mico de Miss Simpatia 2. Tem até um pequeno papel vivido por ninguém menos que Rob Schneider! O resultado não surpreendeu tanto assim no que diz respeito à bilheteria – rendeu pouco mais de US$ 50 milhões -, mas pelo menos o filme é divertidaço! 😀
:: …UM DIA TEM QUE DESCER!
No ano seguinte, a mesma Penelope Spheeris assinou mais um remake: Os Batutinhas (The Little Rascals), inspirado no antigo seriado “The Little Rascals”, de 1955. Este, por sua vez, nada mais era do que uma reunião de uma série de curtas-metragens produzidos entre 1929 e 1938 com o título de “Our Gang” e que narrava o cotidiano de um grupo de crianças ultra-levadas. “Os Batutinhas” versão anos 90 atualizou uma das micro-histórias da coletânea: um dos mais importantes membros do “clubinho dos garotos que odeiam as meninas”, o simpático nerdinho Alfalfa (Bug Hall), instaura o caos na vizinhança quando cai de amores pela mimadíssima Darla (Brittany Ashton Holmes). E só. Infelizmente, a fórmula de “A Família Buscapé” não se repetiu aqui, limitando o filme a um desfile de crianças engraçadinhas (que quase salvam a fita) e aparições cameo de personalidades ianques como Whoopi Goldberg, Mel Brooks e até Donald Trump (hein?). Bem, pra ser sincero, nem o seriado antigo era tããããão bom assim. Mas os dois trabalhos, principalmente o mais recente, têm pelo menos uma coisa boa: as crianças, que realmente são uma gracinha. Tirando, claro, as feiosas das irmãs Olsen, que aparecem rapidamente aqui e são tão estranhas quanto o El Cid imitando uma dançarina flamenca (!). 🙂
:: UMA FAMÍLIA DOS ANOS 70… NOS ANOS 90
A modinha dos filmes baseados em séries de TV cometeu o seu primeiro grande deslize em 1995, quando chegou aos cinemas o ruinzinho A Família Sol-Lá-Si-Dó (The Brady Bunch Movie), uma refilmagem/nova versão/atualização (?) da clássica sitcom homônima criada em 1969 por Sherwood Schwartz. A sitcom retratava o cotidiano de um numeroso clã: Mike Brady (Robert Reed), um divorciado pai de três garotos, casa-se novamente com a doce Carol Tyler (Florence Henderson), uma divorciada mãe de três garotas… E nada mais que isto. O sucesso do seriado deve-se ao ideal de bom-mocismo estadunidense, ao climão inocente e totalmente patriota e americanizado de suas histórias, o que cabia muito bem à sua época. Os Brady eram tão felizes, mas tão felizes, que a empregada recusava-se a receber salário (!!!!). Enfim, a série ganhou uma releitura em 1995 pelas mãos da diretora Betty Thomas – a mesma de “Dr. Doolittle”, o que não é bom -, que decidiu ambientar as histórias dos Bradys nos dias atuais, o que deixou a produção com uma incômoda cara de bobinha e ingênua demais. Nem mesmo Shelley Long (“Um Dia a Casa Cai”), como a matriarca Carol, salvou o filme do marasmo total. O pior de tudo é que “A Família Sol-Lá-Si-Dó” ainda ganhou não só uma, mas DUAS continuações! Eu, hein… Vai entender estes gringos. 😛
:: ANTENINHAS DE VINIL???
Uma das maiores bombas cinematográficas oriundas da televisão, entretanto, veio literalmente do espaço: Meu Marciano Favorito (My Favourite Martian, 1999), de Donald Petrie (“Miss Simpatia”) e baseado no seriado homônimo de 1963, que conta a história de um “homem de Marte”, o Tio Martin (Christopher Lloyd), que desce à Terra e faz amizade com o jornalista fracassado Tim O’Hara (Jeff Daniels), cuja maior ambição é encontrar uma notícia que “sacuda o planeta”. O seriado, exibido pela CBS entre 1963 e 66, até que fez um sucesso razoável, tanto que durou 103 episódios. Mas sejamos francos: alguém aí estava realmente interessado em assistir um filme, em pleno ano de 1999, com um marciano bacaninha que tem duas anteninhas que saem de seu couro cabeludo? Como o roteiro também não ajuda nada, “Meu Marciano Favorito”, o longa, acabou merecidamente no limbo.
Pois é, aí está. Há mais títulos a serem citados, mas estes são os mais importantes. E como podemos perceber, parece que será difícil ver esta onda de “filmes inspirados em séries de televisão” ir embora tão cedo. O que não seria uma má idéia, se vocês querem saber. Não quero correr o risco de presenciar algum cineasta brazuca ter a “brilhante” idéia de levar aos cinemas pérolas do porte do chatíssimo Sob Nova Direção… Ah vá! Aquilo não tem graça alguma! Mas se rolasse um filme d’A Diarista, eu até assistiria. Só por causa da psicótica da Solineuza. 😀
:: ALGUMAS CURIOSIDADES
– “A Feiticeira” contaria com um pequena participação de Jim Carrey, que não pôde comparecer devido a outros compromissos. O que é uma pena. Ou sorte para ele, dependendo do ponto de vista.
– Cada episódio de “Esquadrão de Polícia” tinha dois títulos: o que era mostrado por escrito nos créditos e o que era dito pelo narrador. Os dois nunca batiam.
– Ainda sobre “Esquadrão de Polícia”, cada episódio contava com uma “participação especial” de alguma celebridade, que não aparecia no desenrolar do capítulo pois era assassinada logo nos créditos (!). Uma destas celebridades era Florence Henderson (de “A Família Sol-Lá-Si-Dó”), que morreu alvejada durante um número musical; em outro episódio, Robert Goulet, o principal vilão de Corra que a Polícia Vem Aí 2 1/2, foi executado por um pelotão de fuzilamento; num terceiro capítulo, William Shatner bebeu um martini envenenado.
– O último episódio de “Esquadrão de Polícia” contaria com a “participação especial” de ninguém menos que John Belushi, que morreria ao ser jogado numa piscina com uma placa de cimento colada aos pés. Sua participação chegou a ser filmada, mas não foi usada por uma trágica razão: o ator faleceu de overdose em 1982, duas semanas antes de o episódio ser exibido na TV. Em 1989, depois do enorme sucesso de “Corra que a Polícia Vem Aí”, a ABC reprisou todos os seis capítulos da série, e pensou seriamente em incluir a cena de Belushi. Mas o negativo despareceu misteriosamente. Sai fora, meu!
– O nome de Wednesday, a filha mais velha dos Addams, é uma referência a uma linha do conhecido poema da Mamãe Ganso, que diz: “As crianças de quarta-feira são cheias de aflição”. Bizarro!
– Cloris Leachman, que interpreta a velhinha briguenta de “A Família Buscapé”, é mais conhecida por sua notória interpretação da governanta Frau Blucher no ultraclássico O Jovem Frankenstein, de Mel Brooks. A macabra Frau Blucher era temida até pelos cavalos, que relinchavam sempre que o nome da mulher era pronunciado…
– Corre uma lenda urbana nos EUA que afirma que uma maldição rondou a produção de “Our Gang”, a série de curtas-metragens dos anos 20 e 30 que originou “Os Batutinhas”. De fato, todos os pimpolhos que atuaram nos curtas morreram de maneira trágica e misteriosa ao decorrer dos anos. Credo! 😛
– Numa cena de “A Família Sol-Lá-Si-Dó”, é possível ver o ônibus do clã Partridge passeando ao fundo. Para quem não sabe, os Partridge compõem a Família Dó-Ré-Mi.
– Em certo momento de “Meu Marciano Favorito”, a personagem de Daryl Hannah (sim, ela está no filme!) aparece vestindo uma camiseta do Incrível Hulk. Na série de TV, o alter-ego de Hulk era vivido por Bill Bixby, que também interpretou o repórter Tim O’Hara em “Meu Marciano Favorito”, o seriado.
– Eu nunca vi o El Cid imitando uma dançarina flamenca. Graças à Deus.
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