Eu achava que era bem pouco provável que a média geral dos leitores d’A ARCA tivesse assistido a essa novelinha que a Angélica fez entre 1996 e 1998. Mas, quando o El Cid me contou que conhecia Caça Talentos e até chegou a assistir bastantes episódios, suspirei aliviada e achei que um “relembrando Caça Talentos” não seria algo tão mau assim. E a você, caro nerd mais velho, impiedoso e amargo, que acha que todo um artigo dedicado a uma novela infantil protagonizada pela Angélica é algo brega, eu só tenho uma palavra (ou talvez sete): eu não estou nem aí, que tal?

1) porque brega é a vovozinha
2) porque “Caça Talentos” falava sobre mundos mágicos, varinhas e feitiços em uma época pré-Harry Potter
3) porque é uma das poucas coisas infantis decentes que a Rede Globo fez (não esqueçamos de TV Colosso!)
4) porque sim, Zequinha

Fada Bela. Era o nome da personagem da Angélica. Tudo bem, pode ser bizarrinho, é uma apresentadora infantil vestida de fada, mas garanto que era 25252,5 vezes melhor do que a Xuxa vestida de Bruxa… e sei que muita menina queria ser a Fada Bela quando crescesse, (e não duvido de que muito menino quisesse namorar a Fada Bela quando crescesse). Ela era uma mistura de Samantha e Harry Potter, já que vivia no mundo real fazendo magia a todo instante, mas sempre tentando esconder seus poderes dos mortais ao seu redor. Ela tinha um espelho, que era sua única janela para o mundo da magia, onde viviam suas duas fadas madrinhas: Violeta e Margarida.

O primeiro episódio de “Caça Talentos” foi ao ar em 16 de setembro de 1996, às 11:30, logo depois do programa Angel Mix, uma espécie de programa de auditório infanto-juvenil da apresentadora. O que era pra ser apenas uma novelinha ao final do programa principal acabou fazendo sucesso e triplicando a audiência do horário da rede Globo – além de, é claro, superar em muito a audiência do “Angel Mix”. Eu era uma das crianças que chegavam a faltar na escola para assistir a um episódio inteiro e não perdia um capítulo.

“Caça Talentos” é uma agência de talentos (jura?), meio que uma produtora que vive às beiras de entrar em falência. Ela fica no mundo real, claro. Mas como uma fada foi parar lá? Simples assim: em uma coisa meio à la Harry Potter (claro que o livro ainda nem existia na época), Bela (Angélica) é órfã, e perdeu seus pais ainda bebê, em um acidente de carro. As fadas Margarida (Marilú Bueno) e Violeta (Betina Viany) encontram a criancinha lá e a adotam. Elas levam Bela para sua casa, que fica na Floresta Encantada do Mundo Mágico: um lugar onde vivem fadas, bruxas e outros seres fantásticos, e criam a menina como uma fada. Quando cresce, Bela descobre que, apesar de ter poderes, não é uma fada de verdade, e sim uma humana do Mundo Real. Suas tias tomam uma decisão sensata: deixam-na ir para o Mundo Real e decidir qual é seu verdadeiro lugar. Mas com algumas condições: Bela não poderia ter seus poderes descobertos no Mundo Real, e não poderia beijar ninguém lá, senão perderia seus poderes, e a partir do momento que decidisse abdicar de ser fada, ela esqueceria de tudo o que fosse relacionado ao Mundo Mágico. Isso complica quando a moça fica apaixonada pelo seu patrão Arthur (Eduardo Galvão).

Trabalhavam na agência “Caça Talentos” um punhado de funcionários bastante peculiares: o chefe Arthur era bastante neurótico e cheio de tiques nervosos. Em contrapartida, sua sócia Silvana Karloff (Helena Fernandes) queria roubar todas as ações e herdar a empresa de uma vez por todas, junto à sua assistente burrica, a Drica (Ana Furtado). O dono da cantina era o Tremedeira (Antônio Pedro). Existiam também o “descolado” Souboy (Igor Lage), que gostava da filha de Arthur, a Pepê (Paula Saniotto), o lutador de boxe grandalhão Avalanche (Tony Tornado), a gulosa Karina (Cláudia Rodrigues), com sua frase “Menina menina menina!”, e o assistente mágico da Bela, Órion (Eri Johnson). Também tinham outros personagens, que apareciam de vez em quando ou surgiram no meio da trama, como Lobo (David Pinheiro), amigo da vilã Silvana. Até a lendária Dercy Gonçalves apareceu por lá, como a avó da Bela.

Na sala de Bela existia o espelho que era a passagem para o Mundo da Magia, e através de onde ela se comunicava com suas tias. Em alguns episódios, Bela ia para lá, para isso usando seu toque mágico – uma mão na cabeça e outra no peito. Como fada, ela usava uma roupitcha verde, na época em que Angélica usava o cabelo cacheado, e, vão me perdoar, estava bem mais bonitinha do que com cabelo liso e puxado. O governante daquele mundo era o Honorável Kelvin (bate), um cara poderoso e tão respeitado que era preciso dar um tapinha na testa a cada vez que seu nome era mencionado (Emiliano Queiroz).

No começo, toda semana uma nova história se iniciava, e na sexta feira ela era resolvida. Diversas vezes, seres mágicos iam parar na agência e a Bela tinha que fazer o máximo pra resolver a bagunça que eles faziam. Nas férias de julho de 1997 uma série de episódios especiais foram ao ar, quando Bela foi para o Mundo Mágico e lá passou por uma série de aventuras, com labirintos e duelos com vampiros. No mesmo ano, foi acrescentado um narrador relembrando o que havia acontecido nos capítulos anteriores e as histórias ficaram um pouco mais longas, com dez capítulos, e não com 5, como anteriormente.

As atuações, claro, não eram perfeitas, mas davam pro gasto. As tramas compensavam esse defeito, já que saíam do padrão. Em que outro programa infantil a personagem principal tem que matar o fiel amigo e assistente porque ele foi possuído por um Exterminador de Fadas? Só para refrescar sua memória: em uma das tramas, um monstro tão estiloso e emborrachado quanto os vilões de Power Rangers, e com voz de Darth Vader retardado, chamado Exterminador de Fadas, foi para o Mundo Real atrás de Bela. Depois de várias reviravoltas, ele feriu Órion, o assistente mágico da Bela, e morreu. Mas, com o passar do tempo, Órion foi adquirindo as características do bicho, ficando com os olhos roxos e falando com voz de Vader retardado também. Sem alternativa, Bela teve que matá-lo. Muito medo e muito trágico. Depois, outros assistentes animagos o substituíram, como Max (Ernesto Piccolo) e o maior legal e perfeito Fred Star (Luís Carlos Tourinho).

Como tudo que é bom dura pouco, e a criatividade tem uma certa tendência deprimente de decair de uma hora para outra, a originalidade da novelinha foi se extinguindo pouco a pouco. Aliás, Seinfeld nunca chegou a ter épocas toscas por causa disso: quando o assunto ia começar a ficar repetitivo e ia se estender demais, eles terminaram o show. Que todos aprendam com eles, amém. No caso de “Caça Talentos”, os tios até tentaram continuar, mas não dava mais. Depois do qüingentésimo (nunca escrevi essa palavra antes. É legal) episódio, em 20 de novembro de 1998, seu fim chegou. Mas até mesmo o final de “Caça Talentos” saiu um pouco do óbvio: Bela e Arthur decidem se casar, e ela resolve contar a verdade para ele. Para isso, o leva até o Mundo Mágico. Lá, descobrem que precisam ficar no lugar a que verdadeiramente pertenciam, e apesar de se amarem, Bela fica no Mundo Mágico e Arthur volta para o Mundo Real. E acabou-se o que era doce, com a frase “Mas as Aventuras da Fada Bela não terminam aqui” surgindo no fim.

:: ATORES

– Angélica continua como apresentadora, no segmento Vídeo Game do Vídeo Show, e do Fama. É uma das queridinhas da Rede Globo, e participou de alguns filmes bastante… ahm… o_O

– Eduardo Galvão (Arthur) hoje está perdido naquela coisa pavorosa chamada Malhação.

– Luís Carlos Tourinho (Fred) é personagem fixo da série Sob Nova Direção.

– Eri Johnson (Órion) é arroz de festa em novelas, sempre fazendo o mesmo papel…

– Betina Viany (Violeta) está no teatro com a peça Monólogos da Vagina.

– Cláudia Rodrigues (Karina) tirou a sorte grande e protagoniza uma série, A Diarista, onde contracena com Helena Fernandes (Silvana).

– Ana Furtado (Drica) é repórter do Vídeo Show.

E finalmente, para quem quiser fazer de seu computador um karaokê, esteja à vontade para cantar como um serelepe a plenos pulmões as três músicas sobre “Caça Talentos” que foram parar nos cds da Angélica:

:: FADA BELA

Na floresta encantada, entre flores e cristais
Aprendeu, como uma fada, a cuidar dos animais
Da floresta encantada trouxe o cheiro de uma flor
Com a alma iluminada, pra nos dar o seu amor

Um toque seu acende um olhar
Um riso seu consegue acalmar
Um beijo seu pode transformar, fazer o encanto se quebrar

Ela sonhou um dia encontrar
Ela cresceu e foi procurar sua verdade
Aonde estará?
Perdida em algum lugar?

Fada bela, tome cuidado
O caminho é tão complicado
Entre a linha do bem e do mal, entre o humano e o imortal

Veja bem, pense bem
Siga o seu sonho, sua intuição
Olhe bem, faça o bem
A mágica está dentro do seu coração

:: DANÇA DA FADINHA

Tem dias que o mundo é floresta encantada
Tem dias que a vida até parece uma piada
Tem dias que eu acordo com vontade de dançar
E faço um gesto mágico pra música tocar

Então
Bate, bate
Eu vim te convidar
Bate, bate
Me chama pra dançar
A dança da fadinha pro mundo encantar

A mágica e a música flutuam pelo ar
A música encanta, é só você cantar
O ritmo que está em você está em mim
A música e a mágica que faz você feliz

Vem ficar comigo
É só fechar os olhos
O sol vai te levar
Vem dançar comigo
Deixar o corpo livre
Eu quero ser seu par

Todo beijo de amor
É um pedaço do céu
É o momento que o sonho é real

:: AMOR DE FADA (meu-deus-que-coisa-mais-tosca o_o)

Eu queria provar
O sabor desse mel
Que as fadas sabem que não tem igual

A magia do amor
Ninguém pode entender
Nem os magos conseguiram decifrar

É uma linda canção
Dentro do coração
E é preciso ser poeta pra explicar

O que eu posso fazer?
Me encantei por você
É mais forte que qualquer magia

Já não sei onde estou
Se no mundo real ou da ilusão

Se um dia eu te beijar
Eu vou me transformar
Jamais serei igual
No teu mundo real

As fadas são assim
Jamais podem beijar
Mas lá dentro de mim
Não sei o que fazer
Só penso em beijar você

Você me enfeitiçou
Você me ensinou a mágica do amor

:: CURIOSIDADES

– A Floresta Encantada foi construída no Projac, com 100 m² de grama de verdade.
– Caça Talentos foi reprisado a partir de 23 de novembro de 98.
– Em 99, uma tentativa de relembrar o programa foi feita, a Flora Encantada, no programa da Angélica. Mas nem chegou aos pés do primeiro, durando só 4 meses.
– Meu primeiro nick na Internet foi Drica, graças à personagem do programa.