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Artigo adicionado em 01/08/2005, às 12:27

WALTER SALLES
E é possível realizar bom cinema em nosso país? É possível, sim senhor! LEIA MAIS: :: Crítica: Água Negra :: Saiba mais sobre o filme original, Honogurai mizu no soko kara :: Filmes de terror japoneses e coreanos: o medo vem do oriente! Sim, eu sei, eu sei. Água Negra, que estréia nesta sexta-feira, é […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


LEIA MAIS:
:: Crítica:
Água Negra
:: Saiba mais sobre o filme original, Honogurai mizu no soko kara
:: Filmes de terror japoneses e coreanos: o medo vem do oriente!

Sim, eu sei, eu sei. Água Negra, que estréia nesta sexta-feira, é mais uma refilmagem de um longa-metragem nipônico. Mais um remake. Este elemento por si só já bastaria para incluir a produção na minha extensa listinha pessoal de “filmes que odeio”. Ainda assim, motivos não faltam para que isto aconteça: podemos incluir o enorme fracasso de crítica lá fora, e os raivosos comentários dos produtores, que afirmam a qualquer um que o estúdio responsável por “Água Negra”, a Touchstone, mutilou praticamente 90% da obra. Por outro lado, a fita conta com um pequeno colírio para os olhos nerds chamado Jennifer Connelly – mais conhecida como “aquela por quem o Machine Boy seria capaz de amputar uma perna”. 😀

Entretanto, não há como negar que, mesmo podendo ser um mero produto descartável (ainda não posso dizer o que a película é, pois não pude conferir), “Água Negra” possui uma bela e indiscutível importância para os cinéfilos brasileiros. Afinal, a direção da fita, como todos devem saber, marca a estréia no cinemão de entretenimento hollywoodiano de ninguém menos que o caríssimo senhor Walter Salles, premiadíssimo cineasta tupiniquim responsável por obras como “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta” – que não foi feito em Hollywood, logo, não pode ser considerado como o primeiro trabalho de Salles dentro do “esquemão” cinematográfico estadunidense. Embora Hector Babenco (“O Beijo da Mulher-Aranha”) e Bruno Barreto (“Voando Alto”? Ugh!) sejam veteranos por lá, podemos dizer que Salles é o primeiro cineasta made in Brazil realmente capaz de construir bons trabalhos que conquistem os ianques e o façam seguir uma carreira de sucesso nos States – algo que pode também acontecer em breve com Fernando Meirelles e seu futuro “The Constant Gardener”. Vamos ver, né!

O fato é que, independente de alguns não concordarem, Walter Salles é, sim, o mais importante cineasta brazuca a pintar nas telonas após a retomada do cinema nacional, em 1994. Alguns o acusam de ser americanizado demais; sinceramente, nem me incomodo com isto. Arrisco dizer, inclusive, que as fitas comandadas por Salles são universais e nada regionalizadas – o que é ótimo, diga-se de passagem. E convenhamos: se os nossos filmes são tão valorizados lá fora hoje em dia, ganhando prêmios em cima de prêmios e projeção internacional, é em boa parte por causa (ou culpa) do trabalho deste indivíduo, que dispensou os estereótipos das produções brazucas em geral, misturou os estilos de Michelangelo Antonioni e Wim Wenders (seus ídolos declarados) e aplicou uma carga emocional e visual muito bem-vinda em suas fitas. Não à toa, este carioca de 49 anos ocupa a 23.ª posição do ranking dos melhores diretores do cinema mundial, na opinião da revista britânica The Guardian.

E já que “Água Negra” finalmente chega aos cinemas nacionais, A ARCA se adiantou e deu uma rápida olhadinha na vida e na carreira de Walter Salles. O início, seus trabalhos mais significativos e os elementos que transformaram este ambicioso diretor brazuca num dos nomes mais festejados do cinema atual! Menos para o senhor Paulo Maffia, claro. 😀

:: A INFÂNCIA POBRE E SOFRIDA DO PEQUENO WALTINHO

Nascido em 12 de abril de 1956, em Botafogo, Walter Salles passou a maior parte da sua infância passeando entre Washington e Paris, acompanhando o pai, o falecido diplomata Moreira Salles, antigo dono do Unibanco (uia!). Nesta mesmo época, Waltinho passou a se interessar por cinema. Ao voltar ao Brasil, formou-se em Economia na PUC e, em seguida, rumou para os States novamente, para concluir seu mestrado em Comunicação Visual na Universidade da Califórnia. Lá, começou a dar os primeiros passos para tornar-se um respeitado diretor de documentários – seu currículo contém mais de 40 títulos no gênero -, além de vídeos publicitários e programas musicais para a extinta Rede Manchete – onde comandou trabalhos de Marisa Monte, Caetano Veloso, Antônio Carlos Jobim, entre outros.

Fundou a produtora VideoFilmes em 1985, ao lado de seu irmão também cineasta João Moreira Salles, e neste mesmo ano chamou a atenção da crítica com o desconhecido Krajcberg, o Poeta dos Vestígios, sobre o escultor polonês Frans Krajcberg. Com este trabalho, Salles abocanhou diversos prêmios internacionais, dentre eles o troféu de Melhor Documentário no Festival Dei Popoli, na Itália, e Menção Honrosa do Júri no conceituadíssimo Festival de Montbéliard, na França. Como todos podem ver, Walter Salles realmente passou uma infância humilde, paupérrima e totalmente interessante, capaz de preencher sem lacunas um livro de 1500 páginas. 😛

Então, vamos ao que interessa: OS FILMES DO SUJEITO. Mesmo com todo este currículo, Walter Salles só tornou-se um nome conhecido da crítica especializada em cinema (e conseqüentemente do público em geral) em 1991, com sua primeira aventura na direção de longas-metragens. Conheça as películas comandadas pelo indivíduo:

:: A GRANDE ARTE (1991)
Talvez seja até errado afirmar que esta fita policial é genuínamente brasileira, visto que grande parte da equipe técnica e dos atores são estrangeiros. Na verdade, o cara foi é muito esperto: ainda sofrendo com a devastação do cinema nacional (cortesia da fase Collor), o Brasil não tinha estrutura alguma para financiar projetos cinematográficos. Assim, Salles utilizou sua influência em diversas emissoras de TV européias, que cederam verba para que o cineasta de primeira viagem pudesse rodar este filme, que narra a descida aos infernos do fotógrafo Peter Mandrake (Peter Coyote, E.T.), que alia-se ao assassino profissional Hermes (Tcheky Karyo, Eterno Amor) e embrenha-se no submundo carioca para encontrar um serial killer que assassinou sua amiga prostituta Gisela (Giulia Gam, “A Dona da História”) e estuprou sua namorada Marie (Amanda Pays). “A Grande Arte” foi escrito por Rubem Fonseca – que reescreveu o script mais de 20 vezes (!) -, inspirado em seu próprio romance, e é considerado um dos filmes mais caros de toda a história do cinema brasileiro: sua produção consumiu 5 milhões de dólares. Eu, sinceramente, considero este o mais fraco de todos os seus filmes, embora tenha muitas qualidades.
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:: TERRA ESTRANGEIRA (1995)
Em seu segundo trabalho na direção, Salles dividiu o comando com a cineasta e figurinista Daniela Thomas para contar a história de um aspirante a ator, Paco (Fernando Alves Pinto, Quase Dois Irmãos), que decide fugir para Portugal em busca de seu sonho, despedaçado com a chegada do Plano Collor. Em Lisboa, envolve-se com a misteriosa garçonete Alex (Fernanda Torres, Casa de Areia) e seu namorado, o músico e viciado Miguel (Alexandre Borges, Acquaria). Com suas metáforas sobre o exílio e a falta de perspectivas, “Terra Estrangeira” deu a seus realizadores alguns importantes títulos internacionais, dentre eles o Grande Prêmio do Público no Paris Film Forum de 1995. Aqui, Salles começou a aprimorar o estilo que mais tarde dominaria sua filmografia, como os elegantes enquadramentos de cena e a belíssima e rústica fotografia (de autoria de Walter Carvalho, colaborador habitual do diretor). Uma pena que “Terra Estrangeira”, que considero o melhor trabalho do cara, tenha sido tão pouco visto por aqui. Bem que alguém podia lançar em DVD, para remediar a situação! Distribuidoras, isto foi uma indireta. 😉
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:: CENTRAL DO BRASIL (1998)
Ah, vá! Deste aqui eu nem precisaria falar, pois duvido que alguém aí ainda não o tenha visto. Afinal, estamos falando do clássico que deu a Fernanda Montenegro sua primeira e única indicação ao Oscar! Enfim, “Central do Brasil”, inspirado na idéia do documentário em curta-metragem Socorro Nobre, do próprio Salles – em que é narrado a troca de correspondências entre a presidiária Socorro e o escultor Krajcberg -, abriu as portas do mundo para Salles de vez. E merecidamente: a história da amizade entre a ex-professora Dora (Montenegro) e o garoto Josué (Vinícus de Oliveira), que partem da Estação Central do Brasil, no Rio, rumo ao norte do país, na tentativa de encontrar o pai do menino, é nada menos que emocionante, e ajudou a enterrar o estigma “porno-chic” que os filmes do Brasil carregam. “Central” não levou o Oscar, e nem Fernanda. Mas abocanhou outros 29 prêmios, incluindo o Urso de Ouro (para o filme) e o Urso de Prata (para a atriz) em Berlim e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. O ótimo roteiro de Marcos Bernstein e João Emanuel Carneiro, também colaboradores habituais de Salles, recebeu incentivo direto de Robert Redford e seu Instituto Sundance, além de elogios rasgadíssimos de toda a imprensa e público mundial. Consagrações à parte, duvido que alguém consiga sair inteiro daquele aterrorizante final! E sim, “Central” é beeeem melhor que aquela coisa chamada “A Vida é Bela”. Ugh! 😛
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:: O PRIMEIRO DIA (1998)
Um trabalho menor e mais uma vez co-dirigido por Salles e Daniela Thomas, este é o resultado de um projeto desenvolvido pela TV francesa Arte. O filme representa um segmento da série “2000 vista por…”, que reuniu jovens diretores de todas as partes do mundo com o propósito de gerar médias-metragens que contassem uma história qualquer; a única regra era o fato de que a história deveria obrigatoriamente acontecer durante a noite de 31 de dezembro de 1999. A trama de “O Primeiro Dia” gira em torno de João e Maria, respectivamente interpretados por Luiz Carlos Vasconcelos (o Dráuzio Varela de “Carandiru”) e Fernanda Torres. Ele fugiu da prisão e ela acabou de ser abandonada pelo marido. Ambos encontram-se no topo de um prédio, no exato momento da virada para o ano 2000. E então… eu não conto mais nada! Hehehe! Basta dizer que, de todos os segmentos desta série, “O Primeiro Dia” foi o mais elogiado. E provavelmente com razão.
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:: ABRIL DESPEDAÇADO (2001)
“Abril Despedaçado” é, sem dúvidas, o título mais polêmico da carreira de Walter Salles. A direção e os produtores, seguros de sua notoriedade depois do fenômeno “Central do Brasil”, investiram pesado em marketing e num público-alvo específico (os norte-americanos) e caíram do cavalo: esta nova produção nem de longe fez o sucesso esperado e foi solenemente ignorado pelos festivais ao qual passou – e também pelo público brazuca, que ficou ofendido ao ver os americanos conferindo o filme antes. Fracasso injusto: embora não seja um “Central” da vida (exatamente o que os produtores queriam), “Abril” tem muitas qualidades. Baseado no romance homônimo do albanês Ismail Kadaré, a fita acompanha o martírio de Tonho (interpretado por Rodrigo Santoro, ótimo), rapaz de 20 anos do sertão nordestino, que vive no meio de um dilema. Seu irmão mais velho foi assassinado por uma família rival, e reza a tradição que ele deverá matar o assassino para vingar seu clã. Tonho sabe que será morto em seguida, e reluta em aceitar tal condição. Na opinião deste que vos fala, o único defeito que “Abril” carrega é ser estilizado demais, plástico demais. Ah, e tem aquele pentelho chamado Ravi Ramos Lacerda, pivete que nem de longe tem o carisma de Vinícius de Oliveira. Vale dar uma espiada.
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:: DIÁRIOS DE MOTOCICLETA (2004)
Em termos conceituais, Diários de Motocicleta é o ápice de Walter Salles como diretor de cinema: uma tocante e sensível declaração de amor ao cinema, aos costumes, à natureza e à liberdade. Primeiro filme de Salles cujo idioma predominante não é o português, “Diários” é considerado por muitos o melhor longa-metragem de 2004 – por mais que alguns o acusem de ser excessivamente poético (e com isto, falso). Quem não conhece o enredo (o que duvido), pode conhecer agora: os amigos residentes em medicina Ernesto Guevara e Alberto Granado – respectivamente Gael García Bernal (Má Educação) e o excelente Rodrigo de la Serna – decidem cruzar a América Latina numa pequena moto, em 1952. Muitos lugares, muitas pessoas e contatos com um lado do mundo que não conheciam, os dois terão suas vidas muito transformadas, culminando no nascimento do líder rebelde e revolucionário Che Guevara. “Diários” já entrou para a história por conta do maravilhoso discurso de agradecimento de Jorge Drexler ao receber o Oscar de Melhor Canção na última edição do Oscar. E pra completar, o filme ainda é muito, muito bom! Precisa mais? ;-D
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:: O QUE VEM AÍ

Paris, Je T’Aime :: o novo trabalho de Walter Salles é uma colagem de 20 pequenas histórias que partem do mesmo princípio: como funciona o amor na Cidade Luz? Salles, em parceria com Daniela Thomas, assina o segmento n.º 20 do longa-metragem. Entre os outros diretores, destacam-se os notórios Irmãos Coen (calma, Benício!), Alfonso Cuarón (“E Sua Mãe Também”), Jean-Luc Godard (“Nossa Música”), Julio Medem (“Os Amantes do Círculo Polar”), Alexander Payne (Sideways), Tom Tykwer (“Corra Lola Corra”) e Gus Van Sant (“Last Days”). E um grande, enorme, gigante motivo para estar na fila de “Paris Je T’Aime” em sua estréia: o segmento de Walter Salles é protagonizado por ninguém menos que Eva Green, de Os Sonhadores e minha futura esposa (!?). A primeira sessão do longa-metragem acontecerá na França, e já está marcada para 31 de dezembro… de 2006.

On The Road :: anunciado recentemente, Salles uniu-se novamente ao roteirista Jose Rivera (o mesmo de “Diários”) para adaptar e levar às telas o ultra-clássico romance de Jack Kerouac, tido como o maior nome do movimento beatnik, de onde saíram outras figuras ilustres como Allen Ginsberg e William S. Burroughs. O livro, praticamente infilmável, fez parte dos sonhos molhados de ninguém menos que Francis Ford Coppola (que cansou de declarar ser este o projeto da sua vida), que cedeu a direção para Salles e ocupará o cargo de produtor. O livro narra as desventuras de Sal Paradise (alter ego de Kerouac) e seu amigo do peito Dean Moriarty, que seguem viajando pelos Estados Unidos e México nos primeiros anos do término da 2.ª Guerra. Embora eu seja um babão apaixonado pelo livro e queria ver a obra nas telonas com toda minha força, espero de coração que não saia aí uma variação de “Diários”, já que as histórias são levemente semelhantes. “On The Road” ainda não tem elenco definido, mas há um boato fortíssimo de que Billy Crudup (Peixe Grande) já assinou para viver Sal Paradise. Bacana!
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Analisando sua curta mas significativa carreira, fica fácil compreender a importância de Walter Salles para o cenário cinematográfico brasileiro. Americanizado demais? Pode ser. Estilizado demais? Ah, nem me importo. O que todo cinéfilo quer é justamente o que Walter Salles está mais do que acostumado a entregar: um bom cinema, independente de onde venha, com quem venha. O que espero, de coração, ser o caso de “Água Negra”.

E se não for, sem crise. Tem a Jennifer Connelly, tá safo! 😀


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