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Artigo adicionado em 04/08/2005, às 06:32

HAYAO MIYAZAKI: Filmografia
O M-E-S-T-R-E!!!! LEIA MAIS: :: Crítica: O Castelo Animado :: Biografia de Hayao Miyazaki :: Diana Wynne Jones: entrevista exclusiva! :: E mais: Srta. Ni tem medo de animes! Se Osamu Tezuka é considerado o deus do mangá, como muitos costumam dizer, Hayao Miyazaki seria o deus dos animês. Ok, foi Tezuka que veio com […]

Por
Emílio "Elfo" Baraçal


LEIA MAIS:
:: Crítica:
O Castelo Animado
:: Biografia de Hayao Miyazaki
:: Diana Wynne Jones: entrevista exclusiva!
:: E mais: Srta. Ni tem medo de animes!

Se Osamu Tezuka é considerado o deus do mangá, como muitos costumam dizer, Hayao Miyazaki seria o deus dos animês. Ok, foi Tezuka que veio com toda aquela estética dos olhos esbugalhados, mas em questão de animação, ou seja, de um desenho ganhando vida, nada supera Miyazaki. E te digo porque: grande parte de suas obras são feitas quase que inteiramente à mão livre, sem uso de computadores. E falo isso só sobre os mais recentes, porque os antigos, ah, não tinha computador que fizesse tal tipo de trabalho, como ele iria animar então? Na mão mesmo!

Bom, se você não sabe nada sobre o Miyazaki, tudo pode ser esclarecido neste outro artigo aqui. Agora, se você está interessado no lado criativo do cara, este é o seu texto. Vou explicar tim-tim por tim-tim para aqueles que acham que o cara só ficou famoso com A Viagem de Chihiro.

Filmes
Miyazaki começou a ganhar reconhecimento no período em que trabalhou na Toei Animation, na produção de um projeto chamado Gariba no Ucho Ryoko (de 1965, que tem o título internacional de Gulliver´s Travels Beyond The Moon). Ele sentiu que o final que constava originalmente no roteiro faltava alguma coisa. Aí ele deu uma idéia, que acabou se tornando o verdadeiro final usado no filme. Alguns anos depois, Miyazaki fez um importante papel ao se tornar chefe de animação e dos artistas conceituais em Prince of the Sun, um grandioso projeto dirigido por Isao Takahata, com o que ele colaborou durante as próximas três décadas.

Porém, tudo começou a mudar mais ainda quando Miyazaki fez sua estréia como diretor, com o filme The Castle of Cogliostro (1979), uma aventura bem light baseada em uma extensa série de TV e franquia cinematográfica chamada Lupin III. Este conta a história de um ladrão e sua gangue, que tenta salvar uma princesa de um maligno nobre, na tentativa de desvendar o segredo de um tesouro escondido em que a tal princesa possui o conhecimento de um detalhe sobre o tesouro que pode fazer com que ele seja descoberto. O próximo longa do cara foi Kaze no Tani no Naushika (com o título internacional de “Nausicaä of the Valley of the Wind”, de 1984). “Nausicaä” é um épico de aventura que figura muitos elementos distintos que sempre viriam a aparecer em seus projetos posteriores: uma preocupação com a ecologia, uma fascinação com o vôo e com a aeronáutica, a não existência de um vilão tradicional, entre outros. Nausicaä é uma adaptação de um mangá de mesmo nome que ele mesmo criou dois anos antes. Foi aí que Miyazaki se juntou de vez com Isao Takahata para fundar o Studio Ghibli, que veio a produzir a maioria (se não todos) os seus subsequêntes projetos.

Seus três filmes seguintes seguiram um caminho bem tradicional. Tenkû no shiro Rapyuta (Laputa: Castle In The Sky, de 1986) conta a aventura de dois órfãos procurando uma ilha mágica e sobre uma pedra mágica que pode fazer seu possuidor voar. Muitos perigos, como seres místicos e ficcionais aparecem atrás da tal pedra. Já Tonari no Totoro (Meu Vizinho Totoro, de 1988) conta a história de duas garotas que se mudam para o interior para ficarem mais perto de sua mãe e acabam conhecendo alguns espírtos da floresta, onde acabam pegando amizade por uma criatura mágica chamada “Totoro”. Em seguida veio o altamente aclamado Majo no takkyûbin (Kiki´s Delivery Service, de 1989), sobre uma bruxinha adolescente que sobrevive por conta própria numa grande cidade. Kiki usa seus poderes para fazer entregas de forma mais rápida e eficiente. Ou quase sempre, se você assistí-lo, hehe.

Já com Kurenai no buta (Porco Rosso, de 1992), considerado classicão por muitos, Miyazaki explorou coisas bem diferentes do seu costume. O filme é uma aventura também bem light, onde num mundo fictício baseado na Itália de 1920, caçadores de recompensa, aviadores, exploradores e piratas aéreos batalham nos céus. O seu herói é um aviador anti-facista que teve sua cabeça transformada na cabeça de um porco depois de ver os espíritos dos pilotos mortos por ele. O filme explora bastante as tensões entre aventura e dever. Muitos que o assistem costumam dizer que o filme é um auto-retrato abstrato do próprio diretor, como se fosse uma novela. Logo em seguida, em 1995, Miyazaki produziu e escreveu Mimi wo Sumaseba (Whisper of The Heart), uma história de amizade e de amor sobre uma jovem garota que acha que todos os livros que escolhe na biblioteca foram pegos anteriormente sempre pelo mesmo garoto. Bizarro, não?

Depois de “Whisper of The Heart”, Miyazaki engajou-se em Mononoke Hime (Princesa Mononoke, de 1997), retornando ao temas ecológicos pesadamente usados em coisas como “Nausicaä”. O plot básico gira em torno dos deuses dos animais que governam as florestas e os humanos que a querem explorar indiscriminadamente. O filme foi um estrondoso sucesso comercial no Japão, onde tornou-se a maior bilheteria de todos os tempos por lá, até que um filme americano, Titanic, aparecesse por lá e ganhou o prêmio de Melhor Filme no Japanese Academy Awards. Depois de “Mononoke”, Miyazaki preferiu afastar-se do cinema, tendo sido seu último filme como diretor.

Só que sabemos que não foi bem assim que aconteceu, hehe…

Ele voltou de seu “retiro” depois de passar um feriado com as filhas de um amigo, sendo que uma delas acabou se tornando a inspiração para Sen to Chihiro no Kamikakushi (A Viagem de Chihiro), que conta a história de uma garotinha que é forçada a viver num mundo de fantasia, trabalhando pesadamente enquanto busca um jeito de fazer com que seus pais, afetados por uma maldição, voltassem ao normal depois de terem se transformado em porcos (acho que ele deve ter fixação por porcos também, hehe). “A Viagem de Chihiro” bateu o recorde de Titanic em 2001, conseguindo 30.4 bilhões de yens e com um público de 23 milhões de pessoas. Chihiro recebeu vários prêmios, incluindo o de Melhor Filme de 2001 no Japanese Academy Awards, o Urso de Ouro no Festival de Berlim (primeiro lugar) e o Oscar de Melhor Animação de 2002, o primeiro vencido por um animê.

Em julho de 2004, Miyazaki terminou a produção de Hauru no ugoku shiro (O Castelo Animado, 2004), a adaptação de um livro de mesmo nome escrito por Diana Wynne Jones. Originalmente, não seria ele o diretor e sim Mamoru Hosoda, mas a saída repentina deste fez com que ele saísse de seu novo retiro para pegar as rédeas da produção. O filme abriu o Festival de Veneza de 2004 e ganhou o prêmio Golden Osella por suas técnicas de animação. Em novembro do mesmo ano, “O Castelo Animado” estreou oficialmente no Japão, conseguindo 1.4 bilhões de yens nos primeiros dois dias, continuando a bater recordes. A versão em inglês foi lançada nos EUA através da Disney, em junho de 2005.

Uma de suas mais distintas características em seus últimos filmes é o modo como trata seus personagens, bem diferente do modo ocidental (como os da Disney, por exemplo), havendo uma falta do estereótipo de personagens extremamente bons e/ou maus. Alguns de seus personagens possuem motivações complexas, enquanto outros são capazes de crescer internamente e mudar. Um exemplo é Lady Eboshi, de “Princesa Mononoke”. Ela fica sempre em oposição aos outros personagens principais e seu trabalho com ferro nas florestas é sua característica que fica mais evidente. Ela explora os materiais da mata, e o que consegue desse trabalho, Eboshi protege as prostitutas e os doentes em sua cidade. No final, ela muda esse posicionamento sobre acabar com a floresta e seus espíritos. Porém, nem sempre essa característica foi presente, como por exemplo, os vilões Conde Cogliostro em “Castle of Cogliostro” ou Muska em “Castle In The Sky” (acho que ele tem fixação por castelos também…), enquanto outros não possuem nem ao menos um vilão, como “Kiki´s Delivery Service” ou “Meu Vizinho Totoro”.

Outra de suas características em um nível mais básico de seus últimos filmes é o design, bastante similar um ao outro. Isto é até humoristicamente considerado como se seus personagens fossem os mesmos atores e atrizes que sempre reaparecem em filmes diferentes, com papéis diferentes. Ok, isso é realmente bizarro…

Influências
Um número siginificativo de autores ingleses e franceses influenciou o trabalho de Miyazaki. Nessa lista, há pessoas como Lewis Carroll, Moebius, Diana Wynne Jones e J.R.R. Tolkien, só para citar alguns. Como Miyazaki, esses autores criaram mundos onde a alegoria é evitada, com personagens possuindo motivações ambíguas e onde a audiência-alvo não é muito específica. Em uma entrevista para a Rede BBC, em 1994, Miyazaki citou autores como Eleanor Farjeon, Rosemary Sutcliff e Philippa Pearce como influências. Além disso, ele chegou a criar uma série de TV baseada nas histórias de detetive de Arthur Conan Doyle (pra quem não conhece este, é o criado do Sherlock Holmes).

Além de autores ficcionais, o artista também é influenciado por seu passado político na ANPO Hantai (Tratado de Segurança Japão-EUA) e em movimentos trabalhistas. Essas ações políticas tiveram um profundo impacto no tema de seus filmes.

Séries de TV
O trabalho de Miyazaki em séries de TV é bem menos conhecido do que seus filmes. Nos anos 70, ele trabalhou como animador na série World Masterpiece Theater, sob o comando de seu amigo Isao Takahata. Seu primeiro crédito como diretor nesse caso veio com a versão para TV de “Lupin III”. Ele foi co-diretor (junto com Takahata) da segunda metade da primeira temporada e diretor de dois episódios da segunda temporada. Depois disso, fez seu primeiro filme, que foi “Castle of Cogliostro”, baseado no mesmo personagem (que cheguei a citar mais detalhadamente acima). Ele também animou Sherlock Hound, uma versão antropomórfica dos contos de Sherlock Holmes, onde o personagem principal tinha a aparência de um cachorro.

Talvez seu trabalho mais conhecido nessa área tenha sido Future Boy Conan, uma adaptação da um conto infantil escrito por Alexander Key chamado The Incredible Tide. “Future Boy Conan” conta a história de nosso mundo após a Terceira Guerra Mundial. O mundo como o conhecemos foi destruído e um garoto de 12 anos chamado Conana vive numa ilha com seu pais, onde acreditam ser os únicos sobreviventes da guerra. Porém, tudo muda quando Conan encontra com uma inconsciente garota na praia. Ela é Lana, uma garotinha de 11 anos que está fugindo dos malignos governantes de Industria, que querem raptá-la para convencer seu avô (que ajudou ele mesmo a construir Industria) a dar-lhes o segredo da energia solar, que pode fazer com que dominem o mundo. Depois que Lana é raptada, Conan decide resgatar a garota. Nessa série, é possível notar que muito de suas idéias para personagem diferentes e mais tridimensionais que ele criou e usou em seus trabalhos posteriores foi possivelmente “testada” nessa série.

Com tantos personagens carismáticos e tridimensionais, temáticas surpreendentes, reviravoltas realmente inesperadas e uma animação (à mão!!!) primorosa, Hayao Miyazaki mostra o porque de ser o ícone que é considerado. Num mundo onde os Pokemóns e Gokus da vida são altamente cultuados, ás vezes é uma pena que uma audiência não tão grande quanto Pokemón e Dragon Ball possuem é que conhece as obras deste mestre. Uns anos atrás, Miyazaki chegou a dizer numa entrevista, que o animê estava morrendo. Um exemplo disso seria a motivação dos personagens. Segundo ele, os personagens de hoje só querem atingir um bem material e mais nada. Ou querem ser um “mestre pokemón” ou querem as “esferas do dragão” ou estão atrás da “garota mais popular da escola ou do trabalho na fórmula batida de um perdedor que é rodeado de garotas”. Onde estão os personagens que tentam apenas ser pessoas melhores? Onde estão as motivações para conseguir o que quer sem usar a violência extrema ou o sexo como meios? Onde há o questionamento sobre o certo e o errado nas coisas mais simples que se revelam às vezes como as mais complexas? Essas são algumas das perguntas que o mestre dos animês fez durante a entrevista.

Não é à toa que o cara manja da coisa.


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