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Artigo adicionado em 23/08/2005, às 11:34

DIGITADOR # 01
A nova coluna de quadrinhos d’A ARCA HÃ? COMO? Ah, não, outra coluna sobre Quadrinhos? Você precisa de algo assim, quer dizer, de verdade? Claro que sim, todo mundo precisa. Porque não há muitas. Ao menos em Português. Deve ter a ver com o número proporcional de HQs produzidas no Brasil. E olha só, já […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim


HÃ? COMO?

Ah, não, outra coluna sobre Quadrinhos? Você precisa de algo assim, quer dizer, de verdade? Claro que sim, todo mundo precisa. Porque não há muitas. Ao menos em Português. Deve ter a ver com o número proporcional de HQs produzidas no Brasil.

E olha só, já usei “Brasil” e um estilo a lá manifesto logo no primeiro parágrafo, que vergonha. Esse não vai ser um “chamado às armas” [pelo menos não conscientemente], e manifestos são uma coisa tão 1999. Todos já estivemos lá e fizemos isso, ou qualquer outra expressão americana que soa ainda mais ridícula quando traduzida literalmente.

O editor d’A Arca me chamou pra escrever sobre HQ independente como a inspiração primeira e sugeriu muito bem que a coisa não tivesse formato ou linguagens definidos. Pra nossa sorte. Então estou aqui pra encher seu saco – já vesti minhas luvas de látex pra isso – com o que eu achar interessante sobre HQ e suas ligações muitas vezes incestuosas com outros tipos de manifestações Pop.

Porque é o que me ensinaram e eu sempre digo: está tudo interligado.

QUEISSO, TIO? É DE COMER?

Entre uma resenha e outra de revista independente você vai achar um comentário sobre o último lançamento da Marvel e DC, porque eu ainda amo super-heróis, mesmo já tendo arrancado todos os dentes do siso. E sites, e bandas, e pessoas em mini-entrevistas, e sim [eu não resisto] um pouco da boa e velha evangelização, o trabalho de convencimento pra te mostrar porque são legais essa ou aquela HQ que talvez você tenha perdido.

Não vou me ater aos lançamentos, primeiro porque não consigo todos, segundo porque volta e meia eu topo com velharias e bizarrices sensacionais que merecem atenção.

Todas aquelas idéias malucas, condensadas em rabiscos de tinta de formas e extensões infinitas, limitadas – nem sempre – por um requadro duro como a realidade triste da consulta a um jornal de concursos, separadas por canaletas trans-dimensionais de ruído branco onipresente [às vezes preto] e repetidas em seqüência, por páginas/planos sem fim.

Pra contar historinhas, a maioria delas fantasias adolescentes de iluminação pessoal através de habilidades sobrenaturais que constroem uma mitologia pessoal. Que cada leitor capta pra si e processa com fé pra atingir um objetivo, seja ele a catarse gnóstica da Arte elevadora do espírito ou a simples diversão de ver uma mulher peituda em roupa colante socar um sujeito chato pra longe da cidade.

Todas essas vibrações que fazem minha gengiva formigar com a antecipação. Vamos admitir, somos um bando de moleques pervertidos. O senhor se sente melhor agora?

DEIXA, VAI

Adoraria dizer que falar de mim é meu assunto predileto, num tom blasé de roqueiro, mas não é. Deve ser o efeito de me apresentar tantas vezes em cartas de intenção pra possíveis empregadores/clientes em emails sem fim.

Então vou tentar evitar que meu cérebro cresça a ponto de criar varizes na cabeça maiores do que as das pernas: Hector Lima, 29 (isso é a idade), residente em Santos (o estranho e maravilhoso balneário paulista – paraíso de bingos, farmácias e cursos universitários), redator/tradutor/revisor freelancer, co-produtor/DJ da festa Popscene, roteirista de HQ, editor acidental.

Por quatro anos mantive o site Escritório Noturno (hoje desativado) que exibia contos e Quadrinhos feitos por mim e camaradas, da mesma forma que havia sido o curto zine xerocado Tubarão.

Por um ano a coluna Hectorama contaminava o site da revista Play (Ed.Conrad), pra qual colaborei com resenhas – coisa que comecei fazendo na lendária Panacéia e aprimorei na editoria de Literatura da loja online Som Livre.

Até pouco tempo eu redigia e editava notícias de tecnologia/informática pra Magnet e digo num momento de fanboyolice que o ápice dessa curta carreira jornalística foi entrevistar o escritor pop Grant Morrison pro site CBR.

A partir da minha home/blog www.hectorlima.tk você vai achar não só as tranqueiras diárias que encontro na net ou que me enviam, mas também links pros meus fotologs etc (do Orkut eu saí) e algo interessante na barra da direita: Zumbigo, o primeiro esforço em me auto-publicar profissionalmente no mercado de HQ estrangeiro, através do meu selo Night Office. Mais a respeito no link “comics” do meu site.

Perseguir uma carreira nesse meio tão compactado e ao mesmo tempo super-populoso é meu interesse maior no momento, então em alguns momentos isso aqui vai se transformar em um diário-análise da empreitada, com poucos momentos de auto-piedade (espera-se).

Essa massa cinza viscosa saindo da minha orelha não é cera, então acho melhor seguir pro item seguinte né, doutor?

EU LI, JURO QUE LI

:: CRÍTICA

Estas são 100 páginas de um pouco do melhor que Quadrinho brasileiro pode produzir. Deu um prazer imenso lançar este álbum em Santos na Popscene de dezembro, uma das mais cheias. Não deu pra alinhar direito lançamento + discotecagem + show (das meninas do Crucified) na ocasião, mas a gente um dia acerta.

Sim, Dezembro já tá bem longe, mas acredite no Pastor Hector quando ele diz que esse é um dos melhores quadrinhos já feitos aqui. Ganhou prêmio HQ Mix este ano como Melhor Edição Especial Nacional, os autores dividiram o de Melhor Desenhista Nacional e seu ótimo http://10paezinhos.blog.uol.com.br levou o de Melhor Site de Autor.

Te digo, ler “Crítica” foi como ouvir a coletânea de singles de uma banda muito muito boa, cujas letras falam ao teu coração. No caso a banda são os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, o primeiro também conhecido por ter participado do “reality doc” Vinte e Poucos Anos da MTV faz um tempo. Esta é só uma das conexões musicais do trabalho da dupla.

A arte de ambos está cada vez mais apurada e pessoal, ajuda da prática adquirida não só nos trabalhos editoriais pra revistas como Recreio e Super-Interessante, como na rotina de fazer HQ pra editoras americanas como Terra Major e Ait-Planetlar (mais a respeito logo abaixo). Gabriel conseguiu se soltar mais das amarras da influência de Mike Mignola e Fábio das de Paul Pope pra ambos seguirem melhor seu caminho pessoal; ainda que sejam duas puta influências fico ansioso pra saber como vai estar a arte deles em trabalhos futuros.

A coleção se chama “Crítica” não à toa: nas 13 histórias os irmãos (revezando-se distintamente nos roteiros e desenhos) destilam sem pudor suas nóias, medos, alegrias, incertezas e esperanças. Dá quase vontade de chamar de “quadrinho-emo”, o que talvez me rendesse uma surra deles – e com razão: é muito mais que isso. Eles fazem arqueologia da memória, sem medo de deixar pra posteridade seus achados, sejam eles feios ou bonitos.

Fazem ode às suas musas (El Camino), enfrentam ressacas de amores perdidos (O Sapo, All You Need Is Love), relembram um cara que já partiu (Feliz Aniversário, Meu Amigo), reconhecem-se como estranhos em ambientes alienígenas (Fora De Moda, Vernissage e outras). Também fazem uma brincadeira incrível: a “sobrenatural” “Reflexões” vem em duas versões, uma de Fábio, outra de Gabriel, a partir do mesmo roteiro. É um jogo de espelhos muito bom, como se Jack White trocasse de lugar com Meg White na música “The Hardest Button To Button”.

É, a música; a primeira coisa que me chamou a atenção no trabalho deles foi a ambientação no meio musical, sem contar a influência de certas letras e ritmos em algumas narrativas. Várias histórias e vinhetas são ambientadas na casa noturna paulista Funhouse por exemplo – no caso de “Feliz Aniversário” você pode ver ao fundo o show de uma banda muito parecida com os Pullovers.

É o molho que ajuda na identificação imediata com o leitor. Eles falam de si no papel e o leitor imediatamente se vê ali, naquela sinuca de bico universal, seja você de que país ou época for. O direto de esquerda vem seguido de um jab de direita: eles não têm medo da Fantasia. O cara de “O Sapo” é um sapo de bermuda mesmo, pensando nas merdas que fez. O amigo invocado em “Feliz Aniversário” (uma das minhas preferidas, pelo visto) é um espírito chamado pra comemorar mais um ano que passou, e por aí vai.

É tudo visualmente Fantástico, arrebatador, além de muito mais real que a maioria dos gibis que usam diálogos inúteis e depressão de novela das seis pra se disfarçar de “Realista”. Deve ser a boa e velha tradição do Realismo Fantástico latino em ação aqui.

Ainda vou falar deles novamente, mas só pra atiçar: eles produzem pacas [até 102 páginas em um mês tá bom?], são verdadeiros profissionais e por isso vêm correndo pelas beiradas do mercado americano – sendo simplesmente eles mesmos.

Além das histórias de “Crítica”, que já saíram em antologias como Autobriographix (da Dark Horse), seu empenho – mais visitas à Convenção de San Diego – rendeu o contato do grande tio Larry Young, que não só lançou por lá seu álbum Ursula, como os contratou para desenhar graphic novels como Smoke and Guns, escrito por Kirsten Baldock e o tio Eric Stephenson da Image, que vai lançar o título mensal Casanova escrito por Matt Fraction.

Pôrra!

:: ALL-STAR BATMAN AND ROBIN THE BOY WONDER #1 [DC]

O título diz tudo: muito potencial Pop. A DC quer fazer versões atemporais de seus personagens-chave e colocou nesse primeiro título a dupla de super-estrelas Frank Miller (roteiro) e Jim Lee (desenhos) pra criar histórias desatreladas da continuidade normal. E com isso chamar a atenção de novos leitores – ou leitores antigos que pararam de seguir as revistas. E é o pior gibi que li ultimamente. Comecei querendo gostar, mas não rolou (veja bem que esse não é o caso de “gibi brasileiro indie” = bom versus “gibi americano mainstream” = ruim. Em colunas futuras vou falar de HQs de heróis que tenho adorado).

Infelizmente todo esse potencial foi desperdiçado quando se escolheu Frank Miller pro roteiro. Longe do seu auge em obras como Cavaleiro das Trevas (tido como uma das melhores HQs do mundo, isso a gente discute depois), é inexplicável o que aconteceu com o cara; a hipótese mais plausível seja uma mistura de preguiça com supervalorização do seu nome – afinal de contas ele é muito bem pago mesmo pra soltar qualquer peido.

Tranqüilo com a série autoral Sin City (e o filme ainda em cartaz), ele aqui nem tabela cumpre. A maioria dos leitores odiou Cavaleiro das Trevas 2, mas ali a arte surrada era o pior – a história em si passava até que bem como um “Liga da Justiça Elseworlds” vendido como se fosse nova história do Morcego.

Nesse “All-Star Batman” a coisa começa errada pelo título: com um bem-sucedido filme recém-saído dos cinemas (ainda em exibição em certos lugares e tido como uma das melhores versões do personagem já mostradas) não havia a necessidade de se empurrar o Robin como foco de atração pra crianças/novos leitores, ainda mais quando ele nem é quem nos apresenta ao mundo do Batman na revista.

Porque é a repórter-gostosa Vicky Vale que nos leva pela mão a um encontro com Bruce Wayne no circo em que os pais do trapezista Dick Grayson serão assassinados. Forçando um pseudo-estilo noir ao gibi, Miller nos soca goela abaixo diálogos forçados e uma narração pentelha e cansada em primeira pessoa – enquanto a jornalista/puta de luxo desfila de calcinha, escolhendo uma roupa pra sair com o milionário misterioso. A arte do Lee, tão corrida e mal-acabada quanto o roteiro, reforça o gosto amargo de estar lendo um gibi em 1992. Dos ruins, heim.

Não é só isso que o Miller soca: a mulher acaba apanhando de cassetete sem o menor motivo (talvez só pra reforçar como é corrupta a polícia de Gotham, que bate até em mulher – ó, que noir isso). Mas o pior mesmo é quando o futuro Robin faz acrobacias no trapézio, ao que Bruce diz “estou de olho nesse menino faz tempo”. OK, depois não reclama. Pra completar, o Batman só aparece na última página, segurando o agora órfão como um filhote de gato, informando que ele “acaba de ser convocado pra uma guerra” na mesma noite em que os pais são mortos. Pobre só se ferra mesmo; por esse perrengue o Brucinho não passou.

Um Batman “icônico” e bem mais parecido com o do filme – mesmo com Robin junto – é o que David Laphan vem escrevendo em Detective Comics. Mas nada disso importa, “All-Star Batman” obviamente conseguiu a atenção necessária da Mídia popular, foi o gibi mais vendido pela distribuidora Diamond dos últimos meses e vai longe. Então melhor descartar esse e esperar pelo All-Star Superman, da dupla Frank Quitely e Grant Morrison em novembro. Pronto, citei de novo, na cara dura.

ENTÃO TÁ, NÉ?

Isso é tudo por hoje, amiguinhos. Tem muito mais revistas pra comentar, mas já estourei minha cota. Na próxima edição: mais HQ brasileira, guitarras, a praga da descompressão, lair ribeirices e mulher pelada. Agradeço ao pessoal do site por me ter aqui. Hahaha.

Faz assim, ó: olhe sempre o www.hectorlima.tk, e se quiser saber das atualizações dacoluna, assine o meu informativo Memorando. Veja este novo clipe doVellocet e seja feliz.

Tititi
Ta tititu


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