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Artigo adicionado em 21/07/2005, às 08:21

GEORGE A. ROMERO E A TRILOGIA DOS MORTOS
They are coming to get you, Barbara! LEIA TAMBÉM :: Crítica: Terra dos Mortos :: Manual Prático Para Sobreviver a Um Ataque de Mortos-Vivos Em outubro de 1968, o mundo assistiu horrorizado à brutal invasão de um grupo de pessoas a uma pequena casa no interior dos Estados Unidos. Não seria algo alarmante e de […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


LEIA TAMBÉM
:: Crítica:
Terra dos Mortos
:: Manual Prático Para Sobreviver a Um Ataque de Mortos-Vivos

Em outubro de 1968, o mundo assistiu horrorizado à brutal invasão de um grupo de pessoas a uma pequena casa no interior dos Estados Unidos. Não seria algo alarmante e de tirar o sono, se estas “pessoas” não fossem nada menos que cadáveres reanimados por algo não identificado, que acordaram de seu descanso eterno totalmente frios, mecânicos e com o único intuito de saciar sua fome. E como se não bastasse, as criaturas tinham um gosto no mínimo “peculiar”, que resumia-se a iguarias bastante saborosas como cérebro e carne humana… Aquele fatídico mês de outubro do final dos anos 60 ficou marcado e mundialmente conhecido como “a noite dos mortos-vivos”. Seu mentor era um rapaz de 28 anos, cineasta de primeira viagem, que atendia (e ainda atende) pelo nome de George Andrew Romero, ou apenas George A. Romero.

Hoje, julho de 2005, quase 37 anos depois da chegada de A Noite dos Mortos-Vivos aos cinemas, o mundo testemunha mais um ataque de defuntos que andam: Terra dos Mortos, o divertidíssimo e bastante oportuno quarto filme da “saga dos mortos” idealizada por George Romero. Desta vez, a invasão não é a um pequeno espaço de terra numa zona rural, e sim no planeta Terra inteiro! E desta vez, não há mais o diretor estreante Romero, e sim o Romero que gravou seu nome no gênero horror. Para entender o fascínio que os filmes zombie do cineasta exercem nos cinéfilos, A ARCA aproveita o esperadíssimo lançamento do longa em terras brazucas para fazer um balanço rápido dos longas mais importantes de sua carreira, e também dar uma geral por cima em seus mais ilustres derivados. Leia… e sinta medo! 🙂

:: A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1968): O INÍCIO DO MEDO

O primeiro longa da saga, A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968), foi produzido com o orçamento absurdamente baixo de US$ 114 mil. Graças a falta de grana, os produtores abusaram da criatividade durante as filmagens. O sangue, por exemplo, era basicamente chocolate. A trilha sonora é composta de faixas cujo direitos autorais já estavam em domínio público. Os extras receberam como pagamento uma nota de um dólar (!) e uma camiseta com a estampa Eu fui um zumbi em “A Noite dos Mortos-Vivos”. E o filme foi totalmente rodado em preto-e-branco.

Este, inclusive, foi um dos grandes problemas na hora de distribuir a fita: a Columbia, a única que demonstrou interesse em lançar “A Noite dos Mortos-Vivos”, desistiu com receio de o filme, por ser p&b, não atrair o público que até então estava começando a acostumar-se com a TV em cores; afinal, o ano era 1968, e um dos maiores sucessos entre os americanos era o ultra-colorido e kitsch seriado do Batman. Diz a lenda que a maior preocupação dos estúdios era mesmo carregar a responsa de lançar o primeiro longa de terror com um protagonista afro-americano, no caso o ator Duane Jones, que interpreta o destemido Ben. Imagino que eles devem ter se mordido de raiva ao tomar conhecimento do enorme sucesso da produção em seu lançamento – “A Noite dos Mortos-Vivos” rendeu só nos EUA mais de US$ 20 milhões, um valor bacana em comparação ao seu custo.

Na história de “A Noite dos Mortos-Vivos”, os mortos ganham vida depois que a radiação de um satélite da NASA retornando de Vênus espalha-se pelo ar – ao menos esta é a explicação do roteiro no papel, visto que nada é explicado no filme. Enquanto os defuntos reanimados e moribundos saem por aí à caça de comida, um grupo de sete estranhos isolado em uma pequena casa de campo na Pennsylvania defende suas vidas como pode. Em meio às cenas sangrentas e até meio escatológicas, George Romero ainda arrumou tempo para criticar a sociedade americana da época, em sua visão, tão arrogante e centrada em si mesma que tornou-se tão irracional quanto os mortos-vivos. E há também quem enxergue muitas metáforas sobre a Guerra do Vietnã no roteiro da película, já que o próprio cineasta declara a quem quiser ouvir que seu trabalho é puramente político.

Sinceramente, não importa: “A Noite” é, acima de tudo, um terrorzaço de fazer borrar as calças, tenso durante toda sua projeção e com um final tão desolador quanto alucinante. Obrigatório para qualquer fã do gênero, assim como para qualquer um que se interesse por filmes clássicos.

:: O DESPERTAR DOS MORTOS (1978): OS ZUMBIS VÃO ÀS COMPRAS

Quando George Romero decidiu retornar ao universo dos mortos-vivos, dez anos depois do infortúnio dos sete personagens de “A Noite dos Mortos-Vivos”, o estrago já tinha sido feito: a película tornara-se um objeto de adoração cult e inaugurara o subgênero gore, apoiado em muita sanguinolência e órgãos expostos. Além disso, a fita definiu todas as regras básicas para filmes do gênero zombie, como a lentidão com que os seres se movimentam; sangue, carne humana e massa encefálica como alimento; e destruição do crânio como única forma de destruí-los. E se o diretor conseguiu fazer com que o público usasse fraldinhas em cada sessão do primeiro filme, o que poderíamos esperar de uma segunda parte rodada a cores e com um orçamento um pouco mais inflado (cerca de US$ 1.500.000)?

O resultado podemos conferir em Zombie: O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978), que não chega a ser uma seqüência direta dos eventos ocorridos na zona rural de Pennsylvania. Aqui, os zumbis estão em número maior, e já dominaram um pedaço considerável da cidade – e, pelo que dá a entender, boa parte também dos Estados Unidos. E desta vez, o palco para a invasão é um shopping-center no centro de Pittsburgh, lugar onde quatro sobreviventes abrigam-se depois de várias tentativas fracassadas de fuga. O mesmo shopping-center transforma-se num “ponto de encontro” dos mortos-vivos sedentos de sangue, que seguem instintivamente para o local. Talvez pela vaga lembrança dos passeios no local, perdida no subconsciente das criaturas, sei lá.

Mais uma vez, Romero aproveita para destilar toda sua ironia no roteiro, e desta vez seu alvo é o consumismo desenfreado da geração materialista dos anos 70: reparem como os quatro humanos parecem preocupar-se mais em desfrutar da “boa vida” dentro do shopping, fazendo uso das roupas, dos aparelhos eletrônicos e de tudo aquilo que têm direito, ao invés de se preocupar com a chegada dos zumbis… Tema bastante oportuno e, queira ou não, totalmente atual. “O Despertar dos Mortos”, porém, inova nas seqüências ainda mais cruéis e viscerais do que no anterior, como por exemplo o ataque das crianças-zumbis. E como esquecer a bizarríssima cena em que um grupo de saqueadores tenta se defender dos mortos-vivos atacando-lhes tortas na cara? Na humilde opinião deste que vos fala, este é ainda melhor do que o primeiro.

Duas curiosidades: aqui, os figurantes receberam um pouquinho melhor. Cada um levou para casa US$ 20, uma lancheira e a camisa Eu fui um zumbi em “O Despertar dos Mortos”. Bacana, não? E uma das faixas inseridas na trilha sonora saíram direto de Monty Python e o Cálice Sagrado. Ok, Srta.Ni, pode parar de surtar agora. 🙂

:: DIA DOS MORTOS (1985): OLÁ, TIA ALICIA!

Em 1985, chega às telas o longa “menos ótimo” da cinessérie zombie idealizada por Romero: Dia dos Mortos (Day of the Dead). Embora seja o filme que menos arrecadou nas bilheterias – custou US$ 3,5 milhões e rendeu apenas US$ 5,8 milhões -, o próprio cineasta não cansa de bradar que este é o seu preferido; opinião compartilhada por boa parte dos fãs ardorosos do diretor. Dando continuidade à “evolução” das fitas anteriores, em “Dia dos Mortos” o país está totalmente dominado pelos seres macabros. Os poucos sobreviventes resumem-se a cientistas e militares que vivem em bunkers subterrâneos, tentando entrar em contato com possíveis sobreviventes da epidemia em outros estados, pesquisando formas de domesticar os zumbis (!) e de reverter a situação.

George Romero aproveita para alfinetar novamente a política ianque, e aqui seu alvo central é a ausência de limites da ciência – e suas conseqüências. Este ponto toma forma na figura do Dr. Logan “Frankenstein” (Richard Liberty), que representa uma última esperança para a humanidade ao desenvolver o processo de “treinamento” dos mortos-vivos e obter resultados até satisfatórios no defunto Bub (prevendo o processo natural pelo qual o zumbi Big Daddy passa no novo “Terra dos Mortos”). A questão é que talvez os sobreviventes não consigam concluir seu trabalho a tempo, visto que o estoque de mantimentos está no fim, e um exército de zumbis está perto de conseguir invadir o bunker…

O maior trunfo de “Dia dos Mortos” é o impressionante trabalho do maquiador Tom Savini. Aqui, os zumbis são totalmente realistas, e cada um deles carrega uma maquiagem diferente e muito bem detalhada, com destaque para o aterrorizante cadáver dos créditos de abertura, que não possui mandíbula (credo!). No que diz respeito ao enredo, este é o mais sério, escatológico e pessimista dos três. “Dia dos Mortos” apresenta também a primeira frase saída da boca de um zumbi: “Olá, Tia Alicia”, proferido por Bub.

E sim, aqui os extras também ganham presentinhos! Além do lendário cachê de um dólar, os figurantes receberam um boné com a inscrição Eu fui um zumbi em “Dia dos Mortos” e um exemplar do jornal que aparece na primeira cena do filme, com a manchete THE DEAD WALK (os mortos andam)…

:: A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1990): ELES ESTÃO VINDO DE NOVO, BARBARA!

Ok, ok, tá certo. A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1990) pode não ser exatamente parte integrante da cinessérie. Aliás, o filme sequer foi dirigido por George Romero. Bem, quase. A verdade é que, em 1989, Romero soube que perderia os direitos de seu primeiro filme e, temendo que algum espertinho chegasse na frente, correu para desenvolver um remake da fita. O resultado é este ótimo trabalho dirigido pelo protegido de Romero, Tom Savini (também responsável pela maquiagem), e com produção executiva do próprio. Savini optou por utilizar como base o primeiro roteiro da fita de 1968 – para quem não sabe, a versão final do filme original usou um roteiro revisado e com certas mudanças, para não bater violentamente com a censura. O que de nada adiantou, pois bateu do mesmo jeito! 🙂

O que vemos aqui, então, é quase o mesmo enredo, com leves mudanças na personalidade de alguns personagens – Barbara (Patricia Tallman), por exemplo, não é mais uma “anta” e sabe se virar muito bem quando o negócio é “auto-defesa” – e no destino de outros, além da ausência das metáforas sobre a política estadunidense. Mais uma vez, sete estranhos encontram-se ilhados em uma pequena casa, à mercê de dezenas de cadáveres reanimados por alguma razão não muito bem esclarecida. E dá-lhe membros decepados, órgãos expostos e uma quantidade satisfatória de sangue! Rodado com o orçamento estimado em quase US$ 5 milhões, “A Noite dos Mortos-Vivos” de 1990 conta com excelentes efeitos de maquiagem, um senhor clima de horror e um final bacaníssimo, ainda que de certa forma otimista, o que não é bem a cara de George Romero. Ei, e qualquer fita que seja protagonizada por Tony Todd, mais conhecido como Candyman, já vale o aluguel do DVD, oras! 😀

O curioso é que a distribuição de “A Noite dos Mortos-Vivos” foi assinada pela Columbia Pictures, a mesma que recusou o primeiro longa da série sem pensar duas vezes. E um comentário altamente spoilerento: demorou vinte e dois anos até que alguém, no caso Barbara, levasse em consideração a idéia de caminhar entre os zumbis, visto que as criaturas são bastante lentas. E não é que é um caso a se pensar?

:: MADRUGADA DOS MORTOS (2004): QUANDO NÃO HOUVER MAIS ESPAÇO NO INFERNO…

“…Os mortos caminharão sobre a Terra”. Enquanto “A Noite dos Mortos-Vivos” de 1990 manteve-se fiel aos conceitos básicos do subgênero zombie fundado por George Romero, o recente Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004), refilmagem de “O Despertar dos Mortos”, deu uma bela recauchutada em alguns aspectos “históricos”. A mudança mais marcante, claro, foi a transformação pelo qual os mortos-vivos passam: aqui, não há a lerdeza característica destes filmes. Aqui, há uma horda de cadáveres ambulantes vorazes, sedentos por sangue… e totalmente velozes! Sim, os caras correm tão ou até mais rápido que os humanos. Medo! A princípio, todo mundo chiou. Mas a mudança foi para melhor, e as criaturas estão mais assustadoras que nunca.

O enredo original também sofreu metamorfoses, e não foi uma ou outra como com “A Noite”. Nesta nova versão, um grupo até numeroso de sobreviventes encontra em um shopping-center de Wisconsin o lugar ideal para esconder-se dos mortos, que voltaram à vida e caminham (ops, correm) pela cidade em busca de comida. Assim como em “O Despertar dos Mortos”, o grupo, liderado por Michael (Jake Weber) e Ana (Sarah Polley), encanta-se com a possibilidade de poder usufruir do que há de melhor no shopping, e sem pagar nada. Há também os conflitos internos, característica bastante marcante nos filmes de Romero. Mas a crítica mordaz à sociedade consumista e materialista ficou para trás. Nada de muita profundidade, o esquema aqui é apenas terror. E tome cenas violentíssimas, além do surgimento de um, pasmem, bebê-zumbi!

Certamente o mais ambicioso da saga, o claustrofóbico “Madrugada dos Mortos”, cuja distribuição ficou nas mãos da Universal (a mesma de “Terra dos Mortos”), custou a bagatela de US$ 28 milhões, rendendo US$ 60 milhões só em bilheterias ianques. Merecidamente, diga-se de passagem!

Bem, esta é a “Trilogia dos Mortos” de George Romero e seus derivados. Cinco clássicos longas-metragens para nenhum fã de horror botar defeito! Cinco trabalhos que, embora estejam esteticamente defasados (alguns deles, claro), jamais perdem seu brilho, seu charme e sua importância atual. E mais alguém aí tem dúvidas sobre a enorme importância do cineasta para o cinemão de terror? Pois é. Quem sabe agora, com o possível sucesso de “Terra dos Mortos”, o homem não se anime para rodar mais e mais trabalhos? O cinema de horror, carente de boas produções, agradeceria muito… Afinal, o que são os fantasmas nipônicos e os assassinos seriais de hoje sem os bons e velhos zumbis comedores de massa cinzenta de outrora? 😀


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