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Artigo adicionado em 15/07/2005, às 06:05

Crítica: SIN CITY – A CIDADE DO PECADO
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Por
Thiago "El Cid" Cardim


LEIA MAIS:
:: Sin City – O Filme:
curiosidades sobre a produção
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“É violento, é sexista, é clichê e é trash. E estes são todos pontos positivos”
– Joe Utichi, crítico do Filmfocus

Antes de qualquer análise, é bom que se faça uma ressalva: Sin City, a badalada adaptação cinematográfica dos quadrinhos de Frank Miller pelas mãos competentes de Robert Rodriguez, não deve ser comparada a nenhuma das recentes transposições de gibis para as telonas – especialmente ao não menos badalado Batman Begins. Para encher os bolsos e sustentar a família, Rodriguez dirige coisas como As Aventuras de Shark Boy e Lava Girl. Mas não “Sin City”. Muito menos do que um produto comercial, a película é a realização de um sonho nerd do cineasta. Lá no fundo, ele não está nem aí se “Sin City” vai agradar aos críticos ou não, se vai ser um sucesso ou fracasso de bilheteria. Nada disso. A única pessoa que Rodriguez queria agradar era… Frank Miller.

Na verdade, o diretor extrapolou até mesmo a devoção de Guillermo del Toro em Hellboy, que transformou o criador Mike Mignola em consultor do filme. Nada disso. Rodriguez correu atrás de Miller meses a fio tentando convencê-lo a permitir a adaptação – já que, diferente dos heróis da Marvel e da DC, “Sin City” é um projeto autoral e cujos direitos pertencem apenas e tão somente ao seu criador. E Miller sempre teve muito medo. E com razão – ou alguém aí esqueceu o que andaram fazendo com as obras do Alan Moore? Finalmente, Rodriguez convidou o ídolo para o seu sítio, chamou Josh Hartnett (de Pearl Harbor) e filmou, por conta própria, um curtinha de poucos minutos que contava a história de poucas páginas A Dama de Vermelho. Se não gostasse, Miller poderia guardar aquele vídeo como um tereno bibelô. Mas Miller se apaixonou. E topou a proposta de Rodriguez, indo ainda mais longe – já que o escritor narigudo sentou ao lado do diretor e co-dirigiu a produção, ganhando nome nos créditos finais e tudo mais, desafiando até mesmo as regras da associação norte-americana dos diretores. “Foda-se”, pensou Rodriguez. E “A Dama de Vermelho” virou a introdução de “Sin City”, que ainda conta as histórias de O Assassino Amarelo, A Grande Matança e A Cidade do Pecado, o arco original.

E é justamente por este motivo que acho não só perigoso, como injusto, comparar qualquer produto gibi-tela, mesmo o Homem-Aranha do também fã Sam Raimi, com “Sin City”. Porque trata-se de uma transposição fidelíssima, quase ipsi-literis, da obra original. A maior parte das falas são as mesmas, sem tirar nem pôr; muitas cenas, se comparadas com as do gibi, foram compostas iguaizinhas; e, é claro, a escolha da estética, para acentuar a ambientação noir e os recursos de luz e sombra que Miller tanto explora nas suas HQs.

DICIONÁRIO A ARCA: o gênero de filme conhecido como “noir” teve seu apogeu na década de 40 e mistura elementos dos romances policiais de autores como Dashiel Hammett e Raymond Chandler com um pouco da estética do expressionismo alemão dos anos 20. Em termos de conteúdo, tem muita violência, erotismo sugerido e um enorme cinismo por parte dos personagens, essencialmente urbanos. Visualmente, costuma se caracterizar pela fotografia em preto e branco e os enormes contrastes entre claro e escuro

Particularmente, não sou fã do que costumo chamar de “pecado da ultrafidelidade” cometido por diretores como Chris Columbus no primeiro Harry Potter – neste caso, por exemplo, Columbus perdeu a oportunidade de exercer a sua criatividade e fazer surgir um produto diferente, mais do que uma mera cópia do original (embora não ache que o resultado final ficou ruim, fato). Afinal, são mídias diferentes: gibi é gibi, filme é filme, aquelas coisas. Neste caso, a fidelidade absoluta não funciona e contribui negativamente para o resultado final. Mas, no caso de “Sin City”, a coisa muda de figura.

“Sin City”, o gibi, é descaradamente inspirado pelo cinema noir, em termos de estética e conteúdo – além, é claro, de carregar boas doses da linguagem cinematográfica e da iluminação do mestre Will Eisner. Portanto, nada mais justo do que Rodriguez levar “Sin City”, absolutamente intacto, para as telonas, criando um divertido exercício metalinguístico: dos cinemas para o gibi e do gibi para os cinemas. E para manter a linguagem, o diretor optou por usar fundo azul em 99% das cenas, criando cenários computadorizados que são transposições alucinantes de trechos da HQ, como se tivessem sido desenhadas na tela (um tal de Fritz Lang costumava fazer isso, mas não vem ao caso agora).

NOTA A ARCA: o único momento de “Sin City” no qual vemos um cenário real é quando os personagens entram no bar, que serve de ponto focal e inter-relação entre as três tramas do filme. Sobre isso, eu falo mais pra frente.

Resumindo: é um puta filme. Bom para caralho. Fudidamente fudido. E merece todos os palavrões usados nas três frases anteriores. Em muitos momentos, me fez perder o fôlego. Um dos melhores filmes do ano até então, aliás. E feito para visto nas telonas – portanto, você que assistiu “Sin City” em versão pirata, seja baixado da internet ou comprado na banquinha do camelô, deixe de ser mão-de-vaca e junte uma grana para ir ao cinema. Porque merece.

Mas…

…sejamos realistas. Não é filme para qualquer um. É óbvio que os fãs de quadrinhos, como eu, vão ter surtos e mais surtos nas poltronas do cinema ao identificar os principais momentos de personagens como Marv e Hartigan exatamente como nas páginas de Miller, só que em puro movimento. E os fãs do cinema enquanto arte, aqueles cinéfilos mais alucinados, vão pirar na estética de Rodriguez, que carrega um “quê” dos filmes da escola Quentin Tarantino de ser. Um luxo.

NOTA A ARCA: Por falar no Tarantino, o cara é amigo pessoal de Rodriguez e não podia ficar de fora desta orgia nerd que é “Sin City”. Assim sendo, ele cobrou US$ 1 para dirigir uma pequena sequência do filme – quando Dwight (Clive Owen) conversa com Jackie Boy (Benicio Del Toro, excelente) no carro em direção aos poços de piche. Este, por sinal, foi o mesmo valor que Robert Rodriguez cobrou para cuidar da trilha sonora de Kill Bill – Vol.2, dirigido pelo colega.

Mas o público comum, eventual, aquele mesmo que lotou as salas de cinema de Kill Bill e saiu taxando a película de “tosca” por usar efeitos especiais do naipe do “Hermes e Renato”, talvez não capte estas referências. Talvez ache os diálogos forçados e exagerados (sim, eles são over pra diabo, mas é tudo absolutamente de propósito). E talvez não esteja assim tão disposto a entrar nas pirações de um cineasta que está realizando suas fantasias de fanboy. E talvez não encare muito bem toda a violência do filme – que é puramente estética, é verdade, com sangue branco (e amarelo, em um caso específico) e que está absolutamente contextualizada… mas, ainda assim, é violência. Muitos tiros, mutilações, castrações. Nem todo mundo tem estômago para isso.

E outra: fora alguns detalhes estratégicos (um vestido, um batom, a pele de um certo bastardo, os lençóis de cetim de um ‘anjo’), trata-se de um filme inteiramente em preto e branco – outra categoria que não costuma ser das favoritas para o frequentador do cinema aos fins-de-semana.

Por isso, evite entrar no papel do fã chato, tentando fazer as pessoas “não-nerds” engolirem a sua opinião de que o filme é “genial”. Nem adianta tentar convencê-las de que o Frank Miller é um dos maiores nomes narrativos dos quadrinhos nas últimas décadas. Diga apenas: “Bom, eu gostei”. E encerre a discussão. Quer ter surtos neuróticos e gritar aos quatro ventos o quanto você ama o Robert Rodriguez e o quanto você quer que ele faça mais e mais continuações de “Sin City”, até o fim dos tempos? Tudo bem. Fique tranquilo. Estamos aqui pra isso.

INTERLÚDIO A ARCA: tem muito crítico americano por aí comparando “Sin City” com “Pulp Fiction” por sua excelência visual, pela violência e verborragia dos personagens e por contar diversas histórias num mesmo filme, interligando-as e criando pequenos relacionamentos entre elas, mas mantendo sua independência. Olha… talvez pareça, à primeira vista, uma comparação exagerada. Afinal, Tarantino é, como diretor, muito melhor do que Rodriguez. E não sabemos se “Sin City” teria capacidade para tirar da lama a carreira de Rourke como “Pulp Fiction” fez com John Travolta. Mas acho que só vamos descobrir se a comparação faz sentido daqui a algum tempo, se “Sin City” se tornar tão referencial para uma certa escola de cineastas (e fãs) como “Pulp Fiction” se tornou. Se não for o caso, “Sin City” não deixa de ser um puta filme. E voltamos agora a nossa programação normal.

“Um paradoxo brilhante: não se parece com nada que você tenha visto antes, mas mistura partes tão familiares que se convertem em clichês”
– James Kendrick, crítico do Q Network Film Desk

O personagem principal de “Sin City” é justamente a cidade, a sombria e apavorante Basin City, cujo apelido de ‘Sin City’ (cidade do pecado, exatamente como subtítulo em português) se justifica graças aos tipos que povoam seus becos escuros e ruelas mal-ajambradas: bêbados, prostitutas armadas até os dentes, mafiosos, matadores de aluguel, policiais corruptos, gangues em polvorosa… e, vejam, só, um único exemplar honesto. Hartigan (Bruce Willis), saído do especial “O Assassino Amarelo”, é um tira tiozão, prestes a se aposentar – mas que, antes de abandonar o distintivo, quer resolver um último caso, mesmo a contragosto de seu parceiro Bob (Michael Madsen, de “Kill Bil”): encontrar o desgraçado que vem estuprando e matando uma série de garotas com cerca de 10 anos de idade. Quando Hartigan finalmente acha o sujeito e consegue salvar a pequena Nancy Callahan, descobre que o culpado é Junior (Nich Stahl, de O Exterminador do Futuro 3), o desprezível herdeiro do Senador Roarke, a milionária e apodrecida família que domina Basin City há décadas.

Apanhado no meio de uma conspiração, Hartigan acaba sendo acusado de todos os estupros e perde sua família, honra… e liberdade. Preso durante oito anos, ele é obrigado a manter silêncio para que nada aconteça com sua protegida Nancy. Mas o surgimento de uma carta com um estranho presente e também a visita de um estranho, violento e amarelo (!) sujeito fazem Hartigan assinar a confissão de culpa e correr para fora da cadeia, em busca de Nancy – que, agora com 19 anos, se transformou numa desejadíssima “dançarina exótica” (Jessica Alba, de Quarteto Fantástico). Se cruzando no bar, somos apresentados à história do ex-presidiário Marv (Mickey Rourke, de “9 1/2 Semanas de Amor”, em seu melhor papel em muuuuuuuuitos anos), uma truculenta criatura que encontra o amor nos braços da bela Goldie (Jaime King, de “O Monge À Prova de Balas”). O problema é que, no dia seguinte àquela que teria sido a melhor noite da vida de Marv, sua deusa é misteriosamente assassinada ao seu lado. E ele acaba empreendendo uma caçada feroz aos responsáveis, encontrando em seu caminho o frio e calculista Kevin. Tenha medo, mas muito medo do Frod… quer dizer, do Elijah Wood.

“Ande pelo beco certo de Sin City… e você vai encontrar qualquer coisa”
— Marv

Terminando a nossa viagem por Sin City, não poderíamos deixar de passar pela Cidade Velha, território comandado (e policiado) pelas prostitutas. Lá, a polícia não manda nada. E a máfia está bem longe, anulando a popular figura do cafetão. Mas o equilíbrio está prestes a ser quebrado quando Jackie Boy (Del Toro) e seus comparsas entram no bairro em busca de diversão. Ameaçando uma das garotas com sua arma, ele e seus amiguinhos acabam sendo mortos pela letal e silenciosa Miho (Devon Aoki, de “Mais Velozes e Mais Furiosos”). Só que o esperto Dwight McCarthy (Owen), que vinha seguindo Jackie Boy desde a casa de sua nova namorada, a garçonete Shellie (Britanny Murphy, de “8 Mile”), acaba descobrindo que o defunto fresco era policial. E sua morte pode atrair os homens de azul para o território de Gail (Rosario Dawson, de Alexandre), uma espécie de líder das prostitutas e que está disposta a comprar a guerra com a corporação policial para evitar que a máfia faça tudo ser como já foi um dia… Pois é: em “Sin City”, as mulheres são sensuais, provocantes e fatais – no sentido mais sangrento da palavra. Os marmanjos não sabem ao certo se ficam excitados ou com medo.

O elenco, estelar, traz ainda Michael Clarke Duncan (“À Espera de Um Milagre”), Carla Gugino (“Spy Kids”), Rutger Hauer (“Batman Begins”) e…o próprio Frank Miller, em uma participação especialíssima para deixar Stan Lee morrendo de inveja. “Pergunte a si mesmo se o cadáver de uma prostituta vale tudo isso”.

COMENTÁRIO A ARCA: talvez Frank Miller até mereça o destino reservado a ele em “Sin City” depois de escrever “O Cavaleiro das Trevas 2”.

Quanto ao final… bem, não poderia ser mais surpreendente. Não, ele não existe nos quadrinhos. E mistura personagens de duas histórias diferentes. Mas é feito para fechar esta experiência de fã com chave de ouro. Afinal, foi feito por um fã. E com seu ídolo sentado bem ali, ao seu lado. Definitivamente, não tinha como ser melhor.

Para definir “Sin City”, cunhei uma expressão definitiva: “uma enorme punheta nerd”. E ponto final.

Sin City – A Cidade do Pecado (Título original: Sin City) / Ano: 2005 / Produção: EUA / Direção: Robert Rodriguez e Frank Miller / Roteiro: Frank Miller / Inspirado nos personagens criados por Frank Miller / Elenco: Bruce Willis, Jessica Alba, Nick Stahl, Michael Madsen, Mickey Rourke, Jaime King, Rutger Hauer, Elijah Wood, Clive Owen, Benicio Del Toro, Rosario Dawson, Michael Clarke Duncan, Josh Hartnett / Duração: 124 minutos.


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