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Artigo adicionado em 07/07/2005, às 04:35

Crítica: CAIU DO CÉU
Eu quero levar este moleque para casa! Eu quero! “Deus não rouba bancos!” — Damian Cunningham Dizia um velho guru do cinema que basta colocar uma criança bonitinha, carismática e simpática aprontando das suas num filme para que ele seja sinônimo de sucesso. Se fosse assim, Caiu do Céu (Millions), que chega nesta sexta (08) […]

Por
Thiago "El Cid" Cardim


“Deus não rouba bancos!”
— Damian Cunningham

Dizia um velho guru do cinema que basta colocar uma criança bonitinha, carismática e simpática aprontando das suas num filme para que ele seja sinônimo de sucesso. Se fosse assim, Caiu do Céu (Millions), que chega nesta sexta (08) aos cinemas brazucas, teria uma enorme chance de ser campeão de bilheteria, já que o protagonista, o estreante Alex Etel, é absolutamente cativante e me fez querer ter um filho igual a ele. De verdade. Mas como se não bastasse um elenco afinado – já que Lewis McGibbon, o ator que vive o irmão mais velho de Alex, também está excelente no papel e a química entre os dois é de cair o queixo -, a direção de Danny Boyle funciona de maneira soberba, criando uma fábula encantadora para todas as idades sobre o verdadeiro valor do dinheiro nas nossas vidas.

Ok, eu admito que devo ter pegado você de surpresa ao revelar que se trata de uma obra de Danny Boyle. Pois é, aquele mesmo sujeito acostumado a viagens sombrias ao mundo dos loucos e viciados de Transpoitting ou mesmo Cova Rasa, e que recentemente nos presenteou com os zumbis de Extermínio. Ele mesmo. Uma fábula graciosa, sem mortes violentas, drogas ou sexo. Nops. Será que o Boyle tá apaixonado? Ou resolveu mudar de ares? Sei lá. Mas o que é mais legal é perceber que, mesmo contando uma história tão tocante, Boyle deixa a sua marca em cenas cheias de piração, misturando animação e inesperados efeitos especiais para ilustrar sequências de pensamento ou mesmo a imaginação infantil dos dois garotos. E, é claro, está lá aquele delicioso humor inglês, com fartas doses de non-sense e uma ou outra pitadinha daquele jeitão politicamente incorreto que só quem vive na ilha da Rainha-Mãe consegue destilar.

A história da película rola na época da conversão de todas as moedas européias para o Euro. Todas as grandes nações do continente já adotaram a nova medida, mas ainda falta a Inglaterra. A sete dias da chegada do euro, todas as libras esterlinas devem ser trocadas…ou queimadas. Bingo: a oportunidade perfeita para os criminosos de plantão desviarem uma parte do dinheiro destinado às fornalhas. No entanto, como era de se esperar, nem todas as iniciativas estão destinadas a dar certo. E é justamente aí que uma enorme sacola de dinheiro acaba sendo atirada de um trem em movimento, caindo “dos céus” nas mãos de um garoto de sete anos, Damian Cunningham (Etel).

“Eu pensei que fosse um milagre. Mas foi só roubado”
— Damian Cunningham

Damian perdeu a mãe há pouco tempo e, recentemente, se mudou junto com o pai e o irmão Anthony (McGibbon) para uma comunidade próxima dos trilhos do trem, similar àquelas perfeitas áreas suburbanas dos filmes de Tim Burton. Obcecado pela vida dos santos, Damian decorou datas e detalhes impressionantes (incluindo algumas coisas a respeito de suas mortes brutais) sobre nomes como Santa Clara de Assis, São Nicolau (é, o Papai Noel), São Francisco… e até os Mártires de Uganda e suas cabeças cortadas. E o mais estranho é que o menino consegue ver estes santos, que aparecem para aconselhá-lo em determinados momentos da sua vida – categorizando, definitivamente, algumas das cenas mais memoráveis da fita. Os diálogos são ágeis, inteligentes e, antes de tudo, absolutamente naturais, dando tridimensionalidade aos personagens ao invés de meramente tentar encaixá-los na trama. Ver São Pedro explicando ao menino o real significado do sermão da montanha é fantástico.

De qualquer maneira: de posse da enorme sacola de dinheiro, Damian não sabe o que fazer e acaba pedindo ajuda ao irmão de 9 anos, Anthony. Inocente, Damian quer ajudar os pobres, contribuir para causas sociais, tentar ajudar as pessoas de sua comunidade ou mesmo de um distante país africano. Já Anthony, um prodígio com números, quer manter a grana em segredo e, quem sabe, investir em imóveis (!). Chega até a comprar a lealdade de alguns amiguinhos, transformados em capangas para protegê-lo na escola e ajudá-lo a chamar a atenção das menininhas. Mas, à medida que se aproxima o prazo para as libras se transformarem em euros, aumenta a preocupação: se aquele dinheiro não fôr gasto logo, em breve não vai valer mais nada! E mais: será que os bandidos que planejavam roubar a pequena fortuna não estão atrás desta sacola recheada de notas?

“Anthony pediu para não contar nada. Por causa dos impostos”
— Damian Cunningham

Na fim das contas, o grande segredo do filme é mostrar, sob o ponto de vista de uma criança, como é complicada esta coisa de querer fazer sempre a coisa certa – afinal, “ser bom” é um aspecto bastante subjetivo. Será que, para ajudar o mundo a melhorar, basta uma enorme quantia de dinheiro? Ou uma enorme dose de boa vontade? Será que as pessoas querem ser ajudadas? E, principalmente, a pergunta mais padrão de todas: será que esta porra de dinheiro traz felicidade? Pergunte ao Damian. Acho que ele deve saber responder, do alto de sua inocência. Mas cuidado – porque a resposta pode deixar você com uma insistente e incômoda lágrima no canto do olho. Eu, pelo menos, fiquei.

Uma película rara, que consegue ser emocional e sofisticada ao mesmo tempo – e sem recorrer a clichês óbvios e babacas. Ah, sim: você talvez pense que eu estou enganado em algum momento próximo do final. “Mas eu já vi isso antes”, talvez você grite para si mesmo. Mas dê a Danny Boyle mais alguns minutos. Porque, antes que o filme acabe, ele mostra que, afinal das contas, é Danny Boyle que está na direção. E nos dá um precioso gostinho de Danny Boyle. Bem na sua cara.

“Tem alguma Santa Maureen aí com vocês? Ela subiu tem pouco tempo”
— Damian Cunningham

:: CURIOSIDADES:

– O excelente roteirista do filme, Frank Cottrell Boyce (de “A Festa Nunca Termina”), faz uma divertida ponta como o professor de teatro de Damian;

– O esqueleto narrativo da trama de “Caiu do Céu” é baseado na comédia de 1985 Chuva de Milhões (“Brewster’s Millions”), com Richard Pryor e John Candy

Caiu do Céu (Título Original: Millions) / Ano: 2004 / Produção: Inglaterra-EUA / Direção: Danny Boyle / Roteiro: Frank Cottrell Boyce / Elenco: Alex Etel, Lewis McGibbon, James Nesbitt, Daisy Donovan, Jane Hogarth, Alun Armstrong, Enzo Cilenti, Nasser Memarzia, Kathryn Pogson, Harry Kirkham / Duração: 98 minutos


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