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Artigo adicionado em 04/07/2005, às 05:33

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Somos todos loucos aqui Existem alguns livros maravilhosos que fazem tanto sucesso que acabam perdendo as características mágicas do original. Peter Pan e O Mágico de Oz são bons exemplos disso. Mas um livro que sofreu milhares de mudanças em tudo o que é tipo de mídia foi Alice no País das Maravilhas. Hoje, Alice […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Existem alguns livros maravilhosos que fazem tanto sucesso que acabam perdendo as características mágicas do original. Peter Pan e O Mágico de Oz são bons exemplos disso. Mas um livro que sofreu milhares de mudanças em tudo o que é tipo de mídia foi Alice no País das Maravilhas. Hoje, Alice ou é conhecida pela doce versão “waltdisneyana” ou por ser objeto de adoração dos modernosos e (principalmente) modernosas de plantão. Não sei bem qual o sentido profundo de todo esse glamour em volta do universo de Alice, mas sei que vale a pena – e muito – dar uma lida nos originais, escritos por Lewis Carroll. O que esse inglês (tinha que ser inglês!) fez foi uma história de fantasia, no período vitoriano, abusando do cúmulo do nonsense.

Charles Lutwidge Dodgson, nome de batismo de Lewis Carroll – não confundir com C.S. Lewis – foi o autor dos dois livros que falam da menininha Alice: “Alice no País das Maravilhas” – o mais conhecido – e Alice Através do Espelho — o melhor, na minha opinião. Nascido em 1832, Carroll se tornou um reverendo e professor de matemática em Oxford, e tinha um interesse especial por nonsense, jogos de lógica e menininhas. Bem, particularmente por menininhas. Todas as suas biografias dizem que o autor de Alice, que também nutria uma paixão por fotografia, gostava de passar as tardes com crianças, tirando fotos e desenhando meninas pequenas. Não por acaso, sempre suspeitou-se que Lewis Carroll tinha algo a ver com pedofilia – mas até hoje ninguém conseguiu provar se isso é verdade.

Uma dessas menininhas amigas do inglês foi Alice Liddell, filha de um casal de amigos seus, uma família que foi para Lewis Carroll mais ou menos o que a família de Sylvia Llewelyn foi para James Barrie. E, como não é de se espantar, foi ela quem inspirou o moço a escrever o perfeito livro, que foi sua obra mais conhecida dentre outros livros escritos por ele – que vão de tratados matemáticos até outras historinhas infantis. Até a Rainha Vitória leu as aventuras de Alice na época, e, dizem, gostou. O Monteiro Lobato, criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, foi outro que gostou da história de Carroll e a adaptou ao público brasileiro, traduzindo a obra prima inglesa.

:: PELA TOCA DO COELHO

“Alice no País das Maravilhas” é o primeiro livro que leva o nome da menina. Alice é uma menina meio chata (ninguém diz isso no livro, tirei essa conclusão sozinha) que, cansada de ouvir a história que sua irmã conta, resolve dar um passeio pelo quintal, e encontra um coelho falante andando por lá. O Coelho tem pressa, muita pressa. E entra em um buraco – Alice, que, como disse, além de chata é inconveniente, entra no buraco também… e vai parar no País das Maravilhas.

Lá, ela se depara com um mundo sem sentido cheio de situações intrigantes e criaturas que adoram falar em forma de enigmas. Ela quer sair de lá, mas nenhum ser das Maravilhas parece querer ajudar muito, já que ninguém parece falar coisa com coisa. Depois de uma insana travessia, Alice… bem, vocês sabem qual é o final, um dos mais chatos e desestimulantes da história da literatura universal. Certo. Falando assim, não há nada de muito novo para quem já assistiu a qualquer das adaptaçõezinhas por aí. O que é mesmo interessante é ler os diálogos da versão original. Então vocês vão entender porque tanto frenesi em volta de uma história tão batida. Em caso de dúvidas, aí vai só um pequeno trecho do mais puro humor inglês, com um de meus personagens favoritos, o Chapeleiro:

“Tome um pouco de vinho”, disse a Lebre de Março num tom animador.
Alice correu os olhos pela mesa toda, mas ali não havia nada além de chá. “Não vejo nenhum vinho”, observou.
“Não há nenhum”, confirmou a Lebre de Março.
“Então não foi muito polido da sua parte oferecer”, irritou-se Alice.
“Não foi muito polido da sua parte sentar-se sem ser convidada”, retrucou a Lebre de Março.
“Não sabia que a mesa era sua”, declarou Alice; “está posta para muito mais do que três pessoas.”
“Seu cabelo está precisando de um corte”, disse o Chapeleiro. Fazia algum tempo que olhava para Alice com muita curiosidade, e essas foram suas primeiras palavras.

:: A CASA DO ESPELHO

O livro que narra a segunda aventura de Alice, dessa vez no País do Espelho, é bem menos conhecido que seu antecessor, embora algumas partes desse livro tenham ido parar nas adaptações do País das Maravilhas. Por exemplo, o Jardim das Flores Vivas e os gêmeos Tweedledum e Tweedledee. “Alice Através do Espelho” é mais divertido porque se passa em um jogo de xadrez. Ao adentrar o espelho, Alice acaba participando da partida, como uma peça, e precisa caminhar até a última casa para virar Rainha – como acontece em jogos de xadrez normais. Daí que, no caminho, ela encontra seres ainda mais bizarros, ilógicos e engraçados que os do livro anterior. Como de costume, esses personagens vivem fazendo trocadilhos e entendendo de forma errada algumas coisas. Eis então um trecho de “Alice Através do Espelho”:

“Não há nada como comer hortaliças quando se está desfalecendo”, disse o Rei para Alice, enquanto mascava.
“Diria que lhe jogar um pouco de água fria seria melhor”, Alice sugeriu, “ou sais”.
“Não disse que não havia nada melhor”, o Rei respondeu. “Disse que não há nada como isso”. O que Alice não se aventurou a negar.
“Por quem passou na estrada?” continuou o Rei, esticando a mão para o Mensageiro a pedir mais hortaliças.
“Ninguém”, disse o Mensageiro.
“Correto”, disse o Rei, “esta senhorita o viu também. Nesse caso, evidentemente Ninguém anda mais devagar que você.”

Tá bão assim? Esses dois livros são curtos, e escritos direcionados às crianças, mas são é muito mais divertidos para as crianças mais velhas que gostam de outros senhores ingleses perfeitos, como Beatles, Monty Python e Douglas Adams… =o) Preste atenção também nas ilustrações originais bem ao estilo da época do livro, feitas por John Tenniel, que são maravilhosas – para vê-las, é só dar uma olhada nas imagens que ilustram essa matéria.

:: ALICE FORA DOS LIVROS

Daí que chegaram as pessoas estranhas, gostaram da história, e resolveram cometer o sacrilégio de tocar nela. Tudo bem que algumas coisas até se salvaram aí, mas nada, nada mesmo se compara com o livro. Então, esses hereges transformaram as histórias de Alice em jogos de computador, desenhos animados e símbolos de milhares de teorias.

Uma dessas invencionices foi o jogo American McGee’s Alice, que eu não joguei simplesmente por me interessar por apenas alguns poucos e bons jogos de computador, mas sei do que se trata. Alice, no caso, não é uma inocente garotinha da era vitoriana, e sim uma órfã doente que vai parar num Wonderland muito mais “dark”, e precisa dar um jeito na bagunça que aquilo lá virou. Não poupando sangue para isso. Eu não tenho uma opinião formada em relação a esse jogo, mas acredito que Lewis Carroll deve ter se revirado algumas vezes no túmulo após seu lançamento. Bem, quando lançarem a versão dark do Peter Pan a gente conversa. Material pra isso não falta, já que a Sininho é um pouco psicótica, e o próprio Peter Pan não é assim tão chegado nos adultos…

E, no cinema e na tevê, não faltou a presença de Alice, logicamente. Foram vários e vários filmes e telefilmes, de 1903 (!!) até 1999, isso sem contar as milhares de referências póstumas em seriados e desenhos animados. E, como foi noticiado aqui, um projeto está em andamento, com a nova menininha-prodígio de Hollywood, Dakota Fanning, no papel de Alice. Aí vão alguns dos melhores e/ou mais famosos filmes que fazem parte da filmografia da herança de Lewis Carroll:

1903: Bem, esse eu não diria que é mais famoso ou que é um dos melhores – porque, como devem supor, eu nunca consegui assistir essa versão de 1903. Mas conta pelo seu valor histórico, e pela bizarrice de sua produção. Ela teve 12 minutos – o que fez desse Alice in Wonderland o filme mais longo produzido até então (!). Isso era algo tão difícil de se montar que foram necessários dois diretores para fazê-lo (Percy Stow e Cecil Hepworth, que também fez o papel de sapo). Sua esposa, Mrs. Hepworth, possui dois papéis na película: a Rainha e o Coelho Branco. Isso tudo por falta de atores profissionais, o que levou todos os funcionários da produção a participar do elenco. Mabel Clark, que interpretou Alice, era também uma espécie de secretária do estúdio.

1951: O famoso e clássico desenho da Disney, “Alice no País das Maravilhas” não fez muito sucesso na época em que foi lançado, mas rendeu uma boa grana desde então com a cessão da marca para brinquedos e outros badulaques que levam o nome da menina de vestido azul. E foi um dos maiores responsáveis pela divulgação de Alice até hoje.

1977: Jabberwocky não conta a história de Alice, mas é do Terry Gilliam, então não podia deixar de aparecer por aqui. Jabberwocky é o nome de um monstro do poema de mesmo nome, que faz parte do livro “Alice Através do Espelho” (o monstro pode ser chamado, em português, de Pargarávio ou Jaguadarte). O insano diretor e ex-membro do Monty Python criou esse filme baseado no poema. Dennis Cooper é um jovem aprendiz que precisa encarar esse monstro, um habitante das terras de Bruno, O Questionável. As pessoas confundem, achando que esse é mais um filme com o selo Monty Python de qualidade, talvez por ser nonsense e engraçado, mas “Jabberwocky” não é uma obra do grupo. Só conta com o lindo Michael Palin no elenco.

1998: Kate Beckinsale como Alice e Ian Holm como o Cavaleiro Branco uniram-se nessa versão de uma crescidinha “Alice Através do Espelho”, com direito a um Pargarávio em 3D! Foi esse o filme culpado por me fazer ficar curiosa para conhecer o original de Lewis Carroll. Na minha singela opinião, foi a versão que mais captou o espírito do livro, sem mudar quase nada. Traz até o capítulo que Lewis Carroll escreveu mas não colocou na versão final da obra: O Marimbondo de Peruca. O filme foi feito para a TV inglesa, mas acabou sendo distribuído em diversos países. Tente encontrá-lo em alguma boa vídeo locadora, porque é altamente recomendado.

1999: uma versão cheia de nomes conhecidos do cinema – Robbie Coltrane (também conhecido como “o Hagrid“) como um dos irmãos Tweedledum, Whoopie Goldberg como o Gato de Cheshire, Martin Short como o Chapeleiro Louco, Gene Wilder (também conhecido como “o Willy Wonka das antigas”) como a Tartaruga Falsa, Christopher Lloyd como o Cavaleiro Branco – e outros nominhos conhecidos mais! Apesar de todas essas estrelas, e da roupa legal da Alice, o filme é fraquinho, beeeem fraquinho.

Deu pra ficar com água na boca? Leia os livros! Só lendo para (tentar) entender como as aventuras de Alice puderam agradar tanto, por tanto tempo e a pessoas tão diferentes. Hoje, seus fãs vão de crianças a adultos, incluindo nerds, góticos e outras “tribos”, cada qual com uma visão mais psicodélica ou dark do mundo das maravilhas. Diversos cientistas também gostam de citar o mais refinado nonsense de Carroll para embasar e exemplificar suas teorias – nonsense para argumentar, na ciência?! É esquisito sim, mas existem vários livros científicos que utilizam o mundo descoberto pela menina loirinha (que, na verdade, era morena, vejam só!) como Alice no País do Quantum, por exemplo. É, meus caros, parece que os fundamentos do mundo estão mesmo em puro nonsense.

:: Leve aqui e melhor edição de Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho. Essencial para fãs da menina das meias listradas. ^_^


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