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Artigo adicionado em 01/06/2005, às 11:20

O GRANDE SEGREDO DO MERCADO NACIONAL DE QUADRINHOS
Mas eu só conto se você ler o texto até o final! Promete? Alô, alô, terráqueos que acessam A ARCA. Aqui quem fala é Tutu Figurinhas, seu colunista assumidamente relapso e enfrentando uma grave crise de desemprego. Pois é: andei meio sumido nos últimos meses porque estive fazendo uns trabalhos como freelancer para colocar comida […]

Por
Tutu Figurinhas


Alô, alô, terráqueos que acessam A ARCA. Aqui quem fala é Tutu Figurinhas, seu colunista assumidamente relapso e enfrentando uma grave crise de desemprego. Pois é: andei meio sumido nos últimos meses porque estive fazendo uns trabalhos como freelancer para colocar comida na boca do Ozzy, meu cachorro são-bernardo, e também para garantir aquela cervejinha no final de semana, entre uma partida e outra de bocha aqui em Atibaia. É isso aí: fui mais uma vítima dos “facões” que andaram circulando por algumas redações de jornais e revistas brasileiros e, por conta disso, meu tempo livre para degustar as pérolas televisivas da TV aberta durante a tarde aumentou consideravelmente. Mas, ao contrário de alguns componentes da redação deste site (cujos nomes não tenho vergonha nenhuma de dizer: El Cid e Fanboy), minha tolerância para fofocas sobre o mundo dos ricos e famosos é bem baixa. E por não ter o menor interesse na separação do Ronaldinho e da Cicarelli, reencontrei em São Paulo alguns amigos que trabalharam durante muitos anos no mercado nacional de quadrinhos.

Mercado NACIONAL de quadrinhos? Isso existe? Que bicho é este? Se come com farinha? Pois é, caro leitor, existe sim. Tá por aí, meio abatidão, meio combalido, mas ainda existe. No entanto, sofre de um defeito gravíssimo, principal responsável pela parca produção de material genuinamente tupiniquim. Sim, é um segredo terrível, guardado a sete chaves e que boa parte dos quadrinistas brazucas têm medo de encarar. Você quer mesmo saber? Pois bem. Vou abrir o selo do grande livro das verdades universais. Então prepare-se: os grandes responsáveis pela derrocada do nosso mercado quadrinístico… são a Marvel e a DC.

Rufem os tambores. E que entre aquela música de entonação dramática.

Não, não, não. O titio aqui não está sugerindo nenhuma conspiração ianque contra a nona arte produzida em nosso país. Aliás, a Marvel e a DC nem sabem do que diabos estou falando. Na-na-ni-na-não. Mas, mesmo assim, as duas editoras contribuíram de maneira absolutamente tenebrosa para a carreira da maior parte dos quadrinistas da nossa pátria-mãe. Sobre as exceções, eu falo alguns parágrafos mais abaixo.

Esta influência nefasta foi totalmente indireta – e só comprovei a minha tese quando, sentado numa mesa da Antartica (ou seria da Nova Schin?) com quatro ex-desenhistas e roteiristas pretendentes, obtive a mesmíssima resposta de todos para a pergunta: “Afinal, o que você queria ser quando crescesse?”. E, com o perdão do trocadilho infame, o quarteto fantástico respondeu, um de cada vez: “Eu queria trabalhar na Marvel. Ou na DC”. Perceberam o tamanho do estrago? Não? Tá legal, então vou fazer uma comparação com o mercado de música para ver se me torno mais claro. Vamos pensar numa banda em início de carreira, começando a tocar numa garagem. Se eu fosse perguntar para estes músicos qual é o grande sonho de suas carreiras, com certeza eles diriam: “Queremos tocar a nossa música e ficar famosos”. Perceberam agora?

A grande maioria dos desenhistas de quadrinhos aqui no Brasil jamais responderia: “Quero ser rico e famoso desenhando (ou escrevendo) quadrinhos”. Não senhor. A resposta padrão é: “Quero desenhar o Homem-Aranha”. Ou então “Quero escrever o gibi do Super-Homem”. Ou seja: eles não querem exercer sua arte de verdade. O que eles querem é chegar num nível tão alto de celebração ao seu personagem favorito que, finalmente, eles poderiam ter alguma influência sobre sua revista mensal favorita – tudo isso num nível inconsciente, é claro. Muitos deles, acredito que a grande maioria, não admitiria isso nem sob tortura. Tudo bem, tudo bem. Isso não condenável. Mas não faz de qualquer um artista de verdade. Músico que é músico começa de baixo, tocando em qualquer boteco para meia-dúzia de bêbados. O importante é poder mostrar o seu trabalho. E você, desenharia aquela revista em quadrinhos educativa para a associação comunitária do seu bairro – sem qualquer sinal de seres hipermusculosos em embates épicos? Não responda ainda. Titio Tutu não acabou.

Os quadrinhos de super-heróis fizeram tão mal para a cabeça de uma geração inteira que, quando os novos roteiristas e desenhistas não pensam apenas em fazer parte da carreira criativa de Peter Parker ou Clark Kent, suas criações proprietárias parecem clones de tudo que a Marvel, a DC ou mesmo a Image ou, quem sabe, a Crossgen e a Malibu (ARGH!) publicaram nas últimas décadas. São sempre aqueles heróis no estilo básico de sempre, com músculos até as gengivas e vivendo os mesmos conflitos-padrão, enfrentando vilões megalomaníacos dispostos a dominar o mundo. O mais engraçado é que até o mercado norte-americano já entendeu que este modelo está velho e ultrapassado – basta conferir os títulos de uma revista como adulta como a Marvel Max, por exemplo, cujas histórias são sucesso de vendas lá e cá. Se, para os criadores dos gibis de super-heróis, isso é coisa do passado, por que diabos nós vamos adotar isso por aqui como se fosse garantia de sucesso? Acordem, crianças. O mundo mudou. A Al-Qaeda fez isso por nós.

No mercado norte-americano, o ápice do profissionalismo é chegar a trabalhar na Marvel ou na DC. E aqui? Não existe ápice? Ué, e quanto ao sucesso de títulos como Holy Avenger? Ou mesmo a vitalidade da Turma da Mônica? Ah, é vergonhoso fazer quadrinhos para crianças? Meu caro, volto a repetir: então, você não quer fazer quadrinhos – mas sim, desenhar o Homem-Aranha. Ninguém disse que isso é impossível. Nomes como Roger Cruz e Ivan Reis estão aí para não me deixar mentir. Mas viver de sonhos não significa viver sonhando.

Nosso redator, o simpático Emílio Elfo, costuma citar frequentemente o exemplo dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá. Eles não contam histórias de super-heróis. Aliás, eles têm seu próprio estilo de arte e de narrativa. Mas, mesmo assim, nunca pararam de trabalhar. E estão sempre publicando uma coisa aqui, outra ali… e, o que não sai por nenhuma editora, acaba caindo nesta enorme vitrine chamada internet. E, no final das contas, eles acabam ficando em evidência. Não são popstar como Brian Michael Bendis ou Joe Quesada. Mas isso não faz deles menos talentosos. E por que não lembrar do finado mestre Flávio Colin, que quadrinizava clássicos do nosso folclore com um estilo único de desenhar e, principalmente, de fazer sombreamento com retículas? O quê, fazer coisas com temas nacionais é ridículo demais? Mesmo? E você quer fazer a arte de um gibi cuja história retrata um biliardário que combate o crime vestido de MORCEGO? Quem é mais ridículo aqui?

Mas tá legal, eu me rendo: quer fazer um super-herói? Já pensou em adotar algo tão criativo quanto foi o Overman, do Laerte?

Oportunidades não faltam. Opções, muito menos. Basta ser criativo. Ninguém disse que você vai ficar milionário trabalhando só com isso. Nem em um mês e nem um ano. Talvez nunca. Mas não vai chegar a lugar nenhum se não tentar. Se não quiser transformar sonhos em realidade. Se não quiser dar forma a um mercado que dizem por aí que não existe. E vai continuar não existindo enquanto tiver um monte de gente achando que a solução é fazer tudo igual ao que fazem os Estados Unidos. Se fosse assim, teríamos entupido o Iraque de bombas. Não é isso que as grandes potências fazem?

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Não sou bonzinho como o El Cid. Achei o Episódio III uma porcaria. Deus, como a passagem do Anakin para o lado negro da Força foi broxante, contada de maneira acelerada e rasteira. Blergh. Só se salva mesmo a Natalie Portman. Como diria o Zarko: que tetéia!

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Hoje, tomei uma decisão: quero ir para Londres só para beijar o Eric Clapton na boca. Acordei com esta idéia fixa na cabeça. Me aguarde, rainha-mãe.

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Ah, é: eu e o El Cid fomos ver O Guia do Mochileiro das Galáxias. Como aquilo é divertido, em nome de Odin. O Marvin é o melhor. Viva o John Malkovich. E, definitivamente, vou andar com uma toalha sempre por aí.

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Coluna escrita ao som de “So Long And Thanks For All The Fish”.


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