|
Caros leitores d´A ARCA, tudo bem? Aqui é o Garrettimus! Estava com saudades de vocês!
Aproveitei o lançamento do DVD de Os Heróis não têm Idade, um de meus filmes de infância favoritos, e escrevi este artigo nostálgico (com licença, Srta. Ni!) a respeito do mesmo. Espero que se divirtam tanto quanto foi bacana escrevê-lo.
:: A TRAMA
Em San Antonio, Texas, David Osborne (Henry Thomas), um imaginativo garoto de onze anos de idade, acabou de perder a mãe. Como única companhia, já que o triste e atarefado pai (Dabney Coleman) não lhe dá a devida atenção, há um espião e amigo imaginário, Jack Flack (interpretado também por Dabney Coleman), que acaba por dar conselhos ao menino.
Davey adora jogar videogame e brincar de espionagem, e tem como parceira a menina Kim Gardener (Christina Nigra). Em um dia fatídico, ambos vão ao edifício da empresa de eletrônica Textronics, a pedido do amigo nerd, Morris (William Forsythe), e o menino finge cumprir uma missão secreta. Durante a brincadeira, contudo, David vê-se cara-a-cara com assassinos reais quando um estranho homem, baleado, entrega-lhe um cartucho – de Atari – do jogo “Cloak & Dagger”, nome que dá título ao filme, e lhe pede que o leve e o mantenha em segurança. Tal cartucho especial, na verdade, contém o blueprint (a planta) de um novo avião espião americano, ultra-secreto. O objeto poderia ser levado para fora dos E.U.A. se caísse em mãos erradas, e o segredo, revelado.
A partir daquele momento, o jovem inicia, “auxiliado” por Jack Flack, uma corrida para escapar dos bandidos, que raptam a pequena Kim e o perseguem implacavelmente por diversos pontos da cidade de San Antonio. O “passeio” de barco no rio, aliás, é uma das melhores partes. Davey até tenta convencer o pai acerca da situação em que está, porém, é desacreditado por ele, justamente por viver no mundo da Lua. As duas crianças passam, então, por muitos perigos.
Davey precisará fazer uma escolha super importante para o próprio futuro. Uma escolha nada fácil…
E não comentarei mais nada para não estragar as surpresas!
:: O IMAGINÁRIO DOS ANOS 80
Filmes em que crianças imaginativas e especiais definem a trama eram comuns nos anos oitenta. E.T., O Extraterrestre (E.T., The Extraterrestrial, 1982), D.A.R.Y.L. (1985), Viagem ao Mundo dos Sonhos (Explorers, 1985), O Vôo do Navegador (Flight of the Navigator, 1986), Conta Comigo (Stand by Me, 1986); os exemplos são diversos. Em “Os Heróis não têm Idade”, rodado em 1983 e lançado em 1984, a tônica do enredo tem a ver com o rito de passagem da infância para a vida mais adulta, isto é, com o processo de abandono dos heróis, imaginários ou de brinquedo, das histórias mirabolantes de piratas e conquistadores do espaço, dos videogames e seus beep-beeps (na época do filme, os videogames eram vistos como um produto genuinamente infantil. Bem diferente do que acontece hoje. Eis o porquê desta observação), e com a perda da inocência, da ingenuidade; tudo em prol da aquisição de novas responsabilidades, do amadurecimento.
Davey, conforme orientações do pai, precisa abandonar tais criancices, pois essas, assim como o falecimento da mãe, seriam os reais motivos das supostas “alucinações” do jovem. O menino, aliás, foi muito bem interpretado por Henry Thomas, que atuou, em 1982, no clássico de Steven Spileberg: “E.T.”. Henry pode não ter sido um Haley Joel Osment (de O Sexto Sentido e A.I. – Inteligência Artificial), mas a todos encantava com seu jeitinho meigo de atuar. A cena, por exemplo, em que David se vê na necessidade de abandonar Jack Flack, de esquecê-lo, chega a comover bastante, graças à atuação emotiva de Thomas.
Em termos de desempenho, aliás, o show ficou a cargo de Dabney Coleman (Jogos de Guerra, Os Muppets conquistam Nova York, Como Eliminar seu Chefe), a quem foi entregue o duplo papel de pai e de amigo imaginário. Ator nem sempre devidamente aproveitado, Coleman brilhou ao dar vida às doidices de Jack Flack, quer seja ao fornecer conselhos amalucados ao garoto ou ao salvar a sua pele, quer seja ao sofrer com ele. Como pai, entretanto, foi firme, preocupado e amigo quando preciso. Realmente, os dois personagens ficaram bem distintos, apesar da aparência praticamente idêntica de ambos. Nota dez a esse ator que atualmente tem 73 anos de idade. Não podem ficar de fora dos comentários as excelentes atuações de John McIntire e Jeanette Nolan, intérpretes do casal de idosos que “ajudam” Davey, ambos já falecidos.
O filme teve roteiro de Tom Holland (A Hora do Espanto), direção do australiano Richard Franklin (Psicose 2, FX/2), que soube dosar bem a ação, o suspense e a emoção, e trilha sonora do também australiano Brian May (Mad Max, Mad Max 2), falecido em 1997.
A maior surpresa da película, é claro, está reservada para a cena final, que acontece nos últimos segundos do filme. É quando, sejamos crianças ou adultos, torna-se difícil segurar as lágrimas que escorrem pelo rosto.
:: CAMPEÃO DA SESSÃO DA TARDE
“Os Heróis não têm Idade” foi um dos campeões da Sessão da Tarde, porém, faz tempo que não é exibido em tevê aberta. Vale a pena, portanto, adquirir o recém-lançado DVD americano (Região 1), dotado de imagem restaurada e no formato Widescreen. Infelizmente, o disco não dispõe de legendas nem mesmo em Inglês, além de não apresentar extras. Talvez por isso ele custe tão pouco: aproximadamente R$ 45,00 nas melhores importadoras do ramo. Ainda assim, eu o recomendo! Mas atenção: seu aparelho de DVD precisa estar desbloqueado para que o disco funcione.
:: CURIOSIDADES
– “Cloak & Dagger”, o título original, não tem uma tradução exata em Português. O termo dá nome aos filmes de espionagem. É como o nosso “Capa e Espada”, usado para nomear os filmes de espadachins e castelos medievais. “Cloak and Dagger”, portanto, significaria, ao pé da letra, “Manto (ou Capa) e Punhal”.
– O filme foi co-patrocinado pela Atari, tanto que o logotipo e o nome daquela empresa podem ser vistos quase sempre. O videogame utilizado por Davey é um Atari 5200, console lançado em 1982, mas que nunca chegou ao Brasil. Caixas de outro videogame, hoje clássico, o ColecoVision, também aparecem.
– O game “Cloak & Dagger” existe, sim, mas para arcade (fliperama), não para os videogames domésticos. A fim de que as cenas fossem filmadas, o criador do jogo, Russell B. Dawe, jogou-o em um arcade ligado, por meio de uma engenhoca, à televisão do quarto do garoto.
– Diversos pontos turísticos da cidade de San Antonio foram aproveitados pelo diretor, tais como o Museu do Alamo e o River Walk, onde foi realizada a cena do passeio de barco em que Davey foge dos bandidos. Essa atração, aliás, funciona até hoje na cidade.
William Forsythe, que fez o amigo nerd do garoto, interpretou Al Capone na nova versão da série “Os Intocáveis”, a de 1993.
– “Cloak and Dagger” também é uma linha de quadrinhos da Marvel Comics, mas que não tem nada a ver com o filme. Por aqui, os heróis são conhecidos como Manto e Adaga.
– Henry Thomas, hoje com 33 anos de idade, está casado pela segunda vez, com a atriz alemã Marie Zielcke, e tem um filho. Voltou à ativa e tem participado de diversas produções. Hoje atua em uma minissérie baseada no livro Desespero, de Stephen King.
– Pode-se dizer que o filme foi o pioneiro ao retratar espiões mirins, fato que ficou comum dos anos noventa para cá. As aventuras de Davey aconteceram bem antes e foram bem mais reais que as retratadas nos filmes da série Pequenos Espiões.
– Há uma produção de 1964 cujo nome também é “Cloak and Dagger”, que ficou conhecida no Brasil como O Grande Segredo. Foi estrelada por Gary Cooper.
Leia mais:
:: Conheça os filmes dos anos oitenta que se inspiraram nos games!
Aproveite também para relembrar LABIRINTO, outro filmaço dos anos 80!
|