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Então… é. É assim que começamos nossa crítica de hoje. Quer saber como se saiu a adaptação cinematográfica desse insano e supimpa livro do Douglas Adams? Pois bem. Vamos por partes.
*Srta.Ni se levanta, vai pegar uma xícara de chá e volta*
Uhm, agora estou melhor. Vou lhe dizer uma coisa: enfrentei carros, ônibus intermunicipais, ônibus urbanos, metrôs, trens, vans, submarinos e balões para conseguir assistir a esse filme, só pra escrever uma crítica para você, querido leitor d’A ARCA. Ok, mentira. Na verdade eu sou fã dos escritos de Douglas Adams e PRECISAVA ver esse filme antes de todo mundo, custasse o que custasse ^_^. E só fiz esse tour pelos sistemas públicos de transporte porque minha nave movida a improbabilidade estava… sem gasolina. Então, você me pergunta: “Valeu a pena?”. Aaaah, valeu! =D
Se você não leu o livro, é tempo de se redimir. A história é a seguinte: Arthur Dent (Martin Freeman, de Todo Mundo Quase Morto) é um inglês comum, que vive sua vida comum, em sua casa comum… que está prestes a ser demolida para dar espaço a uma rodovia. Se não bastasse esse fato, seu amigo Ford Prefect (Mos Def, um rapper que até não se sai tão mal na película) surge, lhe contando que, na verdade, ele é um extraterrestre e que a Terra será demolida dentro de poucos minutos, para dar espaço a uma rodovia hiperespacial. Felizmente, eles conseguem pegar uma caroninha em uma das naves dos “vogons demolidores” e então começam uma viagem pelo espaço, encontrando Trillian (Zooey Deschanel – terráquea por quem Arthur nutre sintomas de amor à primeira vista) e Zaphod (Sam Rockwell – o melhor! – Presidente da Galáxia e semi-meio-irmão de Ford). A história é basicamente essa. Adicione aí lindos momentos nonsense e de humor britânico e você tem um filme divertidíssimo. Só o bizarro coral de golfinhos cantando na primeira cena já diz tudo, e lembra bastante os números musicais do Monty Python.
Antes de falar o ponto negativo – que é REALMENTE negativo e quase afundou o filme – vamos pensar em suas coisas boas. Bem, “O Guia…” veio para lembrar um filão de filmes dos anos 80, que dificilmente são produzidos hoje em dia – feito pra crianças e adultos gostarem, sem muita pretensão para se tornar um épico cheio de computação gráfica e/ou temas complexos. Ou seja, sentado na poltrona do cinema você tem a sensação de estar assistindo à estréia de um clássico de qualidade da Sessão da Tarde, algo que será como um De Volta Para o Futuro, História Sem Fim ou Os Goonies pra criançada que acabou de nascer. É mágico. Aliás, não sei se foi de propósito, mas o próprio visual do filme está meio nostálgico: desde o figurino maluco e perfeito até o cenário, passando por vários ETs, que são muuuuito mais marionetes que computação gráfica. O que pode ser tosco para alguns, pra mim significa: Uaaaaaaaau!!! =D
“O Guia do Mochileiro das Galáxias”, antes de ser uma obra de ação ou ficção científica, é uma comédia. E as piadas são boas. Maaaas, vejamos: o filme é tão bom pra quem leu quanto pra quem não leu o livro. Mesmo. Mas talvez quem não leu goste ainda mais porque as piadas são novas para aqueles que nunca se aventuraram pelas linhas escritas por Adams. Outra coisa interessante são as piadas visuais: preste atenção nos detalhes e leia todas as placas que aparecem no filme, e divirta-se.
Ah, sim! Pra quem não sabe, é bom lembrar que o guia do mochileiro em si é um livrinho muito intrigante que é usado por viajantes da galáxia e funciona como uma enciclopédia, explicando coisas quando consultado. No filme, muitas das engraçadas explicações descritas no livro estão presentes, acompanhadas por animações tão engraçadas quanto. E, já que estamos falando de animação, palmas para os protagonistas versão bonecos em stop motion e para as transformações sofridas pela nave movida a improbabilidade infinita. Observação: mesmo que você assista à versão legendada, já vá para o cinema sabendo que o Guia é o único “personagem” dublado em português. Dizem que decidiram não legendar essas partes para que as letrinhas não carreguem ainda mais o visual das inserções do Guia, que já são cheias de animações e escritos. Portanto, se você pagou para ver legendado, e o narrador começar a falar em português, não entre em pânico. É apenas o José Wilker. Se ficou ruim? Olha, ruim não ficou, mas achei totalmente desnecessário. =) Não chega a incomodar, só é meio bizarrinho ouvir todos falando em inglês, e de repente surge uma voz em off português…
:: E TUDO ACABARÁ EM LÁGRIMAS
Tá bom. Já enrolei demais, agora chegou a hora da verdade. Em situações como essa não há como fugir das comparações livro versus filme. Então, respirem fundo, apertem os cintos, e voilà: ok, ok, ok, ok. Eu já disse e continuo dizendo: é pecado comparar livros a filmes, porque são mídias diferentes e blá blá blá. Ainda mais no caso do “Guia”, que já foi programa de rádio, de tv, quadrinhos, teatro e a Bélgica a quatro*, sempre mudando um pouquinho o enredo nesses diferentes meios. E, vou dizer, pra essas coisas sou uma fã muito inofensiva – até acho legal ver as adaptações que os roteiristas fazem. Mas.
Não era surpresa alguma que mudanças aconteceriam, claro. A seita do Humma Kavulla é um exemplo – e virou uma seqüência genial. O personagem do John Malkovich também, só que foi muito, terrivelmente, mal explorado. O causo é que eles mudaram. Bastante. E o que seguia um curso saudável de mudança, na última meia hora de filme descamba pra uma malvadeza sem tamanho – mas não só pros fãs. Pior: quem não leu o livro também vai ficar realmente constrangido com algumas soluções finais do roteiro.
Mas por que, oh Deus? Vamos lá: Trillian e Arthur, no original, não têm nada entre eles, além de (talvez!) uma “quedinha”. No livro, a moça mal fala, pra ser bem sincera. Mas, aqui, o relacionamento deles é parte da trama, e Trillian vira uma personagem muito mais importante (mais alguém aí também tem raiva do jeito que a Zooey Deschanel fala?!). O que mata é que esse “amor” deles dá razão a umas duas cenas sentimentalóides demais e deprimentes, no pior sentido da palavra: a da “arma” e a dos “ratos”. Quando assistir, você vai saber quais são, sem dúvida. E da cena dos ratos (sim, ela existe no livro, mas não termina de forma “sentimental”, de maneira alguma) até o final, não tem como ficar feliz com o que acontece…
A impressão que dá é que o diretor Garth Jennings, quando ia gravar o fim do “Guia…”, foi tirar umas férias e deixou sua sobrinha de 12 anos, apaixonada, tomar conta da direção. Aí, meus amiguinhos, ferrou tudo. Se não quiser presenciar o horror, assim que a cena do banquete começar, pegue sua toalha e saia correndo da sala, de preferência gritando “eles estão chegando!!!”. É a coisa mais sensata a se fazer, embora o El Cid tenha me dito que os créditos finais são legaizins – coisa que eu não sei dizer, já que minha revolta era grande e não esperei pra ver os créditos até o final.
E, para acabar: apesar de o filme terminar querendo puxar um gancho para uma possível continuação (o segundo livro da série chama-se O Restaurante no Fim do Universo), se houver uma seqüência vai ser ainda mais bagunçada em relação ao original, dadas as mudanças catastróficas do primeiro. E a última frase do doce robô deprimido Marvin não tem nada a ver com o sentido usado para o “fim do Universo” de Douglas Adams. Tsc tsc tsc.
E o saldo geral? Apesar desses pesares, continuo afirmando: é um filme divertidíssimo, mágico e “maior” legal. E, convenhamos, até mesmo o maravilhoso Episódio III contou com algumas cenas meio toscas: uma delas me fez até pensar em mudar meu apelido n’A ARCA para Srta. NOOOOOOOO! – e outras cenas, patrocinadas pelo casal Anakin e Padmé. É o romantismo de novela atrapalhando nossos filmes preferidos. Não é que não tenho coração. É que tenho bom gosto. =)
*poucos sabem, mas Bélgica é um xingamento muito feio fora do Planeta Terra
:: CURIOSIDADES
– Marvin, o Andróide Paranóide é dublado por Alan Rickman, mais conhecido como o idolatrável Snape, e tem os movimentos de Warwick Davis, mais conhecido como o baixinho Professor Flitwick ou o fofinho Wicket.
– um simpático robô que insiste em aparecer várias vezes no departamento público dos vogons é ninguém menos que o Marvin da série antiga do “Mochileiro”, da década de 80!
– outra referência aos saudosistas dessa série é a música que toca na “segunda” abertura do filme (a que não é cantada pelos golfinhos).
– mais uma referência: a caixa de cereais de Zaphod apareceu em um dos episódios da série antiga.
– durante os vários anos de enrolação para que as filmagens começassem, vários atores foram cogitados para viverem os protagonistas. Para o papel de Ford Prefect, foram os atores Bill Murray e Dan Ayckroyd. Jim Carrey, Will Ferrell e novamente Bill Murray podiam ter ganhado o papel de Zaphod Beeblebrox. Mas Sam Rockwell se saiu muuuuito bem!
– dá para ver a logomarca da Apple em um canto do computador Pensador Profundo.
– se você tiver um óculos 3D em algum lugar da sua casa, leve para o cinema quando for ver “Mochileiro das Galáxias”. Na hilária cena do “secretário eletrônico” de Magrathea pode ser divertido colocá-los. ^_^ E o cidadão que interpreta esse secretário é o ator que fazia Arthur Dent na série da BBC de 1981.
– em um dos próximos livros é explicado o pensamento do vaso de petúnias.
E a lição de hoje foi: vá ao cinema e divirta-se bastante. Daí, se quiser rir sem ser importunado por declarações de amor dignas de filmes com cachorrinhos (!), uma boa dica é comprar o livro logo depois que sair da sessão. =)
Misericórdia. Essa crítica está do tamanho das críticas do Zarko. Já chega. Agora vá, corra por aí e divirta-se. Mas não esqueça de sua toalha.
O Guia do Mochileiro das Galáxias (Título original: The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy) / Ano: 2005 / Produção: ING/EUA / Direção: Garth Jennings / Elenco: Martin Freeman, Sam Rockwell, Mos Def, Warwick Davis, Alan Rickman, Zooey Deschanel, Bill Nighy, John Malkovich
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