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Quando o notório Quentin Tarantino lançou seu Pulp Fiction: Tempo de Violência em 1994 e fez história, todo mundo queria ser igual a ele. E quando foi divulgado, neste mesmo ano, que o próximo projeto do cineasta seria a adaptação de Ponche de Rum, a deliciosa pulp escrita pelo renomado autor americano Elmore Leonard, todos trataram de escolher livros do cara e rodar suas versões o mais rápido possível. Já que Tarantino estava na moda, nada melhor do que pegar carona na cauda do cometa, certo? Enfim, o mala Steven Soderbergh apresentou o divertido Irresistível Paixão (Out of Sight), o polêmico Paul Schrader rodou o bacaninha Caindo em Tentação (Touch) e o próprio Tarantino finalmente mostrou ao mundo o controverso Jackie Brown, não exatamente uma adaptação, mas uma variação de “Ponche de Rum”. Antes de todos estes, porém, Barry Sonnenfeld entregou voando o primeiro longa da onda Elmore Leonard: O Nome do Jogo (Get Shorty), em 1995.
Minha opinião? Fraco. “O Nome do Jogo” soou pra mim como uma tentativa desesperada de transformar o estilo narrativo de Tarantino num subgênero dentro do conceito policial. A história do gângster Chili Palmer, um cobrador da máfia com uma atração irresistível para as artes (!?!), pareceu não se adequar tanto assim ao universo do cinema. E olhem que os produtores usaram até um “ator de Tarantino”, um ressuscitado John Travolta para viver o personagem! Isso porque a primeira escolha da MGM para dirigir “O Nome do Jogo” era o próprio diretor de “Pulp Fiction”… Enfim, a fita fez um relativo sucesso – custou US$ 30 milhões e rendeu US$ 72 milhões só nos States – e abriu as portas para que o nome de Elmore Leonard fosse terrivelmente desgastado no cinemão americano (como sempre acontece, né?). E parece que esta sexta-feira, 15 de Abril, é o dia das continuações tardias! Eis que, dez aninhos depois, finalmente estréia em circuito comercial Be Cool – O Outro Nome do Jogo (Be Cool, 2005). Na direção, sai Sonnenfeld e entra F. Gary Gray (de O Negociador e Uma Saída de Mestre).
Em “Get Shorty”, o longa-metragem anterior, Chili Palmer queria se tornar um grande produtor de cinema de qualquer jeito – usando, para isso, seus métodos pouco convencionais… Agora, o universo é outro: Palmer está cansado e iludido com a meca cinematográfica, depois de ter sido forçado a rodar uma desnecessária continuação (!!!) para o maior sucesso de seu “pupilo”, o bisonho Martin Weir (Danny DeVito, repetindo seu papel do primeiro longa). A ironia já começa logo na primeira fala, quando Palmer dispara: “Odeio seqüências!”. Hehehe… entenderam a ligação? Dãããã! 😀
Depois que um amigo e produtor musical (James Woods numa rápida aparição, mas ainda assim muito bacana) morre durante um almoço, Palmer descobre que sua viúva, a bela Edie (Uma Thurman), herdou um estúdio e pretende tocar os negócios do marido. Com isto, Palmer decide abandonar a carreira de produtor cinematográfico e investir neste novo filão: a pop music americana. De quebra, ele tentará ganhar o coração da moça e também lançar uma nova diva rapper, Linda Moon (Christina Milian). O problema é que, no caminho, Palmer acabará cruzando com a Máfia russa e um grupo de rappers assassinos e, como sempre, tentará resolver as coisas a seu modo…
O enredo é isso aí, esticado em duas horas cravadas. Como pode-se ver, é uma bobagem. Ainda assim, o diretor F. Gary Gray, visivelmente mais fraco que Barry Sonnenfeld, conseguiu realizar um longa que funciona até melhor que seu antecessor – o que não significa que “Be Cool” seja bom. Se “Get Shorty” apresentava uma história bacaninha porém cansativa, “Be Cool” tem na história o seu fraco, mas sustenta-se na bizarra galeria de personagens desenvolvidos pelo roteiro de Peter Steinfeld (do descartável A Máfia Volta ao Divã). Enquanto John Travolta e Uma Thurman não conseguem repetir a fantástica química de “Pulp Fiction” e deixam a desejar – aliás, Thurman comprova que só se sai bem quando dirigida pelo próprio Tarantino -, somos presenteados com hilariantes e descompromissadas atuações dos atores que assumem os personagens secundários, que incluem o desprezível gerente musical Nick Carr (Harvey Keitel), o produtor de rap Sin LaSalle (Cedric The Entertainer), o assassino Joe Loop (Robert Pastorelli) e o imbecil líder da gangue rapper Dabu (André Benjamin, mais conhecido como André 3000, da dupla Outkast).
Só pra ter uma idéia de como o negócio é tosco, até o Steven Tyler, o cabeça e boca (principalmente boca) do Aerosmith, está no elenco – e satirizando a si mesmo num papel até importante. Olha a frase que o cara solta: “Vejam, não sou apenas um destes cantores que aparecem em filmes!”. Mais sarcástico, impossível. Pelo menos Steven Tyler não interpreta um duende do Papai Noel desta vez… Ugh! 😛
No entanto, se há algum elemento que realmente justifique o preço do ingresso, este elemento tem nome. Ou melhor, dois nomes: Vince Vaughn e Dwayne Johnson, mais conhecido como The Rock. Vaughn, que interpreta Raji, um mafioso nojento que acredita fielmente ser negro (!), está num de seus melhores dias e explica tranqüilo porque anda tão em alta hoje em dia. O caso mais impressionante é o de The Rock, que revela um ótimo timing para a comédia e transforma seu Elliot – guarda-costas gay, namorado de Raji e aspirante a ator – no personagem mais divertido da fita toda! Disparado, é a melhor sacada do filme. Quando The Rock e Vince Vaughn estão juntos em cena, então, é de fazer o espectador usar fraldinha, pra não molhar as calças de tanto rir. 😛
Então “Be Cool” vale a pena? Em partes. Algumas atuações, sim, são divertidíssimas. Mas o clima totalmente “MTV gringa” incomoda bastante. Se você é como eu e não consegue suportar três minutos sequer daquelas “tentativas de música” e bandas de hip-hop norte-americanas, a produção não é a mais indicada. O visual, as atuações e a estrutura do filme são tão MTV que quase torna o longa restrito aos fãs deste gênero musical. Neste ponto, “Be Cool” falha bonito: se a produção tencionava retratar os bastidores da indústria fonográfica com fidelidade, só conseguiu mesmo abranger o universo rapper, e as duas horas de projeção, para quem não é chegado, se transformarão numa eternidade. Mas o problema maior ainda é o fator Quentin Tarantino: a direção de F. Gary Gray sofre uma terrível influência do diretor de Kill Bill, e esta influência está impregnada em cada fotograma. Tanto que Travolta e Thurman até protagonizam uma cena de dança! Se “Be Cool” não fosse tão preocupado em ser “o novo Pulp Fiction”, certamente seria muito mais engraçado.
Pra resumir, é um trabalho bacana que até vale o ingresso, caso você esteja MUUUUITO desesperado pra assistir. Se você não deixará de viver caso não assista, então é melhor economizar o dinheiro do ingresso! Bem, eu dei algumas risadas… Mas ainda prefiro o Tarantino original! Nada de pirataria, moçada! 😛
:: ALGUMAS CURIOSIDADES
– “Be Cool” foi o último filme do ator Robert Pastorelli (de Queima de Arquivo), que faleceu em Março de 2004, vítima de overdose.
– A idéia de convidar Uma Thurman para estrelar a fita veio do próprio John Travolta. O ator tinha intenção de “recriar” o clima de “Pulp Fiction”. Só a intenção, mesmo…
– Originalmente, “Be Cool” foi oferecido a Brett Ratner (Dragão Vermelho, Ladrão de Diamantes), que desistiu de dirigi-lo por razões não esclarecidas.
– Outro que foi convidado a participar do longa, mas recusou misteriosamente, foi o meio sumidão Joe Pesci (Cassino). Na verdade, Pesci não aparece nas telonas desde 1998, quando rodou Máquina Mortífera 4; de 1998 até hoje, o ator só participou de um documentário em homenagem a Robert DeNiro e um tardio Making Of do clássico Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese.
BE COOL – O OUTRO NOME DO JOGO (Be Cool) :: EUA :: 2005
direção de F. Gary Gray :: roteiro de Peter Steinfeld :: inspirado no livro de Elmore Leonard :: com John Travolta, Uma Thurman, Vince Vaughn, The Rock, Cedric The Entertainer, Christina Milian, Andre 3000, Harvey Keitel, Danny DeVito, Steven Tyler, James Woods, Seth Green :: distribuição 20th Century Fox :: 118 minutos.
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