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Artigo adicionado em 07/03/2005, às 03:50

SHE-NERDS
Sim, porque nós existimos! Nada melhor para homenagear o dia da mulher do que fazer uma matéria sobre nós, as tão almejadas e ao mesmo tempo tão ignoradas, as she-nerds. =) Eu particularmente não simpatizo muito com esse termo she-nerds, que faz uma divisão meio sexista demais em um universo tão abrangente quanto a “tribo” […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Nada melhor para homenagear o dia da mulher do que fazer uma matéria sobre nós, as tão almejadas e ao mesmo tempo tão ignoradas, as she-nerds. =) Eu particularmente não simpatizo muito com esse termo she-nerds, que faz uma divisão meio sexista demais em um universo tão abrangente quanto a “tribo” (o que acham? Podemos chamar de tribo?) dos nerds. Pra mim, nerd é nerd, seja homem ou mulher, não precisa desse maldito she na frente para separar. Mesmo assim, foi em nossa homenagem que A ARCA preparou esse artigo, e para, quem sabe, fazer com que os nerds tentem entender um pouco a versão feminina desse modo de vida tão monopolizado pelos homens. Para isso, saímos em busca de outras garotas nerds, para nos ajudar com suas preciosas opiniões. Claro que a Vivi Griswold, uma das moças declaradamente nerds que estão por trás do Garotas que Dizem Ni, um site freqüentadíssimo por meninas “de conteúdo”, não podia deixar de dar sua contribuição para a matéria.

Certa vez, em um desses vários fóruns virtuais que têm por aí, vi um nerd dizer, deprimido, que she-nerds são como uma lenda urbana: todo mundo conhece um amigo que conhece, mas ninguém nunca realmente viu uma. Pois isso é um tanto quanto errado! “Eu conheço muita menina nerd. Muita mesmo. Minhas companheiras de site, por exemplo, são totalmente nerds. Minha irmã também é. E, quando eu escrevi este texto recebi muitos e-mails e mensagens de garotas que se identificaram na hora”, declarou Vivi. Meninas nerds existem, e não são assim tão poucas – a única diferença é que muitas delas não andam em bandos, e, como não são em número muito elevado, fazem amizade com meninas não-nerds, ao contrário dos exemplares do sexo masculino, que costumam se juntar em bandos quase exclusivamente compostos por nerds. Essas meninas às vezes conseguem se aproximar de um desses grupos fechados que se concentram em volta dos quiosques da Devir e fazem amizade com eles. Geralmente, as she-nerds têm muito mais amigos homens que mulheres, por causa dos interesses em comum. A Elise, de 21 anos, fã de quadrinhos e visitante d’A ARCA é um exemplo: sempre recorre aos seus amigos homens quando vai falar sobre gibis e afins. Mas a recíproca nem sempre é verdadeira, já que o mercado nerd é voltado ao público masculino, e por isso atrai menos a mulherada.

Ou vai dizer que não é voltado para o mercado masculino? Por que as heroínas e as vilãs de quadrinhos são necessariamente todas bonitas e “gostosas”? Ou, mesmo quando são legais e engraçadas, têm sempre que ser sensuais como a Niele, de Holy Avenger, por exemplo? Felizmente, de uns tempos pra cá isso está mudando, mesmo que lentamente, e, enquanto isso acontece, as she-nerds começaram a sair do armário e lutam pelos seus direitos. “É uma coisa difícil mesmo. Não dá para lutar contra um estereótipo tão sólido na nossa sociedade desde sempre. Por isso que eu acho que uma das maiores heroínas nerds em quadrinhos é a Morte, do Sandman. Ela é cool, na dela, super blasè. Temos outras representantes fora dos quadrinhos, como a Velma do Scooby-Doo e a Daria. Também a Emily. E todas as personagens da Molly Ringwald“, diz Vivi. A Elise não tem nada tão grave contra isso: “essa imagem da mulher nos quadrinhos só reflete a imagem da mulher na mídia. Comercial de cerveja é isso… As pessoas se tornaram objetos. Mas sempre teve mulher ‘gostosona’ no mundo do HQ, desde os tempos da Betty Boop. Eu não tenho nada contra, só depende do enfoque”.

Antes de mais nada, vamos relembrar aqui o que é ser nerd. A ARCA, em parceria com o Judão, fez a campanha Eu sou nerd, e daí? – aqui, você pode entender melhor essa idéia, e não confundir a palavra nerd com pessoas de óculos fundo de garrafa, que vivem trancafiadas dentro de casa e se comunicam só com ratos de laboratório. Para que não haja dúvidas, um nerd ou uma she-nerd podem ter qualquer tipo de personalidade e comportamento social, mas, sem pensar duas vezes, trocam uma noite na balada mais popular da cidade por uma visita àquela gibiteca bacana (alguém aí conhece a Gibiteca do Sesi, na Paulista? É muito boa) ou uma partida de RPG. Mas ele pode ir a baladas, pode gostar de funk, pode odiar estudar sim. Desde que goste desses apetrechos nerds mencionados na campanha, é recebido de braços abertos – só não tente cantar funk em uma convenção muito cheia, pode ser perigoso.

Apesar de toda essa felicidade, o termo “nerd” não deixa de ser uma espécie de rótulo. A Elise é uma das meninas que não é assim tão fã dessa nomeação. “Gosto de coisas nerds desde pequena. Os gibis, os óculos, o computador… Essas coisas não enganam! Mas na realidade, eu não curto muito rótulos. Nunca me rotulei nerd, mesmo fazendo um monte de coisas nerds. Não sou só nerd. Todo mundo é um monte de outras coisas – indie, meio dark, de tudo um pouco, senão fica chato!”

Rótulo ou não, a verdade é que a imagem mais “rotulada” ainda que tínhamos, daquele nerd perdedor e sem vida social está perdendo força há um tempinho. “Com a Internet, campo onde os nerds se dão bem, caiu aquele estereótipo de que uma pessoa nerd é aquela que só gosta de estudar, não se dá bem com o sexo oposto (ou o mesmo, dependendo da orientação ;-)), vive enclausurado jogando RPG. Agora, ser nerd está na moda e quer dizer mais ser cool do que algo ruim. Por isso, chegou a hora dos nerds saírem do armário e não terem vergonha de serem o que são. Nunca se teve tanta feira de quadrinhos, a cultura pop nunca esteve tão ao alcance como agora. Eu me declaro nerd, mas isso é fácil porque todos os meus amigos e amigas são também!” , disse a senhorita Griswold. E sobre a incrível aceitação do “ser nerd” que está acontecendo cada vez mais entre as meninas mais novas, ela completa: “A gente que tem mais de 20 anos passou uma fase braba na escola. Talvez hoje essa diferença de ‘classe’ não seja mais tão acentuada. Talvez hoje os nerds estejam mais integrados por serem bons de computação, sei lá. Por um lado, é bom. Por outro, os ‘novos’ nerds ficam sem sentir na pele o que é ser um nerd na escola”.

:: AH MEU DEUS… ENTÃO EU SOU NERD?

Todas nós um dia paramos, olhamos ao redor e notamos que alguma coisa estava errada. Mesmo que gostemos de ir ao shopping, nossos caminhos são um pouco diferentes dos trilhados por garotas não-nerds nos corredores dos grandes centros de compra. Quando, certa vez, parei para olhar, muito naturalmente, uma loja de brinquedos, e minha amiga disse assustada “Mas isso é loja de crianças!”, eu decidi assumir de uma vez por todas minha verve nerd, que até hoje volta para me assombrar. Cada uma tem sua história. A Carol, por exemplo, negava até a morte o nome de nerd. Ela é fã do Homem Aranha, mora em Belo Horizonte, tem 15 anos (sim, existem she-nerds menores de 20 anos, e que não são necessariamente otakus viciadas) e hoje faz parte da comunidade She-Nerds Brasil no Orkut. “Então, eu comecei a ver umas tribos por aí… e vi que não queria ser de nenhuma delas, a não ser da nerd. Foi aí que descobri que ser nerd é muito bom, e assumir é melhor ainda”. – diz. E, como toda pessoa inteligente – é, modestamente, she-nerds são inteligentes na maioria das vezes – todas nós pesquisamos muito bem sobre o significado da palavra para podermos usar essa alcunha da forma certa.

Mas, depois de toda essa enrolação, uma das melhores definições para um nerd, e eu me encaixo completamente nessa, é a que a mesma Carol falou: “eu me sinto bem no meio dos nerds”. E pronto, não precisa dizer mais nada. Para isso, no mínimo você deve gostar da maioria das coisas que eles gostam, ou não vai entender nada do que se passa em suas conversas, recheadas de referências obscuras da cultura pop. Só para citar um exemplo da falta de repertório em um dos universos admirados pelos nerds, eu e o Zarko, que estamos longe de ser os fãs mais ardorosos de quadrinhos, sofremos uma grande falta de compreensão em muitos dos assuntos quando todo o pessoal d’A ARCA se reúne. =D E a diferença entre assuntos é um dos pontos negativos – ou positivos e engraçados, dependendo do ponto de vista de quem vê – de ser uma única she-nerd perdida em um grupo de garotos nerds. Mais cedo ou mais tarde, o assunto “varonil” vai surgir. Quantas vezes não ouço um “Srta.Ni (não, eles não me chamam de Srta.Ni, mas não vou revelar minha identidade secreta aqui ^^), tape os ouvidos agora” nas reuniões dos nerds d’A ARCA, quando eles vão fazer comentários “porcos chauvinistas” – para usar as palavras do nobre R.Pichuebas – não muito adequados aos ouvidos de uma donzela. E, nos jogos de RPG, as she-nerds sofrem com a falta de mulher no jogo. Se quem está mestrando não for seu amigão, dificilmente você escapa de um episódio constrangedor. É ou não é?

Vale lembrar que as meninas nerds não são melhores do que ninguém. Já vi uns manifestos por aí que dizem que she-nerds são perfeitas, não demoram para se arrumar, não são frescas, não brigam com os namorados… Ora, vamos! Ninguém é perfeita, mesmo que goste de Sin City ou saiba todas as falas dos filmes do Monty Python de cor. A diferença essencial entre uma she-nerd e uma menina “comum” – coloquei entre aspas porque esse termo é um tanto quanto vago – é que a gente gosta de coisas nerds, e pode passar horas a fio comentando sobre aquele filme desconhecido que só você viu. E pára por aí. Nada mais mágico ou grandioso. Mas “gostar de coisas nerds” já é um grande passo, não? Por isso, she-nerds normalmente dão preferência aos meninos nerds. E não achem que só vocês é que ficam a ver navios sonhando com uma japonesa colegial que queira entrar no seu grupo de RPG, não. She-nerds também são tímidas e têm os mesmos problemas “matrimoniais” que os senhores, apesar de o mercado ser menos concorrido. ^_^ É o que gera conversas como a que tive com a já mencionada Carol. Depois de ela ter declarado que nerds não gostam de she-nerds, eu disse: “Mas não sei não, conheço alguns nerds que sonham com uma she-nerd só pra eles…”. “Então me apresenta!”, disse ela. Ao que a Srta.Ni responde: “eu não, antes tenho que me apresentar pra eles!”. Nisso, ela resumiu: “tudo bem, ainda imagino um nerd vindo ao meu encontro com um notebook branco…”.

Quantas vezes não vi nerds reclamando da vida e dizendo que não existem meninas que gostam de sua coleção de bonecos ou que entendam que, às vezes, eles gostam de jogar RPG… Também, pudera! Os ditos-cujos só gostam de garotas orientais. E falo com conhecimento de causa. Não adianta nada você ser o único espécime feminino a adentrar em uma loja repleta de nerds, que ninguém vai falar com você. Agora, se a she-nerd for oriental, as chances de receber atenção aumentam consideravelmente. Além disso, outra preferência “nacional” são as patricinhas. A Carol não deixou de exprimir sua revolta: “ou os nerds não estão nem aí para mulheres, ou ficam babando pelas patricinhas. Elas nunca querem ficar com eles e eles nunca aprendem”. Bem eu conheço dois casos de patricinhas que aceitaram namorar com eles sim, mas os pobres nerds tentam, sem sucesso, fazer com que elas aprendam a jogar RPG ou gostem de festas medievais cheias de gente fantasiada. É muito divertido acompanhar esse processo.

Então, sem churumelas. Se você for alguém com um mínimo de humanidade em seu coração gelado, mesmo que seja tímido até a morte – coisa que todos reclamam ser – certamente uma she-nerd vai acabar indo com a sua cara. “Você ganha um menino nerd na hora se gostar das coisas que ele gosta, e vice-versa. E não precisa ser de tudo, basta uma banda obscura em comum e pronto. A primeira vez que meu marido falou comigo foi para elogiar a capa do meu fichário na faculdade, que era feita só de reproduções de todos os singles da banda The Smiths. Tem coisa mais nerd que isso? (talvez sim, levar fichário para faculdade…)” – comentou a Garota que Diz Ni. Dúvidas? Nossas consultoras deram suas opiniões: “demonstrar interesse já é um grande passo, porque a maioria deles espera que você descubra por telepatia. Tem que ser gentil com elas, mimá-las… mulheres, nerds ou não, gostam de ser mimadas” – essa foi a Carol. Elise também deu sua contribuição: “Acho bacana quando o cara é amigo, porque namorado tem que ser isso – bacana, amigo. Sem muita pegação no pé… e com muito quadrinho =)”! Já a Vivi é bem animadora: “a melhor coisa dos meninos nerds é que eles são sensíveis. Enquanto os outros gastam dinheiro comprando buquês de rosas, eles encantam por roubar uma margarida no quintal do vizinho de surpresa. Eles sabem o nome das constelações, ou sabem a música certa para cada ocasião, ou sabem até ajudar a garota a montar o template do blog. Com jeitinho, eles sempre conseguem o que querem, se estiverem ao lado de uma menina que saiba apreciar”.

Mais e mais pessoas estão aderindo ao movimento nerd… mas não podemos esquecer que tanto ser nerd, quanto ser bissexual ou gótico não é sinônimo de ser cool, legal e descolado, apesar de parecer ser essa a verdade pregada em todos os cantos dessa boa e nova internet. Sinônimo de ser “cool, legal e descolado” é escolher seu próprio estilo, seja ele alternativo ou não. E, se calhar de você decidir libertar de vez a she-nerd ou o nerd que existe dentro de você, aquele que adora fazer cosplay e visitar lojinhas de HQs e colecionáveis, tanto melhor – só não faça disso um status, que aí já é uma baita falta de criatividade =D.


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