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Ao término do séc. XXI, a Terra foi tão judiada e devastada por guerras atômicas que um dos únicos locais habitáveis do globo está onde outrora foram os Estados Unidos da América. O deserto nuclear, local conhecido como “Cursed Earth”, passou a ser habitado por toda a sorte de monstruosidades mutantes, animais selvagens, alienígenas escravizados, robôs antiquados e pregadores religiosos fanáticos. A população poupada desse caos, por outro lado, concentra-se em verdadeiros oásis tecnológicos de metal, as Mega-Cities, gigantescas cidades fortificadas em que centenas de milhões de indivíduos sobrevivem da melhor forma que podem, empoleirados uns sobre os outros em uma sociedade violenta e extremamente competitiva.
Tal enredo, caro leitor d´A ARCA, é o plano de fundo das aventuras do personagem mais famoso dos quadrinhos britânicos, Juiz Dredd, cuja estréia aconteceu, em 1977, nas páginas da revista 2000 A.D. Um enredo peculiar que, moldado aos poucos, tornou-se complexo e extremamente detalhado.
Que tal conhecer esse anti-herói inglês, amigos? Mas preparem-se, pois podem levar borracha se infringirem a lei!
:: AS MEGA-CITIES E OS JUÍZES – COMO TUDO COMEÇOU
A fim de conter a absurda violência que assombrava as grandes cidades do futuro (Mega-City One, Mega-City Two e Texas City), fruto de imenso desemprego, de ausência de perspectiva e de faltas de oportunidades em um mundo ultracompetitivo, a força policial comum se mostrou ineficaz. Era preciso um novo tipo de agente que fosse capaz de, com urgência, agir como policial, investigador, advogado, júri e juiz; todas as qualidades presentes à mesma pessoa. Então, os “Juízes”, como foram batizados, apareceram e paulatinamente tomaram a lei nas próprias mãos. Os crimes, portanto, passaram a ser resolvidos minutos após a captura dos respectivos delinqüentes, quase sempre aprisionados nos famosos Iso-Cubos. Caso mortalmente feridos, uma vez que nem mesmo o óbito poderia obstruir a justiça, os bandidos moribundos eram postos e “congelados” nos Crio-Cubos (câmaras criogênicas) para que pudessem ser salvos da morte, por meio de tecnologia futura, e conseqüentemente cumprissem suas penas. Como se pode observar, não havia tempo para o antigo processo de julgamento e condenação do séc. XX; tudo precisava ser resolvido na hora, imediatamente. O Juiz-Chefe, comandante supremo da corporação e poderoso que era, respondia apenas ao Presidente.
Outro dos fatores determinantes para a consolidação dos juízes aconteceu no fim do Séc. XXI, quando o último presidente dos E.U.A., Robert L. Booth, iniciou uma extensa guerra atômica que culminou com a destruição quase completa dos países da Ásia, da Europa e da África, além de dizimar boa parte das Américas e da Rússia. As Mega-Cities foram poupadas, graças a um sistema de defesa a laser recém-instalado, mas um enorme deserto nuclear acabou formado nos Estados Unidos; uma terra devastada conhecida popularmente como Cursed Earth (“Terra Amaldiçoada”). Em tal lugar, ausente de lei e de ordem, sobrevivem apenas as criaturas mutantes, alguns renegados da sociedade, poucos robôs e certos alienígenas escravizados; a escória do que um dia compôs a população de um país mais ou menos civilizado.
A reação não tardou: a opinião pública entrou em conflito contra o presidente Booth e uma guerra civil surgiu quando a população clamou aos juízes, os mantenedores da ordem, que assumissem o poder. A Batalha do Armageddon teve início; milhares de juízes e de Meca-Soldados (comandados pelo Presidente) morreram, e Booth acabou deposto. O Juiz-Chefe Solomon, então, deu a sentença por meio da qual o ex-presidente ficaria aprisionado em animação suspensa; confinado, por 100 anos, em uma câmara criogênica localizada no seguro Forte Knox. Os juízes, enfim, detiveram o poder supremo sob suas mãos e suplantaram a prévia democracia falida. Dentre milhares, Joe Dredd se destacou como o mais forte, impiedoso, temido, frio e violento.
:: DREDD: O IMPLACÁVEL
Dredd, como a grande maioria dos juízes em atividade no séc. XXII, foi clonado a partir da linhagem de outro homem-da-lei, o pioneiro Juiz-Chefe Fargo, no ano de 2066 (a clonagem passou a ser comum a partir do desenvolvimento de uma técnica especial de engenharia genética). Ele ingressou na Academia da Lei e se formou em 2079, honrosamente, como um dos cadetes mais brilhantes daquela escola. Auxiliado por Juiz Morphy, a quem teve como pai, Joe Dredd rapidamente galgou o patamar de juiz sênior, tornando-se a figura mais temida e respeitada de Mega-City One.
Um detalhe curioso: Dredd nunca retira seu capacete, sob hipótese alguma, e raramente pode ser visto sem seu uniforme. O mistério acerca do rosto do personagem é, de fato, uma das marcas registradas da série. Ele carrega consigo uma pistola especial feita sob medida, a Lawgiver, que dispara seis tipos de projéteis diferentes, e dispõe de uma enorme faca presa à bota. Seu meio de transporte é a Lawmaster Bike, uma espécie de motocicleta altamente manobrável, rápida (de 4 mil cilindradas!), cheia de munição e repleta de armamentos surpreendentes.
Embora sujeito às ordens do Juiz-Chefe, Dredd atua, não oficialmente, como o chefe-de-fato das ruas. Em Mega-City One, ele é a lei!
:: O ENREDO
Muitas das estórias das HQs de Judge Dredd retratam o dia-a-dia de Mega-City One, a cidade em que ele – efetivamente – atua, mostrando pequenos delitos e roubos sem muita importância. Noutros casos, porém, arcos de estórias magníficas afloram, como aquela em que enfrenta uma poderosa entidade de outra dimensão, Judge Death (“Juiz Morte”), ou quando entra em uma briga formidável contra um hábil lutador oriental renegado, Stan Lee. Fascinantes mesmo são os especiais da série, compostos de várias edições, tais como o épico The Cursed Earth. Em tal aventura, Dredd precisa deslocar-se até Mega-City Two, na antiga Costa Oeste americana, para levar uma vacina aos milhares de infectados daquela cidade, transformados em canibais humanos por uma praga misteriosa. O trajeto não pode ser feito pelo ar, como de costume, pois os aeroportos estão tomados por hordas de canibais adoentados. Dredd, então, precisa concluir a tarefa por terra, fato que o faz enfrentar, por milhas e milhas, as maiores esquisitices do deserto atômico. É sensacional!
Além da aventura, da ação e da violência, há um lado mais “cerebral” nas entrelinhas das histórias: a pitada de questionamento e de crítica social que, de maneira cômico-trágica, leva o leitor a questionar, consigo mesmo, algumas particularidades. Afinal, o que é justiça? Como ser justo? O que torna um indivíduo culpado? A culpa é o fim, o meio ou o começo? Quem julga os juízes? A culpa é dos cidadãos ou da vida caótica daquele futuro distópico? Na verdade, caro leitor, essas questões são postas num liquidificador imaginário em que ética, humanismo e maniqueísmo não são triturados em partes iguais, mas devem descer goela abaixo, de uma forma ou de outra. E, de maneira mais ou menos óbvia, Dredd é tão ou mais violento que os bandidos por ele perseguidos.
O fim justifica os meios?
:: OS CRIADORES
Judge Dredd foi inventado por várias mãos e aos poucos. Primeiro, o personagem foi esboçado pelo roteirista John Wagner e pelo cartunista Carlos Ezquerra em meados dos anos setenta. Depois, foi dilapidado por nomes como Alan Grant, Peter Harris, Pat Mills, Kevin Gosnell e Garth Ennis, que desenvolveram bastante o conceito dos juízes e as cidades pós-apocalípticas. A arte, por sua vez, esteve a cargo de desenhistas hoje famosos, tais como Mike McMahon, Ron Smith, Ian Gibson, Steve Dillon, Cam Kennedy, John Burns, John Higgins e Cliff Robinson, dentre outros. Porém, as mãos de Brian Bolland (Camelot 3000, Batman: A Piada Mortal) deram, com toque inconfundível, aquele ar especial ao personagem.
Os quadrinhos do Juiz apareceram, primeiramente, nas páginas da revista inglesa 2000 A.D. em 1977, mas logo foram publicados, na forma de tiras, pelo jornal Daily Star. Outras publicações dedicadas ao personagem são: 2000 A.D. Annual, Dan Dare Annual, Judge Dredd Annual, 2000 A.D. Sci-Fi Annual, Judge Dredd Special, bem como a HQ Judge Dredd publicada pela Marvel Comics nos E.U.A., embora não levada a sério pelos fãs ingleses. Ao longo dos anos foram publicados, também, alguns crossovers em que Dredd enfrenta criaturas e fica ao lado de heróis diversos: os Aliens e o Predador (ambos com argumento de John Wagner em pessoa), Batman, Lobo e até mesmo Wolverine. O material britânico, antigo e clássico, ainda é o que há de melhor e o que persiste no coração dos fãs.
No Brasil, a revista 2000 A.D. teve sua versão nacional, a Ano 2000, editada pela extinta Ebal de 1978 a 1980, totalizando dez edições. Bem depois, a Pandora Books lançou, em 2003, um material especial encadernado a respeito dos enredos clássicos do personagem: Os Juízes do Apocalipse e Os Punhos de Stan Lee, ambos facilmente encontrados em sebos de quadrinhos. Nos E.U.A. e na Inglaterra, as estórias estão sendo relançadas no formato TP (Trade Paperback), os quais, na verdade, são livros de capa dura e com encadernação de luxo. Pode-se achar, embora se desembolse um valor considerável pelo material, especiais como o já citado “The Cursed Earth”, além de títulos como The Apocalypse War, The Day the Law Died, The Judge Child Quest e tantos outros.
Filmes e séries de temática distópica podem não ser uma novidade nos dias de hoje, concordo. Porém, na época em que a 2000 A.D. trazia as aventuras de Dredd, nem mesmo o primeiro filme da série “Mad Max” (em que a realidade pós-apocalíptica também é o tema) havia estreado. Pensem, por conseguinte, em como os idealizadores do Juiz foram criativos.
Vale a pena conhecer o mundo desse anti-herói tão interessante e único.
:: CURIOSIDADES
– Em 1995, lançou-se um longa-metragem, baseado nos quadrinhos de Dredd, estrelado por Sylvester Stallone. Apesar dos efeitos visuais bonitos, o enredo não foi fiel ao universo das HQs, fato que desagradou aos fãs. O fim da picada: ver o rosto de Stallone! Lembrem-se: Dredd nunca retira seu capacete.
– Os juízes são julgados por um destacamento especial, o SJS (Special Judicial Squad). Caso condenados, são levados a uma das luas do planeta Saturno, Titan, onde são obrigados a desempenhar trabalhos forçados de mineração em um ambiente hostil. Sentença padrão de vinte anos.
– Drokk: “Drokk”, palavra comumente vista nas estórias do Juiz Dredd, é, na verdade, um “xingamento” escolhido pelo pessoal da 2000 A.D. a fim de se evitar problemas com a censura da época, quando não se permitiam palavras de baixo calão nas HQs.
– Grud: Palavra de Mega-City One que significa Deus (“God”).
– No arco de estórias intitulado como “The Cursed Earth”, de 1978, observam-se dinossauros vivos em uma parte do deserto atômico. Na explicação a respeito de tais dinossauros, fala-se de clonagem de DNA, de reavivamento dos dinossauros extintos e de um parque em que as feras seriam expostas ao público. Onde você já viu isso, caro leitor?
– O processo de formação de juízes leva 15 longos anos nos quais os candidatos são treinados e testados à exaustão na Academia da Lei. Muitos não chegam ao objetivo desejado, pois são reprovados no teste final – uma ação real nas ruas de Mega-City.
– Frase épica de Dredd: “Noventa por cento dos cidadãos comuns ainda cometerão um crime em algum ponto de suas vidas“.
– Além dos juízes “comuns”, há os da Divisão PSI: indivíduos dotados de capacidade paranormal e de premonição. Eles trabalham em conjunto com os primeiros. A juíza Cassandra Anderson, vista originalmente no arco de estórias de Judge Death, é a mais famosa dentre eles.
– Em Mega-City One, milhões de indivíduos vivem empoleirados, uns sobre os outros, em pequenos espaços disponíveis para moradia: os Blocos (“Blocks”). Tais blocos, enormes edifícios dotados de áreas de convivência, são como pequenas cidades dentro da cidade principal, porém, seus moradores dispõem de um forte sentimento de bairrismo. Com tanta gente a sobreviver em espaços apertadíssimos, confusões e mal-entendidos são mais do que comuns. As mazelas geradas pela população causam, muitas vezes, o que se chama de Block War: blocos rivais iniciam guerrilhas, em um esquema bem bairrista e interiorano, e atacam-se mutuamente. Em 2103, a maior guerra desse tipo, batizada de Block Mania, aconteceu e envolveu milhares de moradores de Mega-City. A curiosidade dentro da curiosidade: os nomes dos blocos são dados em homenagem a algumas personalidades famosas, tais como Charlton Heston e Ricardo Montalban.
– Mega-City One entrou em guerra contra sua versão soviética, East-Meg One, mas foi salva – adivinhem por quem! É, a Guerra Fria mexia mesmo com o imaginário das pessoas naquela época.
– Dredd, embora implacável e violento, pode ser misericordioso. Não nutre sentimentos hostis em relação aos mutantes do deserto atômico, por exemplo.
– Como não poderia deixar de ser em um mundo capitalista, brinquedos, jogos de videogame, roupas, baralhos e muitas outras coisas baseadas no personagem foram lançadas.
– Recentemente, um jogo de videogame, Judge Dredd: Dredd Vs. Death, foi lançado para os consoles Xbox, Playstation 2 e Game Cube, e também para PC. O jogo é do tipo FPS (first-person shooter, estilo Doom) e nele se deve enfrentar, além de bandidos e criminosos comuns, vampiros oriundos de uma praga à solta, bem como os Juízes do Apocalipse.
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