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Artigo adicionado em 22/03/2005, às 12:28

Crítica: JOGO SUBTERRÂNEO
Se você embarcar no Metrô e sentir uma encoxada, não se preocupe: é só o Felipe Camargo! O complexo metroviário da cidade de São Paulo, inaugurado em 1974, possui quatro linhas (cinco em breve) e 702 trens que trafegam em 52 estações e funcionam 21 horas por dia; o Metrô cobre uma extensão de 57,6 […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


O complexo metroviário da cidade de São Paulo, inaugurado em 1974, possui quatro linhas (cinco em breve) e 702 trens que trafegam em 52 estações e funcionam 21 horas por dia; o Metrô cobre uma extensão de 57,6 km e transporta nada menos do que 2 milhões e 600 mil pessoas diariamente, sendo que, nos horários de pico, os trens recebem cerca de 60 mil passageiros por hora. O Metrô de São Paulo, o primeiro do país, é tido como um dos quatro mais importantes e bem-sucedidos do mundo inteiro. Pois é, quem reside na cidade ou já a visitou alguma vez sabe que, na prática, estes números parecem se multiplicar. O negócio é de louco mesmo! É gente pra dedéu. E o que pensar de um homem que passa o dia inteiro transitando de estação em estação, de vagão em vagão, à procura da mulher de sua vida, que ele nem mesmo sabe se existe?

Este louco de grade não é real (quer dizer, eu acho que não!): ele é o protagonista do mais novo longa-metragem brazuca a aportar nos cinemas, o bizarro Jogo Subterrâneo (Idem, 2004), cuja direção e co-autoria do roteiro são do sumido Roberto Gervitz – mais conhecido por seu trabalho no cultuado Feliz Ano Velho. O tal personagem em questão, Martín – um trintão-quase-quarentão que vive num hotel-muquifo e amarga um bico noturno como pianista em um bar -, acredita que este sistema caótico chamado Metrô serve justamente para unir, de uma maneira ou de outra, milhões de desconhecidos cada vez mais distantes uns dos outros. Para provar esta tese, Martín, vivido por Felipe Camargo (A Paixão de Jacobina), cria um jogo no minímo esquisito: todo dia, ele determina um trajeto nas linhas e baldeações do Metrô e, ao entrar no primeiro vagão, escolhe uma mulher e lhe dá um nome fictício; se esta mulher seguir o mesmo trajeto que ele bolou, por mais maluco que este seja, é um sinal de que ele deve se aproximar e tentar conquistá-la… Eu, hein! 😀

História insana, não? Pois é. O filme, então, nem se fala. Mas não se assuste: este é somente o ponto de partida. E o resultado final, por incrível que pareça, está muito à frente dos últimos trabalhos nacionais made in Globo Filmes, e quase chega ao patamar de um Nina da vida. E tudo isso porque não é uma “novela filmada”, e sim um verdadeiro “cinema”. Entretanto, para assistir ao filme numa boa, é necessário levar alguns itens em consideração: esqueçam o trailer, cuja estrutura dá a impressão de que o roteiro – escrito a quatro mãos por Gervitz e o chileno Jorge Durán (Nunca Fomos Tão Felizes) – trilha para alguma subtrama policial. Nada disso: o que temos aqui é um drama reservado que fala sobre solidão nas metrópoles, sonhos estraçalhados e, claro, a busca do amor e da felicidade. Outro ponto importante: “Jogo Subterrâneo” é meio parado. Ação mesmo, é pouca. Mas vale o preço do ingresso numa boa (se você não assistiu ao trailer, acesse o site oficial do filme e dê uma olhada).

Logo nas primeiras cenas da película, acompanhamos Martín em mais um dia de “busca”, digamos assim. Tudo corre como sempre: o cara segue alguma garota, ela muda de trajeto e ele desiste. Isso, quando não apanha das mais exaltadas – já que ele é tão discreto que qualquer uma percebe estar sendo seguida. Nos próximos dias, porém, quatro mulheres transformarão a vida de Martín numa confusão de sentimentos tão ou talvez até mais complexos do que os emaranhados das linhas do Metrô. As mulheres: Tânia (Daniela Escobar, de Vida de Menina), tatuadora e mãe-solteira que se apaixona perdidamente por Martín; sua filha pequena, Victoria (a talentosa atriz-mirim Thávyne Ferrari), menina autista que não se aproxima de ninguém, mas simpatiza com o cara por causa de sua música; e Laura – Júlia Lemmertz, que atuou em Acquária, o filme preferido do Benício (!) -, escritora cega que faz amizade com o pianista e ouve atentamente as histórias que o cara conta – na terceira pessoa – sobre sua própria vida. Pausa para um comentário: a maquiagem dela é excelente! Dá medo.

A quarta garota é também aquela que vira a vida de Martín de ponta-cabeça: a misteriosa Ana (Maria Luísa Mendonça, do ótimo Coração Iluminado). Só para se ter uma idéia da fria em que o homem pode estar se metendo, o primeiro encontro deles acontece quando Ana entra correndo na estação em que ele se encontra, provavelmente fugindo de algo – ou alguém. Martín se apaixona por Ana de maneira tão avassaladora que, quando ela não segue o mesmo trajeto que o seu, ele deixa de lado todas as regras do jogo; o que pode acarretar o início do processo de perda de sua própria sanidade…

Complexo? Não muito. Pra falar a verdade, o tratamento dado por Roberto Gervitz enquanto roteirista é o mais simples e direto possível; não há duplo sentido nos diálogos e nas interpretações. Até o obscuro passado de Ana não é tão espetacular assim – o que não o torna menos impactante do que é. Então ninguém pecisa se preocupar em dissecar detalhe por detalhe para entender o que se passa na cabeça de Martín ou qual será seu próximo passo. Outro ponto positivo é a escolha dos atores, com destaque para um silencioso, triste e surpreendente Felipe Camargo, ator que geralmente não sou chegado. Curioso como sua patética busca no Metrô faz todo o sentido do mundo, por mais que saibamos que o cara jamais conseguirá concluir seu jogo. E o Metrô… Bem, ele é quase um personagem, tamanha sua importância para a trama.

Por outro lado, a trilha sonora de Luiz Henrique Xavier (Uma Vida em Segredo) parece ter sido composta às pressas; algumas atuações estão um pouco forçadas, como no caso da pontinha da bela Maitê Proença; e quem conhece as estações do Metrô de São Paulo, notará alguns erros engraçadíssimos de continuidade. Estes erros incomodam, porém não chegam a atrapalhar o resultado final. Ao contrário: um trabalho tão bacana quanto este “Jogo Subterrâneo” deveria ser recebido pela platéia de braços abertos. Porque os nossos filmes andam tão cheios de favelas, bandidos, personagens-clichê e tramas de novela das oito, que dá até uma sensação de alívio assistir a uma fita que ouse fugir do padrão e seja consciente de que a platéia é formada de gente com cérebro, que sabe pensar. É o cinema brasileiro, mesmo com alguns percalços no caminho, cada vez mais próximo de alcançar seu porto seguro. Ou seu “porto desejado”. Não entendeu? Assista ao filme, que você entenderá. ;-D

E pelo amor de Deus, vamos concordar: qualquer fita apenas “boa”, pra gente já tá valendo… Ah, quer saber? Eu vou falar! “Jogo Subterrâneo” é uma prova concreta de que o problema não está no cinema nacional em si; alguns diretores e roteiristas é que são bem burrinhos e deveriam deixar de fazer filmes imediatamente! Vamos boicotar estes caras! Chega de filmecos meia-boca! Ahhhh, que revolta! Pronto, falei! 😛

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– “Jogo Subterrâneo” seria originalmente rodado em Buenos Aires, cidade que abriga o mais antigo Metrô da América Latina. Uma crise na Argentina, entretanto, afastou os associados do país.

– O longa foi rodado durante cerca de 70 dias. As cenas no Metrô de São Paulo foram rodadas de Julho a Agosto de 2003, sempre à noite.

– “Jogo Subterrâneo” é inspirado no conto Manuscrito Encontrado em um Bolso, de Julio Cortazár (1914-1984), publicado na coletânea Octaedro. O autor, nascido na Bélgica e naturalizado argentino, é considerado, ao lado de Gabriel García-Marquez e Vargas Llosa, um dos maiores escritores latino-americanos de todos os tempos; suas obras renderam inúmeros trabalhos para o cinema, dentre eles o clássico da liberação sexual Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966), do consagrado diretor Michelangelo Antonioni.

– Júlia Lemmertz e Maitê Proença são velhas amigas em se tratando de cinema: as duas já trabalharam juntas no divertido A Hora Mágica (1998), com direção de Guilherme de Almeida Prado e também inspirado num conto de Julio Cortazár.

– A Maria Luísa Mendonça é branca demais! Hehehe…

JOGO SUBTERRÂNEO (Idem) :: BRA :: 2004
direção de Roberto Gervitz :: roteiro de Roberto Gervitz, Jorge Durán e Francisco Ramalho Jr. :: baseado no conto “Manuscrito Encontrado em um Bolso”, de Julio Cortázar :: com Felipe Camargo, Maria Luísa Mendonça, Júlia Lemmertz, Daniela Escobar, Thávyne Ferrari, Sabrina Greve e participação especial de Maitê Proença :: distribuição Miravista/Buena Vista International :: 108 minutos.


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