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Artigo adicionado em 03/03/2005, às 07:04

Crítica: ESPANGLÊS
Ahn… Será que alguém poderia traduzir pra mim? Quem conhece o pequeno currículo de James L. Brooks como diretor, sabe que o cara é mais do que credenciado para falar de relações interpessoais. Afinal, o cineasta é responsável por trabalhos elogiadíssimos pela crítica, como Laços de Ternura (1983), Nos Bastidores da Notícia (1987) e, mais […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Quem conhece o pequeno currículo de James L. Brooks como diretor, sabe que o cara é mais do que credenciado para falar de relações interpessoais. Afinal, o cineasta é responsável por trabalhos elogiadíssimos pela crítica, como Laços de Ternura (1983), Nos Bastidores da Notícia (1987) e, mais recentemente, Melhor é Impossível (1997), que rendeu uma das melhores interpretações da carreira de Jack Nicholson. Os três são dramas intensos (mesmo que meio “light”, por assim dizer) e bem construídos, escondidos sob uma leve fachada de “filme de comédia”. O que o diferencia de outros diretores é exatamente o que termina por derrotá-lo: geralmente o público não vai muito com a cara de suas fitas, justamente por achar que molhará as calças de tanto rir durante a sessão. Coisa que não acontecerá de jeito nenhum.

Provavelmente é o que deve rolar com o mais novo trabalho do cineasta, Espanglês (Spanglish, 2004), já que o próprio preview dá a entender que estamos falando, afinal, de uma fita cômica. E a cara de bobo do glorioso Adam Sandler ajuda muito a construir esta forma de pensar. Aqueles que decidirem pagar ingresso para assistir “Espanglês” com esta linha de pensamento, se decepcionarão e muito. Alguns mais exaltados, inclusive, sentirão uma leve coceira para tacar fogo na sala de exibição. Vixe! Mas não se engane: sim, o filme é bacaninha, por mais que seja o mais fraco da carreira do diretor. É uma comédia? Não, porque você quase não ri. É um drama? Não, porque não chega ao extremo de tocar o coração das pessoas. É tudo junto? Pode até ser. Sinceramente, não sei. Hein? Quem, como, onde? 😀

Além de um retrato da população estrangeira vivendo nos EUA, a trama de “Espanglês” é uma metáfora sobre a falta de comunicação entre as pessoas, representadas por uma família de classe média alta em Los Angeles. Vamos às apresentações: o pai, John Clasky (Sandler), é um bem-sucedido chef de restaurante que não consegue conciliar a carreira de sucesso com a tragédia que é como marido. Bem, ele até que tenta falar, mas ninguém escuta; sua esposa, a falastrona designer de interiores Deborah (Téa Leoni), vive à beira de um colapso nervoso, parece não estar nem aí para o marido e não se interessa em ouvir nenhuma voz além da sua própria – e este comportamento anda gerando desconfianças; a filha mais velha do casal, Bernice (Sarah Steele), é carente de amor materno e sofre calada por não ser o modelo físico de filha que a mãe espera; o filho mais novo, Georgie (Ian Hyland)… Bem, este quase não aparece mesmo. E, por último, a mãe de Deborah, a ex-cantora de jazz Evelyn Wright (Cloris Leachman), passa os dias bebendo e observando a tudo e a todos em silêncio.

O caos parece tomar conta quando o clã recebe mais um integrante: a empregada Flor Moreno (Paz Vega). Anos antes, Flor fugiu do México, sua terra natal, em direção aos States com o objetivo de dar uma educação decente e uma vida melhor à sua única filha, a menina Cristina (Shelbie Bruce). Flor não fala a língua inglesa, e nem pretende aprender – já que mora numa comunidade hispânica, em que todos usam o mesmo idioma, e também porque Cristina é bilíngue, portanto faz às vezes de “tradutora” sempre que necessário. Quando Flor, sem emprego, aceita trabalhar para os Clasky durante horário comercial, se sente aliviada em só “hablar español”, uma vez que esta é uma maneira bem prática de se manter neutra à excêntrica família. Em pouco tempo, os Clasky e as Moreno passarão três meses sob o mesmo teto, a perfeita Cristina, cuja existência Flor escondia, terá conquistado o coração de Deborah, e John começará a sentir qualquer coisinha pela empregada… Ou seja: mesmo a contragosto, Flor acabará, de uma forma ou de outra, se envolvendo com o clã.

Como se pode ver, o enredo é até muito interessante. O resultado final, porém, é pouco satisfatório e dá uma sensação de vazio. O fator principal é a indefinição do roteiro – não dá pra sacar se é uma comédia, um drama ou tudo misturado e batido no liquidificador. Como se não bastasse, alguns ótimos personagens, como a própria Bernice, são jogados de lado e não recebem um tratamento adequado. Em compensação, o elenco central – em especial Adam Sandler (que já mostrou ser capaz de trabalhar bem seu lado dramático no bizarro Embriagado de Amor, de P. T. Anderson), Cloris Leachman (intérprete da esquisitíssima Frau Blucher no clássico O Jovem Frankenstein, de Mel Brooks) e a belíssima Paz Vega (de Lucía e o Sexo e O Outro Lado da Cama) – dá conta do recado numa boa e proporciona momentos bacanas, como por exemplo a discussão em duas línguas protagonizadas por John e Flor – e traduzida simultaneamente por Cristina (!).

Infelizmente, os pontos positivos de “Espanglês” não serão suficientes para despertar o interesse do público brazuca, que talvez não engula a bizarra narrativa da película. Em resumo, não é um trabalho à qual devemos ter medo, como ficou o El Cid, mas também não é nenhuma obra-prima. É só um filme menor na carreira de James L. Brooks, que até chega a valer o ingresso caso o espectador vá consciente do que irá assistir. E se ao final da sessão você não entender nada e sair com aquele pusta ponto de interrogação em cima da cabeça, peça pra alguém traduzir pra você. 😀

E se ainda assim sentir medo no seu coração, assista aqui 10 minutos do filme na faixa!

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– O papel de Evelyn seria originalmente interpretado por Anne Bancroft, que não pôde aceitar por razões não divulgadas.

– “Espanglês” foi filmado totalmente em seqüência, algo quase inédito no cinema americano. Novas cenas foram filmadas depois que os espectadores de uma exibição-teste massacraram o longa, acusando-o de ser “insatisfatório”.

– Os mais atentos pegarão pelo menos um hilário erro de continuidade: numa cena, Bernice abraça Flor. O detalhe é que a menina saíra da piscina há pouco, e encharca a roupa da mexicana. Alguns segundos depois, a roupa já está seca!

– Nos créditos finais, há uma linha que diz: “Nenhum ator foi maltratado nas filmagens deste filme”. Eu, hein…

ESPANGLÊS (Spanglish) :: EUA :: 2004
direção de James L. Brooks :: roteiro de James L. Brooks :: com Adam Sandler, Paz Vega, Téa Leoni, Cloris Leachman, Shelbie Bruce, Sarah Steele :: distribuição Columbia Pictures :: 130 minutos.


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