Chegou aos cinemas a versão carne e osso de Elektra, uma das personagens mais sexies e mortais dos quadrinhos. Apesar de estar com um pé atrás com o filme, ou melhor, com os dois pés, não estou aqui para ficar falando mal e sim fazer uma retrospectiva dos primeiros passos desta famosa personagem que surgiu da mente do então pensante Frank Miller – naquela época, ele nem pensava na continuação de Cavaleiro das Trevas – e arrasou o coração de um pobre cego vestido de demônio, se tornando um marco nas enciclopédias quadrinísticas.

:: MENINA COM FORTUNA E POBRE DE CORAÇÃO!

A jovem grega Elektra Natchios teve uma infância difícil. Apesar de toda a riqueza de seu poderoso pai, vivia num lar sem muitas alegrias. Elektra é filha do casal Hugo e Christina Natchios. Hugo era um poderoso embaixador, mas infeliz no casamento, já que sua esposa só desejava seu dinheiro e mantinha vários relacionamentos extra-conjugais. Uma destas traições deu um fruto, o bastardo Orestes, que foi adotado como filho por Hugo. Orestes se dedicou às artes marciais e alimentou grande admiração por seu pai adotivo. Mas se revoltou ao ver sua mãe continuando sua vida devassa e desprezando Hugo, que se entregou à bebida.

Orestes chegou ao seu limite: vendo sua mãe novamente grávida, contratou assassinos para dar fim nela. Estava tudo pronto: quando Christina passeava de iate, os assassinos atacaram, mas Orestes não sabia que seu pai estava junto. Hugo saiu ferido, mas Christina não teve a mesma sorte: baleada e grávida, deu a luz pouco antes de morrer nas mãos dos médicos, e assim nasceu Elektra Natchios. Orestes, não se perdoando em colocar a vida de Hugo em perigo, sai em fuga pelo mundo.

Elektra cresceu num lar triste e consumido pela tragédia, mas teve toda a dedicação de seu pai e empregados. Ao completar 9 anos, uma tentativa de seqüestro foi impedida pela intromissão de Orestes, que retornou no momento em que os bandidos surgiram. Depois disso, Orestes desapareceu de novo. A partir daí, Hugo contratou um Sensei para ensinar a Elektra todo tipo de arte marcial, para que ela pudesse crescer sabendo se defender. Ainda uma criança, Elektra virou uma guerreira prodígia, que conseguiu vencer seu próprio Sensei, que a mandou procurar Os Virtuosos.

:: NASCE UMA GUERREIRA NA NEVE

Os Virtuosos eram sete sábios e os maiores conhecedores das artes marciais que se isolaram do mundo numa montanha. Entre eles está o conhecido mentor do Demolidor, o Stick. Elektra foi à procura deles, querendo ser levada “aos limites das artes marciais”. Elektra quase morreu congelada no caminho e foi salva por Stick, sendo assim incluída como discípula e treinada pelos melhores do mundo. Elektra logo se tornou uma das melhores guerreiras que já passaram por lá, deixando até Os Virtuosos de boca aberta. Mas sua ganância por mais conhecimento e mais artes que a tornariam mortal para seus inimigos foi desaprovada. Ultrapassando os limites dados por seus mestres, Elektra foi expulsa da montanha.

Elektra voltou para seu pai, e foi à Nova York terminar seus estudo, interrompidos por sua busca pelas técnicas perfeitas. Elektra enfim conheceu o jovem estudante de direito Matt Murdock, e encontrou o amor em seu coração amargurado, que a fez até esquecer seu lado ninja. Mas como tudo na vida da mocinha não é fácil, o pai de Elektra, Hugo Natchios, é morto numa nova tentativa de seqüestro. Elektra enlouquece, desaparece da vida de Murdock e vai para as montanhas se exilar. Por sua sede de vingança, é expulsa novamente pelos Virtuosos.

Elektra então cedeu ao seu lado negro, conheceu vários ninjas, e seu novo amor, o maquiavélico Tekagi. A partir dele e de seus novos contatos, Elektra se associou à organização criminosa chamada Tentáculo. Se tornou uma fria assassina de aluguel, pronta para qualquer serviço, sem escrúpulos e sem escolhas. Chegando à sua idade adulta como uma pessoa já corrompida pelo mal e pelo poder adquirido por suas grandes capacidades de artes marciais, ela se tornou a melhor no que faz. Numa destas missões, Elektra se uniu a um agente andróide da SHIELD, John Garret, e impediu que um monstro disfarçado se tornasse o Presidente dos Estados Unidos.

:: O REENCONTRO DA ASSASSINA E DO DEMÔNIO

A fama de Elektra atravessou fronteiras. O Rei do Crime contratou Mercenário para acabar com o Demolidor, mas foi derrotado e preso pelo demônio. Assim, não demorou muito para que a fama da ninja chegasse aos ouvidos do Rei. Elektra foi contratada para matar o Demolidor, mas viu tudo desandar quando descobriu que o herói era, na verdade, seu único grande amor, Matt Murdock. Elektra cancelou o contrato e caiu nos braços de Demolidor. O Rei do Crime não aceitou muito bem isto, e recontratou o recém liberto Mercenário para dar fim à traidora.

Elektra começa a se libertar de seu lado negro, e seu romance meio conturbado começa a entrar nos trilhos, até que Mercenário reaparece. Este, que consegue usar qualquer coisa como arma, entra num grande combate com a ninja, até ela perder uma de suas sais (armas características da personagem) e a mesma ser usada pelo Mercenário para matá-la. Era o fim do grande romance entre os personagens e a morte da heroína. Depois disso, a personagem ficou um bom tempo longe das páginas dos quadrinhos. Mas como vocês sabem, nada na Marvel permanece morto por muito tempo, então…

:: CORPO MORTO COM ALMA ETERNA

A ninja estava em paz, até quando a Serpentária, um grupo de ninjas que manipulam magia negra, resolveram usar Elektra para aumentar as habilidade de sua guerreira, a Desmorta. No caso, eles deveriam pegar o corpo de Elektra e mandar a alma negra da Desmorta para seu corpo e assim conseguiram, contando com ajuda do Tentáculo. Mas, prevendo a situação, um dos Virtuosos, com a ajuda de Demolidor, consegue impedir que Elektra ressuscite com alma de outra mulher. Com o ritual pela metade, Elektra estava prestes a voltar à vida. Demolidor chorou ao ver o cadáver e desejou sua volta antes de desmaiar. Ao acordar, encontrou o local vazio. O Virtuoso levou o corpo de Elektra para as montanhas, percebendo que a mesma estava ressuscitando e foi purificada pelas lágrimas do herói.

A Serpentaria, não desistindo de ter sua Elektra, usa John Garret como fonte de lembranças da heroína, mas eles precisariam de um vírus. Demolidor entra em ação para impedir, e recebe a ajuda de sua amada Elektra. Durante o confronto, Elektra combate Desmorta, que contém todo o seu lado negro abandonado antes. Quando Elektra segura Desmorta para que o Demolidor dê o golpe final, ao atravessar o corpo da ninja com uma sai, atinge o peito de Elektra também, que recebe em seu corpo todo o mal expurgado antes. Agora ela carrega novamente seu lado assassino.

:: A NOVA FACE DE UMA ASSASSINA

Elektra tinha de novo todo seu sentido de assassina, mas resolveu usá-lo em outra direção: caçar a Serpentária. Acabou criando um clã para dar fim aos ninjas. A guerra contra os ninjas da magia negra não foi fácil: Elektra viu seus companheiros caírem um a um, e estava sozinha para dar fim na tradição da Serpentária. Acaba reencontrando seu antigo namorado, Tekagi, e o confronta. Elektra mata Tekagi e o líder do clã, acabando de vez com a maligna Serpentária. Desde então Elektra aceita alguns serviços e tem auxiliado Wolverine e Demolidor em algumas histórias.

:: LEITURA ACONSELHÁVEL

Eu, como fã de Frank Miller, achei que a grande saga de Elektra terminou quando ela ressuscitou e foi para as montanhas com os Virtuosos. Acabou ali, não levo em conta toda esta história de Desmorta sendo a Elektra má, de ela através da sai receber seu lado assassino de volta. Achei um grande desaforo para a grande personagem criada e bem elaborada por Frank Miller. Tanto que nada foi mais para frente depois disso: dois títulos cancelados, e atualmente fazendo aparições em minisséries e em versão Ultimate. Eu acho que devia ter parado por ali, mesma opinião dada por Miller, tanto que ele não faz nada para a Marvel depois de tais acontecimentos com sua personagem.

:: O FILME IRREAL?

O grande problema do filme que está em cartaz é que ele está bebendo muito da fonte das fases atuais de Elektra, quando deveria estar olhando um pouquinho mais para trás. Tudo bem, quer uma Elektra assassina? Deveria ter dado o aspecto à mesma. Apesar de adorar Jennifer Garner no papel, eu a achei carismática demais e até muito doce, distante da personagem de Miller. E o universo da personagem é bem rico; teríamos personagens mais interessantes e mais ligados à mitologia dela do que os que aparecem no filme. Este é o grande problema quando algo é “baseado”: às vezes há liberdade demais.

Mas vou tentar ver o filme de peito aberto e não ser influenciado pelas boas e velhas histórias de Frank Miller. Será difícil, vou ser sincero. Se o filme não levasse o nome de Elektra, poderia ser uma arrasa-quarteirão dos bons. Mas vamos lá, vamos experimentar, né! Vou tentar! Pior que o filme do Demolidor, com certeza não deve ser…