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Artigo adicionado em 09/12/2004, às 12:41

Crítica: ZATOICHI
Eu sempre tive queda por personagens cegos, então… Confesso que eu nem sabia o que esperar deste filme, já que nunca assisti nada que seu diretor, Takeshi Kitano havia feito antes. Porém, procurei saber quem era Kitano, li uma entrevista e vi um ou outro artigo. Tratado como como a “ovelha negra” do cinema japonês, […]

Por
Emílio "Elfo" Baraçal


Confesso que eu nem sabia o que esperar deste filme, já que nunca assisti nada que seu diretor, Takeshi Kitano havia feito antes. Porém, procurei saber quem era Kitano, li uma entrevista e vi um ou outro artigo. Tratado como como a “ovelha negra” do cinema japonês, talvez ele acabe merecendo ainda mais esse título depois deste filme. O tema, Japão feudal sempre me interessou e fui com uma dose de curiosidade. No começo, o filme já me deixou com a pulga atrás da orelha: a cópia estava legendada em inglês.

Zatoichi conta a história do personagem do mesmo nome, interpretado também por Kitano (que, ainda por cima, é responsável pelo roteiro), um nômade cego que vive como massagista. Entretanto, Zatoichi esconde, debaixo de sua cegueira, uma habilidade sobre-humana com a espada (que usa disfarçada de bengala). Em suas andanças, acaba indo parar numa vila dominada por gangues, onde o líder Ginzo (Ittoku Kishibe), passa por cima de qualquer um que pense em se rebelar. A situação se torna ainda mais crítica depois que ele consegue contratar o hábil e mortal ronin (samurai sem mestre) chamado Hattori Genosuke (Tadanobu Asano, ótimo no papel). Em uma noite de jogatina, Zatoichi acaba cruzando seu caminho com duas gueixas que buscam vingança pelo assassinato de sua família e acaba também interferindo nos negócios da gangue. A partir daí, as coisas vão se complicando cada vez mais e sangue espirra para todos os lados.

Por falar em sangue, quando eu escrevi acima que talvez Kitano seja tachado ainda mais de ovelha negra do cinema japonês, não seria pelos mesmos motivos que antes (valorização de outros costumes, crítica à ocidentalização total do Japão e outras coisas), mas pelo fato de um cineasta renomado como ele, influenciado pelas “escolas antigas” (como Akira Kurosawa, por exemplo), que usam técnicas mais tradicionais de filmagem, usar puro CG nas cenas de luta. Não, você não verá lutas ao estilo Matrix, Homem-Aranha e outros blockbusters americanos. O CG é usado apenas como auxílio das cenas, para causar um ou outro impacto desejado e não sobre a cena inteira. Aliás, as lutas são feitas à moda antiga, com fios, coreografia e tudo mais; sendo o CG puro temperinho. Porém, o CG ás vezes se torna perceptível demais, mas não a ponto de comprometer uma cena ou mesmo o filme inteiro.

Já sobre o clima do filme, eu penso nele como duas metades. Na primeira metade, você vai sendo apresentado aos personagens aos poucos, tentando imaginar como seus caminhos se cruzariam, o que significariam um para o outro e isso demora a acontecer de modo que você chega a pensar que pode não estar entendendo muita coisa ou que o filme não faça muito sentido. Porém, a partir da metade final, a coisa toda muda de figura. As coisas vão se encaixando com uma precisão incrível e o filme vai ficando cada vez mais delicioso de assistir. Além disso, os personagens do filme são extremamente simpáticos, principalmente Shinkichi (Gadarukanaru Taka, outro que dá um show de interpretação), um vagabundo viciado em jogo que acaba ajudando Zatoichi. É ele que protagoniza as cenas cômicas do filme, que são bem dosadas e muito engraçadas (principalmente a cena do “treino” de kenjutsu, muuuuuuuito hilária!). E cenas engraçadas não são nenhuma surpresa, já que Kitano começou sua carreira cênica como humorista. Ah, além disso, a cena de dança no final é simplesmente de cair o queixo, muito bem coreografada e belíssima de assistir.

Só um detalhe da história que eu me senti meio incomodado, talvez pelo fato de eu achar que, se fosse melhor desenvolvido, poderia resultar numa história ainda mais dramática: o tal ronin Hatttori é casado e não está conseguindo sustentar sua esposa, estando ambos à beira da falência total. Você até sente o desespero e o sofrimento dela, mas não o suficiente para se importar como deveria, pois as cenas com ela são muito poucas. Quando Hattori consegue o “emprego” na gangue de Ginzo, dá a impressão que as coisas podem melhorar quando na verdade só estão piorando, pois ela não quer ver o marido envolvido com a lei ou pior, morto. Porém, como eu citei, poderia ser melhor desenvolvido.

No final das contas, Zatoichi possui duas facetas. A primeira, que é apenas diversão pura e simples (as coreografias de luta são geniais e muito realistas, apesar do CG e; os personagens simpáticos e envolventes) e a outra é até uma leve (na verdade, quase imperceptível) crítica aos costumes ocidentalizados no Japão. O povo da vila seria o povo japonês e a gangue, os costumes ocidentais impondo sua força, sua vontade, coisa que Kitano até é favorável, mas só até certo ponto como já declarou antes pois, para ele, se algo é ruim, tem que ser mudado mesmo, mas se há coisas boas, para quê mudá-las? Desse modo, Kitano acha que o Japão acaba mesmo perdendo sua identidade cada vez mais. Se você gosta desta polêmica, há filmes que tratam isso melhor, agora se você gosta de puro entretenimento, apenas assista e se divirta.


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