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Artigo adicionado em 03/12/2004, às 11:23

AULA DE ROTEIRO 6: ESPECIAL QUADRINHOS I
Ok, estou me esforçando para atender o maior número de pessoas possível… Olá pessoal! Há quanto tempo, hein? Quem diria, já faz dez meses desde a última aula de roteiro! Vixi! Para manter a mente fresca, aqui vão os links para as aulas anteriores, para aqueles que esqueceram, ou que nunca tiveram a chance de […]

Por
Emílio "Elfo" Baraçal


Olá pessoal! Há quanto tempo, hein? Quem diria, já faz dez meses desde a última aula de roteiro! Vixi!

Para manter a mente fresca, aqui vão os links para as aulas anteriores, para aqueles que esqueceram, ou que nunca tiveram a chance de ler:

:: Aula 1 – Os Três Lados da Mesma História
:: Aula 2 – Análise do filme THE MATRIX
:: Aula 3 – Construção de Personagens Parte 1
:: Aula 4 – Construção de Personagens Parte 2
:: Aula 5 – Estruturando o Ato I

Bom, vocês devem estar se perguntando o porquê dessa “aula especial”. Simples: boa parte dos e-mails que recebo falam justamente sobre essas aulinhas (domo arigato! ^_^) Além disso, eu tinha decidido explicar primeiramente como se escreve pra cinema para depois partir para outras mídias como quadrinhos, teatro, livros, etc., só que uma parte do povo que acessa o site quer ver os esquemas de cinema, outra os de quadrinhos, e uma outra não suporta esperar para ver como serão os esquemas de teatro. Pois bem, sendo assim, resolvi atender às duas mídias abordadas no site (cinema, com a sessão PIPOCA, e quadrinhos, com a sessão GIBI), para só depois eu falar sobre as outras mídias. Assim, desse modo, acho que vou atender a mais pessoas ao mesmo tempo.

Para começar a falar como se escreve para histórias em quadrinhos, vou colocar o que aprendi nas aulas de roteiro que fiz e vou complementar com afirmações feitas pelos maiores nomes da área, como Mark Waid, Chuck Dixon e outros grandes nomes da área. Acredito que assim vocês possam ter, além da aula comigo, uma noção da experiência dos melhores roteiristas.

Falarei sobre quadrinhos, divididos em tópicos. Nesta primeira parte deste especial, falarei de:
“Pegando suas idéias”
“Linha geral”
“Diálogos”
“Tensão”

Na segunda parte, falarei de:
“Elenco de apoio”
“Ação”
“Humor”
“Crie seu estilo”

Na terceira parte, falarei dos “10 Mandamentos do Escritor de Quadrinhos” que Chuck Dixon, roteirista de séries como Robin e Asa Noturna, criou para si mesmo.

Bom, agora vamos parar com a enrolação e colocar as idéias em ordem…

Pegando Suas Idéias – Todas as boas histórias começam com isso: uma boa idéia. Claro que, às vezes, conceitos de história parecem surgir magicamente na cabeça de um escritor. Ache seu momento, aquela hora em que você se sente à vontade para esquecer os problemas. Mark Waid, escritor de O Reino do Amanhã, diz que geralmente as melhores idéias aparecem quando ele está mais relaxado: “Elas, as idéias, costumam aparecer quando estou tomando banho, dirigindo ou fazendo qualquer outra coisa casual“, disse.

Mas e quando ele tem que realmente trabalhar em cima disso? “A inspiração vem dos próprios personagens. Você constrói uma história através dos aspectos de suas personalidades” (nota do Elfo: lembram quando eu falei que é importante criar a ficha dos personagens?). Um truque que ele aprendeu no começo de sua carreira é pegar dois personagens que não tem nada a ver um com o outro e trabalhar com suas características, construindo uma história. Imaginem uma história solo da Oráculo com o Ajax, O Marciano; ou uma com o Justiceiro e o Noturno? Entenderam a coisa?

“Se os personagens são ricamente construídos, eles irão interagir uns com os outros naturalmente”, revela Waid. “Comece examinando aquilo que eles tem de parecido e o que eles tem de diferente e, antes de perceber, terá uma história”.

Quando Waid estava trabalhando num título mensal como Liga da Justiça, gerar histórias era analisar os personagens envolvidos e deixar suas personalidades ditarem a história. Em termos de criar coisas a partir de um esboço de idéia, as coisas dificultavam um pouco até chegar em um conceito. “Nesses casos, a inspiração vinha de olhar para dentro de mim mesmo e tentar identificar que parte dos personagens se parecia comigo, com a minha personalidade. Um exemplo é o Batman e sua mania de perfeição, de querer que tudo saia conforme a sua vontade. Eu sou assim, não só quando escrevo, mas quando faço algumas outras coisas também. Então eu trabalho isso no Homem-Morcego, querendo sempre mostrar que ele é o máximo da perfeição humana, aquele que não admite erros e que procurará sempre acertar o máximo possível”.

Encontrar um meio de adicionar algo de você mesmo em um personagem é uma das habilidades mais vitais que um escritor pode ter. “Se um personagem é completamente estranho pra mim, ou seja, não sei nada sobre ele, não terei nada a dizer através desse personagem”, diz Waid. “Então, tente descobrir o que você pode trazer ao personagem em termos de de sua própria personalidade – aquilo que você pode dizer sobre ele que nunca foi mostrado antes”.

Mas nem tudo vem de você, pois a inspiração pode vir de fontes externas também. “Você é um idiota se não se expor a uma influência regular de revistas, jornais, notícias de televisão… qualquer coisa que nada tenha a ver com quadrinhos”, revela Waid. “Se você quer entrar no ramo de quadrinhos e tudo o que você lê é Watchmen, Cavaleiro das Trevas ou Origem, você está acabado! Muitas idéias surgem de lugares que nada tem a ver com quadrinhos e ficar alienado, olhando apenas o mundo dos personagens de roupas colantes é uma roubada. Você acaba sendo influenciado pelas idéias de outros escritores e pode criar algo não tão original. A primeira coisa que você deve fazer pra escrever quadrinhos é, na verdade, parar de lê-los, ao menos por um tempo. Ler quadrinhos antes de escrever vai, mesmo em um nível subconsciente (ou seja, mesmo que não queira), influenciá-lo.”

Resumo:
– Mantenha os personagens em sua mente; inspiração pode vir através da construção e análise da personalidade deles.
– Olhe para si mesmo. Encontre coisas em comum entre você e os personagens que você está escrevendo.
– Leia, leia e leia cada vez mais. Leia revistas, jornais, livros de ficção e de não-ficção, panfletos, qualquer coisa. Até mesmo assistir programas de canais como Discovery Channel e A&E Mundo pode lhe dar grandes idéias.
– Não leia apenas quadrinhos para buscar idéias. Mesmo inconscientemente, você não vai querer que o trabalho de alguém afete você.
– Pense de forma renovada; procurar por novos meios de examinar personagens que você conhece muito bem pode dar alguma idéia.

Linha Geral – Se você quer encontrar a Terra Prometida, você tem que ter o mapa. E para um escritor de quadrinhos, o mapa é a Linha Geral. Antes que um roteiro seja escrito ou um simples quadrinho seja desenhado, um escritor deve planejar o quanto a história irá durar (lembra sobre o que falei de saber o tamanho da sua história? Com quadrinhos funciona da mesma forma), o que irá acontecer nela e como ela terminará.

De acordo com a caneta por trás de Super-Homem, Jeph Loeb (eu odeio as histórias dele, mas ele dá dicas legais aqui), quando ele começa a escrever uma história de mistério (como Batman – O Longo Dia das Bruxas), ele trabalha primeiro com os acontecimentos anteriores à história, ou seja, ele cria toda uma trama para aprensentá-la aos poucos, bem picadinha, na forma das pistas, que ele cria de acordo com os acontecimentos criminosos e misteriosos.

“Você tem que saber onde está levando sua história ou nunca chegará lá”, diz Loeb. “Eu sempre sei onde e como uma história irá terminar e então cruzo o final com as idéias que trabalhei antes, ao criar todo o mistério e então, uma idéia geral da história surgirá naturalmente”. Depois que Loeb trabalha dessa forma, ele faz uma idéia geral do que acontecerá em cada capítulo e então ele faz um mapa dos acontecimentos para ele mesmo, para o editor e para o artista, mostrando como cada capítulo se encaixa na trama toda e o que será revelado em cada parte da história.

Mas isso não significa que Loeb nunca desvia de seu plano original. Ele diz que, de fato, várias vezes alguns personagens irão amadurecer e mudar dentro da história, forçando o escritor a alterar seu plano original de alguma forma. “Quando eu estava escrevendo “Batman: O Longo Dia das Bruxas”, eu precisava de outro personagem para fazer o papel de guarda-costas de Roman. Por sorte, tínhamos Sofia Falcone fora da prisão. Depois que ela se tornou uma personagem ativa na história, cresceu ainda mais em Dark Vitory“.

Loeb diz que um escritor nunca deve ter medo de mudar um plot, isto é, a linha geral de uma história. Os plots não estão escritos em pedra e se um escritor nega-se a melhorar a história quando tiver que alterar um plot, ele irá terminar tudo de forma patética. Loeb também aconselha a escrever uma linha geral com um artista em mente. “Quando estou escrevendo para Tim Sale desenhar, sei que ele odeia desenhar carros”, diz Loeb. “Dessa forma, eu não vou escrever uma sequência de oito páginas de perseguição de carros. Se eu quiser colocar um carro, ele irá desenhar, mas só coloco um se for realmente necessário para a história”.

De acordo com Loeb, uma forte linha geral é uma linha geral simples. Mantenha sua linha geral simples a qualquer custo. “Não se aprofunde como um doente na sua linha geral. Deixe o começo, o meio e o fim da história surgir primeiro e então trabalhe a partir daí. Expanda sua história através de cada número, depois através de cada página e só então através de cada quadrinho”.

Resumo:
– Conheça o fim de sua história antes de conhecer o começo.
– Não tenha medo de mudar sua linha geral pra chegar aonde quer.
– Use sua linha geral como um mapa e não como uma Bíblia.
– A não ser que você esteja escrevendo para você mesmo desenhar, faça sua linha geral com o artista em mente.
– Faça uma linha geral simples.

Diálogos – Como surge um bom diálogo? E o mais importante, como fazer soá-los naturais e não forçados? Para o escritor de Demolidor e Alias, Brian Michael Bendis (o maaaaaaaster!), ele pega os diálogos no ar. Ele diz que bons diálogos surgem ao escutarmos o modo como as pessoas falam. “Eu costumo gastar boa parte do meu tempo escutando vozes, escutando as pessoas falarem. Eu costumo ir a shoppings para escutar adolescentes conversando para saber como vou trabalhar com Peter Parker e seus amigos da escola quando estou escrevendo Homem-Aranha“.

A partir daí, o escritor deve pegar tudo o que ouviu do jeito de falar das pessoas e pensar como passar a informação que ele quer passar para os leitores da forma que ouviu, do jeito que as pessoas falam. Só que Bendis alerta: os personagens devem conversar uns com os outros e não uns aos outros. “Tenho que fazer os leitores acreditarem que um personagem está escutando o que outro está falando. Eu gosto de pensar que a Tia May escuta o que Peter tem a dizer e por isso responde à altura”.

Em outras palavras, esteja preparado para diálogos reativos. Um personagem reage a outro, lembrem-se disso. Os personagens devem estar falando uns com os outros e o leitor tem que estar “escutando às escondidas”, ou seja, é como se o leitor não estivesse lá. No melhor dos casos, um dos personagens acaba se tornando a voz do leitor – o seu diálogo se torna o do expectador. “Pense sobre o primeiro Matrix“, diz Bendis. “Morpheus sabe tudo e Neo não sabe nada. É um personagem explicando todo o filme para outro personagem que precisa saber o que está acontecendo e através disso mantém a audiência entretida”.

Bons diálogos vêem também através de boas caracterizações. J. Jonah Jameson e Peter Parker devem soar como pessoas diferentes, cada um com suas gírias, nuances e sotaques (já pensou o Coisa falando como o Thor ou o Magneto falando como o Gnort? Não dá! Impossível!). Personagens que estejam cercados de outros bons personagens irão se contradizer. Todos agem diferente com pessoas diferentes. Peter age de um jeito com a Tia May e de outro completamente diferente quando está com seus colegas de classe (lembram-se de quando mostrei na ficha como um personagem deve agir no trabalho, na escola e com a família?).

E ás vezes, pouco diálogo é uma maneira de se expressar.

“Quando um diálogo surge, ás vezes, mais é menos”, acrescente Bendis. “Qualquer crédito que eu tenha é porquê eu sei quando calar a boca. Você tem que escolher as palavras de um diálogo com cuidado, pois menos é sempre mais. Personagens que não param de falar e fazem discursos enormes tornam a história chata e cansativa. Guardem na mente: um falou, o outro responde e assim vai”.

E quando você escolher com cuidado essas palavras, Bendis diz que você não tem que se preocupar se vão estar gramaticalmente corretas, pois as pessoas cometem erros de gramática naturalmente quando falam. Isso é muito comum de acontecer. “Isso são coisas que escuto as pessoas fazerem o tempo todo”, revela o escritor. “E eu não consigo aprovar um diálogo que eu não possa dizê-lo em voz alta. Qualquer diálogo em que você tenha medo de dizer em voz alta é um diálogo ridículo, pois não soa natural. Se eu não consigo soar natural em voz alta, como posso chamar de diálogo?”.

Resumo:
– Bons diálogos vêm ao ouvir as pessoas falarem.
– Um diálogo é reativo. Personagens devem falar uns com os outros e não uns aos outros.
– Um bom diálogo depende de boa caracterização. Diferentes pessoas soam de formas diferentes. Você usa as mesmas gírias que seu pai usava na década de 60 ou 70?
– Saiba quando calar a boca. Escolha suas palavras cuidadosamente, pois menos diálogo é sempre melhor do que mais.
– Leia seus diálogos em voz alta, pois se soar ridículo, será um diálogo ridículo.

Tensão – Criar tensão significa dirigir numa rua de mão dupla. Um roteirista não pode criar tensão se não conseguir ganhar o leitor e envolvê-lo emocionalmente na história. E nisso, Paul Jenkins, a mente por trás da mini-série “Origem”, que conta a origem (dã!) do Wolverine, diz que é a chave para se escrever uma história: trazer o espectador para dentro dela. “Tensão, assim como qualquer outro aspecto no processo de escrever, é mais sobre o que você não diz sobre aquilo que você diz”; revela o escritor. “Você não agarra um leitor pelos braços através de uma cena e sim dá a ele os elementos do que pode realmente estar acontecendo através de brechas – eles, os leitores, irão criar a tensão dentro de suas próprias cabeças”. Jenkins dá a dica de seguir seus instintos quando tem que criar a tensão de uma história. Ainda assim, tem que pensar na realidade, escrever realisticamente. “Você não pode ter tudo ao mesmo tempo. As coisas vão e vêm aos poucos. Tensão tem que crescer, aparecer aos poucos, de forma moderada, e ir aumentando. Isso vai culminar num clímax, que quase sempre, está aliado ao segundo plot”; diz ele. “É assim que as coisas acontecem na vida real e é assim que quero dizer com ‘escrever realisticamente’, entendem?”.

Vida real: um homem está sentado diante de sua mesa em seu escritório. De repente, sua mesa explode. Isso não é tensão, isso é ação momentânea.

Para criar tensão, mostre o mesmo homem em seu escritório, através de sua rotina diária. Ele está ao telefone, digitando ou fazendo qualquer outra coisa. Sem aviso, o leitor vê que tem uma bomba escondida na sua mesa, na parte de baixo. De repente, o leitor percebe o que está para acontecer e nada pode fazer para mudar isso. Imediatamente ele, o leitor, está na cena, esperando que aconteça algo para a bomba não explodir (ou se ele odiar o personagem ou qualquer outra coisa do gênero, ele espera que a bomba exploda logo). Mas o homem está tomando uma xícara de café quando de repente… BUM!!!

Mas… o que faz esse “BUM” tão poderoso? São os momentos entre o leitor saber sobre a bomba e a explosão da bomba. Isso é tensão.

Resumo:
– Não dê tudo de uma vez ao leitor. O leitor tem que perceber os buracos da história e não precisam sentir que alguém os está empurrando, puxando-os para dentro da história de propósito.
– Escreva realisticamente. Tente pensar em como algumas pessoas iriam reagir em qualquer situação.
– Tensão não acontece simplesmente. Deve ser estabelecida, construída, acontecendo aos poucos. Isso enriquece sua história.
– Seja firme e conciso. Ás vezes, tensão pode ser criada e construída através de uma situação simples: “Será que Sr. X pode chegar em casa a tempo para o jantar?”

Bom, essa é a primeira parte da aulinha especial em três partes de como escrever para quadrinhos. Espero ter esclarecido alguns pontos, iluminado algumas cabeças ou quem sabe, se não for imaginar demais, ter feito alguns milagres. Mas digo uma coisa para os que acompanham sempre as minhas aulinhas: sempre que aprender algo novo, tente identificar esse algo novo num filme ou num gibi. “Ah, hoje eu aprendi sobre Tensão, vou assistir ao um filme qualquer e tentar identificar o que a aula quis me dizer”. Isso é aprendizado e é muito legal, principalmente se você já conhece o filme ou gibi que está tentando analizar, pois está familiarizado com ele.

Estejam atentos que logo, logo a segunda parte estará no ar! Bye!


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