Quando as primeiras cenas de O Operário passavam na tela, eu pensava cá com meus miolos: “Oh, não. É mais um daqueles filmes realistas-depressivos que não têm a intenção de trazer felicidade aos telespectadores, ou de, pelo menos, passar uma boa mensagem…”. Mas me enganei! Sim, “O Operário” é feito naqueles parâmetros realistas, com uma imagem sem cor, praticamente em preto e branco, que conseguem angustiar a platéia. Só que a escolha desse estilo de filmagem não é gratuita, só para chocar o público – ela tem uma razão de ser.
Trevor Raznek (Christian Bale) é o protagonista, que por alguma razão não consegue dormir uma noite de sono há 1 ano. É solitário, e tem uma vida deprimente: passa o dia inteiro trabalhando em uma fábrica estressante, e alterna suas noites de insônia com a prostituta Stevie (Jennifer Jason Leigh); conversando com Marie (Aitana Sanchez-Gijon), a atendente do café do aeroporto; ou sozinho, em seu apartamento.
E a vida deprimente de Trevor ainda será transformada em algo pior: um acidente de trabalho, em que Miller (Michael Ironside) perde um braço devido a uma falha do protagonista é o estopim para que coisas bizarras comecem a acontecer. Surge um personagem sinistro, Ivan (John Sharian) que, ao que tudo indica, só é visto por Raznek, e, desde então, uma série de coincidências e de fatos contribui para deixar claro a Trevor que todos estão tramando algo contra ele, e dispostos a transformarem sua vida em um pesadelo (como a própria tagline do filme diz). Assim, o filme que antes parecia ser um drama, se transforma em um suspense da melhor espécie. A loucura e a paranóia do protagonista nos atinge, através de efeitos de câmera, trilha sonora e enredo, que formam um clima angustiante.
Aliás, angustiante é a palavra que melhor define esse filme: – cada imagem é construída cuidadosamente, feita com a intenção de deixar a platéia intrigada. Até cenas que, fora de contexto, seriam inofensivas, aparecem em “O Operário” como algo assustador ou uma prova em potencial para entendermos a trama. Imagino que se Hitchcock ainda fizesse filmes hoje em dia, “O Operário” seria uma obra sua. Afinal, esse é o tipo de filme que só é compreendido se for assistido do começo ao fim. Em todos os instantes, o diretor Brad Anderson e o roteirista Scott Kosar misturam vários elementos que deixam o público confuso: ao mesmo tempo que chegamos a imaginar explicações sobrenaturais para as situações meio surreais, percebemos que só algo lógico se encaixa no quebra-cabeça do filme.
Não posso deixar de falar aqui da atuação do excelente e (com o perdão da palavra, garotos) lindo Christian Bale, o futuro Batman, no aguardado Batman Begins: não que seja uma grande surpresa, já que o garoto é bom ator desde criança, em O Império do Sol. Aqui, o ator teve que emagrecer muito, e a complexidade da situação da personagem deve ter exigido bastante dele.
Felizmente, “O Operário” não é um daqueles filmes quebra-cabeça que, de tão complicados, esquecem de amarrar todas as pontas da trama. Até o final, tudo ganha uma explicação sensata (e, diga-se de passagem, ótima) – mas, antes de ter essa explicação, o filme cumpre muito bem seu papel de thriller: assusta bastante, e faz com que o público fique tão paranóico quanto o protagonista.
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