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Artigo adicionado em 20/10/2004, às 11:26

Relembrando OS GAROTOS PERDIDOS
O terror-comédia-trash-punk perfeito pra embalar uma sessão de Halloween! Sempre que ouço falar no nome de Joel Schumacher, minhas pernas tremem. Isso porque a primeira coisa que me vem à cabeça é Batman & Robin (1997). Sim, o bat-cartão de crédito, o close na bunda do George Clooney e tudo o mais. O lance fica […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Sempre que ouço falar no nome de Joel Schumacher, minhas pernas tremem. Isso porque a primeira coisa que me vem à cabeça é Batman & Robin (1997). Sim, o bat-cartão de crédito, o close na bunda do George Clooney e tudo o mais. O lance fica ainda mais obscuro quando lembro que Schumacher também foi responsável por outras “jóias” da cinematografia, como Tempo de Matar (A Time To Kill, 1996), O Cliente (The Client, 1994) – estes dois inspirados em obras do escritor John Grisham, o que comprova que o diretor deveria ser proibido de chegar perto de qualquer livraria – e o pior de todos, aquilo que costuma atender pelo nome de Tudo por Amor (Dying Young, 1991) – é, aquele com a chatona da Julia Roberts e a musiquinha-chiclete do Kenny G. Como se pode ver, a filmografia de Joel Schumacher é excelente para o Halloween: dá muito medo!

Mas o negócio não é tão ruim quanto aparenta: Schumacher também é responsável por trabalhos muito bons. O cara já retratou com doses cavalares de suspense o aterrorizante submundo da pornografia no nervoso 8MM (1999), entregou uma das melhores interpretações da carreira de Michael Douglas com o excelente Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993), apresentou Colin Farrell ao mundo no elogiado drama de guerra Tigerland (2000) e ainda transformou uma cabine telefônica no palco de um exercício de medo e tensão em Por Um Fio (Phone Booth, 2002), também estrelado por Farrell. Um dos primeiros trabalhos de Schumacher é também um de seus melhores filmes, e o longa que se tornou um divisor de águas no gênero terror em 1987: o fantástico Os Garotos Perdidos (The Lost Boys), que ganhou merecidamente uma edição especial em DVD este mês.

:: SANTA CARLA, A CAPITAL MUNDIAL DO CRIME

Os Garotos Perdidos foi o filme que chamou a atenção de vez para o nome do diretor, que até então dirigira somente cinco longas-metragens – entre eles, o cliché da sessão da tarde O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (St. Elmo’s Fire, 1985) -, sendo que destes cinco, dois foram made for TV. O diretor caiu de pára-quedas no projeto, que seria originalmente dirigido por Richard Donner (de Mad Max), que não pôde aceitar por problemas de agenda (Donner concluía Máquina Mortífera na ocasião). O roteiro original, escrito por Janice Fischer e James Jeremias, era um terrorzão que falava sobre “crianças vampiras”, idéia repudiada por Schumacher, que exigiu dos produtores algumas mudanças, como por exemplo a transformação dos protagonistas em adolescentes – de modo que pudesse atrair mais os jovens. Para isso, a Warner Bros. contratou Jeffrey Boam (conceituado roteirista de Viagem Insólita e Indiana Jones e a Última Cruzada), que alterou vários conceitos do script e o tornou mais cômico, misturando referências a O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), Superman (1978) e A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1981).

Vamos à história: ansiosa por uma mudança no rotina depois do recente divórcio, Lucy Emerson (Dianne Wiest) se muda com os filhos Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim) para a casa do seu pai (Barnard Hughes), na pacífica cidade de Santa Carla, na Califórnia. Na verdade, a cidadezinha litorânea não é tão pacífica assim, como denuncia uma pichação na placa de boas-vindas: “a capital mundial do crime”. Isso se deve a uma série de desaparecimentos seguidos de assassinatos, cujo(s) autor(es) a polícia local não faz idéia de quem seja. Além deste pequeno detalhe, Santa Carla também é tomada por gangues de motoqueiros punks. Bem, devidamente instalados, cada um segue a sua vidinha: Lucy se entrega cautelosamente a um novo romance com Max (Edward Herrman), Sam passa a freqüentar uma banca de gibis usados instalada num parque de diversões e Michael, numa de suas andanças pelo local à procura de diversão, acaba caidinho pela sensual Star (Jami Gertz).

:: VAMOS TODOS BRINCAR DE SE JOGAR DA PONTE!

O négocio começa a ficar estranho quando Sam conhece os donos da banca, os irmãos Edgar e Alan Frog (Corey Feldman e Jamison Newlander) – desde já, a melhor coisa do filme -, que se auto-denominam “caçadores de vampiros” e revelam ao incrédulo garoto que Santa Carla está tomada por eles. Michael é envolvido amorosamente por Star, que é somente a garota do líder de uma das gangues da cidade, o enigmático e violento David (Kiefer Sutherland). Não demora muito, e três acontecimentos se sucedem: 1) Michael descobre que os punks liderados por David são vampiros; 2) Michael descobre que a gangue de vampiros liderada por David é a responsável pelos desaparecimentos; e 3) Michael bebe do sangue de David e se torna, também, um vampiro. Mas o roteiro ainda guarda algumas “surpresas”.

Os méritos de Os Garotos Perdidos são vários: a começar, o elenco está afinadíssimo e em total sintonia, principalmente no que se diz de dois dos maiores ícones adolescentes do cinema oitentista: Corey Haim e Corey Feldman. O roteiro, uma metáfora violenta sobre alienação juvenil e consumismo desenfreado disfarçada de filme de terror, retrata e muito bem a onda punk que se instalou entre o final dos anos 70 e boa parte dos 80, tão bem aproveitada em outros notórios longas como Warriors, Os Sevagens da Noite (The Warriors, 1979) e Repo Man (1984). A fotografia de Michael Chapman (de Taxi Driver) fica no meio termo entre a escuridão total e as cores vivas e claras do dia e dos figurinos típicos dos anos 80 – tática bem sucedida para atrair os mais jovens para uma fita que poderia ser rejeitada por seu rótulo punk. E por último, a trilha sonora é bem bacana, e lançou as canções Cry Little Sister, do Gerard McMann, e a fantástica People Are Strange, cover do Echo & The Bunnymen para a clássica dos Doors.

:: SE TEM UMA COISA QUE ODEIO, SÃO ESTES MALDITOS VAMPIROS…

Os Garotos Perdidos estreou nos cinemas ianques em 31 de Julho de 87, em cerca de 1.025 salas (pois é, o filme é da Warner…), e gerou US$ 5 milhões e 200 mil dólares em seu primeiro final de semana em cartaz, uma média bem razoável para um filme de terror. A popularidade do longa foi crescendo através da propaganda boca-a-boca, e fechou seu caixa com mais ou menos 35 milhões, um sucesso na época. A produção ganhou o prêmio de Melhor Filme de Horror no Saturn Awards de 1988, que abrange longas de fantasia, e isto só aumentou sua popularidade, que estourou de vez com o advento do video-cassette, onde foi campeão absoluto de vendas. Como se não bastasse, ainda deu uma guinada na carreira de muitos dos envolvidos no projeto.

Por mais que tenha envelhecido um pouco, e realmente envelheceu, Os Garotos Perdidos ainda é uma ótima pedida pra dar uma incrementada numa sessãozinha básica de filmes de terror: é engraçado, empolgante, tem efeitos especiais e maquiagens muito bacanas e a história não ofende a inteligência de ninguém. A edição especial, cujo lançamento em disquinho aconteceu no início deste mês, finalmente apresenta a produção em formato widescreen, dá uma melhorada na imagem e no som (há a opção de escolha entre o Dolby Digital 2.0 e o 5.1) e traz uns extras bem legais. Portanto, esqueça os filmecos chinfrins de terror que andam aparecendo por aí e fique com este mesmo. Como a própria tagline diz, se depender deste filme, ser vampiro é o maior barato! E por favor, não deixem mais o Joel Schumacher fazer trabalhos com a Julia Roberts! E nem com o George Clooney! Schumacher consegue ser bom quando quer!

:: POR ONDE ANDAM ESTES CARAS?

– Corey Feldman (Edgar Frog)
Popularizado por seu trabalho em filmes como Conta Comigo (Stand By Me, 1986) e Sem Licença Para Dirigir (License to Drive, 1988), Corey Feldman se tornou um dos maiores ídolos juvenis da década de 80 junto com Corey Haim, com quem dividiu 7 trabalhos. A festa acabou em 1990, quando foi preso por porte de drogas. Depois disso, atuou em pequenas pontas, gravou um single de hip-hop que não vingou e se limitou a dublar uma das Tartarugas Ninjas naqueles três troços live-action lançados nos anos 90. Isso é que é decadência.

– Jami Gertz (Star)
Os Garotos Perdidos, junto com o claustrofóbico Abaixo de Zero (Less Than Zero), também de 1987, foram os pontos mais altos da carreira desta atriz – é que ela realmente não era tão talentosa assim… Atuou recentemente nos seriados ER e Ally McBeal, além de dar vida a um dos papéis principais do blockbuster Twister (1996). Ainda atua bastante, mas em trabalhos menores e para a TV.

– Corey Haim (Sam)
A carreira de Corey Haim, muito conhecido nos anos 80 por longas como A Hora do Lobisomem (Silver Bullet, 1985), A Inocência do Primeiro Amor (Lucas, 1986) e O Limite do Terror (Watchers, 1988), decepcionou bastante nos anos 90. Continua atuando, mas em longas menores e em longos intervalos de tempo entre um título e outro. Sua última aparição em um filme badalado foi no faroeste Maverick (1996), com Mel Gibson.

– Edward Herrman (Max)
O intérprete de Max, um dos papéis mais importantes do filme, chamou a atenção já em seu terceiro trabalho, o conceituado suspense O Dia do Golfinho (Day of the Dolphin, 1973), e possui um currículo muito bem sucedido. Já trabalhou em cerca de 80 longas, entre eles A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985), Nixon (1995) e O Amor Custa Caro (Intolerable Cruelty, 2003), além de atuar durante uma temporada na série Oz. Poderá ser visto em breve no novo de Martin Scorsese, a biografia de Howard Hughes intitulada The Aviator.

– Barnard Hughes (Grandpa)
Considerado um dos grandes atores americanos, começou a interpretar em 1954 no drama Playgirl, e também não parou mais de trabalhar. Só pra citar três dos seus mais importantes trabalhos: Perdidos na Noite (Midnight Cowboy, 1969), Tron: Uma Odisséia Eletrônica (Tron, 1982) e O Poder vai Dançar (The Cradle Will Rock, 1999). Mas sua área é mesmo o teatro, onde já desempenhou mais de 400 papéis – e colecionou prêmios.

– Jamison Newlander (Alan Frog)
Ninguém sabe por onde anda este pobre coitado. Além de Os Garotos Perdidos, participou somente de A Bolha Assassina (The Blob, 1988) e produziu, dirigiu, escreveu e atuou em Rooster, curta-metragem que fez sucesso no Festival de Atlanta em 2003. Depois disso, sumiu das telas.

– Jason Patric (Michael)
Ao contrário de Corey Haim e Corey Feldman, a carreira de Jason Patric deslanchou nos últimos anos. Trabalhou nos elogiados Rush: Uma Viagem ao Inferno (1991), A Vingança Adormecida (Sleepers, 1996), Seus Amigos, Seus Vizinhos (Your Friends & Neighbors, 1998) – pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Ator da Sociedade dos Críticos de Las Vegas – e recentemente foi o protagonista de Narc, que muitos consideram o melhor filme de 2002 (sem contar As Duas Torres, claro). Era o preferido de Mel Gibson para interpretar Jesus em A Paixão de Cristo (The Passion of the Christ, 2004), mas recusou o papel.

– Kiefer Sutherland (David)
O filho de Donald Sutherland também possui um vasto currículo e está mais popular do que nunca, cortesia do papel de Jack Bauer no excelente seriado 24 Horas, que já deu 5 prêmios internacionais ao ator. Atuou também em Por Um Fio, Tempo de Matar, Os Jovens Pistoleiros (Young Guns, 1988), Os Três Mosqueteiros (The Three Musketeers, 1993) e Cidade das Sombras (Dark City, 1998). Sua última aparição nos cinemas foi no fraquinho Roubando Vidas (Taking Lives, 2003).

– Dianne Wiest (Lucy)
Wiest é uma das grandes atrizes em atividade atualmente. Indicada a três Oscars e dona de dois destes troféus – por Hannah e Suas Irmãs (Hannah and Her Sisters, 1986) e Tiros na Broadway (Bullets Over Broadway, 1994) -, também pode ser vista em Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990), Da Magia à Sedução (Practical Magic, 1998) e Uma Lição de Amor (I Am Sam, 2001). Dublou uma das personagens da nova animação da Fox, Robots, a ser lançado em 2005.

:: ALGUMAS CURIOSIDADES (E DOIS SPOILERS! LEIA POR SUA CONTA E RISCO!)

– O título de Os Garotos Perdidos é uma referência aos amigos de Peter Pan que nunca crescem no clássico conto de J. M. Barrie.

– A cidade de Santa Carla, palco da ação do filme, na verdade se chama Santa Cruz, e fica na Califórnia. As autoridades locais exigiram que o nome do lugar fosse alterado no roteiro, para não obrigar a população (e o resto do país) a reviver um pesadelo ocorrido no local. Santa Cruz ficou conhecida durante os anos 70 como “a capital mundial do crime” – assim como a fictícia Santa Carla também o é – por conta dos ataques de um serial killer.

– O ator John Carradine era o escolhido para interpretar o papel de Barnard Hughes, mas estava muito doente na ocasião das filmagens, vindo a falecer no ano seguinte. John Carradine era pai de David Carradine, o nosso prestigiado Bill da última produção de Quentin Tarantino (todo mundo sabia disso, mas tudo bem!).

– Um dos membros da gangue dos garotos perdidos é Alex Winter, que mais tarde ficaria conhecido ao formar dupla com Keanu Reeves no divertido longa nerd Bill & Ted, Uma Aventura Fantástica (Bill & Ted’s Excellent Adventure, 1989).

Os Garotos Perdidos está presente em várias coletâneas do tipo “os diálogos mais bacanas do cinema”. Todos os diálogos citados nestes livros pertencem aos Irmãos Frog, donos dos pontos altos do filme.

– Apesar de não ter nada a ver com cinema em si, esta é tão estúpida que eu não podia deixar de citar aqui: Kiefer Sutherland, ex-noivo de Julia Roberts, rompeu o romance com a “atriz” por conta da clara preferência do ator em passar o tempo com seus camaradas, em especial seu melhor amigo Jason Patric. Ironicamente, a amizade entre os dois atores se dissolveu depois que Kiefer e Julia terminaram o romance e ela se mandou para a Europa, com um suposto novo namorado. Jason Patric.

– Dianne Wiest é uma grande atriz, sem dúvidas. Mas ela cometeu uma das maiores gafes de toda a história da indústria cinematográfica em Os Garotos Perdidos: em pelo menos duas cenas, ela se refere ao personagem Max (Edward Herrman) como Ed, o nome verdadeiro do ator. O mico é ainda maior tendo em vista que o montador Robert Brown, colaborador freqüente de Joel Schumacher, não reparou neste detalhe. As cenas ainda constam na montagem final.

– ATENÇÃO: SPOILER!
– O personagem David, mesmo sendo empalado ao final do longa, não se desintegrou como os outros vampiros. Este detalhe se deve a um fator: na verdade, David não morreu, e retornaria para se vingar numa suposta seqüência do filme, que nunca aconteceu e até hoje é discutida entre os executivos da Warner. Há um boato forte de que a parte dois sairá nos próximos anos, mas nada é confirmado.

– ATENÇÃO: OUTRO SPOILER!
Os Garotos Perdidos é muito conhecido por sua antológica cena final, a hilária frase do avô enquanto bebe uma cerveja em frente à geladeira. Esta cena foi adicionada às pressas para cobrir o final original. Na montagem inicial, o filme terminaria com os sobreviventes da gangue de David se reunindo em um hotel abandonado. Pregado à uma parede, haveria um mural datado de 1900, com uma foto de Max, exatamente como o personagem se encontra na época da trama, 1987.


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