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Muita gente se perguntou se eu teria imparcialidade suficiente para escrever uma crítica que não fosse competamente apaixonada do primeiro Homem-Aranha, assim que o filme chegou aos cinemas. Afinal, sou fã alucinado do personagem há quase 20 anos, poderia ficar com os olhos embargados de lágrimas e só saberia colocar o coração na ponta dos dedos. Tudo bem, tudo bem, admito que chorei durante o filme. Mas, na hora de traduzir em palavras, acho que fui até bem comedido. O que, definitivamente, não deve acontecer neste texto.
Os fãs americanos criticaram bastante este Menina dos Olhos principalmente por não se parecer com um filme tipicamente “Kevin Smith“. O que acontece é que, depois de fechar temporariamente o universo View Askew e a trilogia de cinco filmes (!) de Nova Jersey, o diretor preferiu deixar as referências nerds de lado e acabou abordando um tema mais adulto. Esqueça Jay e Silent Bob e as inúmeras piadas sobre “Star Wars” e histórias em quadrinhos. “Menina dos Olhos” é um filme sobre um pai num mundo moderno e cosmopolita. É algo muito mais pessoal, uma comédia romântica saída diretamente do coração de um diretor que agora é pai…e sente muita falta do seu próprio “paizão”.
Tenho que admitir que as lágrimas me vieram aos olhos várias vezes. Porque eu tive vários problemas com o meu pai. Porque também me tornei pai ainda jovem. E, divorciado, vivo a maior parte do tempo longe da minha filha. E dói muito. Kevin Smith e seu Barrados no Shopping falaram diretamente ao nerd dentro de mim. E eu me diverti a valer com uma comédia que, cá entre nós, é o filme mais fraco do diretor. Mas “Menina dos Olhos” foi mais fundo. E falou diretamente com o pai. Mesmo sendo uma comédia romântica totalmente básica e simples.
Na verdade, “Menina dos Olhos” se encaixa perfeitamente numa teoria levantada pelo Fanboy: mais vale um clichê bem arranjado e bem contado do que uma invencionice sem pé nem cabeça. O bom e velho feijão com arroz é muito mais gostoso. A película é uma gracinha. Funciona muito bem. Faz rir e chorar. Como aconteceu comigo.
A história gira em torno do bem-sucedido assessor de imprensa nova-iorquino Oliver Trinké (Ben Affleck que, como de costume, só interpreta bem quando dirigido por Kevin Smith), que trabalha para uma série de grandes artistas da indústria fonográfica. Mesmo no meio de uma rotina estressante e enlouquecedora, ele conhece a bela editora Gertrude Steiney (Jennifer Lopez). Rapidamente o casal se apaixona, casa…e ela engravida. E começam os problemas de um pai ausente, sempre preocupado com o trabalho e nunca com a família. A situação se agrava ainda mais quando Gertrude morre inesperadamente durante o parto e deixa Ollie sozinho com uma filhinha recém-nascida.
Para piorar tudo, o sujeito começa a ter uma série de problemas no trabalho (isso eu não vou contar porque configura uma das cenas mais divertidas do filme) e acaba obrigado a voltar para a casa do pai, Bart (George Carlin, outro ator obrigatório de Kevin Smith). Em Nova Jersey, é claro.
Sim, o filme tem suas participações especiais. Mas não, nenhuma delas é do Jason Mewes.
Assim como aconteceu em Procura-se Amy, é bom ver que um nerd declarado como Smith consegue contar uma boa história, sobre sentimentos e seres humanos de verdade, sem depender apenas das referências à cultura pop. Não que estas coisas sejam ruins. Mas, com certeza, tem coisa muito mais importante no mundo. Como o próprio Ollie Trinké acaba entendendo. E como eu entendi também. Tomara que você entenda, no fim das contas.
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