Nós somos uma geração felizarda, caros nerds. O motivo? Simples: acompanhamos o surgimento de Harry Potter e o relançamento de O Senhor dos Anéis, que, ao terem seus direitos comprados pela Warner, e virando uma mina de ouro de vida longa nos cinemas, deram início a uma febre de produções baseadas em livros de fantasia. Assim, as grandes produtoras ficam se estapeando em busca de bons livros de fantasia que possam vir a ser uma boa produção, e dar-lhes um também fantástico retorno financeiro. Enquanto isso, nós, reles mortais, só precisamos de guardar dinheiro pra comprar baldes de pipoca e esperar os lançamentos que, com certeza, prometem.
É, afinal se você pensa que filmes baseados em bons livros de ficção acabaram no momento em que O Retorno do Rei saiu de cartaz, é melhor reconsiderar (ok, não vou dizer que existem chances de surgir outra mega produção como a da trilogia do seo Tolkien, não). O próprio Harry Potter ainda terá supostamente mais quatro continuações no cinema. Mas não pára por aí: a partir do ano que vem teremos grandes chances de sermos brindados com adaptações cinematográficas dos livros O Hobbit (Tolkien), Abarat (Clive Barker), a série de Crestomanci (Diana Wynne Jones), a série Discworld (Terry Pratchett), e o livro que deu nome a esse artigo: O Guia do Mochileiro das Galáxias.
Aqui o Bux deu sua opinião sobre essa obra de Douglas Adams, e chegou a compará-la com nomes como Monty Python e as obras de Lewis Carroll. E ele tinha razão. Só pela menção desses nomes, o livro já mereceria meu respeito. “O Mochileiro das Galáxias” faz jus sim a essa comparação (aliás, no Restaurante no Fim do Universo tem uma cena praticamente igual a um trecho de Alice no País das Maravilhas). Podem imaginar então o quanto gostei dos dois volumes lançados no Brasil até agora, dessa série insana do escritor inglês (tinha que ser um inglês ^_^). A boa notícia é que ano que vem estreará nos cinemas o filme adaptado do primeiro volume dessa trilogia de cinco livros.
:: ENTENDA UM POUCO MAIS SOBRE ESSES TAIS MOCHILEIROS
“O Guia do Mochileiro das Galáxias” não é verdadeiramente um guia, na vida real. Digo, o Guia do Mochileiro como nós o conhecemos é um volume de 206 páginas que conta a história de Arthur Dent, um terráqueo salvo do fim do mundo (que é simplesmente demolido por estar atrapalhando a construção de uma via expressa hiper-espacial) por um amigo alienígena – Ford Prefect. Este, que andava pela Terra disfarçado de terráqueo, é um correspondente do “Guia do Mochileiro das Galáxias” propriamente dito, que é o “mais extraordinário livro jamais publicado pelas grandes editoras da Ursa Menor“. É um guia aos viajantes por esse Universo afora, mostrando informações sobre absolutamente tudo, e cuja capa mostra, em letras garrafais, a frase “NÃO ENTRE EM PÂNICO”.
Arthur e Ford acabam encontrando-se com Zaphod Beeblebrox (um presidente da Galáxia, que tem duas cabeças totalmente confusas), Trilian (a única moça importante que aparece neste livro, mas que não fala muito) e o robô maníaco-depressivo Marvin. Essa trupe não é de forma alguma ajustada, já que a cada capítulo um problema novo ocorre entre eles e sua nave Coração de Ouro, roubada por Zaphod (mas ele não sabe porque cometeu esse furto) – a única com um sistema de Improbabilidade Infinita. Deparam-se então com uma das crises do Universo, que envolve a busca das Respostas e das Questões Fundamentais da Vida, o Universo e Tudo o Mais. “O Guia do Mochileiro das Galáxias” é isso mesmo, uma ficção científica nonsense, engraçadíssima, e até um pouco “filósofa”, guardando-se as devidas proporções, claro.
Mas nada disso é novo. A Editora Sextante está relançando a coleção para não perder sua fatia do mercado quando o filme for lançado, mas essa história de Douglas Adams existe desde o final dos anos 70. E o mais interessante é que originalmente a saga cômica de Arhur Dent surgiu em 1978, como uma radionovela da BBC. A série no rádio fez tanto sucesso que Douglas Adams adaptou-a para uma “trilogia em cinco partes” e, em 1979, as livrarias inglesas já lançavam a primeira parte da coleção: The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy. Aqui no Brasil, sete anos depois, a Editora Brasiliense publicou o livro, com o título de O Mochileiro das Galáxias, e em seguida toda a série.
Por aqui a coleção de Douglas Adams não fez tanto sucesso quanto em sua terra natal. Na Inglaterra, os livros tiveram ainda mais destaque que a série de rádio, e deram origem a pelo menos três peças teatrais, uma série de TV (também da BBC), um videogame e a uma série em quadrinhos.
Quanto aos livros, seus próximos volumes serão publicados aos poucos pela Editora Sextante. Em agosto, o segundo volume – “O Restaurante no Fim do Universo” – foi lançado. Este será seguido pelos títulos A Vida, o Universo e Tudo Mais e Até Mais, e Obrigado pelos Peixes!. O quinto volume, Mostly Harmless, não foi lançado aqui no Brasil da primeira vez, e pelo que parece, não será dessa vez que o veremos (ao menos por enquanto a Editora Sextante não menciona nada sobre ele).
A série “Mochileiro das Galáxias” não chegou a marcar história no Brasil, mas é um livro bem conhecido por aí afora. Tanto que suas marcas estão em alguns lugares dos mais inesperados. No site de busca Altavista, por exemplo. Sua ferramenta de traduções chama-se Babelfish, em referência ao peixe-babel citado no livro: é um peixe dourado que tem a função de permitir que quem o coloque dentro de seu ouvido compreenda qualquer língua, de qualquer galáxia.
:: DOUGLAS ADAMS, O CULPADO POR ESSA BAGUNÇA
Douglas Adams nasceu em Cambridge, na Inglaterra, em março de 1952. Enquanto esteve estudando na Universidade de Cambridge, participou de seu famoso grupo de teatro amador, chamado Footlights – atuando, escrevendo roteiros e, vez por outra dirigindo (esse grupo de teatro revelou nomes nada modestos, como Emma Thompson, John Cleese e Graham Chapman). O sonho de Adams era ser um roteirista-ator, ou, em suas palavras: “Eu queria ser um roteirista-ator, como os Pythons. Na verdade eu queria ser John Cleese, mas demorou um tempo para que eu percebesse que esse papel já estava ocupado”.
O escritor lamentava-se por não ter sido o John Cleese, mas ao menos teve o orgulho de colaborar com um sketch do Monty Python, escrevendo-o junto ao Graham Chapman. Outro trabalho dele como roteirista foi para a série Doctor Who, que foi sucesso entre os anos de 1978-1980. Mas seu real sucesso como autor foi alcançado após o lançamento de toda a série do “Mochileiro da Galáxia”.
Em 1990, Douglas Adams, que tinha um bom conhecimento das ciências (como Física e Biologia – o que dá pra notar em seus livros), escrevou o livro Last Chance To See, com uma temática ecológica. Douglas Adams também tinha contato com Pink Floyd – juntos, escreveram uma música. O escritor era amigo do guitarrista David Gilmour, e fez uma aparição especial em um de seus shows, em 1994.
Em maio de 2001, aos 49 anos, Douglas Adams faleceu subitamente, de ataque cardíaco, e deixou sua esposa Jane Belson e sua filha Polly. O seu trabalho nos últimos anos de sua vida girava em torno do site h2g2.com, que existe até hoje, mesmo sem contar com seu fundador. Sua idéia é muito interessante: pretende ser um “guia”, uma espécie de enciclopédia virtual completíssima. Para isso, qualquer pessoa de qualquer parte do mundo pode enviar um tópico para deixá-la cada vez mais completa. É, uma maluquice típica de Douglas Adams.
Outro projeto que estava em pauta em seus últimos anos de vida era a adaptação cinematográfica de seu livro. Sim, ele estava escrevendo o roteiro do filme, mas não teve tempo de finalizá-lo.
:: ESTÁ TUDO MUITO BEM, MAS E O FILME, VAI BEM?
Vai sim, ele já está dando seus primeiros passinhos! E que devem ser bem largos, já que a sua previsão de estréia nos Estados Unidos é o verão de 2005 (mais especificamente, no dia 3 de junho do ano que vem).
Desde a morte de Douglas Adams, os idealizadores da idéia estavam adiando o início dos trabalhos; até que Jay Roach (primeiro nome cotado para a direção), “levantou a poeira” e resolveu pôr o projeto do “Guia do Mochileiro das Galáxias” na pauta do dia. Assim, as produtoras Disney e Spyglass assumiram seus postos, e estão bancando a produção.
As filmagens começaram no fim de abril desse ano, na Islândia, e devem estar terminando. Assim que terminarem, a Cinesite (responsável pelos efeitos de filmes como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Tróia e Alien Vs. Predador) se encarregará dos efeitos visuais, que farão parte de mais de 300 cenas – incluídos aí a geração de ambientes, criaturas e cenários virtuais.
Sei que a essa altura você está mais interessado nos atores e diretores que nos efeitos especiais. Então, lá vai:
– A direção não está mais a cargo de Jay Roach (ele passou para a produção do filme). Os diretores são os ilustres desconhecidos Garth Jennings e Nick Goldsmith, dois jovens diretores que até agora são mais conhecidos por sua direção em anúncios publicitários e no clip Coffee and TV, do Blur.
O Elenco:
Arthur Dent – Martin Freeman (o ator pornô do filme Simplesmente Amor)
Ford Prefect – Mos Def (ele interpretou Frank Miller na ópera-rap Carmen. Sim! Um rapper! Não, não é um inglês ruivo, como o livro dita. Mas, desde que ele consiga passar um bom tempo sem piscar e saiba mostrar a sutil ironia de suas falas, está supimpa).
Zaphod Beeblebrox – Sam Rockwell (As Panteras)
Trillian – Zooey Deschanel (Human Nature, com roteiro de Charlie Kaufman)
Slartibartfast – Bill Nighy (o cantor amalucado de “Simplesmente Amor”)
Marvin – Warwick Davis vai vestir a roupa do robozinho (Davis é o Prof. Flitwick dos filmes de Harry Potter)
Humma Kavula – John Malkovich (Quero ser JohnMalkovich)
Mas espere aí! Quem diabos é “Humma Kavula”? Não saia correndo desesperado atrás de sua coleção do Douglas Adams procurando esse nome, pois não vai encontrar. Pois fique sabendo (e, portanto, prepare-se psicologicamente antes de ir assistir o filme) que muitas coisas novas aparecerão na versão cinematográfica. Novos personagens, coisas e acontecimentos. Essa é a “má” notícia. Mas a boa notícia é que uns 95% desses novos enxertos foram escritos pelo próprio Douglas Adams, especialmente programados para o filme.
Isso já era esperado, porque todas as suas adaptações para as diferentes mídias foram ligeiramente diferentes umas das outras – O Mochileiro do rádio foi um pouco dos livros, destes para a TV etc. Quem ficou responsável pelos outros 5% de mudanças foi o roteirista Karey Kirkpatrick. Seus trabalhos conhecidos são Fuga das Galinhas e James e o Pêssego Gigante. Uma coisa a favor dele é que está trabalhando com muito material deixado pelo próprio Adams, o que facilita bastante as coisas. Além disso, diz o rapaz que se identifica muito com o próprio Douglas Adams em vários aspectos, e sabe de cor todas as falas de Em Busca do Cálice Sagrado.
E uma das mudanças será em torno do triângulo amoroso Zaphod-Trillian-Arthur: a personagem feminina vai ganhar mais destaque, e sua história também. O próprio roteirista diz que “O Guia do Mochileiro das Galáxias” é uma história com um longo começo e um longo final. E o filme precisava de um MEIO. Portanto, algum “recheio” teve que ser encaixado aí nessa lacuna.
O pessoal da produção diz estar muito feliz trabalhando nesse projeto. De acordo com o roteirista Karey Kirkpatrick, desde os altos executivos até os responsáveis pela colocação das milhares de lâmpadas na nave Coração de Ouro estão querendo agradar acima de tudo a memória de Douglas Adams. Estão todos muito confiantes. Será esse um bom sinal? Se este filme se der bem nas bilheterias, será seguido pelas adaptações dos próximos livros para o cinema. E a nós, resta-nos pegarmos nossas toalhas e esperar.
Agora, até mais! E obrigada pelos peixes!
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