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Artigo adicionado em 23/09/2004, às 06:41

O CINEMA NO BRASIL – PARTE 1
Do nascimento até a utópica Vera Cruz É fato: o Brasil vive na corda bamba quando o assunto é produção cinematográfica. Às vezes passa anos sem um filme sequer sendo considerado como decente, e outras, como agora, passa por um ótimo período, graças a algumas leis que tentam auxiliar o setor. Mas como foi que […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


É fato: o Brasil vive na corda bamba quando o assunto é produção cinematográfica. Às vezes passa anos sem um filme sequer sendo considerado como decente, e outras, como agora, passa por um ótimo período, graças a algumas leis que tentam auxiliar o setor.

Mas como foi que tudo começou? No princípio criou Deus os céus e a terra. Ahm… Acho que comecei cedo demais. Pulemos então para 8 de julho de 1896.

:: O PRIMEIRO CINEMA NO BRASIL

O primeiro cinema apareceu no Brasil nessa data, no Rio de Janeiro, seis meses após sua estréia nas terras estrangeiras. “Trata-se de um aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao fundo de uma sala diversos espetáculos e cenas animadas, por meio de uma série enorme de fotografias (…). O espetáculo é curioso e merece ser visto, mas aconselhamos os visitantes a se acautelarem contra os gatunos. Na escuridão negra em que fica a sala durante a visão, é muito fácil aos amigos do alheio o seu trabalho de colher o que não lhes pertence” – era isso que anunciava o Jornal do Commercio na data do lançamento do Omniographo (como era por aqui chamado o cinema nos fins do século XIX).

Com pouco tempo de duração, e sem grandes sucessos, o Omniographo interrompeu suas exibições depois de 3 semanas. Mas logo retornou, para iniciar sua história, atraindo a população das grandes cidades: dois anos depois, em 1897, foi inaugurada a primeira sala de cinema permanente, na Rua do Ouvidor (Rio de Janeiro), sob o nome de Cinematógrafo Edison.

Não tardou para que os mais “modernos” e curiosos saíssem atrás de câmeras e aparelhos para que pudessem também fazer parte dessa nova febre que viria a assolar o país. Foi no dia 19 de junho de 1898 que ocorreu o primeiro registro do Brasil numa fita. O autor da façanha foi Affonso Segreto, que filmou a Baía da Guanabara com uma câmera comprada em Paris. Isso foi uma grande novidade naquele ano, e os jornais da época noticiaram o fato, muito empolgados.

Affonso Segreto e seu irmão Paschoal foram nomes importantes para o início do cinema brasileiro: até o ano de 1903 foram eles os únicos produtores nacionais. Naquele tempo a filmagem não demandava tanto dinheiro e pressão como agora, mas faltava uma coisa crucial para dar o primeiro empurrão na produção nacional: energia elétrica. Não que ela não existisse, mas esse elemento básico, necessário para o funcionamento dos equipamentos de filmagem e projeção, não era tão abundante quanto o vemos hoje em dia.

Em 1907 a usina de Ribeirão das Lajes foi inaugurada no Rio, e a empresa Light, em São Paulo, começou a crescer. Assim, várias salas de projeção (ou cinematógrafos) foram sendo inauguradas, exibindo produções norte-americanas e européias e atraindo a população “refinada” das metrópoles, que pagava cerca de 1500 réis por ingresso.

A proliferação e o sucesso dos cinematógrafos impulsionaram a produção de filmes nacionais. Giuseppe Labanca, Giacomo Staffa, Marc Ferrez, Francisco Serrador e Christovam Auler foram os pioneiros na sétima arte por aqui, seguindo os passos dos irmãos Segreto: eram ao mesmo tempo os produtores, exibidores e importadores de seus filmes. Estes estavam longe de serem considerados longas-metragens: o primeiro que poderia ter essa alcunha não passava de 40 minutos de duração. A primeira produção brasileira com algum enredo foi uma obra de Julio Ferrez – tinha 15 minutos de duração e chamava-se Nhô Anastácio Chegou de Viagem. Era uma comédia, que contava as aventuras de um caipira no Rio de Janeiro.

1908 foi o ano em que as produções brasileiras dignas de serem chamadas de “filmes” começaram a surgir: eram feitas aos montes, sempre de curta duração, algumas com enredo, outras apenas registrando paisagens. Até fitas policiais apareceram por aqui: A Mala Sinistra, por exemplo, era um policial que contava sobre o famoso crime ocorrido em São Paulo, em 1908.

Uma inovação tornou o cinema ainda mais interessante para a platéia: era o “cinema cantante”. As fitas eram acompanhadas por um gramofone, ou então um piano sendo executado ao vivo. Mais interessante ainda era quando atores também participavam da música: escondiam-se atrás da tela e cantavam, “dublando” o filme. O mais bem sucedido musical cinematográfico da época foi Paz e Amor, de Christovam Auler. Era uma sátira que criticava a política nacional, e teve grande número de público – foi exibido mais de mil vezes a partir de sua estréia, em março de 1910.

Em 1909/10, aqui no Brasil foram feitos mais de cem filmes a cada ano. Nesse tempo não havia muito o que temer da concorrência estrangeira, porque nossos filmes atraíam mais atenção do público brasileiro que as produções importadas. Mas já a partir de 1912 começou a haver uma queda na produção cinematográfica brasileira. A forma artesanal com que eram feitos os filmes brasileiros na primeira década do século XX não conseguiu suportar a concorrência com as produções estrangeiras, mais caras e bem feitas. Entre 1914 e 1920 foram transformados em filmes os livros O Guarani, Iracema, A Moreninha, Amor de Perdição e A Viuvinha, entre outros.

Em 1923, as produções nacionais saíram do circuito São Paulo-Rio de Janeiro, e se estenderam a outras localidades, dando origem aos ciclos regionais, que aconteceram em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Campinas.

O ciclo de Pernambuco foi o mais produtivo destes: Edson Chagas e Gentil Roiz conduziram filmes de aventura, e bem regionalistas. As figuras do coronel e do cangaceiro aparecem em filmes como Reveses, Sangue de irmão e Filho sem mãe. Em Minas, mais precisamente na cidade de Cataguases, Pedro Comello e Humberto Mauro foram os nomes mais representativos, que produziram os filmes Os Três Irmãos (1925) e Na Primavera da Vida (1926). Em Campinas, o filme João da Mata foi o que mais se sobressaiu, enquanto no Rio Grande do Sul, que foi a região que produziu menos, um drama moralista, de Eduardo Abelim e Eugênio Kerrigan, fazia um certo sucesso: Amor que Redime, de 1928.

Em 1929 (dois anos depois dos EUA), foi feita a primeira produção sonorizada brasileira: Acabaram-se os Otários, de Luiz de Barros. Na década de 30, as produções começaram a ser feitas com mais esmero: afinal, a infra-estrutura melhorou substancialmente, com o nascimento dos estúdios Cinédia, Atlântida e, mais tarde, da Companhia Vera Cruz. Esses três estúdios foram projetos ambiciosos, e os principais responsáveis pelo período mais fértil das produções nacionais.

A Cinédia, que foi oficialmente inaugurada em 1930, foi o estúdio que trouxe a moda dos anos 30: as chanchadas. O filme Coisas Nossas, do norte-americano Wallace Downey, era desse estúdio, e foi a primeira revista musical no cinema brasileiro, inaugurando uma série de comédias musicais que fariam um enorme sucesso na época. As chanchadas nada mais eram que comédias com alguns números musicais, que traziam alguns nomes muito conhecidos nas rádios (muito populares naquele tempo) – daí seu enorme sucesso de público. Mas foram sucesso apenas entre o público leigo, porque os críticos (sempre eles!) não gostavam desse estilo de filme, porque eram repetitivos, utilizando-se sempre dos mesmos atores, e de enredos que seguiam a mesma fórmula.

O estúdio Atlântida ainda tentou produzir filmes com alguma crítica social, mas depois que descobriu que as chanchadas eram uma mina de ouro, seguiu essa linha, e se deu bem – nomes hoje conhecidos foram trazidos dos palcos e levados às telas: Dercy Gonçalves e Chico Anísio são dessa safra. Mas poucos brilharam tanto quanto a dupla Oscarito e Grande Otelo, que trabalharam em 17 filmes, entre 1935 e 1965.

Foi nessa época também que a Carmen Miranda começou sua carreira – conhecida na rádio, a moça ingressou no cinema pegando carona nas comédias musicais do Brasil, antes de partir para seu sucesso nos Estados Unidos. Ela participou de diversos filmes; entre eles Alô, Alô Brasil! e Alô, Alô Carnaval!, e chegou a dividir as telas com Oscarito e Ary Barroso.

Mas é claro que esse esquema de repetir sempre as mesmas fórmulas acabou se esgotando; e a Atlântida, espertamente, dedicou-se a produções com um roteiro mais complexo, e que conseguiram resgatar o sucesso que estava se esgotando com as chanchadas, apesar de serem praticamente cópias dos filmes de Hollywood. Porém, a Atlântida encontrou um obstáculo à frente: a criação dos Estúdios Vera Cruz, que apesar de terem uma vida relativamente curta, investiram pesado em ótimas produções, e concorreram com o sucesso dos estúdios da Atlântida.

Esse pode ser considerado o período de ouro do cinema brasileiro, pois tinha uma indústria cinematográfica que conseguiu se manter bem por quase duas décadas, fenômeno pouco visto na história do cinema brasileiro.

(CONTINUA…)


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