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Artigo adicionado em 30/09/2004, às 06:07

MAFALDA – 40 anos
Primeiro o Demolidor, agora ela entrando na meia-idade… Em uma de suas tirinhas, Mafalda pergunta a um globo terrestre: “Você promete que vai durar até eu crescer?”. Bem, tecnicamente, ele cumpriu a promessa. E se a menina Mafalda, personagem do cartunista argentino Quino, fosse alguém de carne e osso, hoje já seria uma mulher madura, […]

Por
Francine "Sra. Ni" Guilen


Em uma de suas tirinhas, Mafalda pergunta a um globo terrestre: “Você promete que vai durar até eu crescer?”. Bem, tecnicamente, ele cumpriu a promessa. E se a menina Mafalda, personagem do cartunista argentino Quino, fosse alguém de carne e osso, hoje já seria uma mulher madura, e teria adentrado a casa dos 40 anos no último dia 29 de setembro. Neste ano, não só a personagem tem motivos para comemorar, mas também seu criador: Quino festeja meio século de carreira.

Mafalda nasceu numa época em que os Beatles tocavam em todas as paradas (e, como boa filha dos anos 60, é fã dos quatro “besouros” ingleses), e onde a Guerra Fria e a guerra do Vietnã eram mais do que simples temas de filmes estadunidenses: elas estavam acontecendo de verdade. A ditadura estava se instalando nos países latino-americanos, e a censura à imprensa passaria a fazer parte da vida de todos. Na época também acontecia o surgimento da cultura como a conhecemos hoje – a televisão virava um objeto indispensável às famílias de classe média, e o modo de vida norte-americano começava a fazer sucesso, trazido pelo aparelho.

Isso tudo foi um prato cheio para a personagem criada por Quino: a menina – que passava seus dias ouvindo rádio ou lendo jornal – através de seus questionamentos de criança, filosofava sobre a situação mundial de seu tempo. O clima político sofreu várias mudanças de 64 pra cá, e a maioria das preocupações políticas de Mafalda pode não estar muito acertada com a situação do planeta dos nossos dias, mas muita coisa ainda é atual e perfeitamente compreendida – e, hoje, a garota do vestido de bolinhas ainda diria que o mundo precisa de umas belas reformas.

:: MAFALDA

Mafalda nasceu oficialmente no dia 29 de setembro de 1964, num período em que uma curta democracia existia na Argentina – 12 anos antes da junta militar tomar o poder e instalar os anos de terror no país. Quino, seu criador, trabalhava como ilustrador, criando desenhos de humor e também como desenhista em campanhas publicitárias – foi num desses trabalhos que Mafalda foi criada. A empresa de eletrodomésticos Mansfield o contatou para que criasse uma série de personagens que tivessem seus nomes começados com “M”, que remetessem ao nome da marca. A idéia não foi adiante, mas a personagem elaborada por Quino sobreviveu.

Para essa campanha, o cartunista tinha criado Mafalda e havia feito seis tiras com a personagem e alguns de seus amigos, que foram publicadas na seção de humor da revista Leoplán, em 1964. Daí, as histórias da menina que odeia sopa migraram para a revista Primera Plana, e lá ficaram até 1965. Nesse ano, as tirinhas de Quino foram para o jornal El Mundo, sendo publicadas ali até o fechamento do Jornal – que ocorreu quando, nas histórias, a mãe de Mafalda estava grávida de Guille.

Em seguida, a tira começou a aparecer em outros jornais, com Guille já nascido e os personagens melhor estruturados – assim, definitivamente, as tirinhas de Mafalda encontraram seu estilo próprio, mostrando as manias e pensamentos da classe média argentina da década de 60. Mafalda passou a fazer sucesso em jornais de outros países; virando estrela de coletâneas de quadrinhos, desenhos animados, jornais e outras tantas franquias imagináveis. Quino, então, pôde entrar para a lista de cartunistas de sucesso com protagonistas crianças, ao lado de nomes como Charles Schulz (autor da turma de Snoopy) e Bill Watterson (Calvin e Haroldo), seguindo a mesma linha “crítica ingênua e intelectual” dos outros personagens infantis, de forma um pouco mais “engajada”, por assim dizer.

Mafalda é uma personagem “engajada”, mas não é partidária. Através da personagem, o cartunista mostra seu pensamento, suas ironias e pessimismos diante da situação mundial, mas não mostra ideais políticos. Curiosamente, numa época em que o comunismo era um caminho naturalmente seguido por aqueles que, como Quino, se revoltavam contra as injustiças mundiais, o autor não mostrava simpatia por corrente alguma. Mafalda chega a dizer, numa das tirinhas, “que pacífico não seria o mundo, se Marx não tivesse comido sopa”, ao responder a sua mãe, que dizia que meninos que não comiam sopa não cresciam.

Em 1973, depois de 10 anos na ativa, e de cerca de 2000 tiras publicadas, Quino decidiu parar de desenhar a personagem – “Depois de 10 anos, senti que não queria que me acontecesse o que senti com os desenhos de “Charles Schulz”, com Charlie Brown e Peanuts. Gostei muito deles durante vários anos, mas houve um momento em que cansei” – foi a justificativa do cartunista, que não quis ver sua personagem se tornando repetitiva. As tiras protagonizadas por Mafalda ainda podem ser vistas em inúmeras coletâneas e livros, lançadas aqui no Brasil pela Martins Fontes. A menina fã dos Beatles chegou a fazer algumas participações especiais em campanhas e nas Declarações dos Direitos Humanos da Unicef em 1977.

:: QUINO

Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, nasceu em 1932, em Mendoza, na Argentina. Desde pequeno, Quino já demonstrava um certo gosto para desenhar – tanto que seu tio, que era pintor e coincidentemente tinha o mesmo nome do sobrinho, descobriu o talento do garoto logo aos seus 3 anos de idade.

Quando jovem, Quino ingressou na Escola de Belas Artes de Mendoza, mas não durou muito tempo lá, pois cansou de ficar desenhando vasos – o que queria mesmo era seguir a linha de desenhos de humor. E foi o que fez: em 1954, após tempos tentando vender seu trabalho, o autor argentino conseguiu encontrar espaço para suas publicações periódicas. A revista Esto Es foi uma das primeiras a publicarem seus desenhos, e isso deu o pontapé inicial em seu currículo: a partir daí, Quino ganhou espaço em mais de uma dezena de revistas argentinas.

Em 1958, o cartunista passou a ilustrar também campanhas publicitárias, e dois anos depois, casou-se com Alicia Colombo; passando a lua de mel no Rio de Janeiro, e estabelecendo relações com editores brasileiros. 1963 foi o ano de lançamento de seu primeiro livro (Mundo Quino), que reuniu seus trabalhos em humor gráfico.

No ano seguinte Mafalda nasceu, e os esforços do cartunista concentraram-se nela, apesar de as tirinhas da menina não terem sido seus únicos projetos. Hoje, com 74 anos de vida e 50 de carreira, Quino lamenta que muitas vezes é lembrado apenas por sua arte nas tiras de Mafalda, embora tenha muitas obras que não são parte do mundo da garota politizada, como vê-se nos livros Bem, Obrigado, e Você?, Quanta Bondade! e Quinoterapia, entre outros.

Aliás, o próprio autor afirma que se identifica muito mais com os sonhos e fantasias de Felipe e com a timidez do ingênuo Miguelito (ambos amigos de Mafalda), que com a própria protagonista. Ela, segundo Quino, foi praticamente “pré-fabricada, feita por encomenda”.

Para finalizar, eis aqui uma frase de Umberto Eco, o autor de O Nome da Rosa que tem papel importante nas obras de Quino (seja falando sobre elas, seja escrevendo prefácio em seus livros):

“Dado que nossos filhos se encaminham para serem – por nossa culpa – uma multidão de Mafaldas, não é imprudente tratarmos Mafalda com o respeito que um personagem real merece”.


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