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Você consegue imaginar uma história do Rei Arthur sem a dama do lago, sem os shows pirotécnicos do mago Merlin, sem os poderes sombrios da terrível Morgana ou mesmo sem os embates contra o sangrento Cavaleiro Negro? Pois é sem quaisquer um destes elementos mitológicos que o diretor Antoine Fuqua (Dia de Treinamento) conta a saga de um cavaleiro dividido entre duas nações, bem no meio da queda do Império Romano.
Assim como Wolfgang Petersen fez em Tróia, Fuqua preferiu deixar a magia de lado e tentou encaixar Arthur no contexto histórico da época, usando algumas recentes teorias de historiadores que querem comprovar a real existência do monarca e de seus cavaleiros da Távola Redonda. Mas a mão do competente produtor Jerry Bruckheimer, goste você dele ou não, ainda consegue dar a Rei Arthur um aspecto épico. Mesmo sem todo o misticismo ou o romance, é um filme grandioso. E que funciona muito melhor que “Tróia”: o ritmo é mais empolgante e envolvente, a edição é muito mais ágil e o núcleo principal de personagens é mais “real”. O Arthur de Clive Owen (o astro dos pequenos filmes da BMW que tanto fizeram sucesso pela internet) é mais vivo do que o quadradão Aquiles de Brad Pitt, por exemplo.
A trama começa relembrando a dominação romana que, em seu ímpeto sanguinário, acabou se deparando com a região da Sarmatia – e seus bravos cavaleiros, que tanto trabalho deram aos romanos e que, mesmo depois de derrotados, foram transformados numa cavalaria de honra para servir ao Império durante décadas. Muitos anos depois, os herdeiros dos sarmatians continuavam a serviço de Roma, na região de Bretanha, liderados por um cavaleiro de nome Arthur.
Metade romano e metade bretão, Arthur sempre quis ver sua obrigação terminada para poder voltar a Roma… e também para ver seus cavaleiros, agora grandes amigos, livres. Em sua derradeira missão, Arthur, Lancelot (Ioan Gruffudd, bem fraquinho), Tristan (Mads Mikkelsen), Galahad (Hugh Dancy) e os demais cavaleiros da Távola Redonda – sim, a mesa circular está no filme – acabam se deparando com um invasão dos bárbaros chamados saxões. Gurreiros terríveis e sem escrúpulos, os saxões acabam se tornando o último obstáculo entre os sarmatians e sua tão sonhada liberdade…
Um dos pontos mais discutidos da película é sem dúvida a forma como Guinevere, a paixão da vida de Arthur, é representada. Ao contrário da princesa frágil e dividida entre seu amor por Arthur e Lancelot, a Guinevere da bela Keira Knightley (Os Piratas do Caribe) é uma arqueira hábil do povo dos Woads – os bretões rebeldes que mantém uma parte de sua herança celta e são contra a ocupação romana. No fim das contas, a personagem até que se mostra interessante, embora não tenha tanta relevância na trama. Simplesmente não atrapalha. Afinal, acima do amor dos dois, está a amizade de Arthur e seus homens.
No fim das contas, apesar das críticas, “Rei Arthur” é melhor do que sugere o trailer. Trata-se de mais um divertido blockbuster com a assinatura de Bruckheimer. Com a direção segura de Fuqua e a boa atuação de Owen no papel principal, não tinha como dar errado. Afinal, Bruckheimer deve demorar pelo menos mais uns dez anos para investir tempo e dinheiro em algo tão ruim como Pearl Harbor…
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