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Artigo adicionado em 27/08/2004, às 12:21

MICHAEL MANN
O cineasta que não tem medo de fazer o que quer Michael Mann é o tipo do diretor que está naquele estágio de poder fazer o que quiser. Seus filmes não seguem uma mesma linha, como os de Woody Allen, e também não têm pretensões de incomodar, o que acontece com qualquer trabalho de Oliver […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Michael Mann é o tipo do diretor que está naquele estágio de poder fazer o que quiser. Seus filmes não seguem uma mesma linha, como os de Woody Allen, e também não têm pretensões de incomodar, o que acontece com qualquer trabalho de Oliver Stone. Mas é impossível sair indiferente de uma sessão de um longa do cara, tamanha a densidade com que se entrega aos seus roteiros – tanto que não está nem aí se o filme durar três ou quatro horas. E o diretor pode comandar desde um drama político até um filme de ação ou até mesmo um suspense B. Mesmo assim, qualquer roteiro, nas mãos de Michael Mann, pode se transformar em um filmaço daqueles de arrepiar até os cabelos da axila. Ou você conseguiu ficar grudado na cadeira e não soltar um “putz, esse eu quero ver” quando assistiu ao trailer de Colateral (Collateral, 2004), seu mais novo trabalho?

Nascido em 1943, em Illinois, Mann estudou na Universidade de Wisconsin e na London Film School. Retornou aos Estados Unidos, depois de ser formar, para fundar uma produtora especializada em documentários, curtas e comerciais para a TV. Dessa produtora, surgiu sua primeira experiência como diretor: o documentário 17 Days Down The Line (1972), inédito no Brasil. Além de dirigir e produzir, Mann também foi diretor de fotografia deste trabalho. Entre 1974 e 1978, Mann escreveu e dirigiu alguns episódios das séries Police Woman (1974), Starsky & Hutch (1975) e Vega$ (1978, também criador). E em 1979, estréia seu primeiro longa para a TV, Condenado à Vitória (The Jericho Mile), com Peter Strauss (de Tempo Esgotado). Depois deste sucesso, Michael Mann largou os documentários e os filmes para a TV e investiu de vez na telona. Vamos dar agora uma geral na carreira do cara:

:: A PALMA DE OURO EM CANNES E A FRAMBOESA DE OURO NOS STATES!

O primeiro trabalho de Mann a ser exibido nos cinemas foi Ruas de Violência (Thief, 1981), sobre um ladrão de jóias (James Caan, que trabalhou recentemente em Dogville, de Lars Von Trier) que sai da prisão e tenta mudar de vida, mas acaba sendo “sugado” novamente à rotina criminosa quando topa participar de um “último serviço”. No elenco, Tuesday Weld (de Um Dia de Fúria), James Belushi (daquilo que chamam de A Malandrinha) e o cantor Willie Nelson. Ruas de Violência fez um sucesso considerável lá fora, e ficou conhecido por ser um dos últimos exemplares dos típicos enlatados policiais dos anos 70 (como os estrelados por Steve McQueen). Além disso, concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 81 (perdendo para o polonês O Homem de Ferro, de Andrzej Wajda) e também ao Framboesa de Ouro (!) de Pior Trilha Sonora para os caras do Tangerine Dream… Este divertido longa policial existe no Brasil somente em VHS, e encontrá-lo para locação é o mesmo que achar uma agulha num palheiro.

O projeto seguinte foi A Fortaleza Infernal (The Keep, 1983), thriller absolutamente trash que tem uma história no mínimo curiosa: nazistas tomam uma fortaleza abandonada no leste europeu como sua base. O problema é que há uma besta do inferno (!) solta na base, matando os soldados um a um. Os alemães então são obrigados a recorrer a um judeu, que é o único que sabe como matar o monstrengo! Bizarro… O elenco está cheio de atores conhecidos por nós, nerds: Scott Glenn (de O Silêncio dos Inocentes), Jürgen Prochnow (que atuou em O Juiz e House of the Dead), Gabriel Byrne (de Stigmata) e o nosso deus, Ian McKellen. É, o Gandalf! Hehehe… Aqui no Brasil, A Fortaleza Infernal também não existe em DVD, e o VHS é dificílimo de encontrar (se alguém aí achar, me dá um toque!).

:: QUAL A SEMELHANÇA ENTRE HANNIBAL LECTER E O GENERAL STRYKER?

Em 1986, Michael Mann dirigiu Dragão Vermelho (Manhunter), primeira adaptação do romance de Thomas Harris. Pra quem não sabe, Dragão Vermelho, o livro, é o primeiro de uma série de obras com o canibal Dr. Hannibal Lecter como protagonista – em seguida, vem O Silêncio dos Inocentes, e por último Hannibal. Este trabalho, que tem um jeitão inegável de “filme B”, conta com William Petersen (o Gil Grisson de CSI) como o agente Will Graham e Brian Cox (o general Stryker de X-Men 2) interpretando Hannibal. Bem, o filme não é ruim, pelo contrário, é até melhor do que se espera, e serviu pra atiçar a curiosidade em cima deste personagem. Resultado: mais três longas com Lecter foram lançados, sendo eles: O Silêncio dos Inocentes (1991), famoso e premiadíssimo longa de Jonathan Demme (cineasta responsável por Filadélfia), Hannibal (2001), o mais fraquinho, dirigido por Ridley Scott (do primeiro Alien), e uma nova versão de Dragão Vermelho (2002), com direção de Brett Ratner (A Hora do Rush 2) e Edward Norton no elenco. Claro, depois de ver o grande Anthony Hopkins dar vida ao canibal nestes três trabalhos, é quase impossível engolir a versão antiga. Dizem que Dragão Vermelho versão 1986 existe nas locadoras, mas quem encontrar é um herói.

Já com uma certa notoriedade no meio cinematográfico, Michael Mann retornou às telinhas, onde dirigiu alguns capítulos do seriado Crime Story e foi produtor executivo de Miami Vice, além de dirigir para a TV o filmeco Os Tiras de Los Angeles (L.A. Takedown, 1989). Mas foi em 1992 que Mann decidiu largar de vez a TV e se dedicar ao cinema, e o mundo então passou a conhecê-lo.

:: AL PACINO E ROBERT DE NIRO JUNTOS? ESSE CARA MERECE UM TROFÉU!

O Último dos Moicanos (The Last of the Mohicans, 1992) não rendeu muito além do esperado – gastou US$ 40 milhões e lucrou US$ 72 milhões – mas todo mundo que viu adorou. A trama se passa em 1757, quando tropas britânicas e francesas lutam pela posse das terras da América do Norte. Hawkeye (o fantástico Daniel Day-Lewis) é um índio moicano recrutado como soldado e encarregado de transportar a filha de um oficial (A belíssima Madeleine Stowe, que trabalhou naquele troço chamado A Filha do General) até um forte tomado pelos franceses, e se vê “com a vida ilhada” quando se apaixona pela moça. O filmaço se tornou um sucesso nas locadoras e ganhou um Oscar de Melhor Edição de Som. Três anos depois, Mann marcou época com seu trabalho seguinte, Fogo Contra Fogo (Heat, 1995). Neste excelente policial de quase três horas – na verdade, uma refilmagem para a tela grande de Os Tiras de Los Angeles – o bandidão Neil McCauley reúne os melhores assaltantes profissionais para realizar uma série de roubos na “Cidade dos Anjos”, dando início a um jogo de gato e rato com o policial Vincent Hanna, dedicado a resolver os assaltos. O trabalho se tornou célebre por reunir em cena, pela primeira vez, dois dos maiores ícones do cinema americano: Al Pacino e Robert DeNiro. Sim, os dois atores já fizeram juntos O Poderoso Chefão 2.ª Parte, mas em momento algum dividiam a mesma cena. Mesmo com todos os problemas de produção – que envolviam brigas entre o elenco e a equipe de filmagem -, Fogo Contra Fogo se saiu bem e rendeu cerca de 174 milhões de verdinhas pelo mundo todo.

Em 1999, Michael Mann decidiu mexer num vespeiro. Adaptou para as telas um artigo que leu em uma revista e o transformou no clássico O Informante (The Insider), até hoje considerado sua melhor película. Trata-se de história real de Jeffrey Wigand (Russell Crowe, no papel que o popularizou), ex-executivo da indústria de tabaco que, em 1994, decidiu dar uma entrevista ao programa 60 Segundos, da CBS. Na bombástica reportagem, Wigand afirmou que os manda-chuvas da empresa em que trabalhava não só sabiam da capacidade da nicotina em viciar, como também aplicavam aditivos químicos ao cigarro. O Informante, segunda parceria de Michael Mann com Al Pacino, recebeu mais de 21 prêmios internacionais, além de sete indicações ao Oscar (não levou nenhum), mas infelizmente isto não ajudou a carreira do filme, talvez pelo seu tema difícil e até meio paradão – mas claro que isso não interfere na experiência assustadora que é assistir a este grande longa. Os três trabalhos de Mann citados aqui estão disponíveis no disquinho. E como ficou o lance todo? Bem, a CBS acabou voltando atrás e não exibindo a entrevista no programa, alegando que isto poderia trazer conseqüências fatais ao canal. Mas pelo menos rendeu a melhor atuação (e a primeira indicação ao Oscar) da carreira de Russell Crowe.

:: CUMÉQUIÉ? WILL SMITH COMO MUHAMMAD ALI?

O último trabalho do cineasta antes de Colateral é o subestimado Ali, cinebiografia de Cassius Clay, impressionante boxeador dos anos 60 mais conhecido como Muhammad Ali. O diretor causou polêmica quando fechou contrato com Will Smith no papel principal – ninguém botou muita fé no ator de Homens de Preto 2 interpretando um personagem sério, e calhou que ninguém se interessou muito em assistir este trabalho. Mas eis que Ali é um excelente filme, com uma excelente e dedicada interpretação do cara, que até recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em 2001 por seu papel. Além de Smith, o elenco conta com Jamie Foxx (que poderá ser visto em Colateral), Jon Voight (da bobeira Anaconda e pai de Angelina Jolie) e a tetéia Jada Pinkett-Smith. Um conselho? Se você é daqueles que têm um pouco de preconceito com relação a filmes de esportes, tente superá-lo para poder presenciar um dos melhores filmes de 2001. Disponível em DVD.

Analisando bem o currículo deste versátil diretor, dá pra notar que o cara realmente pode mandar ver em qualquer trabalho. Depois de Colateral, que já se pagou nos EUA, foram anunciados mais dois novos projetos com sua assinatura na direção: Arms and the Man (previsto para 2005), em que um agente federal promove uma caçada internacional para encontrar uma carga de plutônio desaparecida, e The Few (2006), baseado no livro de Alex Kershaw que fala sobre um ousado piloto da Segunda Guerra Mundial. Seus filmes são difíceis, mesmo. Não é qualquer um que adora os longas do cara. Mas quem se dispõe a descobri-los, não sai indiferente. Alguns longas me fazem correr ao cinema só por ter um determinado diretor envolvido. E Michael Mann, com certeza, é um deles. 🙂

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

– O ator John Santucci, que atua em Ruas de Violência como o Sargento Urizzi, é um ladrão profissional (hã?) que serviu também como consultor para as cenas em que os personagens utilizam ferramentas de uso doméstico como “instrumento de trabalho”!

– Na ocasião do lançamento de A Fortaleza Infernal, em 1983, Michael Mann declarou que tinha concluído um roteiro, entretanto não tinha planos de filmá-lo de maneira alguma. Mas as coisas mudam, e anos mais tarde, o cineasta acabou transformando o roteiro em filme: Fogo Contra Fogo.

Frankie Faison é o único ator que aparece nas quatro adaptações para o cinema dos livros de Thomas Harris. Em Dragão Vermelho versão 1986, interpreta o tenente Fisk, e assumiu o personagem Barney nos outros três filmes da série.

– Para se preparar para seu papel em O Último dos Moicanos, Daniel Day-Lewis passou alguns meses vivendo na selva que supostamente seu personagem teria vivido, caçando e pescando como um índio, antes do início das filmagens. Michael Mann nunca teve contato com o livro na qual o longa é inspirado, antes ou durante as filmagens.

Fogo Contra Fogo é dedicado a um detetive de Chicago, amigo de Mann, que transformou uma caçada a um bandido numa cruzada épica. A perseguição que durou meses resultou na suposta morte de ambos, bandido e mocinho.

– O papel de Val Kilmer em Fogo Contra Fogo foi oferecido inicialmente a Keanu Reeves. Na minha opinião, seria como trocar seis por meia dúzia. A trilha sonora deste longa-metragem foi interpretada pelos caras do Kronos Quartet (especialistas em misturar batidas eletrônicas a toques clássicos), responsáveis também pela trilha de um dos melhores filmes dos últimos anos, Réquiem Para Um Sonho (Requiem for a Dream, 2001), de Darren Aronofsky (do mais que esperado Watchmen).

– Michael Mann tem o costume de utilizar um mesmo diálogo em vários filmes. Em O Informante, por exemplo, é possível identificar no mínimo três frases idênticas às usadas em Ruas de Violência. Ainda em O Informante, há uma ponta muito bem humorada do polêmico Michael Moore, documentarista responsável por Fahrenheit 11 de Setembro.

– Uma cláusula contratual adotada pelos produtores a pedido do cineasta proíbe qualquer emissora de televisão a exibir O Informante dublado em qualquer outra língua e em outro formato que não seja “widescreen”. Já pensou, se fosse sempre assim, somente filmes legendados e em “widescreen”, o mundo seria muito mais feliz, com certeza! Hehehe…

– Antes de chegar às mãos de Michael Mann, o projeto de Ali passou pelos diretores Oliver Stone (de Assassinos por Natureza), Spike Lee (Irmãos de Sangue) e Norman Jewison (Hurricane, o Furacão). Spike Lee, conhecido mais por ser militante político e menos por seus filmes, ficou p* da vida por ter perdido o projeto e lutou até dizer chega contra a escolha de Mann. Chegou até a declarar na época que “somente um cineasta negro conseguiria captar a intensidade da força de Muhhamad Ali”. Tá bom, como se a cor da pessoa tivesse algo a ver com sua personalidade.

Jamie Foxx, considerado um dos melhores atores de sua geração, apareceu nas telonas pela primeira vez no esquisitaço Toys: a Revolta dos Brinquedos, de Barry Levinson, mas o papel que o alçou à condição de “novo astro” foi o de Willie Beamen em Um Domingo Qualquer, de Oliver Stone.

– Michael Mann sempre roda cerca de 60% de seus filmes com a câmera no próprio ombro.


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