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não tem como começar um texto destes sem tentar fazê-lo se colocar no lugar do sujeito: cara, você já se imaginou tomando café da manhã, almoçando e jantando numa lanchonete fast food, durante trinta dias seguidos e ininterruptos? Dose pra leão, não? Pois é, esta foi a árdua missão do documentarista americano Morgan Spurlock, diretor e protagonista do divertidíssimo Super Size Me.
Antes de mais nada: não, não se trata de uma crítica direta ao Mc Donald’s. Isso é paranóia. Tudo bem, a rede escolhida para se transformar no laboratório de testes de Spurlock acabou sendo justamente a maior delas. Mas o filme é recheado de torpedos contra boa parte da indústria alimentícia americana, que se comporta de maneira irresponsável em seu relacionamento com o cliente – seja por causa da propaganda que tem como alvo principal as crianças ou então pela falta de informações nutricionais a respeito de produtos que podem causar sérios riscos à saúde.
A experiência de Spurlock foi completa: além de comer exatamente como o americano médio, ele também se comportou como eles: andava pouco, não fazia exercícios e o sofá era o seu melhor amigo. E, vez por outra, ele se submetia a comer o tamanho gigante, o tal ‘super size’ do título. Só pra você imaginar do que se trata – o refrigerante tamanho gigante tem nada menos do que DOIS LITROS!
Dá para imaginar como a namorada do dito cujo, vegetariana, enlouqueceu neste processo. E os médicos que o acompanharam (nutricionista, clínico geral, entre outros) também. Spurlock engordou quase onze quilos. Seus níveis de colesterol e gordura corporal foram para as cucuias. O cara perdeu a resistência física, respirava mal, ficava cansado toda hora, quase morria quando tinha que subir as escadas rumo ao seu apartamento… E ainda ficou com depressão, dá pra acreditar? Assista ao filme e você vai ver: dá sim.
Durante a coletiva de imprensa, Spurlock rebateu, sem respirar, qualquer argumento que a rede de fast food apresentou – como, por exemplo, um comunicado oficial enviado a imprensa de todo mundo (inclusive do Brasil) que afirmava que, se você comer qualquer coisa em excesso, vai ficar doente como Spurlock. “Diziam eles: se você comer 50 bananas num dia, você vai ficar doente. Agora… comparar um Big Mac a uma banana? Eu nunca vi ninguém se referindo a um monte de bananas ou brocólis como uma refeição. Mas, nos restaurantes do Mc Donald’s, eles chamam seus lanches de ‘refeições’: almoço, café da manhã… Os argumentos deles não fazem sentido”.
O diretor sabe que se submeteu a um teste extremo – afinal, ninguém come no Mc Donald’s três vezes ao dia durante um mês. Mas, para ele, esta maneira de se alimentar já está enraizada na nossa sociedade. “Constatamos vários casos de pessoas que comeram no Mc Donald’s no café da manhã, almoçaram no Taco Bell’s e, para jantar, pediram Domino’s Pizza. Dá no mesmo. Este filme está bem baseado na realidade”.
Apesar do tom leve, dado especialmente pelas piadas frequentes do carismático Spurlock, “Super Size Me” não é uma comédia. E também não é uma bobagem centrada meramente em sua figura. A aventura gastronômica do cineasta é devidamente pontuada por pesquisas, números e mais números, argumentos muito bem apresentados e convincentes que mostram a realidade daquele que é o país mais obeso do planeta.
Embora possa ficar um tanto repetitivo em alguns momentos, “Super Size Me” é tão bem embasado que chega a ter o efeito Michael Moore. É uma verdadeira porrada na orelha. E faz você pensar que, talvez, aquela comidinha caseira seja melhor opção do que sair para comer um enorme sanduba no shopping. Porque, apesar de ser um retrato fiel dos hábitos alimentares ianques, quem garante que aquele não seja o nosso futuro? Você garante? Eu, que sou exatamente como a namorada do Spurlock, me garanto. E você?
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