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É impressionante a vocação do carismático Tom Cruise para o papel de protagonista. Mesmo com os cabelos grisalhos, a expressão meio acabada e a inevitável sede de sangue que o faz matar pelo menos um inocente por cena, é impossível não torcer pelo cativante personagem do cara em Colateral. Tá, tudo bem, ele é o vilão da história, ele não tem um pingo de dó ou piedade e nem sente culpa de sair atirando para todos os lados. Mas, ali no fundo, ninguém quer que o Vincent vivido por Cruise se dê assim tão mal no final.
“Colateral” é um thriller tenso e intenso, com boas doses de humor negro para apimentar o ótimo trabalho do diretor Michael Mann. O segundo vilão da carreira de Tom Cruise (o primeiro foi Lestat em Entrevista com o Vampiro) é bastante interessante e o personagem de Jamie Foxx é simplório, mas bem executado. No entanto, Mann dá uma força tão grande à cidade de Los Angeles como uma espécie de “personagem coadjuvante” que é impossível não reparar na presença vívida dos becos escuros, dos clubes noturnos e seus neons, dos metrôs vazios.
“Se alguém morrer no metrô de LA, será que alguém vai perceber? Será que as pessoas não vão se sentar ao seu lado por horas sem que ninguém veja que ele está morto?”, pergunta-se o hitman Vincent, em um dos muitos questionamentos sobre a indiferente vida numa cidade grande que se consegue perceber em “Colateral”.
Tudo bem, é fato que o filme poderia ser muitíssimo melhor se não fossem alguns clichês aos quais o roteiro acaba recorrendo – especialmente na última meia-hora de trama. Como um bom blockbuster ianque, “Colateral” tenta não dar ponto sem nó e, com certeza, aquele acontecimento banal do começo do filme pode tornar-se crucial em sua conclusão… Mesmo assim, a direção firme de Mann, aliada a uma excelente fotografia e a uma deliciosa trilha sonora, consegue segurar a coisa toda sem descambar.
Max (Foxx) é um taxista suburbano que sonha em abrir uma empresa de limusines. No entanto, preso num emprego medíocre e sem maiores anseios, o sujeito acaba se conformando a uma vida pequena e sem grandes viradas. Quando a advogada Annie (Jada Pinkett Smith) salta de seu táxi e lhe entrega um cartão, insinuando que ele pode convidá-la para sair, Max fica sem saber o que fazer. E acaba sendo duplamente surpreendido quando o misterioso Vincent (Cruise) adentra seu carro e começa a visitar alguns “amigos”… com objetivos escusos.
Na verdade, Vincent é um eficiente matador de aluguel resolvendo alguns problemas para homens muito poderosos. Impiedoso, ele força Max a ser seu motorista pessoal até que ele possa dar cabo de seus cinco alvos. Mesmo assustado e com uma arma apontada para a sua cabeça, o rapaz começa a entrar no jogo de Vincent – que, numa das sequências mais divertidas do filme, acaba até ajudando-o a enfrentar seu chefe. “Você não precisa deste emprego”, prega o matador. Dividido, Max segue dirigindo para a morte. Seria ele a última vítima? Ou um cúmplice?
Violento e um tanto brutal, “Colateral” tem ares de filme noir moderno, no qual heróis se confundem com vilões numa cidade de moral questionável. Com certeza, merece todas as entusiasmadas críticas positivas que acompanharam sua estréia nos EUA. E também o seu ingresso.
Fato curioso: o homem em quem Cruise esbarra no aeroporto, na primeira sequência do filme, é ninguém menos do que Jason Statham, de Snatch e Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes.
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