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Artigo adicionado em 20/08/2004, às 12:56

AS TROCAS DE CORPOS NO CINEMA
Se fosse o caso, eu até toparia estar na pele do Peter Jackson! Em De Repente 30 (13 Going On 30, 2004), que entra em cartaz nesta sexta-feira, uma garota chamada Jenna Rink (Christa B. Allen, em sua estréia no cinema) deseja, em pleno aniversário de 13 anos, se tornar adulta o mais rápido possível. […]

Por
Leandro "Zarko" Fernandes


Em De Repente 30 (13 Going On 30, 2004), que entra em cartaz nesta sexta-feira, uma garota chamada Jenna Rink (Christa B. Allen, em sua estréia no cinema) deseja, em pleno aniversário de 13 anos, se tornar adulta o mais rápido possível. Vai dormir e, na manhã seguinte, tem trinta anos nas costas e está com a cara (e o corpaço) da Elektra, ops, da Jennifer Garner. Um fiapo de enredo que rende quase cem minutos de filme. Quando soube deste novo projeto, perguntei a mim mesmo de imediato: “Mas o que ainda há pra ser dito sobre este tema”? Afinal, uma dezena de outros longas já contaram basicamente a mesma história, de forma boa ou ruim. E cheguei à conclusão de que Hollywood está precisando urgente de idéias interessantes e originais. Mas, para minha surpresa, o novo trabalho de Jennifer Garner, comandado pelo diretor Gary Winick (de Um Jovem Sedutor, que chega às locadoras este mês), não é tão ruim assim, e rendeu algumas boas risadas, mesmo deixando as piadas um pouco de lado e dando prioridade ao lado romântico da trama. O que importa, entendi, é a maneira que você conta a história, por mais que seja repetitiva. Se você souber contá-la, parecerá original.

O Body-Swap (no literal, troca de corpos) já é considerado um subgênero nos States e, assim como seus “variados”, digamos assim, gerou uma porção de “filhotes”. Muitos longas já dissecaram a idéia de colocar um certo indivíduo na posição de outro, e este outro no lugar do primeiro. Geralmente, estas pessoas possuem personalidades completamente antagônicas, e daí surge a linha dramática – como alguém com certo ponto de vista agirá na pele de outra pessoa com ideais completamente opostos? Alguns roteiros alteraram pontos deste conceito para mostrar o que pode acontecer quando alguém, num estado fantasioso, avança ou retrocede no tempo, enxergando a si mesmo mais velho (como é o caso de De Repente 30) ou mais novo (o recente Duas Vidas, com Bruce Willis convivendo consigo mesmo quando pivete). A seguir, alguns exemplos notórios desta linha no cinema:

:: PAPAI, EU TENHO PÊLOS!

O primeiro filme a explorar o body-swap foi Vice Versa (1916), hilariante comédia muda dirigida por Maurice Elvey. Paul Bultitude é um homem de negócios que tem problemas com seu filho Dick, um garoto cheio de rebeldia. Um certo dia, segurando uma pedra mágica da Índia (ei, em 1916 o pessoal era mais inocente!), Paul deseja ser jovem novamente, e então acontece o inesperado: Paul e Dick trocam de corpos. Enquanto o pai se torna uma criança que fuma charutos, o filho se transforma num executivo que passa os dias bebendo drink de limonada… O trabalho foi inspirado num conto do britânico Thomas Anstey, e sustenta-se exclusivamente nas gags. Infelizmente, assim como a maioria dos filmes daquela época, não existe em VHS e muito menos em DVD. “Vice Versa” ganhou duas refilmagens: uma excelente em 1948, dirigida por Peter Ustinov (lendário diretor/ator inglês) e com Roger Livesey (ator de Suspeita, 1941, de Alfred Hitchcock) e Anthony Newley (que atuou na primeira versão de Doutor DoLittle, de 1967) no elenco, e outra mais fraca em 1988, estrelando Judge Reinhold (de Gremlins e Um Tira da Pesada) e o até então desconhecido Fred Savage (o Kevin Arnold do extinto seriado Anos Incríveis e o Número 3 de Austin Powers contra Goldmember). Dos três, somente a produção de 1988 existe em VHS no Brasil.

:: SEXTA-FEIRA MUITO RENTÁVEL

Em 1976, chegou às telas Sexta-Feira Muito Louca (Freaky Friday), dirigido por Gary Nelson (também diretor do trash Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido e da divertida série de TV Early Edition) a partir do romance de Mary Rodgers. O filme dos estúdios Disney, considerado uma versão feminina de “Vice Versa”, se tornou um dos grandes sucessos do estúdio naquele ano. A trama é basicamente a mesma, mas desta vez, são mulheres ao invés de homens (ô feminismo… hehehe). A estudante Annabel, cansada de sua rotina escolar, revolta-se por achar que sua mãe, Ellen, não tem preocupações na vida. Ellen, de cabeça cheia com contas pra pagar e afazeres domésticos, pensa o mesmo da filha adolescente. Ambas desejam “trocar de lugar” por um dia, e é o que acaba acontecendo. Simples assim. Com suas piadinhas inofensivas, típicas de filmes da Disney, “Sexta-Feira Muito Louca” fez a platéia comparecer em peso aos cinemas e arrecadou US$ 25 milhões em bilheteria (o que na época era um fenômeno). O filme ganhou três indicações ao Globo de Ouro e ajudou a levantar a carreira da atriz que interpretou a adolescente Annabel. Quem é a atriz? Ah, uma tal de Jodie Foster

O sucesso da película estimulou os executivos dos estúdios a bancar um nova versão em 1995, mas desta vez direto para a TV (no caso, o canal ABC). A nova produção foi estrelada por Shelley Long (do clássico da sessão da tarde Um Dia a Casa Cai) e a gracinha Gaby Hoffman (a filha de Tommy Lee Jones em Volcano). Em 2003, outro longa revisitou o texto de Mary Rodgers, atualizando as situações para os dias de hoje. Resultado: Sexta-Feira Muito Louca se tornou um sucesso graças à química perfeita entre a maravilhosa Jamie Lee Curtis (de True Lies), a mãe, e a nova musa teen Lindsay Lohan (do divertidinho Meninas Malvadas), a filha. De todos estes citados acima, só a versão de 2003 está disponível em DVD aqui no Brasil.

:: DUDLEY MOORE FAZENDO PAPEL DE… ADOLESCENTE?

Os anos 80 investiram com tudo no body-swap. Mas como nem tudo são flores, este subgênero também rendeu micos insuperáveis, como é o caso do desastroso Tal Pai Tal Filho (Like Father Like Son, 1987), de Rod Daniel (diretor de “pseudofilmes” como O Garoto do Futuro – é, aquele do lobisomem com Michael J. Fox – e o sofrível Esqueceram de Mim 4, que de tão bom saiu direto em vídeo). Neste “clássico”, Dudley Moore é um cientista fechadão e arredio que, depois de uma experiência fracassada em seu laboratório, troca de corpo com o filho mimado, “interpretado” por Kirk Cameron (quem?). A “obra de arte” que é este filme amontoa tudo quanto é tipo de clichê: na primeira metade, acontecem todas as situações cômicas que a troca de corpos pode causar – o filho deve aprender a se comportar como um adulto, e o pai volta à escola; já na segunda metade, pai e filho, que até então eram incompreensíveis um ao outro, passam a entender e aceitar a posição de cada um. Que lindo, me deu vontade de chorar. Bem, para alguma coisa, “Tal Pai Tal Filho” serviu: foi um dos primeiros trabalhos no cinema do talentoso Sean Astin, o nosso querido Samwise Gamgee da trilogia O Senhor dos Anéis.

Outro filme que surgiu nessa onda foi o esquisito e fracassado Um Sonho Diferente (Dream a Little Dream, 1989), do diretor Marc Rocco. Neste longa, o cientista Coleman (interpretado pelo grande Jason Robards, de Magnólia, falecido recentemente) trabalha em um experimento que pode levá-lo a uma dimensão onde os sonhos se tornam realidade (hã?). Um acidente acontece – é sempre assim – e ele acaba ficando preso no corpo do desajustado adolescente Bobby (Corey Feldman, o imortal Bocão de Os Goonies). Bobby, que de alguma forma ainda está consciente, consegue se comunicar com Coleman através do pensamento (hã?), e concorda em trazê-lo de volta à realidade com uma condição: o cientista deve ajudá-lo a botar sua vida “nos eixos”. No elenco, Corey Haim (de Sem Licença para Dirigir e eterno parceiro de Feldman) e Piper Laurie (a fanática religiosa da primeira versão de Carrie, a Estranha). Com um enredo assim, é até facil entender a razão do fracasso. Talvez nas mãos de um Spike Jonze da vida, quem sabe… Tanto “Tal Pai Tal Filho” quanto “Um Sonho Diferente” não estão disponíveis em DVD no Brasil. Obrigado, Senhor.

:: SOU TRÊS MESES MAIS VELHO QUE VOCÊ, SEU BUNDA-MOLE!

Em 1988, chegou às telas o longa que seria no futuro lembrado como o ápice do gênero: Quero Ser Grande (Big). A bem-sucedida produção dirigida por Penny Marshall (diretora de Tempo de Despertar e Uma Equipe Muito Especial) alterou levemente o conceito do tema e sugeriu uma nova proposta: um garoto (David Moscow) faz o pedido-título a uma máquina num parque de diversões. No dia seguinte, acorda já adulto. O problema é que, por dentro, ele ainda é o mesmo pivete de 12 anos. Não tarda muito para que Josh, o garoto, seja expulso de casa e obrigado a encarar a vida sozinho. Afinal, qual mãe vai acreditar que seu filho cresceu vários anos de um dia para o outro?

Com um orçamento modesto (cerca de 17 milhões de doletas), “Quero Ser Grande” se tornou um fenômeno arrasador de bilheteria, rendendo só nos Estados Unidos mais de US$ 115 milhões e alçando de vez à condição de astro o ator principal, que atende pelo nome de Tom Hanks. O diferencial deste trabalho para os outros da mesma linha é o fato de “Quero Ser Grande” trilhar pelo lado dramático da situação: Josh, agora um adulto, deve aprender na marra sobre as responsabilidades de um emprego, o aluguel da casa, um relacionamento amoroso, entre outras coisas típicas de uma faixa etária a qual não pertence. O filme foi indicado a 17 prêmios internacionais, inclusive o Oscar de melhor ator para Tom Hanks, e está disponível em DVD por aqui, além de inspirar uma produção recente que estréia nas telas brazucas nesta sexta-feira. Já adivinhou qual é?

Agora, com o sucesso de “Sexta-Feira Muito Louca” e “De Repente 30”, o subgênero body-swap voltou à popularidade, e é bem provável que apareça mais algum projeto similar. Só o que precisamos saber é se estes tais novos projetos valerão o investimento no ingresso do cinema. Bem, já que dizem que o mais importante é saber contar uma história, por mais que ela seja batida e já tenha sido incansavelmente explorada… vamos nos arriscar e que venham os próximos!

:: ALGUMAS CURIOSIDADES

Maurice Elvey, que comandou a primeira versão de Vice Versa, dirigiu exatamente 190 filmes, entre 1913 e 1957.

Barbara Harris, que interpreta a mãe de Jodie Foster na primeira versão de Sexta-Feira Muito Louca, é uma cultuada comediante nos EUA, e trabalhou como atriz em filmes como Nashville (1975), de Robert Altman, o cult Peggy Sue – Seu Passado à Espera (Peggy Sue Got Married, 1986), de Francis Ford Coppola, e Matador em Conflito (Grosse Pointe Blank, 1997), de George Armitage.

– O papel da melhor amiga de Lindsay Lohan na nova versão de Sexta-Feira Muito Louca seria originalmente interpretado por Kelly Osbourne.

Tal Pai Tal Filho, o terceiro Vice Versa e Quero Ser Grande são chamados de four body-swap movies, ou quadrilogia da troca de corpos, referência à febre que o subgênero se tornou nos anos 80. O quarto filme do grupo é o insuportável De Volta Aos 18 (18 Again, 1988), com o ancião George Burns interpretando um senhor de 81 anos que têm a chance de ser adolescente novamente.

– Em Um Sonho Diferente, há um cartaz do clássico Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987) pendurado no quarto do personagem de Corey Feldman. Tanto Feldman quanto Corey Haim atuaram neste filme.

– Em Quero Ser Grande, a diretora Penny Marshall pediu ao ator-mirim David Moscow que interpretasse as falas destinadas a Tom Hanks. Assim, o ator pôde construir seu personagem em cima da atuação de Moscow.

– Ainda sobre Quero Ser Grande, o filme seria originalmente dirigido por Steven Spielberg, que chegou a contratar Harrison Ford para o papel principal. Anne Spielberg, irmã do diretor, é roteirista do longa, em parceria com Gary Ross (do fenomenal A Vida em Preto e Branco).


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