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Em frente às muralhas fortificadas da grande cidade, as tropas reforçadas guardam bravamente os portões e aguardam o destino inevitável. No horizonte distante, começam a surgir os guerreiros inimigos, sedentos por sangue e cujo único objetivo é a conquista. A marcha é lenta, nervosa, e pontuada por uma trilha sonora majestosa, para dar a dimensão da potentosa batalha que está por vir…
A descrição da cena acima pode parecer familiar até demais. No entanto, apesar das semelhanças, os invasores não são orcs, mas sim gregos. E os defensores não são, nem de longe, elfos ou anões, mas sim troianos querendo impedir a queda de sua cidade. Ainda assim, sabendo que o cenário não é a Terra-Média de O Senhor dos Anéis, mas sim a Grécia Antiga da Ilíada, de Homero, é impossível não encontrar semelhanças entre a obra de Peter Jackson e a mais nova superprodução dos estúdios da Warner, o épico Tróia.
Os planos exagerados estão lá, as cenas de batalha grandiosas e sanguinolentas também, os centenas de extras gerados por computador idem. Infelizmente, a direção de Wolfgang Petersen não é firme o suficiente para evitar comparações, em especial na parte técnica, gerando um filme sem muita identidade. Para piorar, Petersen ainda escalou dois atores de “Senhor dos Anéis”: Sean Bean (o Boromir, aqui assumindo o manto de Ulisses) e o bonitão Orlando Bloom (o elfo Legolas e que, mesmo na pele de Páris, não consegue largar o arco e flecha).
No fim das contas, “Tróia”, prometido como um dos grandes blockbusters do ano, é apenas mediano. Um tanto cansativo e longo demais, alterna bons e maus momentos e não valoriza aqueles que deveriam ser os ápices da história – como o episódio do Cavalo de Tróia, tratado de maneira rasteira e descuidada. Um ou outro bocejo despercebido acabam sendo inevitáveis no meio de mais um derramamento de sangue maçante. Porque, cá entre nós, chega uma hora que cansa.
:: ATOR DE HULK DESTRONA BRAD PITT
A trama de “Tróia” é aquela dos livros de história: depois de dominar e unir sob seu comando uma série de reinos gregos, o imperador Agamenon (Brian Cox, de X-Men 2) ainda precisa tomar Tróia, regida pelo Rei Príamo (Peter O’Toole, de Lawrence da Arábia) para controlar o Mar Egeu. A oportunidade ideal surge quando o jovem e apaixonado príncipe troiano Páris rapta sua amada Helena (Diane Kruger), rainha de Esparta, bem debaixo do nariz do Rei Menelau (Brendan Gleeson)… justamente o irmão de Agamenon. Supostamente pela honra de sua família, ele reúne o maior exército da história para tomar Tróia, com a providencial ajuda do volátil e mortal Aquiles (Brad Pitt), o maior guerreiro da Antiguidade.
A decisão de Petersen acaba sendo por “humanizar” os personagens, limando boa parte das referências a deuses e divindades – o que pode acabar enfurecendo os historiadores mais puristas. O implacável Aquiles, por exemplo, não é citado como o guerreiro invencível banhado no Rio Styx e ainda tem seus momentos de “menino bonzinho” ao lado de Briseida, uma sacerdotisa de Apolo que seria sobrinha de Príamo. Portanto, vamos tentar deixar a fidelidade histórica de lado.
As melhores atuações, obviamente, ficam por conta dos veteranos. Cox é um vilão surpreendente, exagerado, careteiro, assustador. Do outro lado, o sofrimento velado de O’Toole com a queda de seu reino é tocante, em especial graças ao expressivo e poderoso olhar do ator.
Entre os mais jovens, Eric Bana (o Bruce Banner de Hulk) consegue roubar a cena do bonitão Brad Pitt. Como Hector, o filho mais velho do Rei Príamo, Bana cria o personagem mais cativante e tridimensional da película, um guerreiro poderoso que, pela primeira vez, duvida de suas capacidades e repensa sua vida. Já a interpretação de Pitt parece um tanto forçada e repetitiva, fazendo surgir um Aquiles meio blasé, de olhar perdido…
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