|
Um dos maiores defeitos de Scooby Doo 2: Monstros à Solta, divertida continuação das aventuras cinematográficas do famoso canino dos desenhos animados, é justamente depender demais das referências diretas à animação original. Não que isso não acabe tornando a película mais atraente para as crianças – afinal, são sucessões e mais sucessões de onomatopéias, pancadas que não machucam e saltos simplesmente espetaculares típicos de qualquer meia-hora no Cartoon Network. E tome risadas. No entanto, assim como no primeiro filme, a cereja no bolo são aquelas brincadeiras com os clichés do desenho que só os adultos viciados no canal Boomerang vão conseguir captar.
A direção de Raja Gosnell (responsável pelo tenebroso Vovó Zona) está mais segura e se permite brincadeiras mais sutis e menos grosseiras – daquele tipo que estamos acostumados a ver em clássicos teenagers dos anos 90 como American Pie. Desta forma, os arrotos e peidos de riso fácil não desaparecem por completo, mas dão mais espaço a piadas envolvendo vilões clássicos do desenho. Sim, porque eles são as verdadeiras estrelas desta sequência: quando Patrick Weasley (Seth Green), curador do museu da cidade de Coolsville, inaugura uma exposição comemorativa com os trajes dos vilões desmascarados pela trupe da Mistérios S/A, surge um novo antagonista mascarado que transforma estas fraudes em monstros de verdade.
E eis que ressurgem, ainda mais assustadores, o Capitão Custer, os gêmeos esqueléticos, o monstro de piche, o minerador de 49, o cavaleiro negro e o fantasma do pterodáctilo, entre outros. Todos frequentadores assíduos das aventuras animadas de Scooby e sua turma. Desmoralizados publicamente graças a ação dos monstros e também aos comentários ácidos da repórter televisiva Heather (Alicia Silverstone), a Mistérios S/A vai ter que resolver mais este mistério para recuperar a velha honra perdida.
Além das divertidas participações especiais de Peter Boyle (da série de tv Everybody Loves Raymond) e Tim Blake Nelson (ator obrigatório dos filmes dos irmãos Coen), o grande destaque continua sendo a interpretação fidelíssima de Matthew Lillard para o “riponga” Salsicha Rogers. A sinergia do ator com o cachorrão criado em computação gráfica ainda é perfeita – vale menção a hilária cena na qual os dois experimentam diversas fórmulas coloridas num misterioso laboratório. A Velma de Linda Cardellini rende alguns bons momentos em sua atrapalhada relação com o personagem de Green. Já Fred (Freddie Prinze Jr.) e Daphne (Sarah Michelle Gellar) não acrescentam mas também não atrapalham em nada, apesar da típica canastrice do casal. Já está de bom tamanho.
Resumindo: se você estiver procurando um blockbuster totalmente descompromissado para divertir a família toda, terminando a noite com uma bela rodada de pizza, então esta é uma pedida ideal. Aliás, ideal também para relaxar de toda a densidade e sofrimento de A Paixão de Cristo. Você merece.
PS: A dublagem em português manteve as clássicas vozes de Mário Monjardim como Salsicha e Orlando Drummond como Scooby Doo. Os fãs saudosistas agradecem.
|