|
Uma festa leve, marcada pelo humor e que consagrou definitivamente a trilogia O Senhor dos Anéis, corrigindo as injustiças feitas nos dois anos anteriores, com O Retorno do Rei faturando os principais prêmios da noite e alcançando o recorde de “Titanic” e “Ben Hur”. Assim foi a 76ª cerimônia de entrega dos prêmios Oscar, que aconteceu na noite deste domingo no Kodak Theatre, em Hollywood. Sem surpresas, mas bem-humorada e um verdadeiro show para a tevê, com um belo desfile de astros e estrelas.
Uma festa, também, em que deu a lógica e foram poucas as surpresas: os vencedores foram exatamente os mesmos das premiações anteriores, aquelas consideradas as prévias do Oscar, como o Globo de Ouro e os prêmios dos Sindicatos dos Atores, Diretores e Produtores. O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei papou os 11 prêmios a que concorria, promovendo a verdadeira vingança dos nerds. Merecidamente, na verdade, já que a trilogia, como um todo, é um dos grandes espetáculos da história do cinema, substituindo com méritos a saga espacial Star Wars no imaginário dos fãs. O Senhor dos Anéis é o Star Wars da nova geração.
Sobraram poucos prêmios para os outros concorrentes, mas as categorias de interpretação consagraram a dupla do filme “Sobre Meninos e Lobos”: Tim Robbins como coadjuvante e Sean Penn como ator principal. Entre as mulheres, Renée Zelwegger ganhou o Oscar que já devia ter sido seu no ano passado, por “Cold Mountain, e a sulafricana Charlize Theron confirmou seu favoritismo, ganhando por “Monster”. “Master & Commander” também levou suas estatuetas, duas, por Fotografia e Edição de Som (não por acaso, duas categorias em que “O Senhor dos Anéis” não concorria).
:: Quatro anos depois, a volta de Billy Cristal
A abertura da festa ficou a cargo de Sean Connery, o eterno 007, que apresentou o clipe “The Return of the Host” (numa referência a “O Retorno do Rei”: a coisa já começou apontando a direção que a Academia ia tomar), em forma de trailer de cinema, muito engraçado e ao mesmo tempo emocionante, sobre a mágica de ver cinema, estrelado pelo apresentador da noite, Billy Cristal, encarnando vários personagens dos filmes indicados ao Oscar, como de “O Senhor dos Anéis”, “O Último Samurai”, “Monster”. Foi a marca da volta de Billy à apresentação do prêmio, depois de três anos em que foi substituído por Robin Williams ou Whoopi Goldberg. Cristal apresentou, então, números musicais inspirados em temas clássicos do cinema, como “Old Man River” e “Goldfinger”, homenageando os cinco indicados a Melhor Filme e brincando com seus diretores (cometendo, inclusive, uma grosseria ao dizer para Clint Eastwood que outros da idade dele já estavam mortos).
Entre os apresentadores, destaque para a dupla Ben Stiller/Owen Wilson, engraçadíssima (que apresentaram o prêmio de Curta de Animação), Catherine Zeta-Jones, muito bonita, e os também muito engraçados Robin Williams e Jim Carrey. Williams anunciou o prêmio de Melhor Animação para o desenho campeão de bilheteria de todos os tempos, Procurando Nemo, o que, na verdade, foi um tapa na cara da Disney, que acaba de romper o contrato de distribuição que tinha com a Pixar, a grande responsável pelo desenho. Viva a Pixar e morte (infelizmente) à Disney, que criativamente já morreu faz tempo. A própria Disney saiu derrotada da categoria, com “Irmão Urso”, a última animação tradicional da empresa, que agora vai apelar para os computadores em seus próximos projetos.
As canções, ao contrário dos outros anos, foram apresentadas em dois blocos. Não sei se essa idéia de mostrar todas as canções de uma vez foi boa… espalhá-las pela cerimônia era legal. Me lembro que em 1988, quando The Time of My Life (de Dirty Dancing) ganhou, também fizeram isso, mas foi com uma apresentaçãozinha legal da dupla de “Arthur”: Liza Minelli e Dudley Moore tocando um pianinho e cantando as indicações, que foi muuuito legal. Jack Black e Will Ferrell (que logo estará na adaptação de “A Feiticeira” para a telona) apresentaram a categoria.
Algumas homenagens marcaram a festa: as póstumas ao comediante Bob Hope, à atriz Catherine Hepburn (campeã de estatuetas, com quatro prêmios) e Gregory Peck, todos falecidos em 2003. E outra ao excelente diretor Blake Edwards, responsável por grandes comédias como Vitor ou Vitória, o clássico Bonequinha de Luxo e as da série A Pantera Cor de Rosa (que deu origem ao personagem animado, nascido na abertura do filme). Blake, de 81 anos, que é casado com a atriz e cantora Julie Andrews, brincou com o público ao aparecer em uma cadeira de rodas, acelerá-la, sair do palco e quebrar o cenário, reaparecendo lépido e são (nem tanto), todo sujo e empoeirado, para receber o prêmio das mãos de Jim Carrey e fazer um discurso emocionante, que foi uma aula da história do cinema. Um comediante do fundo da alma.
A expectativa dos brasileiros foi 100% frustrada: Carlos Saldanha, do curta “Gone Nutty”, foi derotado por um curta desconhecido da Austrália. Cidade de Deus foi atropelado pela máquina O Senhor dos Anéis nas categorias de Montagem, Roteiro Adaptado e Direção e por “Mestre dos Mares” em Fotografia.
Na categoria canção, vou dar uma opinião pessoal: a música “The Triplets of Belleville”, do desenho animado As Bicicletas de Belleville é muito legal e merecia o prêmio, mas mais uma vez o rolo compressor que foi “O Senhor dos Anéis” na festa deste ano faturou, com Into The West.
:: Enquanto isso, no SBT…
A transmissão pelo SBT surpreendeu pela qualidade. A belíssima e competente jornalista Maria Cândida, que substituiu Marília Gabriela e Babi, demonstrou ter bom conhecimento do assunto, é mais simpática do que as apresentadoras antigas e, melhor ainda, deixou Rubens Ewald Filho falar em paz, provocando-o na hora certa com comentários acertados e bem colocados. E o Rubens Ewald, claro, é aquela enciclopédia ambulante de cinema: sabe tudo, conhece todo mundo, igualzinho à Leci Brandão comentando desfile de escola de samba. Mas é claro que, no duelo de egos, algumas alfinetadas de parte a parte, bem veladas mas evidentes, aconteceram. Até a tradução simultânea, que em outros anos mais atrapalhou do que ajudou, esteve bem e não comprometeu. Babi, aliás, participou da transmissão, como repórter no camarote que a Brahma montou para os vips acompanharem a festa (pra mim, Oscar combina mais com vinho do que com cerveja, mas enfim…).
:: Confira todos os premiados da noite
Filme: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei
Diretor: Peter Jackson (O Senhor dos Anéis)
Ator: Sean Penn (Sobre Meninos e Lobos)
Atriz: Charlize Theron (Monster)
Ator Coadjuvante: Tim Robbins (Sobre Meninos e Lobos)
Atriz Coadjuvante: Renée Zelwegger (Cold Mountain)
Roteiro Adaptado: O Senhor dos Anéis
Roteiro Original: Encontros e Desencontros
Direção de Arte: O Senhor dos Anéis
Longa de Animação: Procurando Nemo
Figurino: O Senhor dos Anéis
Curta Metragem Dramático: Two Soldiers (EUA)
Curta de Animação: Harvie Krumpet (Austrália)
Canção: Into The West (O Senhor dos Anéis – Cantada por Annie Lennox)
Efeitos Visuais: O Senhor dos Anéis
Prêmio Especial: Blake Edwards
Maquiagem: O Senhor dos Anéis
Mixagem de Som: O Senhor dos Anéis
Edição de Som: Mestre dos Mares
Documentário Curta-Metragem: Chernobyl Heart (Rússia)
Documentário Longa-Metragem: The Fog of War (Estados Unidos)
Trilha Sonora Original: O Senhor dos Anéis
Montagem: O Senhor dos Anéis
Filme Estrangeiro: Invasões Bárbaras (Canadá)
Fotografia: Mestre dos Mares
Aproveite e leia a crítica de O Senhor dos Anéis, o filme campeão do Oscar 2004:
:: Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
|