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De mocinhas em perigo à espera de salvação, para guerreiras, líderes de equipes, ninjas, espiãs e terroristas, as mulheres mudaram por completo seu papel no mundo das HQs. E essa ”revolução sexual” não se limitou somente às histórias publicadas. Na vida real, o mercado de trabalho se modificou e abriu as portas das redações, antes um ”clube do bolinha”, para roteiristas, desenhistas e coloristas, para comemorar o Dia Internacional da Mulher, nesta segunda-feira.
Para se ter uma idéia de toda essa mudança, basta verificar a história da principal super-heroína dos quadrinhos, a Mulher Maravilha. Criada em 1941 por William Moulton Marston (com o pseudônimo Charles Moulton), exatamente por achar que só haviam heróis nas revistas da época, a princesa Diana teve sua parcela de aventuras. Entretanto a maioria girava ao redor das peripécias de seu amor, o coronel Steve Trevor.
Uma curiosidade dessa época é o estudo feito por Moulton, que achava importante para a educação das mulheres que as HQs as representassem como pessoas independentes e ativas. Ele criticava papéis como os dados para as namoradas dos heróis da época. No caso mais clássico, nos anos 40, Lois Lane era uma repórter interesseira que humilhava Clark Kent e só se metia em confusão, para ser salva pelo Superman.
Apesar das intenções de seu criador (que, aliás, foi o inventor do detector de mentiras, que o inspirou a dar como a principal arma da princesa seu laço mágico, que faz as pessoas só falarem a verdade), quando a personagem era escrita por outros roteiristas voltava a ter um papel subserviente. Nas aventuras da Sociedade da Justiça (a antiga Liga), por exemplo, ela somente secretariava as reuniões e servia café.
Atualmente, as sagas da Mulher Maravilha, narradas por Greg Rucka (com base em uma idéia dos anos 80), a mostram como uma embaixadora de sua ilha-nação, Themyscira (ou para os mais antigos, a Ilha Paraíso), no mundo real. Nessa visão, ela é tão importante no mundo como Superman e Batman. Para muitos profissionais do mercado, aliás, os três formam os principais arquétipos dos personagens de HQ.
:: A TIAZINHA DO HOMEM-ARANHA
Outro interessante caso de mudança ocorreu com uma das sexagenárias mais conhecidas da Marvel, a tia do Homem-Aranha, May Parker. De uma anciã que só ficava em casa tendo problemas de saúde, hoje ela passeia com as amigas, cuida do sobrinho e ainda, após descobrir a identidade secreta de Peter (em uma das melhores histórias do aracnídeo dos últimos tempos), tem tempo para escrever para os jornais, criticando notícias negativas ao escalador de paredes.
Hoje em dia, basta olhar para as revistas mais vendidas nas bancas para se ter uma idéia dessa mudança. Na linha dos super-heróis, as mulheres chegam a ser protagonistas de diversos títulos. Na Marvel Comics, há a Mulher-Hulk, Emma (a Rainha Branca dos X-Men), Mística e Garota-Aranha (a filha do Homem-Aranha de um futuro alternativo) estrelando séries mensais.
Na DC, a variedade ainda é maior. Sem considerar as revistas da linha Vertigo (que deve seu sucesso ao trabalho de editoras como Karen Berger e Jill Thompson) e da Mulher-Maravilha, há os títulos de personagens ligados ao Batman, como a Mulher-Gato, Aves de Rapina (uma equipe só de mulheres: Canário Negro, a primeira Batgirl e a Caçadora) e um título próprio da Batgirl.
Parte dos motivos da existência dessas publicações está no aumento do público feminino de HQs. Um dos grandes atrativos são os mangás, os quadrinhos japoneses que têm nas meninas leitores tão importantes quanto os marmanjos. Aliás, basta conferir títulos como Emma, da Marvel, para reparar na influência desse estilo cada vez mais presente no mercado editorial ocidental.
Além da maior participação nas histórias, uma análise do próprio mercado mostra a atual importância das mulheres. Quer maior prova do que os trabalhos de Louise Simonson (em Superman, da DC), Devin K. Grayson (em títulos do Batman e, há alguns anos, dos Titãs, ambos da DC), Gail Simone (de Deadpool, Agente X, da Marvel, e Aves de Rapina, da DC, com grande sucesso), Jill Thompson (com Sandman e Morte, da Vertigo/DC) e Christina Z (criadora de Witchblade, para a Top Cow), entre dezenas de outras profissionais?
A elas e a todas as leitoras d´A ARCA, os nossos parabéns pelo Dia da Mulher.
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