|
Dizer que o bom e velho cinemão hollywoodiano perdeu a mão para fazer aqueles filmes de terror que grudavam seus espectadores na cadeira é chover no molhado. No entanto, o que é realmente assustador é perceber que os produtores insistem em tentar nos fazer engolir filmes como este Na Companhia do Medo (Gothika, 2003), estrelado pela bela Halle Berry.
A primeira regra básica de um thriller como este seria evitar a obviedade – coisa que simplesmente não acontece. Usando e abusando de clichês já desgastados por outros filmes do gênero (revelar quais só daria pistas sobre o fim da história), a película alterna poucos bons momentos àqueles sustos infantis, do tipo “a garota apavorante e desfigurada surge de repente por trás de nossa heroína assustada e gritadora”. Buuuuuuuu.
No fim das contas, a trama caminha pela trilha mais fácil, já esperada por qualquer um com metade do cérebro, e desemboca num desfecho que não surpreende ninguém, que já vinha sendo anunciado desde os primeiros minutos – e que acaba acontecendo de maneira tão rápida que a suposta virada da história é praticamente uma ejaculação precoce.
‘Na Companhia do Medo’ retrata uma mudança radical na vida da psicóloga Miranda Grey (Berry). Racional e controlada, ela acaba sofrendo um bizarro acidente de carro e, depois de uma experiência sobrenatural, fica desacordada por três dias. Quando desperta, está internada numa das celas da instituição penal na qual trabalha, acusada de matar o próprio marido. Quem acaba cuidando dela é justamente seu antigo colega, o apaixonado e confuso Pete Graham (Robert Downey Jr.). A premissa parece interessante? Pois é, mas infelizmente pára por aí. Que o diga aquela estranha menina loira que a Dra. Miranda anda vendo por aí…
Uma das grandes surpresas do filme, quem diria, é a presença da tão criticada Penélope Cruz no papel da maluquinha Chloe Sava. De “personagem coadjuvante com a frase efeito” que dá a entender no trailer, ela ganha corpo com seu olhar assustador e cheio de vida, apesar da participação pequena. Se alguém ainda acha que ela é apenas “aquela namorada espanhola do Tom Cruise”, é melhor começar a pensar duas vezes.
Fica claro que o talento do diretor francês Mathieu Kassovitz deve ser muito maior como ator (ele já esteve em filmes como Quinto Elemento e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) do que como cineasta. Se ele tivesse feito um daqueles programas de orientação profissional, ‘Na Companhia do Medo’ não teria acontecido. Amém.
|