Você já viu Quem Vai Ficar Com Mary? ou O Amor é Cego? Bom, então você sabe o que esperar de mais um filme dos irmãos Peter e Bobby Farrelly. E Ligado em Você não é diferente: os diretores/roteiristas/produtores atacam com histórias simples, personagens carismáticos e um humor – de certo modo – grotesco, onde muitas das “gags” do filme acabam caindo em personagens com alguma deficiência (seja ela física ou mental), marca registrada da dupla.

Eles acertaram e erraram muito. Em ‘Quem Vai Ficar Com Mary?’, o irmão deficiente mental da protagonista interpretada por Cameron Diaz rende situações hilárias, mas certos momentos ultrapassam o bom senso, chegando à humilhação. E em ‘O Amor É Cego’, com a idéia de mostrar que aquilo que somos, nossa beleza interior, é muito mais importante do que a beleza exterior, os irmãos deram a entender que apenas as pessoas tidas como “feias” eram realmente boas, e vice-versa. Um tiro que saiu pela culatra.

‘Ligado Em Você’, ao contrário dos anteriores, parece tomar muito cuidado. Não há piadas ofensivas, nenhuma situação que chegue a humilhar ou fazer troça. E talvez, por isso, seja um dos filmes menos engraçados da dupla. Bob e Walt Tenor (Matt Damon e Greg Kinnear, respectivamente) são gêmeos siameses. Nunca se desgrudaram. Na pequena cidade de Martha´s Vineyard, no estado de Massachusets, ambos são donos de uma lanchonete famosa pela rapidez na entrega dos pedidos, feitos a quatro mãos pelos irmãos. A vida dos dois começa a mudar quando Walt decide que gostaria de tentar mesmo a vida profissional de ator, e que pretende se mudar para Hollywood. Nem precisa dizer que Bob está incluído nessa, quer ele queira ou não.

Mas não se deixe enganar: os deficientes, tão comuns nos filmes dos irmãos, ainda dão suas caras. Destaque para o insano Rocket (interpretado por Ray Valliere), garçom da lanchonete que, mesmo mostrando deficiência, consegue dar uma bela cortada em um metido a valentão. Mesmo pegando pesado nas piadas, os Farrelly sempre deixaram claro esse comprometimento de ajudar pessoas com necessidades especiais, sempre oferecendo uma pontinha em cena ou ajuda na produção de seus filmes.

As participações especiais ficam por conta de Cher, a eterna diva da música, que interpreta a si mesma… na verdade, segundo os Farrelly, uma versão mais malévola. “O que estava escrito no roteiro era uma versão cômica e cruel dela que não se parece nem um pouco com o que ela é na vida real. Cher gostou muito do roteiro, mas fiquei um pouco nervoso quando nós a chamamos pela primeira vez”, disse Peter Farrelly. O que se vê na tela é uma visão do inferno, uma Cher que, mesmo depois de um Oscar e todo o seu prestígio, se vê presa a uma série de tv de quinta categoria. Ela usa Walt e Bob para tentar se livrar do contrato com a emissora mas, ao contrário do que imaginava, a série acaba sendo um grande sucesso, colocando os gêmeos em evidência.

O filme é bem divertido, mas não dura mais do que alguns comentários após a sessão. Ainda assim, é um divertimento valoroso. E para aqueles que esperavam ansiosamente a aparição de Fernanda Lima – numa ponta tão comentada quanto a de Rodrigo Santoro em As Panteras: Detonando – já digo que ela tem menos tempo de tela do que o astro brasileiro, mas ainda arranha três ou quatro palavras em inglês. E é isso. E eu nem acho ela tão bonita assim… Mas vamos em frente, Brasil! ^_^