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Críticas muito ruins foram feitas ao universo de Harry Potter, inclusive a de que sua autora, a britânica J.K. Rowling, estaria demonstrando no texto seu cansaço com o personagem. Todas essas críticas são, além de injustas, justificadas simplesmente pela megaexposição que o bruxinho e sua mãe de carne e osso tiveram na mídia nos últimos anos, graças ao assombroso sucesso dos livros e das adaptações para o cinema. Entenda a lógica mais que estúpida: a moça fica famosa porque seus livros são legais e vendem bem; e, por ficar famosa, começa a receber críticas que colocam em dúvida sua competência (que, aliás, é inatacável: ela conseguiu fazer crianças que nunca haviam tido contato positivo com livros lerem por gosto, acamparem em frente a livrarias para serem as primeiras a ler suas histórias). E, com Harry Potter e a Ordem da Fênix ela chega ao auge, no melhor livro da série até o momento.
O amadurecimento do personagem se reflete também no texto, menos infantil a cada livro da série, talvez para acompanhar a idade dos leitores, que cresceram junto com o herói do livro. É preciso lembrar, porém, que estamos falando de um livro de fantasia voltado a crianças e a jovens: não é para se esperar nenhuma grande obra da literatura mundial e nem esse é o objetivo (se fosse, certamente o livro não teria se tornado o fenômeno que é).
A saga do bruxinho chega ao quinto volume já evidentemente influenciada pelo cinema: muitas das cenas foram obviamente escritas depois que os filmes da Warner estrearam na telona, já sob a influência, que pode ou não ser intencional, do que foi visto na telona nos dois primeiros filmes da série. Rowling está bem mais descritiva, as várias sequências de ação foram escritas para facilitar a vida do futuro roteirista e também, por mais que o leitor tente, é quase impossível se descolar da estética criada pelo cinema.
O desencadear dos acontecimentos, aqui, não difere nada do que acontece nos outros quatro livros: começa com Harry sofrendo na casa dos Dursley, continua na Escola de Magia de Hogwarts e tem seu auge próximo do fim, quando Harry encara, mais uma vez, o lorde das trevas, Voldemort, o bruxo do mal que matou seus pais.
Com Voldemort de volta, os bruxos começam a se dividir entre os que o apóiam e a suas idéias racistas e de sangue-puro, e os que lutam para derrotá-lo. Os Comensais da Morte e os Aurores têm muito trabalho. Uma sociedade secreta, a Ordem da Fênix do título, se forma para combater as forças do mal, enquanto a comunidade bruxa em geral desacredita Harry e Dumbledore, que chega até a perder o cargo de diretor de Hogwarts.
A diferença de A Ordem da Fênix está, primeiro, na maturidade dos personagens: Harry já está com 16 anos, vivendo fortemente a crise da adolescência e volta e meia perde a paciência e dá seu showzinho particular de gritos e palavrões. Típico adolescente. O envolvimento de Harry com a bela oriental Cho Chang, apanhadora da Corvinal, tem um belo encaminhamento. Os amigos de Harry também se dão bem: Gina e Rony Weasley entram para o time de Quadribol da Grifinória e Hermione e Rony se tornam monitores.
Os vilões são um capítulo à parte, especialmente os novos: a nova professora de Defesa Contra Artes das Trevas, a racista Umbridge, é o personagem mais odiável de toda a série, com sua voz e trejeitos infantis, sua paixão pelo cor-de-rosa e sua crueldade que beira a insanidade, será fonte constante de problemas para o trio central, para o resto dos alunos de Hogwarts e até para os outros professores.
Monstro, o elfo doméstico que Sirius Black herdou de seus falecidos pais, é muito diferente do irritante Dobby, que Harry conhece em ‘A Câmara Secreta’: é arrogante, lúgubre, também com idéias racistas e que só não é mandado embora por seu dono porque sabe demais sobre seu paradeiro e sobre os encontros secretos da ordem. Mesmo assim, é responsável por momentos hilários, porque fala na cara das pessoas o que pensa delas. No mais, Harry é atormentado pelo incompetente Ministro da Magia, Cornélio Fugge, pelos sinistros Lúcio Malfoy e seu filho Draco. Há um desfile de seres míticos pra ninguém botar defeito: lobisomens (o ex-professor Lupin, inclusive), a Fênix Fawkes, gigantes, centauros e todos os professores de Defesa Contra As Artes das Trevas que já passaram por Hogwarts, com exceção ao falecido Quirrell.
Uma série de segredos que perduraram nos quatro livros anteriores são revelados neste. O porquê de Voldemort ter tentado matar Harry quando ele era bebê, por exemplo. Ou o porquê de Harry precisar voltar à casa dos Dursley em todas as suas férias, apesar de ser maltratado por lá. Ou, ainda, os motivos do ódio de Snape por Harry.
Os grandes momentos do livro incluem um ataque de dementadores a Harry e Duda Dursley em plena Rua dos Alfeneiros, mais uma volta de Harry ao passado para encontrar seus pais e o duelo final entre as forças do bem contra Voldemort e seus Comensais da Morte (que fugiram de Azkaban, a mortífera prisão dos bruxos), que dá início à guerra aberta que deverá ser mostrada nos dois livros que encerram a saga do bruxinho.
A reclamar, mesmo, só sobre algumas escolhas da tradutora Lia Wyler: porque usar “nam” no lugar de não e, em certos momentos, “eh” no lugar de é? Está querendo cativar os leitores que navegam na Internet, mesmo que isso signifique irritar o resto? Mesmo assim, a excelente Lia se redime por outras questões: voltou atrás e, neste livro, os nomes dos fundadores das casas de Hogwarts, por exemplo, estão no original: Slytherin, Griffindor, Hufflepuff e Ravenclaw.
Prepare-se para 702 páginas de muita ação. Da editora Rocco, Harry Potter e a Ordem da Fênix tem preço sugerido de R$ 59,90.
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