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O escritor norte-americano Peter StraubStephen King e Clive Barker. Seus livros, bastante complexos, caudalosos e sempre girando em torno de um horror visceral, quase agressivo, são sinônimo de sucesso de vendas. Na entrevista a seguir, Straub, de 60 anos, fala sobre o início da carreira, a preferência pelo horror e da notícia de que umde seus livros mais conhecidos, O Talismã, parceria com Stephen King, vai virar filme de Hollywood em breve.
A ARCA: Como foi seu início na literatura? A idéia de se tornar um escritor veio da infância ou apareceu mais tarde?
Peter Straub: Meu início aconteceu, de fato, em 1968, quando um poema meu foi aceito e publicado em um ornal de poesias chamado ‘The World’. Quando era criança, não acreditava que pessoas tímidas, fechadas, escrevessem livros. Mas eu sempre fui fortemente atraído por livros, pelo trabalho impresso.
AA: Como foi a entrada no universo dos livros de horror? Foi uma escolha?
Straub: Foi uma escolha, sim. Eu estava quebrado e se eu não escrevesse algo que pudesse manter a casa, eu teria que arranjar um emprego formal. Então, eu inventei uma espécie de história de fantasmas, ambígua e meio safada. No processo, eu descobri que havia entrado em uma área com a qual eu tinha grande afinidade e facilidade.
AA: O sr. acha fácil amedrontar as pessoas? De onde tira as idéias para suas histórias de horror, do que assusta o sr. pessoalmente?
Straub: Não, amedrontar pessoas não é algo tão fácil. É preciso fazer esforços monumentais para ficar calçado, ter uma base. Eu acho que uso, realmente, coisas que me assustam como fonte para cenas em meus livros, mas isso não quer dizer grande coisa: uma quantidade assombrosa de coisas me assusta. Eu não sei de onde vem esse meu talento para causar medo e, na verdade, acho que passei boa parte da minha vida tentandonão descobrir, mas o fato é que eu e o medo somos amigos, por mais que eu queira desfazer essa amizade. Eu acho que isso teve muito a ver com um acidente que sofri, aos 7 anos de idade. Ter contato com a morte tão cedo não foi nada fácil.
AA: Quais são suas influências literárias mais fortes?
Straub: Nossa, é uma lista sem fim. Para lhe dar uma versão curta, posso citar Tom Wolfe, Jack Kerouac, Henry James, Raymond Chandler, Ross McDonald, Charles Dickens, John Ashbery, Stephen King, Donald Harington, John Crowley e Wilkie Collins.
AA: O sr. já declarou uma vez que, quando criança, gostava muito de histórias em quadrinhos. Ainda gosta?
Straub: Sim, ainda gosto, bastante. Os gibis – ou novelas gráficas – que mais gosto são os de Neil Gaiman, Chris Ware, Dan Clowes. E ainda adoro Pogo, de Walt Kelly. Quando eracriança, antes mesmo de aprender a ler, decorava os textos das histórias do Superman, Batman e Capitão Marvel.
AA: O sr. também declarou que seu maior interesse, quando criança, era a leitura. Que livros mais o impressionaram nesta fase?
Straub: Quando eu era muito criança, adorava os livros Hardy Boys e os livros de Tom Swift. Depois, descobri os livros de Albert Peyson, Will James. Lia até livros voltados para meninas adolescentes, como Greengage Summer, de Rumer Godden. Mas, de verdade: lia qualquer coisa que me caísse às mãos.
AA: Há pessoas que precisam de silêncio absoluto ao escrever, outros gostam de muito barulho à sua volta. Como é o seu processo criativo?
Straub: Depende muito do meu estado de espírito. Eu trabalho de ambos os jeitos, numa atmosfera mais calma ou à base da música que sai do meu belo sistema de som. Para os aficcionados: as peças que uso são feitas pela Linn, Wilson e Spectral.
AA: E a história? Ela vem inteira à sua cabeça ou o sr. a descobre conforme escreve?
Straub: Em O Clube do Fogo do Inferno, livro no qual trabalhei por mais de um ano, eu não tinha a menor idéia onde a história iria dar nem explicações para eventos cruciais da história, que eu já havia escrito. Eu geralmente escrevo assim, quase às cegas. Se planejasse todo o meu avanço, morreria de tédio. Eu quero descobertas, fazer o livro avançar por conta própria.
AA: Em Dança Macabra, Stephen King se declarou um fã de seu trabalho, acrescentando que Ghost Story é um dos melhores livros de horror já escritos. O que o sr. pode dizer sobre trabalhar com ele em O Talismã e A Casa Negra? Como o sr. classifica a experiência de escrever um livro a quatro mãos com Stephen King?
Straub: Stephen King é, provavelmente, o cara mais fácil de trabalhar em conjunto em todo o mundo. Ele tem tato, apóia, é generoso, flexível, engraçado e extremamente viciado em trabalho. Se Stephen King coloca o arado dele ao lado do seu, pode ter certeza de que aquele campo difícil, cheio de pedras, será preparado para a plantação.
AA: Como o sr. reagiu à notícia de que O Talismã será transformado em um filme?
Straub: Eu reagi com toda a sorte de sentimentos alegres do tipo =91=91bem, que bom, afinal!=92=92. Vamos ver como as coisas vão acontecer desta vez, já que várias outras tentativas de transformar essa obra em filme falharam.
AA: Alguma idéia sobre quem poderia interpretar cada um dos personagens?
Straub: Não sou muito fã desse tipo de jogo, de imaginar atores como a cara de certos personagens, mas vamos lá: como Jack Sawyer, Freddy Bartholomew; como Morgan Sloat, Edward Arnold. Como a mãe de Jack, Rosemary Clooney (uhm, talvez não).
AA: O que o sr. pode adiantar a seus leitores sobre seu mais recente trabalho, Lost Boy Lost Girl?
Straub: Eu posso adiantar uma coisa, pelo menos: o livro foi escrito por um autor que vive atualmente sob um estado contínuo de felicidade.
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