Não pretendo, através deste artigo, menosprezar a infância alheia, tampouco comparar a felicidade e as impressões sentidas por cada um, mesmo porque essas facetas são algo íntimo, imensurável. É errado, segundo creio, afirmar que os infantes dos 60´s foram mais felizes que o dos 70´s, e assim por diante. É tudo muito subjetivo, como se vê.
Quero analisar, isso sim, o porque daquela década, os anos oitenta, se mostrar tão especial para quem a viveu quando criança ou pré-adolescente. Procurarei demonstrar os motivos pelos quais sentimos tamanha saudade dos “anos perdidos” e apresentarei um panorama dos mesmos, mas do ponto de vista infantil e dos indivíduos da cidade grande, pois nos rincões do Brasil a coisa não muda nunca. Não é o intuito deste texto, ainda, apurar se os dias de hoje são maus ou não, mas apresentar fatos e situações vivenciadas no passado.
Divirtam-se, caros leitores d´A ARCA, e descubram – ou relembrem – uma época maravilhosa que deixou saudades.
:: ANOS 80 – ÉPOCA ÍMPAR
Os anos oitenta foram mesmo uma época ímpar no quesito infância e pré-adolescência, pois possibilitaram, de maneira balanceada, a coexistência do antigo e do novo; do tradicional e da novidade. As brincadeiras de rua, como o pega-pega, o peão, o esconde-esconde e tantas outras coexistiram com os pioneiros brinquedos verdadeiramente digitais: os primeiros video games e microcomputadores, como o Atari, o Odyssey, o TK90X, o Apple e o MSX, os quais chegaram ao país justamente no início daquela década.
A criança pôde, diferentemente dos pais e dos avós, brincar de esconde-esconde ou de soltar peão no recreio – uma brincadeira “analógica” – mas também jogar Atari ao voltar para casa, contrariamente às crianças da atualidade, cujas mentes estão muito mais fortemente influenciadas pela tecnologia pós-moderna: celulares, navegação Web, e-mail e tantas outras coisas. É quase como se, hoje em dia, os pequenos precisassem desses aparatos todos para alcançar a felicidade. A cada dia que passa, os joguetes do passado se perdem nos meandros do tempo.
Claro que não posso deixar de citar os fantásticos brinquedos que foram a febre dos 80´s, os quais serviram para aguçar a imaginação da turminha: Playmobil, Aquaplay, Comandos em Ação, Transformers e tantos outros.
:: O MELHOR DE DOIS MUNDOS
Naquela época experimentou-se um pouco de cada coisa, o “melhor de dois mundos”, por assim dizer. Aproveitou-se da novidade eletrônica, originária daquele período, ao passo que não se abandonou as clássicas e tradicionais atividades dos antepassados; tudo em balanço.
Outro fator determinante é que o índice de violência de então não era alto como o de hoje, coisa que proporcionava brincadeiras diversas às ruas e às praças, e fazia com que os indivíduos perambulassem mais por aí, ausentes da preocupação atual para com a criminalidade e delinqüência. Via-se mais, por conseguinte, crianças a jogar bola, a correr e a andar de bicicleta despreocupadamente. Talvez essa peculiaridade tenha feito com que a molecada passasse mais tempo junta, brincando e conversando, se esse quesito fosse comparado com o individualismo tecnológico existente atualmente. Agora, as crianças conversam entre si pelos celulares ou por e-mail; ontem, andavam de bicicleta juntos e arquitetavam seus planos na pracinha perto de suas casas.
:: INGENUIDADE NA TEVÊ E NA MÚSICA
A televisão e a música tiveram, também, os anos oitenta como o limite para a baixaria com a qual convivemos de uns tempos para cá. Grupos como Trem da Alegria e Balão Mágico ainda traziam mensagens genuinamente infantis em suas canções. Na tevê, as crianças e pré-adolescentes assistiam aos programas notoriamente voltados para a própria categoria, como Daniel Azulay e a Turma do Lambe-Lambe ou Bambalalão, atrações que não incitavam a sexualidade precoce, mas celebravam a infância. Como se nota, a década preservou, ainda, o estereótipo da criança conforme perpetrado por pais e avós tradicionais do passado.
Ainda sobre a tevê, os seriados dos anos oitenta estavam recheados de aventura e de ingenuidade, apesar de disporem de um pouco de violência também. É o caso de A Super Máquina, Esquadrão Classe A, Super Herói Americano e tantos outros. Geralmente voltados para a família, essas produções destacavam um herói do bem, quer seja MacGyver ou Michael Knight, que geralmente repudiava a violência e que quase sempre mantinha laços de preocupação e zelo pelos mais fracos.
:: ANOS MARAVILHOSOS
É, amigos, conforme dito no início, essa década deixou saudades para quem foi criança ou pré-adolescente. Como se viu através deste artigo, a criança que viveu nos anos oitenta pôde experimentar um pouco das brincadeiras de seus pais e avós, ao passo que pôde gozar de novidades tecnológicas que não as alienava tanto quanto as de agora. Essa é a chave, ao meu ver, que classifica os anos oitenta como uma época genuinamente interessante, a despeito de todo saudosismo que a cerca.
A obsessão para com a moda e a aparência, fatores novos que marcam – principalmente – as meninas de hoje, estava longe de ser uma realidade.
A ingenuidade da garotada, também, é um dos pontos marcantes do período. A gente era criança no sentido pleno da palavra. É, este que vos escreve chegou a brincar de Comandos em Ação aos 14 anos de idade.
Ai, que vontade de voltar no tempo… Cadê o DeLorean?
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