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Quando um novo ano começa, é garantido ver todos os veículos especializados fazendo matérias especiais sobre os principais lançamentos do mundo do cinema. No entanto, dá para contar nos dedos aqueles que sequer citam um filme nacional no meio de todos aqueles lançamentos hollywoodianos de encher os olhos. Bom, quem me conhece um tantinho, já sabe que não sou daqueles patriotas ufanistas que SÓ conseguem achar graça na produção 100% tupiniquim. Mas, depois de 2003, bem que o cinema nacional merece um espaço um pouco maior.
Carandiru seguiu a trilha de sucesso de Cidade de Deus e, depois de dividir os críticos, aguarda a tão sonhada vaga no Oscar. Os Normais e os caras do Casseta & Planeta levaram seu humor para as telonas e até que se deram bem. Lisbela e o Prisioneiro foi a primeira produção de Guel Arraes exclusivamente para o cinema e um passo importante no desenvolvimento de uma linguagem própria e dissociada do esquemão americano (talvez até esteja surgindo o típico ‘blockbuster nacional’).
Isso sem deixar de citar coisas como o controverso Amarelo Manga, o divertido O Homem que Copiava e o fraquinho Homem do Ano. Até a Sandy e o Junior resolveram virar astros de cinema com uma produção digna de “Mad Max” e um roteiro digno de “Waterworld” (e isso não é lá muito boa coisa, mas enfim…), AcQuaria.
O primeiro dia de 2004 já engata com a comédia Sexo, Amor e Traição, do impagável Jorge Fernando. Misturando um pouco de ‘Os Normais’, Friends e Guerra dos Sexos, ele conta uma história de casais infiéis, separações e reconciliações. O trailer parece ser meio “água-com-açúcar”, mas a gente confia no Jorge Fernando porque ele é um sujeito legal. No elenco estão os obrigatórios Murilo Benício e Caco Ciocler (só faltou o Matheus Nachtergaele para completar a tríade absoluta do atual cinebrasilis), além de Marcello Antony, Malu Mader, Fábio Assunção, Alessandra Negrini e Heloísa Périssé.
No final do mês, dia 23 de janeiro, dois filmes nacionais estréiam no mesmo dia (pelo menos, a previsão é esta). Com direção de Eliane Caffé, a comédia Narradores de Javé promete. Com um quê de drama, ela reúne os excelentes José Dumont, Nelson Xavier e Matheus Nachtergaele (olha ele aí!) para contar o ‘causo’ de uma comunidade que, prestes a desaparecer em uma inundação, resolve documentar os grandes acontecimentos de sua história. Mas é claro que cada um tem a sua própria versão dos fatos… No mesmo dia, nossos cinemas serão presenteados com mais uma película do diretor pau-pra-toda-obra Moacyr Góes. Depois da Xuxa, ele reúne Angélica e Luciano Huck (segundo os fofoqueiros, o último casalzinho de plantão) numa comédia adolescente chamada Um Show de Verão. Tem ainda Thiago Fragoso, Ingrid Guimarães e a sumida Márcia Cabrita (a empregada que substituiu Cláudia Jimenez no “Sai de Baixo”). Eu, hein?
Para encerrar janeiro, temos ainda, para o dia 30, o documentário Rio de Jano. Com direção de Eduardo Souza Lima, Anna Azevedo e Renata Baldi, o filme relata a visita do artista plástico francês Jano ao Brasil no fim do ano 2000. Durante 50 dias, ele entrou de cabeça no cotidiano carioca e conheceu detalhes sobre a vida na Cidade Maravilhosa que os cartões postais não contam. A incursão do francês gerou o inspirado álbum gráfico Rio de Janeiro.
Vamos pular para fevereiro: no dia 06, mais uma comédia com jeitinho tipicamente brasileiro. Em Viva Voz, um celular acionado por acidente leva uma perua (Viviane Pasmanter) a descobrir o caso do marido Duda (Dan Stulbach, o sósia do Tom Hanks em “Mulheres Apaixonadas”) com a funcionária Karina (a ótima Graziella Moretto). Até o Supla faz participação especial, acredita? Bom, já que o assunto é mesmo fazer rir, no dia 19 de março tem outra para desopilar o estômago: Viva Sapato. Dolores (Laura Ramos), dançarina cubana, decide largar tudo e abandonar um casamento para abrir um restaurante no Brasil. Ela fica furiosa quando recebe da tia brasileira um par de sapatos de dança… mas fica mais furiosa ainda quando descobre que o dinheiro que ela tanto precisava estava escondido justamente nos enormes saltos dos sapatos… que ela vendeu por uma ninharia. Estão no elenco Maitê Proença, Irene Ravache, Paula Burlamaqui, Caio Junqueira, José Wilker e o nosso conterrâneo Ney Latorraca.
Em abril, mais um bom documentário brazuca para ficar de olho. Fala Tu, que estréia no dia 16, mostra o dia-a-dia de três personagens da Zona Sul do Rio de Janeiro, unidos pelo rap. Exibido na Mostra de Cinema, em São Paulo, e no Festival do Rio, foi especialmente bem-recebido pelo público marginalizado, que enxergou na obra de Guilherme Coelho um retrato honesto e sem maquiagem da periferia.
Encerrando o primeiro semestre com chave de ouro, vamos poder assistir, no dia 30 de abril, ao aguardado drama Olga, uma espécie de superprodução de época sobre a vida da revolucionária Olga Benário, esposa de Luis Carlos Prestes (se você não sabe quem é, recomendamos estudar um pouco mais de história). Baseado no livro de Fernando Moraes, o filme traz no papel principal a competente Camila Morgado (a vidente da série “A Casa das Sete Mulheres”), que raspou os cabelos para filmar as cenas finais no campo de concentração alemão, onde Olga morreu. Fernanda Montenegro será Leocádia, a mãe de Prestes (vivido por quem? Claro, pelo Caco Ciocler).
E olha que este é só o começo do ano para o cinema nacional. E agora, ainda vai ter peito de dizer que filme brasileiro é só Xuxa e Trapalhões? Fala sério!
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