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Artigo adicionado em 02/12/2003, às 11:04

GUILHERME BRIGGS: Entrevista exclusiva!
Um dos mais requisitados dubladores brasileiros é, antes de mais nada, um NERD! ^_^ A ARCA: Tudo certo, Guilherme? Bom, vamos começar do começo: como foi que você se envolveu com dublagem? Guilherme Briggs: Eu sempre fui fã de dublagem, brincava de alterar a voz desde a época de colégio. Já era tradição eu e […]

Por
Paulo "Fanboy" Martini


A ARCA: Tudo certo, Guilherme? Bom, vamos começar do começo: como foi que você se envolveu com dublagem?
Guilherme Briggs: Eu sempre fui fã de dublagem, brincava de alterar a voz desde a época de colégio. Já era tradição eu e meu pai ficarmos brincando com uma velha vitrolinha e um gravador nos finais de semana fazendo locuções fictícias de filmes de terror (geralmente com vampiros ou alienígenas), de programas de rádio portugueses, contando historinhas e fábulas, narrando expedições arqueológicas ou simplesmente fazendo entrevistas malucas. Papai fazia um sotaque inigualável de português e isso era um problema, porque eu passava mal de tanto rir… Inclusive dá pra escutar minhas risadinhas ao fundo em várias de nossas produções caseiras. Parecia um bichinho!

Avançando quase dez anos à frente, eu continuava apaixonado por Artes (desenho, escultura e pintura), interpretação, leitura (livros, gibis, tudo que caía nas minhas mãos…), cinema e desenhos animados. Tive sorte de sempre ter minha mãe e meu padrasto Fernando me apoiando, cuidando de mim e me incentivando para as Artes. Meu querido pai infelizmente já tinha falecido e eu, já desde cedo, tinha resolvido trabalhar com esses universos que tanto amava.

Em 1991 eu estava cursando a faculdade de Programação Visual na UFRJ e já dublava de brincadeira várias sátiras de Jornada nas Estrelas com o meu amigo Ricardo Juarez (a voz do Johnny Bravo) no vídeo caseiro dele, o que serviu para aprimorar nossa técnica e desenvolver muito do improviso que gostamos de colocar em nossos personagens. Essas dublagens eram exibidas nas reuniões de amigos e até em convenções de fãs, sempre fazendo muito sucesso e arrancando risadas gerais da platéia. Nesse meio tempo, minha grande amiga Cristina Nastasi, que é jornalista, mandou uma carta para o jornal “O Globo” comentando os erros de tradução de justamente um dos filmes de Jornada nas Estrelas (aquele com as baleias, que Kirk, Spock e sua tripulação tem que voltar no tempo). A empresa que dublou o longa metragem em questão, num gesto muito bacana, chamou Cristina e convidados para conversar com o dono e visitar os estúdios. Eu estava nessa leva de amigos que foram conhecer o mundo da dublagem mais de perto. Depois, me informei sobre cursos e estágios e comecei a acompanhar as gravações, como um ouvinte. Nesse meio tempo, conheci vários dos meus ídolos como Orlando Drummond (a eterna voz do Scooby-Doo e do Popeye), Isaac Bardavid (Wolverine) e Mário Monjardim (Pernalonga), entre tantos outros monstros sagrados. Fiz alguns testes de voz e o mesmo dono dessa empresa gostou muito do meu trabalho e até me orientou como eu deveria proceder para tirar um registro profissional de ator para começar a trabalhar, pois ele e todos os outros viam que eu realmente tinha nascido para aquela profissão. E o curioso foi que o meu primeiro papel fixo em uma série de TV foi coincidentemente uma personagem de Jornada nas Estrelas. No caso, era a “A Nova Geração”, e eu iria dublar o Tenente Worf (que era o primeiro e único Klingon à bordo de uma nave da Federação).

Atualmente estou muito feliz com minha profissão. Conheci muitas pessoas especiais e fiz amizades que me trouxeram muitas alegrias e ensinamentos. Encontrei também um cara que eu considero meu irmão mais velho, de tanto que o amo: Mauro Ramos. Juntamente com sua família especial, Mauro mora no meu coração eternamente. Não tenho nem palavras para expressar o meu carinho por esse meu querido amigo 🙂

AA: Vamos às apresentações: que papéis o Guilherme Briggs fez e ainda faz no mundo da dublagem?
GB: Dublar um personagem animado é a combinação perfeita de diversão e trabalho (e ainda receber por isso!). O meu primeiro papel principal em desenho foi o gatinho roxo Eek! Eu dublei o filho da Internet, Rei da Informação Descontrolada, Senhor do Control Alt Del (mais conhecido como Freakazoid), fiz as vozes de Buzz Lightyear, Samurai Jack, Babão (‘Eu Sou o Máximo’), Daggett (‘Os Castores Pirados’) e trabalhei nos lindos longas animados da DreamWorks: Príncipe do Egito (Moisés e Deus) e ‘O Caminho para El Dorado’ (Túlio). Em anime realizei um sonho dublando o Spike no filme de ‘Cowboy Bebop’ (que está meio enrolado de estrear no Brasil), fiz o amalucado professor Hiragi em ‘Cavaleiros de Mon Colle’ e o nobre Líder Optimus Prime em três séries ‘Transformers’: (Beast Machines, A Nova Geração e Armada).

Recentemente estou dublando os novos episódios de ‘Samurai Jack’ e de ‘Os Padrinhos Mágicos’, um desenho engraçadíssimo da Disney (para televisão) onde eu faço o marido (chamado Cosmo) do casal de padrinhos (ou fadas) que ajudam um garotinho (Timmy) em tudo. Substituí (muito a contra-gosto pois não concordo com as mudanças que a Warner está fazendo com os personagens clássicos) o querido Márcio Seixas como Marvin, o Marciano na nova série Duck Dodgers (estrelando Patolino e Gaguinho).

Também participei do CD ESCUTANDO HOLY AVENGER que eu dirigi para a editora Talismã e seu criador, Marcelo Cassaro. Ele foi lançado em novembro durante o grande evento de comemoração da centésima edição da revista DRAGÃO BRASIL. Vai ser a primeira vez que os fãs vão poder escutar as vozes dos personagens de Holy.

Ah, e uma novidade em primeira mão para vocês: o longa animado do HOLY AVENGER está vindo aí, e também estou envolvido nesse projeto. É possível que uma série de TV também venha. Marcelo Cassaro e o diretor de animação ainda estão na fase de desenvolvimento de um piloto de um minuto e meio para captação de recursos junto ao governo. As mesmas vozes do CD “OUVINDO HOLY AVENGER” estarão nas animações também, claro! 🙂

AA: Você tem um ‘dublador favorito’ de todos os tempos?
GB: Acho que é o Nelson Batista, que dublava o Jerry Lewis. Eu ficava impressionado com o talento desse maravilhoso profissional. Eu me lembro que quando criança, cheguei a pensar que o Jerry Lewis falava mesmo em português, tamanha a precisão e naturalidade da sua dublagem. Outros que me marcaram muito foram os dubladores do ‘Agente 86’ (Bruno Neto), do ‘James Stevens’ (Cazarré – que dublava também o Pica-Pau, substituindo o Garcia Júnior que foi o primeiro) e da ‘Feiticeira’ (que infelizmente queria saber o nome). Queria muito ter conhecido esses dubladores de minha infância.

AA: Se eu quiser ser dublador, como é que eu preciso proceder?
GB: É só você erguer a sua cápsula Beta, Ayata, e você se transformará… no Ultramaaaaaannnnn… Ultramaaaaaaaaaaaaaaannnnn… Ultra… Hum? Ah! Dublador? Ah, tá!! Desculpe!… Para ser um dublador você precisa primeiro entender que todo dublador é um ator, mas nem todo ator é um dublador. A dublagem é uma especialização do trabalho do ator. Você deve fazer cursar uma faculdade ou então fazer curso de teatro que lhe dê o registro profissional junto ao sindicato (SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversão). Mas mesmo após ter obtido o seu registro, você deve fazer um curso de dublagem ou então visitar o máximo de estúdios de dublagem para ver os profissionais trabalhando, isso é muito importante. A dublagem requer muito do ator: Interpretação, concentração, tenacidade, criatividade, agilidade, dicção perfeita, leitura perfeita, excelentes conhecimentos gerais, facilidade com línguas estrangeiras (até alienígenas, se quer saber…) e paciência chinesa. Tudo isso regado à muita humildade.

AA: Além da dublagem, você tem algum outro ofício? Qual? É possível viver apenas de dublagem? Como é hoje o mercado de trabalho da dublagem? Há espaço para crescimento ou a crise é grande?
GB: Peraí, peraí, seu moço!! Eu confesso!! Os Homens-de-Preto estavam certos!! Elvis não morreu, ele só voltou pra casa!! (risos) Eu trabalho também fazendo locuções, comerciais e ilustrações, quando surge alguma coisa. Antigamente era possível viver somente com dublagem. Os meus colegas até conseguiam comprar apartamento, viver com conforto e estabilidade. Mas hoje… nossa… a gente tem que cortar um dobrado, matar um leão por dia. Hoje o mercado está completamente saturado e os produtos a serem dublados diminuíram drasticamente com o descaso com relação à importância do nosso trabalho para o país. As TVs a Cabo continuam insistindo em legendas, não colocando uma opção dublada em suas grades de exibição. Estamos inclusive na maior crise da história da dublagem, o que está deixando os profissionais muito desiludidos. Vários colegas estão voltando ao teatro, televisão, fazendo trabalhos em publicidade, buscando novos trabalhos. E eu acho muito certo, pois dublagem é legal mas não assegura um futuro. É doloroso dizer isso, mas é a mais pura realidade.

Outra coisa que me incomoda muito é a insistência atual (essa moda pegou) de alguns estúdios americanos em não respeitar as vozes clássicas de personagens de desenho animado. Recentemente a Warner fez várias trocas completamente desnecessárias. Mário Monjardim perdeu o Pernalonga, por acharem a voz dele “envelhecida” (????) e “rabugenta” demais (??????????) para o papel… Mesmo com o pessoal da Warner brasileira alertando os americanos de que a mudança seria prejudicial, de nada adiantou, simplesmente passaram por cima de nossas memórias afetivas como um rolo compressor. Quase que fizeram testes para o Scooby-Doo na época do longa para cinema. Cheguei a suar frio só de pensar nos americanos exigindo que o Drummond (ou outro dublador escolhido para o papel) fosse obrigado a falar como no original a célebre expressão “scooby-dooby-doooo”, que viraria “ROO-BI-DOO-BI-DOOOOO” – O Scooby não pronuncia o “S” direito, fica com som de “R”. Tudo isso dá uma sensação de vazio, de que nossos grandes mestres vão ser substituídos pouco a pouco e que nada vai ficar para ser deixado para futuras gerações.

Outro exemplo de que a memória da dublagem está se apagando e que não posso deixar de comentar é o lançamento do DVD dos filmes do Super-Homem sem a versão dublada clássica do André Filho (que também era a voz do Sean Connery, Sylvester Stallone, entre outros). Smallville (o seriado do jovem Clark Kent) saiu igualmente sem a versão em português. E me disseram que vem no lugar a versão francesa, se não me engano! E pra fechar com chave de ouro, mesmo com a dublagem prontinha, Cowboy Bebop (um anime muito querido pelos fãs) não sairá com a versão brasileira também.

AA: Como foi que você ganhou o papel do Freakazoid? As pessoas ainda o reconhecem por causa disso?
GB: Certa vez eu estava em casa, numa noite chuvosa, viajando pela Internet, quando sem querer digitei uma seqüência aleatória no meu computador e daí… Ah… Você diz como ganhei oficialmente? Ah ta… Bom, eu fiz teste de voz na Herbert Richers juntamente com mais 2 colegas e a Warner me escolheu, após digitar uma seqüência aleatória de nomes… Ah… bom, foi mais ou menos por aí… As pessoas não me reconhecem, é bem raro. Acho que só aconteceu uma única vez. Eu estava na casa da minha mãe, estava passando um episódio do Freakazoid na televisão enquanto conversávamos e ela me perguntou: “Quer almoçar aqui?” Mas como eu tinha gravação não pude aceitar. Mas eu sinto que naquela pergunta residia um questionamento profundo, quase telepático de que minha mãe desconfiava que eu era o Frika e o almoço seria apenas um pretexto para tirar essa informação de mim… Eu estava ficando paranóico e Freakazoid tinha que morrer… PAM PAM PAAAAAMMMM… (música de mistério e suspense)

AA: Como que você faz para encontrar a voz ideal para o personagem que você está dublando?
GB: Falando assim: “ANTIGOS ESPÍRITOS DA DUBLAGEM… TRANSFORMEM ESTE NERD COM CARA DE CAQUI EM… (risos) Não, não, já não posso mais fazer isso, é proibido… Bom, eu procuro observar com muita atenção e carinho o trabalho do dublador original e vejo o que funcionaria melhor para o personagem numa versão brasileira: criar tudo novo? Fazer o mesmo tipo de voz? Acrescentar cacos? Fazer uma voz totalmente diferente? … Isso tudo vem com a própria sensibilidade do ator. Todos nós dubladores temos esse sexto sentido. E eu vejo pessoas mortas também……… humm??

AA: E como foi aquela história da dublagem do ‘Friends’? Você traduzia mesmo sozinho os episódios da versão nacional?
GB: Eu fiquei desesperado quando entrei no estúdio e passei os olhos no script traduzido de ‘Friends’. Poderia servir de exemplo de como não se traduzir, parecia que era de brincadeira, uma pegadinha de mau gosto. Fiquei folheando, juntamente com os outros colegas e decidimos, juntamente com o diretor Ricardo Schnetzer ir até a gerência da Herbert Richers e reclamar. O filme foi suspenso naquele dia e eu me prontifiquei a retraduzir o episódio todo. Acabei indicando depois meu amigo Georges Ribeiro (que é um excelente tradutor) e fiquei revisando todo dia os scripts que ele me enviava pela Internet. Eu chegava a dormir até depois das 3 da manhã revisando, o que me deixou com uma estafa danada. Para se traduzir ‘Friends’, não basta apenas traduzir… e sim adaptar todas as piadinhas e interjeições dos personagens. Lembro que num dos episódios o macaquinho do Ross estava no cio e tinha atacado um boneco da Rachel (que não aparecia, só era mencionado). Na tradução ao pé da letra, a fala da Rachel tinha ficado assim: “Meu George não é mais curioso”. Mas… que George era esse?? Não era o tradutor amigo meu, com certeza… (risos). Fui pesquisar na Internet e descobri que George era um famoso personagem da literatura infantil, o “Curious George”, que era um macaquinho muito fofo que questionava tudo, fazendo a criança desenvolver o senso de curiosidade e exploração dos objetos. Agora imagine isso solto na frase da Rachel… Não fazia o menor sentido!! Minha opção foi adaptar para: “Minha Barbie não é mais uma donzela!”

AA: Tem algum personagem em particular que você ainda gostaria de dublar?
GB: Vários personagens. Se pudesse, eu dublava até o fim da vida o meu querido castorzinho Daggett, de ‘Castores Pirados’ (da Nickelodeon). Esse desenho deveria passar em Asgaard, na terra do Thor, aí seria eterno. Pra fechar a programação abençoada por Odin estariam também Freakazoid, Simpsons, Padrinhos Mágicos, Samurai Jack… Mas o meu maior sonho, além de dublar meus animes preferidos (‘Berserk’, ‘Maison Ikkoku’, ‘Mahou Tsukai-Tai!’, ‘Escaflowne’, entre outros) seria de participar da dublagem de um desenho animado 100% nacional. Eu ficaria nas nuvens se, por exemplo, dublasse um longa animado de HOLY AVENGER. Mas acho que esse sonho pode estar perto de se realizar, segundo me informou uma certa elfa de cabelos azuis, roupas de fitas de couro e enormes… humm… orelhas…

AA: Qual seu melhor trabalho em dublagem? E qual você achou que ficou muito aquém das expectativas?
GB: Acho que foi o Grinch. Nunca tinha me entregado tanto num personagem como fiz com ele. Cheguei a ficar até doente, com gripe e febre, após horas e horas de gravação no estúdio gelado e depois saindo no calor do verão do Rio de Janeiro. Mas valeu a pena, pois o próprio diretor da Universal, que estava acompanhando todas as versões no mundo inteiro, disse ao final que a dublagem brasileira do Grinch tinha sido a melhor entre as trinta e poucas línguas. Fiquei muito feliz em saber e depois mais ainda quando fui assistir no cinema. Estavam todos muito bem, um filme com uma dublagem perfeita, solta, espontânea e muito engraçada.

Respondendo a segunda pergunta, todo artista acha que poderia ter feito melhor determinado trabalho. Não tenho nenhuma paranóia quanto a isso, sempre procuro me esforçar ao máximo para que o trabalho fique bom e quando não dá, não deu. Aprendo com os erros e tento não repeti-los na próxima oportunidade. Por isso gosto sempre de ouvir críticas construtivas sobre meu trabalho, para poder estar sempre me aprimorando.

AA: O que você considera uma das maiores dificuldades na hora de dublar?
GB: A concentração é muitíssimo importante e acredito ser o elemento mais difícil na hora da dublagem. Você pode estar inspirado, com excelente dicção, mas se não estiver concentrado, mergulhado na cena e no personagem… não adianta. É bem divertido e ao mesmo tempo extenuante o trabalho do dublador… Quanto mais tenso ele fica, mais erra e se desconcentra. Por isso a dublagem tem que ser feita de forma tranqüila, os atores tem que estar relaxados, com pausas para relaxar, tomar uma água, contar um “causo” divertido para depois poderem voltar pro estúdio. Senão fica massacrante, estressante e daí o ator trava. E quando o ator trava… não adianta também… hehehehe… Tem que ter paciência e saber esperar, se acalmar, para poder voltar ao ritmo normal.

AA: O que você acha quando atores são chamadas para dublar filmes animados (como Sinbad e Shrek) ao invés de contratar dubladores profissionais? Você vê essa atitude das distribuidoras (que usam os nomes famosos para promover os filmes) com ressalvas ou não vê problemas?
GB: Mas a questão é que TODOS os dubladores são atores. “Dublagem” é uma especialização de um ator. O que eu não gosto é quando chamam um ator que não apresenta um trabalho de qualidade. Quando somos escolhidos para fazer determinado papel, somos avaliados pelo nosso talento na dublagem e não pelo nome famoso. Nada tenho contra se chamarem o famoso “Senhor X” (que pode ser qualquer ator muito conhecido da mídia) para dublar um longa animado. Só não vou gostar se ele fizer um trabalho fraco, que é o que tem ocorrido com a maioria dos filmes dublados por famosos, com raras exceções (como Selton Mello e Marieta Severo, que dublaram maravilhosamente “A Nova Onda do Imperador”). Não me incomoda também o cachê altíssimo pago aos famosos. Eles na verdade recebem pela dublagem o pagamento normal e mais um acréscimo polpudo (e merecido, não discuto isso) por cederem sua imagem para ser associada ao produto ou filme. O que me incomoda é o estúdio X (que não é do Corredor X) tenha grana pra pagar cachês altos aos atores famosos, mas não queira aumentar nem um centavo o nosso pagamento nesses filmes de cinema, que já está ridiculamente baixo. Tudo bem, não vamos ganhar 30 mil Reais, pois nossa imagem não estará junto ao produto, mas pelo menos uns 3 mil reais para os dubladores tradicionais não levaria nenhum estúdio à falência, eu garanto.

AA: Conte algum caso engraçado ou curioso do universo da dublagem.
GB: Um “causo” muito engraçado aconteceu com um dos meus ídolos e mestres: Orlando Drummond (a voz do Alf, Popeye, Bionicão, Scooby Doo, entre tantos outros). Há muitos anos, estava o Dru gravando uma chamada para a 20th Century Fox quando o americano que acompanhava no estúdio encasquetou com a pronúncia do “20th” do nosso bom tio Scooby. O gringo cismou, queria porque queria que o Dru fizesse exatamente como os americanos pronunciavam: com a lingüinha presa nos dentes. Cansado de ter que ficar fazendo milhões de “fffff” pra agradar o sujeito, que não aprovava nenhum deles, Drummond, com um olhar sacana, pediu para o tal Mister tentar falar “BANANA”. Nenhum nativo norte americano consegue falar “BANANA” como a gente, sem sotaque. Já viu no que deu, né? O americano tentou mandar várias “b´néna” mas depois acabou desistindo. Nisso, o Dru mandou a célebre frase: “No dia que o senhor conseguir falar BANANA eu falo 20th Century Fox, tá?” (risos)

Outro causo que eu morro de rir é um com o Mário Monjardim (a voz do Salsicha), outro ídolo meu. Ele estava andando pela Herbert Richers quando foi abordado por um diretor que precisava de um dublador pra fazer um personagem num desenho animado que discursava para um Rei. O Monja estava meio atabalhoado (aliás, este é o normal dele, sempre elétrico, parecendo um hamster), querendo ir embora, mas mesmo assim foi junto pra gravar o tal do personagem. Ele chegou ao microfone e nem discutiu, pediu pra gravar direto, pois estava com pressa. Estava indo tudo muito bem, até que no meio do discurso, o diabo do bonequinho do desenho animado pronunciava o nome do Rei (que era um nome estrangeiro complicadíssimo e enorme, com quilos de consoantes e quilômetros de comprimento). E foi mais ou menos assim (vou tentar recriar escrevendo) “E eis que me encontro aqui, aos pés de vossa alteza, o adorado Rei Tsykwihth… Tswiqui…Tissucum… Tsi… BOM, ISSO NÃO VEM AO CASO!!! … Ò nobre Rei, venho aqui para pedir…” (risos). Este é o Monja… Impossível não rir com ele… Ô diabo, compreendeu você, meu filho??

Bom, por que não contar mais um, compadre? Senta aí, vamo proseá e eu vou te conta mais um causo muito antigo que minha pessoa adora. Não é causo que se sucedeu na dublagem, mas com um dublador, num sabe? Vamos à ele: O Drummond (sempre ele, meu Mestre…) era pracinha do exército e estava voltando de noite da casa da namorada por uma rua bem escura quando apareceu uma criatura nas sombras. Era um cachorrão (cachorraço) babando, rosnando e com os olhos injetados de vermelho (essa última parte da descrição artística e pitoresca é por minha conta, pois o cachorro estava bem longe, nem dava pra ver direito…). O Drummond virou o corpo com muita cautela e… mandou sebo nas canelas, partiu em disparada feito uma versão do Sonic dos anos 40!! O cachorro monstro foi ao seu encalço feito uma besta saída do inferno até encurralá-lo em uma árvore frondosa perto de um terreno baldio. Dru subiu freneticamente na árvore e se agarrou num dos galhos, quase sendo mordiscado nas pontinhas dos pés pelo carniceiro canino. O engraçado desse causo é escutar o Drummond imitando o bicho latindo feito doido lá embaixo: “JOÃO!!… VIMVÊVOVÔ!! JOÃOVIMVÊVOVÔJOÃOVIMVÊVOVÔ!! (risos)

AA: Nas últimas vezes em que nos encontramos, ficou claro e evidente o seu carisma, capacidade interpretativa e expressão corporal. Como a gente já sabe que, para ser dublador, é preciso ser ator… como é possível que você não esteja atuando na TV ou no cinema????
GB: Eu nunca corri atrás para participar de televisão ou cinema, acabei ficando somente na área de dublagem e locução. Muitas pessoas me falam isso, me perguntam quando eu vou aparecer, essas coisas. É uma questão de pegar algumas fotos minhas, meu currículo e deixar em algumas agências e emissoras e ver no que dá. Mas claro que sem esperar nada, pois é muito difícil entrar, a nível de experiência, claro. Tem muita gente ruim na mídia que só quer mesmo a fama ou o dinheiro, mas ao mesmo tempo tem também muitos atores maravilhosos atuando e se desenvolvendo, fazendo o que gostam e presenteando o público com suas atuações inspiradas.

Gosto muito de teatro, acho que é o melhor lugar para um ator se expressar, pois lá ele tem o seu timing e a sua edição e pode receber a resposta do público imediatamente. Acho que é uma experiência indescritível, muito gostosa mesmo. Adoraria fazer cinema. O ator pode trabalhar nas minúcias do personagem, pois tem muito tempo para isso e tem o fato de que eu amo edição, trabalhar uma cena em diversos ângulos e depois montar pra ver como fica, ajustando o tempo, os cortes, os ângulos… Bem quadrinhos, né?? 🙂

AA: Ah, a gente também sabe muito bem que você é um ótimo desenhista. Nunca pensou em tentar nada no mundo dos quadrinhos? Agora que você é casado com uma roteirista, sacumé…
GB: Eu sou desenhista amador, tenho muita estrada pelo chão ainda… Mas não paro nunca de desenhar, é um vício que eu tenho que só me faz bem. Não consigo ficar muitos dias sem desenhar, parece que já virou fisiológico, sabe? Que nem vontade de fazer pipi… TENHO QUE DESENHAR!!! Aí eu vou desembestado pra prancheta ou pra mesa da sala com papel, lapiseira e caneta nanquim desenhar. Dá um alívio… nem te conto! Mas eu queria muito colaborar com sites na Internet com ilustrações, trabalhar mais com minhas ilustrações mesmo. Vamos ver no que dá, tudo ao seu tempo. Mas eu fico bobo com a habilidade da minha esposa em desenhar e em criar roteiros e histórias. É um ambiente muito gostoso, pois um estimula e inspira o outro a produzir arte, o que nos une ainda mais e traz momentos divertidos, engraçados e inesquecíveis.

AA: Sabemos que você é tão fã de cultura pop como nós. Então, que tal um ping pong? Vamos lá:

– Uma série de TV: (voz de Freakazoid) Puxa… Uma só? Ahh não, peraí, tem mais de uma, cole mulé do gaufo? Cosmos (do saudoso astrônomo Carl Sagan), Anos Incríveis, Seinfeld e Friends.

– Um filme: (voz de Freakazoid) Ih, mas que coisa! De novo essa budega de um só? Vocês são amigos dos Highlanders? Só pode haver um? Com mil travamentos do Windows 98! Anota aí: Todos do Stanley Kubrick, Dersu Uzala (do Kurosawa) e os meus queridos Star Wars e Indiana Jones (todos).

– Um ator: (minha voz mesmo, que é igual a do Freakazoid, confesso…) Vou botar mais de um, não quero nem saber, que coisa… Ó, anota aí… Tom Hanks, Jim Carrey, Robin Williams, Johnny Depp, Denzel Washington e Harrison Ford.

– Uma atriz: Jodie Foster, Whoopie Goldberg, Sigourney Weaver e Reneé O´Connor (a Gabrielle de ‘Xena’).

– Um diretor: Stanley Kubrick.

– Um desenho animado: Isso é covardia, vou reclamar na ONU! Mas os desenhos que me fazem rir mais são sem dúvida Os Simpsons, Ren & Stimpy, South Park e Castores Pirados.

– Um gibi: Watchmen.

– Um desenhista: Laerte. Eu amo o trabalho dele desde que me entendo por gente (sem querer chamar ele de velho!!). É um mestre tanto no desenho quanto nas histórias que cria. Adoro todos os seus personagens, em especial o Overman, Os Gatos e Os Piratas do Tietê. As histórias isoladas que ele cria também são fantásticas, primorosas. Laerte é um clássico já, imortal por natureza!

– Um roteirista: Alan Moore.

– Parafraseando Marília Gabriela, “Guilherme Briggs por Guilherme Briggs”: Guilherme Briggs é um típico humano que ainda tem muito o que aprender da vida. Ela tenta fazer o melhor possível, mais ainda tem um longo caminho a percorrer. Filho de Henrique Briggs (meu saudoso pai), Suelly Cavalcanti (minha mãe) e Fernando Cavalcanti (meu padrasto) procura sempre seguir seus preciosos ensinamentos de bondade, honestidade, humildade, dignidade e integridade.

AA: Foi sensacional, Guilherme, mas… olha, o nosso tempo acabou. Você gostaria de mandar um recado para os visitantes d´A ARCA?
GB: Além de mandar um grande beijo e o meu agradecimento a todos os fãs de dublagem, visitantes, internautas, alienígenas e criaturas virtuais da quinta dimensão por todo o carinho que recebo durante esses anos todos, quero deixar o endereço de minha página na Internet. Anotem aí: www.geocities.com/dublagem.

Ah sim!! Tenho mais uma mensagem… Mas acho que está mais para uma epifania. O profeta fala: “Vós que visitastes A ARCA, saibam que um grande dilúvio virá do distante horizonte. Mas este fenômeno não será o portador de sua obliteração e sim de boas novas. Será um dilúvio de idéias, criatividade e novidades. Continuem n´A ARCA e sejam inundados de felicidade, meus filhos!


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