Sabe-se que uma das maiores sagas espaciais de todos os tempos, Guerra nas Estrelas, tem influenciado muita gente por décadas. As produções a esse respeito e há altos e baixos são diversas, tanto no meio televisivo quanto no cinematográfico.
Galáctica: Astronave de Combate é exatamente isso, um caso bem sucedido de produção baseada no visual de Star Wars, e na qual, ao invés da Força e do Império Galáctico, existe o drama de um povo em busca à sua terra prometida. Descubra qual o destino de Starbuck, de Apollo e do Comandante Adama neste especial d´A ARCA, concebido para vocês, caros leitores.
:: OS CILÔNIOS E AS BATTLESTARS
Numa época que se parece com o futuro, uma colônia de humanos, composta por 12 tribos (planetas), é atacada após uma traição oriunda de um suposto acordo de paz e dizimada por uma raça de seres metálicos conhecidos como Cilônios (Cylons em inglês), contra os quais guerreiam há milênios. Essas criaturas, comandadas pelo Líder Imperioso, criaram um exército poderoso de robôs (os Centuriões), de naves e de bases espaciais, e atacaram os seguintes mundos humanos: Aeriana, Aquaria, Canceria, Caprica, Gemoni, Leo, Libra, Piscon, Sagitara, Scorpio, Taura e Virgon coincidência ou não, trata-se dos nomes dos signos do zodíaco. Há um fato importante: muitos tomam os Cilônios como uma genuína raça de robôs (de seres mecanizados), mas esses, originalmente, eram seres orgânicos como nós, porém descendentes dos répteis. Realmente, tão escravos da tecnologia ficaram que precisaram mudar para sobreviver. Julgam-se os zeladores do Universo e pulverizam completamente qualquer raça se a integridade da vida, segundo parâmetros próprios, for ameaçada.
Os humanos não se rendem facilmente, mas são quase que totalmente pulverizados pelos inimigos superiores numericamente. Seis gigantescas naves de batalha, conhecidas como Battlestars, enfrentam os ‘Cilônios’ num ataque espetacular, contudo, cinco dessas fortalezas são destruídas no evento: Atlantia, Acropolis, Columbia, Pacifica e Triton. Uma delas, por sorte ou por causa do destino maior a ser cumprido sobrevive.
A série em questão é justamente sobre as aventuras da tripulação da Galáctica, ora a enfrentar os ‘Cilônios’, ora a procurar sobreviver em meio a tantas dificuldades, mas sempre em busca do objetivo comum.
:: A TERRA PROMETIDA E ALEGORIA JUDAICA
Os poucos humanos sobreviventes e destituídos de seus lares, a bordo da ‘Galáctica’ e de algumas velhas naves de carga adaptadas para o transporte, seguem, então, numa frota espacial em busca à terra prometida, a qual permeia mitos e lendas daquele povo. Durante a viagem, enfrentarão a falta de recursos como comida, remédios e higiene.
A tal colônia perdida, o espectador vem a saber, é a Terra; sim, o nosso planeta. A Terra seria o décimo terceiro planeta colonizado pela Humanidade original cujo planeta natal é Kobol que previamente habitou outros mundos antes de espalhar a vida pelo planeta azul. Assim como crêem alguns ufólogos e estudiosos reais, os terráqueos, em ‘Galáctica’, também têm sua origem extraterrestre.
Assim sendo, representantes das 12 colônias destruídas seguem, protegidos pela Battlestar, ao encontro de seu destino distante no espaço sideral, quase como numa alegoria à viagem das 12 tribos judaicas à terra prometida de Israel após a saída do Egito outra coincidência?
A nave é comandada pelo sábio Comandante Adama (o falecido Lorne Greene numa interpretação fantástica) e dispõe de figuras ímpares na tripulação, como o fanfarrão Tenente Starbuck (Dirk Benedict), o Capitão Apollo (Richard Hatch) e a bela Athena (Maren Jensen). Do lado dos malvados temos um humano que traiu a própria espécie em favor dos ‘Cilônios’, Conde Baltar, interpretado pelo ótimo John Colicos. ‘Apollo’, importante ressaltar, é um dos filhos de ‘Adama’.
Os episódios, apesar de focados essencialmente nas dificuldades enfrentadas pelo grupo, têm um pouco de tudo: drama, ação, humor, fantasia, amor e ficção científica, claro. Alguns dos capítulos, apesar da temática principal, mostram tripulantes da Galáctica em missões de salvamento noutros planetas ou lugares, como no episódio The Young Lords – no qual ‘Starbuck’ auxilia um grupo de crianças em busca ao pai.
:: GLEN A. LARSON & A CRIAÇÃO DA SÉRIE
‘Galáctica’ foi desenvolvida pelo mago criador Glen A. Larson, autor de muitas das séries de sucesso dos anos oitenta, tais como Magnun (1980), Duro na Queda (1981), A Super Máquina (1982), Automan (1983), Manimal (1983) e tantas outras saudosas produções televisivas daquela época. Ela foi lançada em 1978 com o piloto – de três horas de duração – Saga of a Star World – e exibida pela ABC até 1979. Depois, esse primeiro episódio foi editado, compactado e lançado como um longa-metragem cinematográfico no mesmo ano. ‘Larson’, além de roteirista, atuou como produtor executivo.
Detalhe interessante: John Dykstra, produtor dos efeitos especiais de ‘Star Wars’, desempenhou também o mesmo papel em ‘Galáctica’. Outro dos nomes de peso foi o produtor e roteirista Don Bellisario, famoso por trabalhar em programas como Magnum, Águia de Fogo e Contratempos. Quanta gente importante, não?
É claro que a febre de Guerra nas Estrelas, iniciada em 1977, foi motivação clara para a criação de ‘Galáctica’, cuja estética visual, de fato, seguiu a mesma linha da saga de Luccas: combates espaciais, lasers, saltos ao hiper-espaço, naves as mais diversas, alienígenas, dentre outras facetas manjadas pelos fãs do gênero. Os efeitos visuais, aliás, foram bem desenvolvidos, levando-se em conta aquele período. As seqüências de decolagem e de pouso dos caças Viper são antológicas, além, é claro, dos combates espaciais contra os caças ‘Cilônios’. Infelizmente, devido ao orçamento apertado (um milhão de dólares por episódio), muitas dessas cenas foram reaproveitadas à exaustão, dando aquele gostinho de eu já vi isso na semana passada. Em 1979, a produção ganhou um Emmy pelo design dos uniformes, realmente muito bacanas. A trilha sonora, a cargo de Stu Phillips, apesar de não ser tão original assim John Williams que o diga fica facilmente gravada na cabeça do espectador.
Em 1978, produziu-se outro longa-metragem, o segundo, intitulado como Mission Galactica: The Cylon Attack, no qual outra Battlestar supostamente destruída, a Pegasus, aparece para auxiliar a ‘Galáctica’ num momento crítico. Infelizmente, a série gozou de apenas uma temporada com 24 episódios, cancelada em 1979.
No Brasil, o seriado foi exibido no final dos anos setenta e no início dos anos oitenta pela Globo, nas tardes de domingo, e foi dublada nos estúdios da Herbert Richers. Posteriormente, mas ainda no início daquela década, foi transmitida pela Record aos sábados à noite. Por fim, nos anos noventa foi reprisada pela extinta Manchete, também com a dublagem original, nas tardes dos dias de semana. Uma das opções aos que queiram ver o seriado: foi recentemente lançada nos E.U.A. uma caixa especial em DVD que contém todos os episódios – restaurados digitalmente.
:: GALÁCTICA 1980 & REVIVALS
Em 1980, a aventura espacial foi trazida de volta por meio de uma nova produção na qual ‘Larson’ atuou apenas como produtor executivo, não como roteirista, Galáctica 1980. O enredo mostra, afinal, o encontro da Galáctica com a terra prometida, ou seja, retrata a tão sonhada chegada ao nosso planeta.
Contrariamente à crença dos personagens, a Terra da década de oitenta é tecnologicamente atrasada e, justamente por isso, seria impossível esperar da humanidade terrestre a ajuda necessária para deter os ‘Cilônios’. E pior: esses seguiram a nave e desejam invadir o planeta.
Com episódios fracos, enredos confusos, e destituído de alguns personagens originais ‘Adama’ foi um dos poucos a ficar o seriado teve apenas 10 capítulos e foi logo cancelado.
Durante os anos noventa, o intérprete de ‘Apollo’, Richard Hatch, encabeçou um projeto para trazer de volta à tevê a série original e chegou a escrever cinco livros a respeito. Em 1999, produziu um trailer através do qual pretendeu mostrar ao pessoal da Universal como seria a nova ‘Galáctica’, The Second Coming, com efeitos especiais atualizados e enredo mais denso. O projeto não emplacou, apesar dos esforços do ator e de muitos colaboradores.
Neste ano, 2003, após diversos ensaios e especulações, a produção foi novamente revivida, mas pelas mãos de Ronald Moore, roteirista de 27 episódios de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração e produtor executivo de Deep Space Nine. ‘Moore’ escreveu o argumento e Michael Rymer (de A Rainha dos Condenados) dirigiu essa minissérie que promete novamente trazer as aventuras de ‘Adama’ (Edward James Olmos) e ‘Apollo’ (Jamie Bamber), mas para o público adulto que assistiu aos episódios originais quando criança. Essa produção, supostamente séria, é inédita no Brasil e estreará no dia oito de dezembro nos E.U.A. A verdade? Os fãs estão temerosos, pois, pelo que consta, inúmeras alterações à série original foram feitas – como a transformação do personagem Starbuck em mulher.
O que mais dizer sobre ‘Galáctica’? Era uma série deliciosa de se ver, especialmente quando éramos crianças ou pré-adolescentes. Apesar do caráter mítico, representado pela busca à terra prometida (nada mais é que a nossa própria busca interior), é óbvio: os enredos são simplórios, os personagens se mostram pouco desenvolvidos, e as tramas, comuns; mas, como em toda produção de ‘Glen A. Larson’, os mocinhos, carismáticos em demasia, carregam todo o mérito. É uma série muito bacana e que deixa saudades; saudades daquela época em que as produções televisivas eram ingênuas, e de quando torcíamos para que nossos heróis galácticos abatessem os ‘Cilônios’ daquele dia – a fim de que, depois, tomássemos banho, jantássemos e fôssemos dormir. E quem sabe sonhar que eu fosse o Apollo.
Que saudade!
|